Codeagro fortalece a agricultura familiar no Estado

Capacitação no campo para associações e cooperativas objetiva integrar cadeias econômicas; prefeituras podem comprar produção pelo sistema eletrônico

Nos últimos quatro anos, a Coordenadoria de Desenvolvimento dos Agronegócios (Codeagro), órgão da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (SAA), celebra o fortalecimento e a amplitude das ações de seu Instituto de Cooperativismo e Associativismo, conhecido pela sigla ICA. De acordo com José Valverde, coordenador da Codeagro, o objetivo deste trabalho é consolidar a competitividade da agricultura familiar.

Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), no Brasil 70% dos alimentos servidos na mesa da população são produzidos pela agricultura familiar. De acordo com dados do Censo Agropecuário de 2006, esse setor constitui a base econômica de 90% dos municípios com até 20 mil habitantes nos 26 Estados da federação; também representa 35% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional e contempla 40% da população economicamente ativa do País.

Estruturação

“Direcionamos as ações para o chamado tripé de sustentabilidade da agricultura familiar: a geração de trabalho e renda, associada à preservação ambiental e à estruturação de negócios viáveis no campo”, destaca Valverde, também secretário-executivo do Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea-SP). Segundo ele, uma das metas do ICA é fortificar as cadeias produtivas paulistas, além de capacitar e orientar os produtores rurais para participar das concorrências públicas do sistema eletrônico @Edital Paulista – Compras da Agricultura Familiar (ver Serviço).

Pioneiro no País e lançado em 2015, esse sistema on-line capta e potencializa a divulgação de editais, levando ao conhecimento dos agricultores familiares rurais informações sobre as licitações em andamento para as compras públicas realizadas por meio dos programas Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e Paulista da Agricultura de Interesse Social (Ppais).

O @Edital Paulista também coloca à disposição das 645 prefeituras de São Paulo uma ferramenta eletrônica de elaboração de editais do PNAE, contendo sugestão de modelo simplificado de edital para licitarem alimentos da agricultura familiar (ver Serviço).

De acordo com a legislação vigente, 30% das compras públicas das gestões estaduais e municipais devem ser feitas diretamente da agricultura familiar e suas organizações, ou seja, associações (união de pessoas para representar os interesses de seus associados) e cooperativas (sociedade sem fins lucrativos, constituída para prestar serviços e potencializar as atividades econômicas dos sócios)

Integração

“Ao conectar vendedores e compradores, essa plataforma on-line mantém o fluxo do abastecimento e também reforça a segurança alimentar”, comenta Valverde, professor de Direito Ambiental na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Segundo ele, basta o representante da prefeitura informar dados, como quais alimentos pretende adquirir, além dos locais de entrega, prazos, horários, forma e frequência, entre outros detalhes ligados ao pedido.

O sistema também informa o preço médio dos alimentos vendidos em cada uma das cidades nos últimos meses, estabelecendo um referencial de valores para a comercialização.

O @Edital Paulista foi desenvolvido em parceria com a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) e tem colaboração do Programa de Apoio à Tomada de Decisão do Serviço de Alimentação Coletiva na Escolha de Frutas e Hortaliças Frescas (HortiEscolha), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapesp) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).


Para ler, baixar e imprimir

Estimular a formação de hortas urbanas e a alimentação saudável também é foco do trabalho da Codeagro. Nesse sentido, até maio de 2018 os livros digitais e publicações gratuitas do Centro de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável (Cesans), da Coordenadoria de Desenvolvimento dos Agronegócios, foram visualizados on-line e copiados mais de 250 mil vezes.

Elaboradas por nutricionistas, as obras são divulgadas nos canais oficiais da SAA e em duas comunidades no Facebook, a Alimentação Saudável e a Saudável e Barato (ver links em Serviço). Os livros seguem disponíveis nos formatos PDF e e-book também nas livrarias virtuais Amazon, iTunes, Kobo, Google Books, Livraria Cultura e Issuu (ver Serviço).

Seus temas incluem agricultura urbana e periurbana (hortas – produção e consumo), alimentação saudável, alimentação escolar, diet, cardápios para a terceira idade, manuais de receitas italianas e brasileiras, combate ao desperdício, sugestões de produção de sucos, pães caseiros, citros, frutas, cogumelos, legumes e verduras, carne suína, polpa de peixe e três publicações com pescados (salga, secagem e defumação; receitas; uso do frio), entre outros.

