Fazenda Ataliba Leonel bate recorde de sementes

Executivo paulista investe R$ 5,5 milhões na revitalização do centro produtor localizado em Manduri; desde 2016, propriedade adota novo modelo gerencial

Depois de um período de estagnação, a Fazenda Ataliba Leonel, a principal produtora de sementes da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (SAA), adotou em abril de 2016 novo modelo gerencial – e, desde então, não parou mais de bater recordes. Somente nas safras 2016/2017 e 2017/2017, embalou 70 mil sacas de sementes de milho e 350 toneladas de sementes de cereais de inverno (aveia, trigo e triticale).

Para as safras 2017/2018 e 2018/2018, a expectativa do Departamento de Sementes, Mudas e Matrizes (DSMM), da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), responsável por sua gestão, é totalizar 85 mil pacotes de 20 quilos de sementes de milho variedade tradicional e três mil sacas de sementes de soja convencional.

União

O advogado Ricardo Lorenzini Bastos, diretor do DSMM, indica alguns dos motivos da retomada. Segundo ele, além dos R$ 5,5 milhões investidos pelo Governo estadual no núcleo produtor localizado em Manduri, no Sudoeste paulista, a 300 quilômetros da capital, outro ponto fundamental foi a estruturação do Comitê Gestor Interno, “uma inovação no âmbito da SAA”.

Presidido por Gerson Cazentini Filho, engenheiro agrônomo da Cati há 29 anos, o Comitê é composto por oito representantes – e o grupo passou a decidir coletivamente sobre as questões ligadas às atividades da fazenda, desde a compra de insumos e equipamentos, passando por plantios e logística de distribuição das sementes.

Paradigmas

“O Comitê inovou ao terceirizar os serviços de plantio e de colheita, assim como o de transporte do produto da roça para as unidades de beneficiamento da Cati no Estado – tudo por meio de licitações públicas”, comenta Lorenzini. Segundo ele, outro indicativo da recuperação do núcleo são os hectares plantados: em dezembro de 2015, eram 60, em março de 2018, o volume totalizava mil. Além dele e de Cazentini Filho, também integram o Comitê os agrônomos Fernando Alves dos Santos, José Antônio Piedade, João Paulo Teixeira Whitaker, Maria Paula Domene, Rubens Koudi Iamanaka e a engenheira agrícola Verusa Alvim Castaldim e Souza.

As decisões do grupo resultaram na modernização da Unidade de Beneficiamento de Sementes (UBS), compra de semeadeira, colheitadeira, trator, guincho, adoção de medidas de recuperação do solo, rotação de culturas, entre outras mudanças. Na propriedade de 3,4 mil hectares de extensão, metade da área é de preservação ambiental; e dos 1,7 mil hectares restantes, 1 mil deles são dedicados à produção de sementes de milho variedade e orgânico, soja convencional, cereais de inverno (trigo, triticale e aveia-branca e preta), nabo forrageiro, girassol e painço, entre outras variedades.

Diversificação

Atualmente, a pecuária leiteira e de corte ocupa 200 mil hectares da Ataliba Leonel. Já o Projeto Cana, iniciativa científica e econômica coordenada pela agrônoma Raffaella Rossetto, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), da Agência Paulista de Tecnologia do Agronegócio (Apta/SAA), perfaz mais 500 mil hectares. Na parte de pesquisa, essa ação tem parceria com a Apta Regional e com o Centro de Cana da Apta, usando mudas pré-brotadas do IAC.

Já na parte de produção, por meio de licitação, foi contratado serviço de recuperação da área, antes imprópria para a produção de sementes. Vencedora da licitação, a Usina Agrícola Favarin Zanata planta cana, obtém remuneração com o cultivo e repassa o excedente para a fazenda. É estimada receita de R$ 1 milhão anual durante cinco anos. “Esse recurso auxiliará na manutenção da Ataliba Leonel, cuja proposta é de gestão baseada em autossuficiência”, observa Lorenzini Bastos.

