Unicamp avança na detecção automática de melanoma

Em sua estreia na Competição Internacional de Análise de Lesões de Pele, equipe do Laboratório de Pesquisa Reasoning for Complex Data obteve o 1º lugar em uma das provas de identificação de imagens por computador

Um grupo de pesquisadores do Laboratório de Pesquisa Reasoning for Complex Data (Recod), equipe vinculada ao Instituto de Computação e à Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da Universidade Estadual de Campinas (FEEC-Unicamp), classificou-se em 1º lugar em uma das três categorias da 2ª edição da Competição Internacional de Análise de Lesões de Pele.

Disputada a distância, a prova organizada pela Colaboração Internacional para Imagens de Lesões de Pele (ISIC) propõe determinar o sistema de informática capaz de reconhecer com mais precisão e maior velocidade se a fotografia de uma pinta no corpo humano é ou não melanoma – um tipo de câncer de pele. De acordo com o professor da FEEC-Unicamp e líder da equipe do Recod-Unicamp, Eduardo Valle, na competição foram avaliadas três tarefas.

A primeira, denominada segmentação, consistia em aferir a capacidade de reconhecer a borda da lesão. A segunda propunha identificar algumas características clínicas da lesão. A última verificava se o diagnóstico conferido era exato, isto é, se a pinta foi corretamente classificada como saudável, melanoma (câncer de pele) ou queratose seborreica – tipo de lesão benigna passível de ser confundida com melanoma, por ser esteticamente parecida.

Ranking

Estreante no desafio, o Recod-Unicamp participou das provas de segmentação e de classificação. Na competição, a disputa global começa com o fornecimento on-line, pelos organizadores, de um conjunto de imagens mostrando diversos tipos de pintas na pele e, em todas elas, são informados os diagnósticos médicos corretos.

Assim, tomando por base essas referências, cada equipe desenvolve seus sistemas e algoritmos, incorporando neles técnicas como o Deep Learning, o aprendizado de máquina por comparação de padrões repetitivos e a inteligência artificial com base em estatística, entre outras técnicas.

Na etapa seguinte, a comissão avaliadora fornece novo lote de imagens e pede aos concorrentes que façam diagnósticos exatos das pintas exibidas nas fotos. De acordo com o total de respostas corretas, o júri avalia qual sistema estruturado foi o mais preciso e divulga, em site exclusivo da competição, o ranking dos participantes mais bem-colocados (ver serviço).

“Conseguimos o 1º lugar na identificação de melanomas e o 3º na identificação das pintas com queratose seborreica. Na média geral, terminamos na 3ª colocação”, destaca o docente.

A equipe do Recod-Unicamp é integrada pela professora do Instituto de Computação (IC-Unicamp), Sandra Avila, a pós-doutoranda Lin Tzy Li, o doutorando Michel Fornaciali e os mestrandos Afonso Menegola e Julia Tavares – todos da FEEC-Unicamp. “Não vamos descansar com esse primeiro resultado, bastante satisfatório e animador. Queremos uma classificação ainda melhor em 2018”, diz Valle.

Cooperação

A Competição Internacional de Análise de Lesões de Pele foi realizada entre dezembro e março com a participação on-line de 22 instituições. A promotora do evento, a ISIC, reúne mais de 50 profissionais da área acadêmica e de diferentes segmentos industriais, incluindo médicos, engenheiros e profissionais da computação.

As ações desenvolvidas pelo grupo integram uma cooperação científica mundial organizada pela Sociedade Internacional para Imagens Digitais de Pele (ISDIS), com o objetivo de recolher e compartilhar informações sobre lesões de melanoma, para diminuir a mortalidade mundial pela doença. “O diagnóstico automático das lesões, feito por computador, continua sendo um grande desafio científico. Há ainda um longo caminho a ser percorrido”, avalia o professor Valle (ver serviço).

Prevenção

De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o melanoma incide sobretudo em pessoas adultas, brancas e origina-se nas células da pele produtoras de melanina, substância responsável por determinar a cor da pele. Trata-se do tumor mais frequente no Brasil, responsável por 30% dos casos malignos registrados, entretanto, representa apenas 3% das neoplasias malignas, apesar de ser o mais grave por sua alta probabilidade de metástase.