Segundo a nutricionista Milene Massaro, diretora do Cesans, o objetivo dessas cartilhas, guias e livros é oferecer, à população em geral, material educativo de qualidade na área de segurança alimentar, para geração de renda e alimentação saudável, entre outros assuntos.

Serviço

Codeagro
E-mail codeagro@codeagro.sp.gov.br
Telefone (11) 5067-0320

@Edital Paulista Agricultura Familiar
E-mail compraspublicas@codeagro.sp.gov.br
Facebook:
Alimentação Saudável
Saudável e Barato

Livros e cartilhas:
Codeagro
Amazon
iTunes
Kobo
Google Books
Livraria Cultura
Issuu


Hortas urbanas geram renda e sustentabilidade

Orientação agronômica gratuita da SAA atende prefeituras, escolas e entidades beneficentes; tecnologia social fortalece a educação ambiental

Além de apoiar a agricultura familiar, outra missão do Instituto de Cooperativismo e Associativismo (ICA), da Coordenadoria de Desenvolvimento dos Agronegócios (Codeagro), órgão da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (SAA), é estimular o desenvolvimento de agricultura urbana e periurbana. De acordo com o engenheiro agrônomo Diogenes Kassaoka, diretor do ICA, uma das ações dessa iniciativa é o trabalho realizado com hortas, uma tecnologia social e sustentável capaz de gerar emprego e renda e, principalmente, ampliar a educação ambiental e alimentar na sociedade.

O conceito empregado, destaca Diogenes, é o de capacitar grupos específicos para se tornarem agentes multiplicadores de técnicas agronômicas utilizadas nas hortas. E, assim, replicarem conhecimentos como produzir mudas, planejar plantios de variedades diferentes no mesmo espaço, como manejar técnicas de irrigação, entre outros aprendizados. Um dos exemplos da aplicação desse trabalho é o Projeto Estadual Hortalimento (ver Serviço), direcionado pela Codeagro a prefeituras e entidades privadas sem fins lucrativos.

Planejar

Gratuitos, os serviços do Hortalimento incluem instalar estufas, comprar equipamentos para cultivos hidropônicos e também em ambiente convencional protegido, além do repasse das sementes a serem plantadas. Com a mesma proposta de disseminar a agricultura urbana e periurbana, a Codeagro mantém o Projeto Horta Educativa, iniciativa realizada em parceria com o Fundo Social de Solidariedade do Estado (Fussesp) e a Secretaria Estadual da Educação (SEE).

No Horta Educativa, os professores participam de um curso preparado e ministrado por agrônomos e nutricionistas da SAA, com o objetivo de, juntos, planejarem e plantarem uma horta orgânica no próprio estabelecimento de ensino. Nessa capacitação de oito horas, aprendem a importância de estimularem hábitos saudáveis de alimentação na comunidade escolar, associados ao cultivo de alface, rabanete, rúcula, chicória, couve, salsa, abobrinha, abóbora, beterraba, cenoura e cebolinha.

Semear

Em julho de 2017, Marcone Moraes, vice-presidente da Organização Não Governamental Instituto Cultural Galeria do Rock, buscou orientação agronômica com a Codeagro. “Queríamos substituir o jardim ornamental da varanda do topo do prédio por uma horta agroecológica na área de 200 metros quadrados”, explica. “Conseguimos fechar uma permuta. Em troca do auxílio técnico, cedemos uma sala para reuniões de treinamento e mais a autorização de expor o espaço como uma vitrine permanente da SAA. Surgiu, assim, a primeira horta urbana do centro de São Paulo e também um grande laboratório de sustentabilidade”, revela, orgulhoso, Moraes.

José Carlos de Faria Júnior, técnico do ICA/Codeagro, participa desse atendimento desde o início. Segundo ele, antes de começar o trabalho realizado no quinto andar da Galeria do Rock, testou com Diogenes, em uma varanda da sede da SAA, diversos tamanhos e profundidades de vasos, variedades de sementes, tipos de solos, métodos de plantio, de adubação e sistema automatizado de irrigação com aspersores. “A horta ideal é sempre aquela capaz de se adaptar às necessidades do produtor”, explica Faria Júnior. “Mas como estamos a apenas 300 metros do centro comercial e as condições eram bastante parecidas, foi possível simular”, informa.