Mais oferta

A busca por mais eficiência motivou ainda outra parceria, firmada pelo DSMM com o Instituto de Economia Agrícola (IEA). Por meio dela, o IEA consegue estimar o custo de produção das sementes pela Cati. “O objetivo é saber o real custo da produção, informação fundamental na tomada de decisão”, pontua Lorenzini Bastos, “uma estratégia para possibilitar reduzir despesas e continuar oferecendo ao produtor sacas com insumos de qualidade e preço acessível”.

As sementes estão disponíveis para produtores de todos os portes nos Núcleos de Produção de Sementes da Cati e nas Casas da Agricultura espalhadas pelo território paulista. “Agricultor familiar baseado no Estado tem 15% de desconto para comprar semente de milho, sorgo e feijão, além de mudas nativas; basta comprovar seu enquadramento”, salienta. “Outra novidade é a revenda autorizada: o interessado em comercializar os produtos do DSMM deve ligar para (19) 3743-3820”, acrescenta (ver Serviço).

Produção orgânica

Voltada à extensão rural, a Cati é pioneira no País na produção de sementes orgânicas. Em 2014, por meio de cooperadores, iniciou a atividade com o milho orgânico; “em 2017, demos mais um passo importante no sentido de oferecer alimentos ainda mais saudáveis para a população”, comenta o agrônomo Hiromitsu Gervásio Ishikawa, coordenador do Grupo de Trabalho de Sementes Orgânicas do DSMM. Nesta oportunidade, esclarece, a Fazenda Ataliba Leonel foi certificada pelo Instituto de Biodinâmica (IBD).

O selo IBD Orgânico é um reconhecimento legal de alcance nacional e internacional. De acordo com este documento, em 20 hectares específicos da Ataliba Leonel são cumpridas as regras da Lei Federal nº 10.831/2003 (ver Serviço), relativas à produção orgânica. Assim, é possível rastrear a origem de todos os insumos usados em todas as etapas de produção das sementes.

“A proposta é oferecer ao produtor sementes de qualidade, produzidas sem agrotóxicos”, explica Ishikawa. Um dos diferenciais da Cati, comenta, é tratar todas elas com terra diatomácea, uma alternativa aos agrotóxicos desenvolvida internamente na coordenadoria, com o objetivo de protegê-las contra insetos e pragas enquanto estão armazenadas em silos e silagens.


Milho da Cati atende produtor de todos os portes e perfis

Período médio entre a semeadura e a colheita é de 150 dias; insumo é resistente, tem preço acessível e é adaptado para germinar em todo o território paulista

Há 22 anos no quadro profissional da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), órgão da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (SAA), o engenheiro agrônomo Rubens Koudi Iamanaka destaca a produtividade e a versatilidade da variedade AL Avaré, indicada para propriedades rurais de todos os portes. “São milhos bastante rústicos, adaptados para plantios em todo o território paulista. Na média, o período entre a semeadura e a colheita requer 150 dias. Na safra 2017, os volumes obtidos superaram a marca de dez toneladas por hectare”, informa.

“O milho da Cati pode ser usado para a obtenção de grãos e também para silagem, isto é, alimentação animal, em cultivos da safra de verão, de maior rendimento, de setembro a novembro, e da ‘safrinha’, entre dezembro e fevereiro”, comenta Iamanaka, diretor do Núcleo de Produção de Sementes de Avaré da Cati. Disponíveis nos Núcleos de Produção de Sementes da coordenadoria e nas Casas da Agricultura de todo Estado, as sementes do Governo paulista são oferecidas em diversos tamanhos e têm etiquetagem padronizada – toda embalagem traz procedência, especificação, pureza, entre outras informações do produto.

Zonas de refúgio

O preço, destaca o diretor, é um dos principais diferenciais da AL Avaré: cada saca com 20 quilos custa R$ 90, ante os R$ 500, valor médio dos produtos híbridos, e permite cultivar um hectare, área correspondente a 10 mil metros quadrados. Outra vantagem, aponta, é criar zonas de refúgio no milharal. Essa estratégia consiste em plantar uma faixa da variedade convencional da Cati, ao lado das plantas transgênicas, de maior custo.

Uma das características do milho transgênico, desenvolvido em laboratório, é não atrair pragas. Assim, em uma lavoura com as duas variedades cultivadas, os predadores naturais acabam atacando a tradicional, mais barata, fator de minimização de prejuízos. Além disso, esta ‘preferência’ da praga também auxilia a retardar o desenvolvimento de populações mais resistentes de lagartas e insetos. Com o passar do tempo e seguidas pulverizações, este problema, análogo ao dos antibióticos, pode se agravar.