Os melanomas podem ocorrer em qualquer parte da pele. A prevenção é feita com o uso de protetor solar, além de evitar exposição prolongada aos raios ultravioleta. Os sintomas podem ser nódulos anormais ou mudanças em pintas existentes, denotando assimetria, irregularidade de borda, mudança de cor da verruga ou pinta com diâmetro maior. Mesmo passado um mês, as feridas não cicatrizam e podem coçar, arder, descamar ou sangrar.

O diagnóstico do melanoma é realizado por biópsia e, quando a identificação ocorre nos estágios iniciais, há grande probabilidade de recuperação. O tratamento inclui cirurgia, radioterapia, medicamentos e, em alguns casos, quimioterapia. Dados do ano passado do Inca estimam em 150 mil o número de casos de melanoma no País; e a cada ano surgem 5,7 mil ocorrências no Brasil, sendo 3 mil em homens e o restante em mulheres.

Serviço

Recod-Unicamp
ISDIS
Ranking da edição 2017 da ISDIS
Inca
Folheto do Inca sobre o câncer de pele

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 17/05/2017. (PDF)

Google premia projetos brasileiros de inovação tecnológica

Programa de pesquisa da empresa norte-americana concedeu bolsas para 12 trabalhos acadêmicos; Brasil teve oito projetos contemplados, sendo quatro da USP e um da Unicamp

Lançado em 2015, o programa de Bolsas de Pesquisa do Google para a América Latina tem por proposta identificar e apoiar trabalhos acadêmicos em áreas de tecnologia ligadas aos serviços prestados pela multinacional norte-americana. A empresa divulgou, em seu blog (ver serviço), no dia 24, a lista com os 12 projetos premiados.

Dos oito projetos científicos brasileiros classificados no concurso, cinco são de instituições públicas de ensino superior mantidas pelo Estado de São Paulo. Um deles é da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp); quatro da Universidade de São Paulo (USP), dos quais três do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC), de São Carlos, e um da Escola Politécnica, da capital.

Julgamento

Para avaliar os trabalhos, o Google constituiu uma comissão julgadora formada por 15 engenheiros com experiência em pós-graduação. Como critérios de julgamento foram considerados três quesitos: impacto, originalidade e qualidade. Os 12 vencedores representaram menos de 5% do total de inscritos; e os premiados receberão, durante um ano, bolsa mensal de US$ 1,2 mil. Os professores-orientadores dos projetos também serão contemplados com bolsa anual de US$ 750.

“A inovação tecnológica está presente em todas as áreas do conhecimento. Os projetos vencedores mostram a importância da pesquisa para resolver problemas reais e cotidianos da sociedade”, observa Berthier Ribeiro-Neto, diretor de engenharia do Google América Latina.

Novos algoritmos

A área de aprendizado de máquina teve dois projetos vencedores com estudos de algoritmos, que se trata de uma sequência linear de etapas para realizar uma tarefa, que podem ser executadas por um computador, robô ou ser humano. Cada algoritmo apresenta instruções claras, com um tempo específico e um esforço predeterminado para a resolução de cada etapa.

O projeto Aprendizado de máquina sobre dados cifrados utilizando criptografia homomórfica, de autoria do pesquisador Diego Aranha, foi o vencedor da Unicamp. Esse trabalho acadêmico pretende aprimorar versões de dois algoritmos de amplo uso: a Análise de Componente Principal (Principal Component Analysis – PCA) e o KNearest Neighbors (K-NN).

O trabalho Melhorando a aprendizagem por reforço aprofundada por meio da transferência de conhecimento, da professora Anna Costa, da Escola Politécnica da USP, na zona oeste da capital, também foi premiado. A finalidade desse projeto é melhorar o desempenho de agentes em Aprendizagem por Reforço Aprofundada (Deep Reinforcement Learning – DRL) com o uso de abstrações, generalizações e Transferência de Conhecimento (Transfer Learning – TL).

Alzheimer

O Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP São Carlos liderou a classificação acadêmica com mais projetos premiados. O primeiro deles é da pesquisadora do Núcleo Interinstitucional de Linguística Computacional (NILC), Sandra Aluísio, e tem o título de ANAA – Dementia: Aplicação de testes neuropsicológicos automatizados para acompanhamento de cidadãos brasileiros durante o percurso de uma vida.

A proposta é criar um avaliador neuropsicológico pessoal automatizado e acessível pela internet ou por dispositivos mó veis, para detectar demências, tais como o comprometimento cognitivo leve (CCL). Esse indicador é considerado o estágio pré-clínico do mal de Alzheimer, em que a doença ainda é reversível.