Inovações

Nesse planejamento conjunto, foram definidas estratégias para a produção agroecológica da galeria, isto é, dispensando agrotóxicos e usando sementes com genética de alta capacidade germinativa. Também foram analisadas questões como a estratégia para atrair polinizadores para os canteiros, como abelhas, e o método para produzir adubo por meio da compostagem, isto é, reaproveitando e moendo com auxílio de uma máquina aparas de jardinagem, cascas de palmeiras e outros insumos naturais.

Outras inovações do Jardim do Rock são as Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs). Foram avaliadas quais espécies seriam plantadas, e, entre as escolhidas, figuram a sálvia, usada como condimento, e a capuchinha, aproveitada em saladas. “As PANCs diversificam os plantios e enriquecem o valor nutricional dos cardápios”, explica Faria Júnior.

Colher

De acordo com Moraes, a horta possibilita debater com o público diário de 30 mil visitantes, e também com os 450 lojistas do espaço, questões como alimentação saudável e novas tecnologias sociais e de integração humana. “A meta é gerar um círculo virtuoso no centro da capital e inspirar outros estabelecimentos e comunidades a fazerem as suas plantações em lajes, telhados e quintais”, sugere o vice-presidente na varanda do centro comercial – hoje ponto turístico e de encontro dos amantes de música de todo o País.

Moraes é filho de Antonio de Souza Neto, o Toninho, síndico do condomínio comercial e quem registrou a marca Galeria do Rock, em 1992. Jornalista e psicólogo, Toninho conta que, no passado, o centro comercial quebrou paradigmas ao aceitar gays, punks, metaleiros, blacks e todos os públicos na época considerados alternativos. Agora, inova com a horta, cuja produção de minialfaces, folhas de beterraba, manjericão e demais hortifrútis é repassada para um bar e uma padaria. “Para o futuro, a meta é aumentar a produtividade e torná-la 100% autossuficiente”, revela.


Mais esperança

A horta agroecológica da Vila Nova Esperança, na zona oeste da capital, coordenada por Maria de Lourdes Andrade de Souza, conhecida como Lia Esperança, é outro exemplo de serviço prestado pela Codeagro. Instalada em uma área de preservação ambiental, essa produção local atende ao restaurante da Lia e às 600 famílias da comunidade. Iniciada em maio de 2017, com orientação da SAA, foi realizada em parceria com o Departamento de Assistência Social da Companhia de Saneamento Básico do Estado (Sabesp), que cedeu a área para a instalação dos canteiros. O projeto tem o apoio da prefeitura, com a cessão de bolsas para os envolvidos no trabalho.

“O trabalho na terra traz segurança alimentar e educação”, destaca a representante comunitária. Segundo Lia, “a horta não evoluía, o pessoal não tinha conhecimento específico”. Com a vinda do agrônomo Antonio Pastana e de técnicos do ICA/Codeagro chegaram também tecnologias como o viveiro de mudas, a indicação do local correto para plantar e não perder sementes por causa da força da chuva, entre outras benfeitorias. “Hoje, colhemos couves, alfaces, PANCs, pimentas e tomates de qualidade e em boa quantidade, além de outras variedades”, diz Lia.

Serviço

Hortalimento
E-mail ebocchino@codeagro.sp.gov.br
Telefone (11) 5067-0360

Horta Educativa
E-mail contato.ica@codeagro.sp.gov.br
Telefone (11) 5067-0370

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente nas páginas I, II e III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 20/06/2018. (PDF)

AgriFutura apresenta na capital as novas tecnologias do campo

Evento realizado no Instituto Biológico destaca projetos recentes da agricultura paulista e revela como a inovação pode revolucionar a agropecuária nacional

O AgriFutura, evento promovido pela Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento (SAA), realizado no último fim de semana, atraiu mais de 2 mil participantes para o Instituto Biológico (IB), órgão da SAA sediado na Vila Mariana, zona sul da capital.

Formado por produtores rurais, técnicos agrícolas, empresários e universitários, o público visitou estandes de empresas, conheceu os 12 projetos de tecnologia desenvolvidos na competição Hackathon e assistiu às palestras destacando as mais recentes inovações aplicadas no campo.