“Se não for utilizada de maneira correta, uma tecnologia recente como a transgenia perde a eficiência”, comenta Iamanaka. “Das quatro últimas versões de milho híbrido, resistente às lagartas, três já criaram resistência por mau uso”, pontua. “Nesse sentido, o milho variedade da Cati também contribui para o sucesso das variedades geneticamente modificadas, além de manter teto produtivo razoável na média das propriedades”, observa.

Segurança

Com 780 hectares de extensão e especializada em pecuária de corte e agricultura, a Fazenda Campininha, de Avaré, planta desde 1994 o milho variedade da Cati. De acordo com o agrônomo Adriano Menk Pinheiro, gerente da fazenda, a decisão de optar pelo insumo produzido pelo Governo paulista foi tomada pelos proprietários desde a compra do empreendimento rural, no ano anterior.

“Na época, os recursos eram escassos, assim, apostamos na segurança e na qualidade do milho e da soja da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral”, salienta Pinheiro. Na avaliação dele, depois da safra, o principal ponto considerado para o agricultor é quanto lhe sobra no bolso depois do investimento inicial e demais custos. “No campo, a tomada de decisão é crítica, qualquer erro pode comprometer tudo. A etapa final do processo consiste, sempre, aprender com os bons e maus resultados obtidos em cada temporada”, observa.

Parceria

Satisfeito pelo fato de os insumos da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral “responderem dentro dos tetos de produção previamente estabelecidos”, Pinheiro se tornou cliente habitual da Cati. Passou a comprar também sementes de trigo e de feijão na regional de Avaré, assim como começou a recomendar o uso delas para outros agricultores e agrônomos.

Em 1998, Pinheiro foi convidado por Iamanaka para plantar milho, soja, feijão, trigo e cevada na Campininha para produzir sementes para a Cati. Desde então, a parceria do Estado com a fazenda não parou mais. A última aquisição de insumos, realizada pelo produtor, foi no final de 2017. A compra incluiu 2,6 mil quilos de sementes usadas para cultivar 109 hectares.

Inovação

De acordo com o gerente, atualmente a Campininha adota os conceitos da chamada ‘agricultura de precisão’, baseada na produção sustentável a partir do emprego intensivo da tecnologia associado ao uso racional da água e dos demais recursos naturais. Essa metodologia inclui a coleta de dados meteorológicos de satélite na estação local da fazenda, a produção e análise de imagens aéreas produzidas por drones, estratégia para corrigir adubação e outros problemas no solo e mais a mecanização, com diversos equipamentos participando de processos de semeadura, adubação, irrigação, pulverização e colheita, entre outros.

“Hoje, a fazenda tem 400 hectares irrigados, mais 110 hectares de lavoura em área seca e 154 de pastagens no sistema intensivo rotacional. Entretanto, o emprego da tecnologia de ponta na maioria das culturas somente faz sentido com produtos confiáveis, como os da Cati, em uso na Campininha há mais de três décadas”, conclui.

Serviço

DSMM/Cati
Telefone (19) 3743-3820
E-mail dsmm@cati.sp.gov.br

Agricultura:
– Orgânica – Lei Federal nº 10.831/2003
– Familiar – Lei Federal nº 11.326/2006

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente nas páginas I, II e III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 30/05/2018. (PDF)

Agricultura apresenta balanço do setor no Estado nos últimos anos

Evento na capital reuniu representantes dos setores público e privado e apresentou inovações, como o controle informatizado do uso de agrotóxicos

Na tarde de ontem (19), mais de mil participantes lotaram as galerias do Auditório Ulysses Guimarães, no Palácio dos Bandeirantes, na capital, para conferir o evento Ato pela agricultura: Alimento, renda e trabalho!, realizado pela Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (SAA). O encontro apresentou balanço das ações realizadas pela pasta em prol do segmento agropecuário nos últimos anos e promoveu a assinatura de convênios da SAA com os municípios paulistas.