“Diagnosticar o Alzheimer é um desafio médico em todo o mundo”, comenta Sandra. A confirmação do quadro vem após vários exames, cujo objetivo é também identificar as áreas cerebrais afetadas pela doença, incluindo memória, orientação, linguagem e resolução de problemas.

“É comum o profissional da área da saúde contar uma história para o paciente e pedir para ele recontá-la duas vezes. A primeira, tão logo ele termina de ouvi-la e, a outra, após um período maior de tempo. A principal dificuldade, nesse caso, é que essa tarefa é aplicada manualmente e depende da avaliação subjetiva de quem relatou a história”, afirma a professora.

“Propus um método computacional para automatizar e uniformizar a avaliação”, explica. O projeto terá colaboração da Faculdade de Medicina da USP e pretende identificar os primeiros sinais de CCL sem, contudo, substituir o trabalho de psicólogos e fonoaudiólogos.

Dengue

A dupla André Maletzke (doutorando) e Gustavo Batista (pesquisador), do Laboratório de Inteligência Computacional, do ICMC, há quatro anos estuda meios para diminuir a proliferação do Aedes aegypti, causador da dengue. A meta é definir os locais onde se concentram focos do mosquito nas cidades e intensificar as ações de combate.

O trabalho originou um sensor capaz de identificar, com precisão de 96,1%, as espécies e o sexo dos insetos. O dispositivo facilita o controle da proliferação dos mosquitos, considerando que apenas as fêmeas transmitem a doença. “Nosso objetivo agora é transformar a criação em uma armadilha inteligente, cujo preço para o consumidor não ultrapasse R$ 200”, diz Batista.

Tradução

Outra dupla do ICMC, Edilson Corrêa Júnior (doutorando) e Diego Amâncio (professor), está aprimorando novo método para tradução e classificação automática de textos na internet. “Nossa proposta é reduzir a ambiguidade e atenuar o problema recorrente de uma palavra ter mais de um sentido ou significado, fator que prejudica a qualidade da resposta oferecida pelo sistema”.

A técnica utilizada atualmente considera todo o conjunto de palavras vizinhas no mesmo parágrafo. “Nossa proposta é criar um meio complementar, capaz de também considerar todos os significados de um termo em toda a estrutura de um texto. Assim, o objetivo é melhorar a eficiência dos tradutores on-line, como o oferecido pelo Google”, esclarece o professor Diego.

Serviço

Os 12 projetos selecionados pelo Google

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Denise Casatti
Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da USP São Carlos

Reportagem publicada originalmente na página III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 01/10/2015. (PDF)

Elas sabem fazer a diferença

Mesmo trabalhando em setores mais complicados, como segurança pública, elas esbanjam entusiasmo e vitalidade; e garantem que não se arrependem das escolhas

Esqueça a imagem de mulher durona, que usa a cara amarrada para impor respeito. A delegada Elisabete Ferreira Sato, 56 anos, surpreende e impressiona pela marca feminina que imprime ao Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), em São Paulo, desde que assumiu a diretoria em janeiro.

É a primeira mulher à frente do DHPP, nomeação aplaudida pelos colegas que a recepcionaram muito bem, segundo ela própria conta. À frente de uma equipe de 700 policiais, ela tem nas mãos casos de tirar o sono – assassinatos, sequestros, intolerância, pedofilia.

Apaixonada pelo trabalho, está há 36 anos na polícia, onde começou como escriturária. Nessa época cursava Ciências Biológicas e sonhava em ser médica. Mudou de ideia ao conhecer a rotina da polícia. O curso de Direito ganhou prioridade, prestou concurso para delegada e tornou-se a primeira mulher no comando da Divisão de Homicídios ao assumir a chefia da primeira Delegacia da Criança.

Também exerceu a vice-presidência do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente, além de ter liderado, em 1998, o grupo de apoio e proteção à escola no Departamento de Investigações sobre Narcóticos (Denarc) junto às escolas no combate ao microtráfico.

Nascida no bairro de Cangaíba, zona leste, é casada, e faz questão de viajar pelo menos uma vez por ano ao exterior. Após o expediente no DHPP, seu passatempo preferido é cozinhar e inventar pratos diferentes.