Tendo como parceiros na organização a Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa do Agronegócio (Fundepag) e as agências Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta) e a Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), o AgriFutura teve como cenário duas tendas montadas ao lado dos 2 mil pés de café cultivados no IB.

Projeção

Nos dois dias do evento, as palestras incluíram temas como internet das coisas, uso de drones e informações aeroespaciais, Big Data e telemetria e gerenciamento de dados meteorológicos, uso de probióticos na aquicultura, entre outros.

Na abertura dos trabalhos, Antônio Álvaro Duarte, presidente da Fundepag, apontou o uso da tecnologia como saída para o País obter mais riquezas com sua agricultura e torná-la mais competitiva. “A estratégia nacional é lançar cada vez mais mão desse recurso para agregar maior valor às cadeias produtivas e atender ao mercado interno e de exportação”, informou.

Ranking

Segundo Duarte, no último ranking internacional Global Innovation Índex – levantamento anual realizado pela Organização Mundial de Propriedade Intelectual –, de um universo de 127 participantes, o Brasil ficou no posto de número 69 entre os mais inovadores (ver Serviço). “Embora em posição desfavorável nesse estudo de 2017, vejo que podemos figurar entre os 20 primeiros colocados em 2025”, pontuou.

Também pesquisador do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital/SAA), Duarte sublinha questões favoráveis para o crescimento. Segundo ele, imagens da órbita terrestre produzidas pela Nasa indicaram que a atividade agropecuária ocupa apenas 7,6% do território brasileiro. “É possível crescer em produtividade aumentando a eficiência nas áreas cultivadas, inclusive com sustentabilidade e preservação ambiental”, concluiu.

Parcerias

Seguindo a linha de raciocínio, o agrônomo Orlando de Melo Castro, coordenador da Apta, destacou o fato de muitas inovações apresentadas ao público terem origem nos 14 polos regionais e em seis institutos da Agência, rede formada pelo IB, Ital, Agronômico de Campinas (IAC), Economia Agrícola (IEA), Zootecnia (IZ) e Pesca (IP).

“São tecnologias diversas, voltadas para promover a sanidade animal e vegetal, diminuir o uso de agroquímicos, poupar água e aumentar a produção e a saudabilidade dos alimentos, entre outras propostas”, explicou Castro.

“Hoje, há muito conhecimento disponível, o desafio é conseguir abreviar o tempo necessário para transformá-lo em inovação, isto é, aprimorar processos em todas as etapas das cadeias produtivas.” Para isso, destacou como fundamental o papel dos Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs), presentes em todos os institutos da Apta/SAA.

“Cada NIT estrutura ações de proteção de propriedade intelectual e de compartilhamento do direito de uso das inovações desenvolvidas com empresas”, observa. Em novembro de 2016, foi assinada a primeira cooperação científica, por meio do NIT do IZ. Nela, o parceiro privado apoiou o desenvolvimento da tecnologia e agora investe na produção e comercialização de um carrapaticida à base de extratos naturais.

Resíduo reaproveitado

No AgriFutura, Gisele Anne Camargo, agrônoma do Ital, apresentou pela primeira vez os resultados de uma pesquisa conjunta realizada com o IAC. Com pedido de patente depositado em janeiro, a tecnologia dá às cooperativas e aos pequenos e médios produtores de café robusta opção de destinação mais rentável para os resíduos da casca do grão.

“Em vez de usar como adubo, o conceito é extrair, sem usar solventes, a cafeína e os antioxidantes: existentes na casca”, explica Gisele. Os resultados obtidos são dois ingredientes; um extrato aquoso, para ser usado em bebidas energéticas, saudáveis e sucos; e um, extrato seco para produzir biscoitos e barras de cereais. “Essa inovação possui também usos nas indústrias de cosméticos e de fármacos. Empresa interessada na tecnologia deve consultar o site da Rede NIT-Apta (ver Serviço).

Olho eletrônico

Usando software livre, a agrônoma Juliana Sanches, do IAC, criou um sistema informatizado para identificar frutas e hortaliças saudáveis e confirmar se as mesmas seguem aos padrões exigidos pela indústria, varejo e consumidores. Iniciado em 2005, com o limão taiti, o projeto atende produtores rurais de todos os portes.