“Não abro mão de preparar o jantar para meu marido todos os dias. Ele acha que minha feijoada ganha do Copacabana Palace”, diz, aos risos. Filha de japonês com mineira, ama a comida de Minas, se arrisca a preparar pamonha, curau e não resiste a um doce em calda de casca da laranja-da-terra, à moda mineira.

Gosto por aprender

Uma apaixonada pelos livros e pela carreira, Norma Sueli Bonaccorso, a nova diretora do Instituto de Criminalística (IC), 54 anos, impressiona pelo currículo acadêmico. Graduada em Ciências Biológicas e em Direito pela USP, ela não parou por aí.

Obteve mestrado e doutorado em Direito Penal pela San Fran (como carinhosamente chama a Faculdade de Direito da USP). No ano passado, voltou aos bancos escolares, não como professora, mas como aluna. Agora, no curso de Filosofia, na Faculdade de Filosofia, Ciências Humanas e Letras da USP.

Ao ingressar na USP, em Biologia, passava pela porta da Acadepol (Academia de Polícia) e pensava: “Um dia eu vou estar aí”. E conseguiu. “Comecei a trabalhar como perita criminal e, nas minhas férias, aproveitei para visitar o IML de Roma e a West Palm Beach, para conhecer todas as técnicas de perícia”.

Em 1997, veio o grande desafio: a criação do Laboratório de DNA do IC, onde realizou mais de 1,3 mil exames que contribuíram para a elucidação de vários crimes e identificação de pessoas. O trabalho, não esconde, tem de ser feito com paixão. Nas horas vagas, além de ler muito, restaura livros e móveis, pratica jardinagem e ainda cuida de três gatinhas.

Durante muito tempo, Maria Aparecida Pires de Ávila, do Instituto de Pesos e Medidas (Ipem), cansou de ouvir a frase, repetida com ironia: “Só podia ser mulher”. Isso ocorria quando ela puxava a caneta para autuar um motorista de táxi, cujo taxímetro apresentava irregularidades. Era uma atividade de rotina realizada por homens, mas encarada de forma diferente quando partia de uma mulher: “Eu era a chata”.

Mas o trabalho de Cidinha (como é conhecida) vai além: o setor gerenciado por ela fiscaliza cerca de 35 mil táxis, que circulam diariamente na capital. A convocacão é feita, obrigatoriamente, uma vez por ano. Por dia, o Ipem da Regional Leste (Vila Alpina) faz a verificação de 200 carros.

No Ipem há 33 anos, Maria Aparecida atua como especialista em metrologia e qualidade. O início foi tímido, como escriturária concursada. Depois, tornou-se a primeira mulher encarregada a trabalhar com aferição de taxímetro. Aprendeu a gerenciar uma área dominada pelos homens, a lidar com os conflitos entre os próprios colegas e a desviar dos comentários nem sempre elogiosos sobre a situação de mulher.

“É uma conquista diária, uma questão cultural, a mulher tem de mostrar mais capacidade às vezes por uma coisa tão simples”. Na sua seção, é responsável por 13 funcionários: dez dos quais do sexo masculino. “Hoje, temos uma convivência de muito respeito, camaradagem e de troca de ideias”. Solteira, aprecia cinema e documentários sobre ciências. Gosta de viajar nas férias, de preferência em cruzeiro.

O prazer de ensinar

“Faço o que gosto, apesar dos percalços da profissão”, diz Ana Lúcia Negrão Fernandes, professora de Matemática há 40 anos, na EE Horácio Soares, em Ourinhos, interior de São Paulo. Só nessa escola, de mil alunos, está há 25 anos. O começo foi em Salto Grande, a 20 km de Ourinhos, depois passou por Xavantes, sempre em escolas estaduais.

Ana costuma dizer que o magistério corre em suas veias e que não se imagina noutra profissão. Casada, tem dois filhos: um professor (que ela queria que se formasse em Matemática, mas ele seguiu o caminho da Geografia) e uma bióloga. Para ela, formada também em Pedagogia, o segredo de 40 anos de magistério é muito amor e dedicação.

“Já participei de muitas lutas pela melhoria das condições de trabalho e elevação de salário”. Chegou a fazer piquete em porta de escola e acredita que essa luta é a mesma que move as mulheres em outros campos de trabalho.

“A mulher já conquistou muita coisa, mas a estrada é longa. Ela ainda tem de provar sua capacidade, seguir normas, cumprir horários e se desdobrar numa tarefa paralela, que é a de dona de casa, esposa e mãe”.