Segundo a agrônoma, o ponto inicial foi fotografar e analisar exemplares de maçãs, tomates, pêssegos e gérberas e compará-los com as tabelas de classificação usadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e pela Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), as referências para classificação de peso e de cor usadas no mercado.

O passo seguinte foi criar parâmetros para o programa, tomando como referência de precisão a medição feita por colorímetros e paquímetros digitais – e assim construir dados confiáveis para servir como base nas comparações.

“Em 2009, a análise do formato do morango rendeu prêmio de iniciação científica a um aluno bolsista do IAC”, recorda. Desde então, vieram análises do pedúnculo do pimentão, verificação de danos mecânicos em maçãs e ameixas e a identificação da coloração e do tamanho de pêssegos e nectarinas – estudo que tem apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapesp).

O próximo passo agora é desenvolver uma mesa de seleção nacional com a tecnologia, de modo a oferecer aos produtores uma opção aos maquinários importados, inacessíveis para muitos por causa do preço.


Inovação em extensão rural é foco da Cati no AgriFutura

Campeões da competição Hackathon ganharam televisores; na disputa de programação, 12 equipes criaram soluções de tecnologia viáveis para a agropecuária nacional

No estande da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), o visitante do AgriFutura pode saber mais sobre o trabalho de extensão rural realizado pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SAA) em todo o território paulista. De acordo com o agrônomo José Maiorano, diretor regional de Campinas, as ações de orientação e de financiamento são realizadas nas 594 Casas de Agricultura, trabalho complementado pelos 40 Escritórios de Desenvolvimento Rural e 21 Núcleos de Produção de Sementes e Mudas.

“O foco principal dos atendimentos é auxiliar as cooperativas e os agricultores familiares no processo de tomada de decisão. Inclusive, com relação ao uso e possibilidades das novas tecnologias, considerando a oferta atual delas”, explicou Maiorano, ao lado de seu colega, Victor Branco de Araújo, diretor do Centro de Produção e Mudas do Departamento de Sementes, Mudas e Matrizes (DSMM) da Cati Campinas.

Censo rural

Entre outras inovações, o público conheceu no espaço da Cati o drone utilizado na produção de conteúdos, assim como o computador portátil usado no Censo Rural Paulista realizado nas 324 mil propriedades rurais do Estado. Com GPS e câmera embarcados, o dispositivo desenvolvido por profissionais da Cati e do IEA eliminou o papel no mapeamento das áreas.

O casal Iraci Clemente e Claudinei Pereira se interessou pela terra diatomácea, método de tratamento para sementes de milho variedade desenvolvido na Cati, cujos testes do projeto-piloto foram realizados pelo agrônomo Márcio Mondini, no Núcleo de Paraguaçu Paulista. “Essa tecnologia é uma alternativa mais barata, ecológica e sustentável de controle de insetos e pragas em comparação com o trato tradicional, que tem base em inseticidas e fungicidas”, explicou Maiorano.

Sua origem é o diatomito, tipo de rocha formada por algas mortas depositadas no fundo dos oceanos e rios há milhões de anos. Rica em silício e com diversas aplicações, a terra diatomácea é usada por mineradoras como isolante térmico. Áspera e abrasiva, também limpa metais e azulejos; nos cremes dentais, auxilia na retirada de restos de alimentos dos dentes; e na indústria cervejeira é usada para filtrar as sobras da fermentação alcoólica. “Foi uma grande surpresa descobrir que essa tecnologia também serve para feijão, trigo, milho, sorgo, soja e lentilha”, comentou Iraci.

Programação

A CampoTracker foi a equipe campeã do Hackathon, competição disputada ao longo dos dois dias do AgriFutura. Aberta a estudantes e profissionais das áreas de informática, agronegócio e criatividade, a maratona de programação foi organizada pela empresa Embarcados e teve 62 participantes, divididos em 12 equipes.

No desafio, cada grupo precisou escolher um dos quatro temas propostos: Clima, Doenças e Pragas, Comercialização ou Extensão Rural – e desenvolver e apresentar uma solução de tecnologia viável a partir dele. De acordo com Thiago Lima, diretor da Embarcados, a propriedade intelectual das ideias desenvolvidas no Hackathon segue com os autores.