Seu dia é tomado pelas aulas de manhã e à tarde, para 160 alunos. Mora a um quarteirão da Escola Horácio Soares, onde cursou o ensino médio. “É como estar em casa”. Das alegrias da profissão, a que mais a toca é quando o aluno diz: “Nunca gostei de Matemática, mudei de opinião depois das suas aulas”.

Ou quando recebe e-mails saudosos de ex-alunos, muitos já formados. Fica mais feliz ainda quando um deles diz que está formado em Matemática ou Física. “Sinto que fui recompensada”.


Amor, zelo e competência

Vencendo obstáculos e servindo de exemplo, as mulheres têm muito que comemorar neste dia, o que muitas não farão, pois estarão trabalhando

Em janeiro, Marilza Vieira Cunha Rudge assumiu a vice-reitoria da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), sendo a primeira mulher a ocupar o cargo, nos 37 anos da universidade. Médica formada pela Unicamp é pró-reitora de pós-graduação da Unesp desde 2005.

Sob sua responsabilidade estão 109 programas de pós-graduação em diferentes áreas. Tem vasta experiência de pesquisa na área de Medicina, com ênfase em Saúde da Mulher, atuando em temas como diabete e gravidez, hipertensão e gravidez e substâncias tóxicas persistentes no binômio mãe-feto.

Para Marilza, a nova atividade é prazerosa, mas de uma enorme responsabilidade. “Pesa com suavidade”, diz, ao referir-se à enorme estrutura que dirige: 35 mil alunos de graduação, 12 mil de pós strictu-sensu e mais de 6 mil de lato sensu. “Em nosso corpo docente, 42% são mulheres, 80% estão no corpo administrativo”.

Marilza comenta que as mulheres vêm ocupando espaço pelo próprio esforço, pela garra, competência e pelos estudos. “Quando fiz Medicina, na minha classe de 90 alunos só oito eram mulheres. Hoje, elas são mais de 50%”.

Constata o avanço da mulher no espaço acadêmico e elogia: “Ela faz isso sem deixar de lado o papel de mãe, de esposa e de dona de casa. E continua preocupada com o lar e a educação dos filhos. Por outro lado, teve ganhos importantes, como as creches, auxílio natalidade, e, mais recentemente, a licença gestante ampliada. Na Unesp, por exemplo, temos creche nas quatro unidades”. Mãe de três filhos e avó de duas meninas, gosta de exercer atividade física e o voluntariado numa instituição em Botucatu que abriga cem crianças. “É uma alegria”.

O Instituto de Economia Agrícola (IEA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado, tem, desde junho do ano passado uma mulher à frente da diretoria técnica. Trata-se da engenheira-agrônoma e pesquisadora Marli Dias Mascarenhas, cujo início da carreira foi em 1978, como auxiliar de laboratório, concursada, do Instituto Geológico. Foi transferida para o IEA e nomeada pesquisadora, em 1992. Em 70 anos do IEA, é a segunda mulher a ocupar o posto, depois de Valquíria da Silva, que exerceu as funções de março de 2007 até o ano passado.

Mestre em Agronomia pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP), a nova diretora tem os olhos voltados para a área de administração rural, que envolve sistemas de produção, análise de custo de produção, gerenciamento de sistemas mecanizados, estudos de viabilidade econômica e alternativas tecnológicas, entre outros. É a responsável pela qualidade total do IEA.

Segundo Marli, dirigir um instituto desse porte é um desafio e tanto e, ao mesmo tempo, estimulante. “A direção feminina só vem somar, mesmo porque temos várias mulheres em postos de destaque aqui no instituto: elas estão na diretoria-geral, na assessoria, na diretoria administrativa, na comunicação, nos estudos econômicos e na área de estatísticas”. No IEA dos 129 funcionários, 85 são mulheres. “A convivência é bem pacífica, os homens são muito colaborativos e temos uma parceria complementar”, diz Marli.

Na Torre de Babel

A psicóloga Ivete Barão de Azevedo Halasc gerencia uma verdadeira Torre de Babel. Há sete anos, é diretora da Penitenciária Feminina da Capital, com 620 presas. “Setenta por cento da população carcerária daqui é formada por estrangeiras: africanas, asiáticas, latino-americanas. A maioria presa por tráfico de entorpecentes”.