“A torcida é para que os projetos originem novos negócios ou sejam incorporados em empresas estabelecidas”, informou Lima. No domingo, cada grupo teve três minutos para expor à plateia e aos juízes os trabalhos, e, na avaliação, foram considerados como critérios de julgamento: coerência, originalidade, impacto e execução.

Time campeão

Comercialização foi o tema escolhido pelas três equipes mais bem-colocadas. O projeto campeão é de autoria da especialista em marketing de produtos Samira Penteado, dos agrônomos Daniel Penteado e Felipe Sartori e dos analistas de sistemas Guilherme Uezima e Gustavo Soré. O grupo desenvolveu um sistema integrado de monitoramento de produtos, com o propósito de banir a pirataria e o contrabando da cadeia econômica de agroquímicos.

De acordo com o Fórum Nacional Contra Pirataria (FNCP), realizado em 2016, os produtos falsificados representavam 10% do setor de defensivos agrícolas no Brasil. No ano passado, o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg) elevou esse índice para um volume próximo de 20% das vendas e estimou os prejuízos em R$ 7 bilhões.

Perigos

Segundo os campeões, quando o produtor compra agrotóxico falsificado põe em risco sua saúde, a propriedade e o meio ambiente, por usar algo sem saber a real composição e procedência. Além disso, há também prejuízos para os fabricantes, por deixarem de vender seus produtos legítimos e ter seus nomes e marcas registradas associados a problemas causados pelos itens falsos.

A solução desenvolvida tem origem no sistema conhecido como Identificação por Radiofrequência (sigla em inglês RFID) e consiste em instalar dois sensores na embalagem de cada produto. O primeiro deles, com informações sobre lote, fabricação, data de validade, etc., permite à indústria rastrear em tempo real onde o mesmo está; o segundo, um lacre, informa se ocorreu alguma violação em qualquer etapa – desde a fabricação até chegar ao produtor.

Entusiasmados com o título do Hackathon, os autores da solução projetada para rodar em iPhones e em celulares Android procuram agora investidores-anjo dispostos a financiar a abertura de uma empresa. O custo total estimado é de R$ 500 mil e inclui o desenvolvimento do negócio, com software e hardware próprios, além do treinamento de recursos humanos.

Serviço

Agrifutura
Hackathon
Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI)
The Global Innovation Índex
Fundepag
Rede NIT-Apta
Embarcados

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente nas páginas II e III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 07/03/2017. (PDF)

PM da capital celebra vitória no Prêmio Polícia Cidadã

Central de Ações de Prevenção de Delitos, projeto de policiamento comunitário da 2ª Cia. do 4º BPM/M, na Vila Leopoldina, concorreu com mais de 60 iniciativas; a redução do número de roubos foi o mote da 7ª edição do concurso

A iniciativa de policiamento comunitário instituída pela 2ª Companhia do 4º Batalhão de Polícia Militar Metropolitano (2ª Cia. do 4º BPM/M), em parceria com os moradores da Vila Leopoldina, foi a vencedora do 7º Prêmio Polícia Cidadã – Propagando Boas Práticas. Realizado desde 2002 pelo Instituto Sou da Paz, o concurso bianual destaca ações capazes de prevenir e reduzir a criminalidade e servir de referência para unidades de segurança pública de todo o País.

Na edição 2014/2015, o concurso foi patrocinado pela Imprensa Oficial do Estado e pela família Cláudio Haddad e teve como mote a diminuição de roubos no território paulista. No entanto, manteve seus propósitos estruturais, de valorizar a preservação da vida, o uso proporcional da força, a não discriminação e a redução do sentimento de insegurança.

A avaliação dos projetos também considerou questões como planejamento de ações a partir de evidências, sua execução com inteligência, racionalidade no uso de recursos, transparência na gestão, participação da sociedade, integração entre as polícias e construção e compartilhamento de bases de dados comuns.

Classificados

Segundo Eduardo Mattos e Bruno Longeani, representantes do Instituto Sou da Paz, mais de 60 projetos concorreram aos três prêmios principais, de R$ 20 mil, R$ 12 mil e R$ 8 mil. A escolha dos vencedores foi decidida pela própria ONG e pelo júri formado por especialistas em segurança pública, que incluiu um delegado de polícia do Rio de Janeiro, um coronel da Brigada Militar do Rio Grande do Sul e um consultor em gestão pública.