A atração pelo sistema carcerário começou ainda na universidade. “Meu estágio foi na Casa de Detenção. E o meu orientador dizia que eu estava equivocada e que não iria conseguir a vaga. Consegui e o período de estágio, que era de seis meses, durou quatro anos”.

Os anos passaram e, em 1986, Ivete soube por um amigo que haveria um concurso para psicólogo na Secretaria de Administração Penitenciária. “Prestei o concurso. Fui procurar meu nome na lista e não achei. Quando estava saindo, uma funcionária perguntou qual era o meu nome. Falei e ela disse: Parabéns, você conseguiu o primeiro lugar”.

Ivete foi diretora de vários presídios masculinos, onde incentivou os reeducandos a participarem de oficinas de teatro. “Utilizamos o método do Teatro do Oprimido para ajudá-los na reinserção social. As apresentações fizeram tanto sucesso que o diretor Zé Celso Martinez queria transformar uma simples apresentação numa temporada”. Resultado: a maioria dos reeducandos não voltou ao crime.

Quando começou a trabalhar com reeducandas, viu que tinha outro desafio. “Tenho de gerenciar TPM, choros e outros problemas da psiquê feminina. Mantemos as meninas estudando e trabalhando. O tempo passa rápido e elas realizam diversos cursos: inglês, português (para as estrangeiras), dança, cantoterapia, informática, além de trabalhar em oficinas de hotelaria, padaria, marketing e reciclagem”.

Casada, mãe de três filhos e avó de duas netas, Ivete confessa que é uma apaixonada pela profissão e pelo cargo que exerce. “Não me vejo em outra função ou em outro lugar”.

Conquistar é preciso

A mais reconhecida relações-públicas do País, Margarida Maria Krohling Kunsch assumiu a diretoria da Escola de Comunicações e Artes (ECA), da USP, em fevereiro, para o quatriênio 2013-2016. É a primeira mulher a ocupar o cargo de direção da Escola em 47 anos. “Realmente foi uma quebra de paradigmas e os desafios são muitos. Mas estou otimista e animada, mesmo porque na minha vida nunca optei pelas coisas mais fáceis. Não será diferente agora”.

Margarida lembra que a ECA é complexa e abrangente e congrega muitas áreas, oito departamentos e uma escola de artes dramáticas, celeiro de potencialidades e de grande capital intelectual, integrado por professores, estudantes e funcionários.

Autora de diversos livros na área de Comunicação Organizacional, foi recentemente homenageada na 7ª edição do Prêmio Relações Públicas do Brasil, com a comenda Waldyr Gutierrez Fortes, honraria concedida apenas uma vez, em cada 10 anos de premiação, a personalidades que atingiram status de referencial pleno na profissão. Para a professora, a mulher tem avançado na conquista de postos mais altos, mas precisa conquistar mais.

“Apesar de termos pela primeira vez na história uma mulher presidente do País, a sua participação na política no Brasil ainda é muito pequena. No Brasil, diferente de países como a Finlândia, quando uma mulher assume cargo de destaque sempre constitui notícia. A explicação, acredito, se deve ao fato de que isso ainda é visto como exceção e não como algo normal. Portanto, as mulheres precisam ocupar mais postos de destaque na política, na ciência e na gestão de todos os setores”.


O vozeirão do Brasil

“Nossa, já até perdi as contas. Mas são cerca de 100 discos, entre compactos, 78 rotações, LPs e CDs”, diz sorrindo, Inezita Barroso. Há 33 anos, ela comanda o Viola, minha Viola, programa que vai ao ar pela TV Cultura.

A cantora e apresentadora, de 88 anos, mantém o vozeirão, segundo ela, sem ‘muito esforço’. “O que faço com afinco é evitar ar-condicionado e qualquer tipo de bebida gelada. Se eu tomo gelado, fico rouca rapidinho. Sempre foi assim”. Mesmo com o ritmo da televisão, ela continua com o trabalho de encontrar grandes talentos na música.

O programa tem plateia cativa, como o seu Santinho, e várias histórias interessantes como a de um bolo de fubá que ficava em um balcãozinho no cenário. “Nos primeiros programas, ele era de verdade. Depois, passou a ser feito de espuma. Mas era tão perfeito que não passava um programa sem que algum artista fosse lá tentar comer um pedaço”.

Maria Lúcia Zanelli e Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente nas páginas I e IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 08/03/2013. (PDF)