A lista dos vencedores pode ser consultada no site do instituto, que traz também vídeos com cada um dos três projetos campeões. A divulgação dos nomes dos ganhadores ocorreu em solenidade realizada no Teatro Municipal, na capital, em 19 de maio (ver serviço).

Na ocasião, foram também concedidas menções honrosas a outros três projetos e anunciado o nome de um sétimo trabalho classificado entre os 15 finalistas, que foi escolhido em eleição aberta pela internet, cuja apuração registrou mais de 6 mil votos.

Ação coordenada

Batizado de Central de Ações de Prevenção de Delitos (CAPD), o projeto campeão teve início em 2014, com a finalidade de aproximar moradores da Vila Leopoldina e a Polícia Militar (PM). A intenção era diminuir as ocorrências criminais do bairro e aumentar a qualidade de vida e a sensação de segurança da população.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Vila Leopoldina, bairro da zona oeste da capital, tem 40 mil residentes em seus 13 quilômetros quadrados. Além deles, transitam diariamente no seu entorno mais de 80 mil pessoas. Muitas delas desenvolvem atividades ligadas à Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp). O entreposto atacadista de flores e alimentos, sediado no bairro, é o maior da América Latina e o terceiro maior do mundo em operações.

Contatos

“A aproximação conosco partiu da própria comunidade”, revela o capitão PM Ricardo Nicotari, responsável pela 2ª Cia. do 4º BPM/M. O primeiro contato, realizado no início de 2014, foi feito por Sinuhe Alberice. Ele é representante da Amocity, uma associação de moradores do bairro – na época, esse grupo estava alarmado com uma sequência de assaltos ocorridos em locais próximos à Estação Domingos de Moraes, da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM).

Depois, em outubro do mesmo ano, já com o CAPD avançando, outro grupo de munícipes do local, liderado pela professora Carla Banietti, procurou a PM para relatar problema semelhante na sua vizinhança. “Consideramos na época a ideia de nos cotizarmos para comprar um sistema de vigilância com câmeras. Percebemos, porém, que essa ação isolada seria cara e não resolveria a questão da insegurança”, observou a moradora.

O caminho encontrado, contou Carla, exigiu diversas ações. A primeira foi levar mais informações aos policiais sobre a natureza das ocorrências. Paralelamente, procurou conhecer seus vizinhos e a rotina deles, além de criar um grupo no WhatsApp, no qual cada participante alerta os demais sobre movimentações estranhas na vizinhança. E também orientou todos a relatarem situações suspeitas pelos telefones 190 da PM e 181 do Disque Denúncia, além de repassá-las ao Conselho Estadual de Segurança (Conseg) da Vila Leopoldina.

Planejamento

Os resultados têm sido amplamente satisfatórios, comenta o capitão PM Nicotari, também professor da disciplina de Policiamento Comunitário na Academia de Polícia Militar do Barro Branco. Na região, no ano passado, houve queda de 55,5% nos homicídios. Os casos de roubos tiveram redução de 38,8% na subtração de carga; 32,5% de veículos; e 23,5% nos demais roubos de bens mediante violência. Os furtos também diminuíram – os de veículos caíram 29,9% e os de natureza variada, 3,1%.

Uma das estratégias adotadas, revela o capitão, foi a criação de um formulário com perguntas diretas, para obter informações dos moradores, como há quanto tempo o munícipe reside no bairro, se alguma vez foi vítima de algum crime ou presenciou ocorrência semelhante na região, se foi atendido por viatura da PM e se tem alguma sugestão de melhoria para o policiamento.

“As informações da população são fundamentais. Quando somadas com critério ao mapeamento das ocorrências e demais indicadores da criminalidade permitem planejamento privilegiado das operações”, comenta Nicotari.

Segundo ele, todo mês são escolhidas por amostragem 40 residências para receber o formulário – e o preenchimento do documento é realizado pelo morador na presença de um PM. Assim, ambos passam a se conhecer, estreitam laços e se auxiliam mutuamente.

“O padrão de formulário criado é simples e pode ser replicado em qualquer unidade policial. Quem quiser mais informações a respeito pode enviar e-mail para o 4º BPM/M (4bpmm2cia@policiamilitar.sp.gov.br)”, informou o capitão.

Serviço

Instituto Sou da Paz
Vídeos dos três projetos vencedores

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 04/06/2016. (PDF)