O público participante na sede do Governo reuniu lideranças do agronegócio, representantes de prefeituras, entidades, cooperativas e associações, empresas de máquinas e insumos agrícolas, produtores rurais, técnicos e pesquisadores ligados à SAA.

Na abertura dos trabalhos, representando uma das 267 cooperativas atendidas pelo Projeto Microbacias II – Acesso ao Mercado, da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati/SAA), a produtora rural Solange Nobre, coordenadora da Associação de Produtores e Olericultores de Lins (Apol), destacou os bens obtidos por seu grupo, composto por 180 agricultores familiares.

“Por meio do financiamento obtido, conseguimos comprar caminhão- baú refrigerado, computadores, balanças e todo o material necessário para processar hortifrútis orgânicos e convencionais, inclusive montamos uma loja”, revelou.

Regional

Na sequência, foi apresentada a Cartilha de regularização fundiária em terras devolutas estaduais nas regiões administrativas de Registro e de Itapeva, publicação elaborada pela Fundação Instituto de Terras do Estado (Itesp), órgão da Secretaria Estadual da Justiça e da Defesa da Cidadania, distribuída em parceria com a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Faesp). Em breve disponível no site do Itesp, o documento aborda a Lei estadual nº 16.475/2017 e visa a trazer segurança jurídica para pequenos e médios produtores rurais ao determinar as regras de posse em terras devolutas estaduais.

A recuperação da Fazenda Ataliba Leonel, pertencente ao Departamento de Sementes, Mudas e Matrizes (DSMM) da Cati, foi outro destaque. Localizada em Manduri, no Sudoeste paulista, e pioneira na produção de sementes de milho orgânico no Brasil, desde 2016 recebeu investimento de R$ 6,6 milhões e retomou sua produção. Entre as melhorias, inovou em processos de terceirização de mão de obra para semeadura e colheita, modernizou a Unidade de Beneficiamento de Sementes (UBS) e irá produzir, até o final do ano, 120 mil sacos de 20 quilos de sementes de milho, variedade tradicional, produto disponível para venda nas Casas da Agricultura de todo o Estado.

A conservação de nascentes de rios nas cidades de Holambra, Pardinho e Botucatu foi outro tema destacado. Essa medida integra o Programa Nascentes, ação coordenada pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente com o apoio de mais 11 pastas. Na oportunidade, foram destacados também o tratamento de esgoto nas propriedades rurais e mais medidas de preservação ambiental e de contenção da água das chuvas, de modo a evitar a erosão.

Multiplicação

Divulgado no evento, o Balanço Social da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta/SAA) revelou que para cada real investido na agência é gerado retorno de R$ 12,20 para a sociedade. Esse resultado foi obtido a partir da análise dos impactos econômicos, sociais e ambientais de 48 tecnologias desenvolvidas nos seis institutos e 14 polos regionais da Apta no biênio 2016/2017.

A publicação está disponível no site do Apta (ver serviço). “Esses dados mostram a importância do investimento nos institutos de pesquisa do Estado. O retorno segue direto para a sociedade, por meio de empregos, renda para o produtor e empresas e alimentos saudáveis”, destacou Orlando de Melo Castro, coordenador da Apta.


Controle de agrotóxicos informatizado

Para ampliar a segurança no uso de agroquímicos, a Coordenadoria de Defesa Agropecuária (CDA/SAA) anunciou, ontem, a informatização de todos os processos envolvendo o uso de agrotóxicos no território paulista. Pioneira no País e alinhada à Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) – Lei federal nº 12.305/2010, a metodologia empregada segue o princípio da logística reversa, isto é, responsabiliza o fabricante de um produto pelo descarte ambiental de todos os seus componentes.

De acordo com o agrônomo Rafael de Melo Pereira, diretor do Centro de Fiscalização de Insumos e Conservação do Solo, a informatização do controle dos defensivos foi finalizada no Sistema de Gestão de Defesa Animal e Vegetal (Gedave), da SAA, no dia 18 de março. “Todos os processos manuais e em papel foram eliminados e agora todos os processos estão integrados no Gedave. O cadastro no sistema é gratuito e uma das funcionalidades incorporadas é alertar o produtor rural sobre quando deverá devolver, obrigatoriamente, as embalagens vazias para os fabricantes após o uso”, esclarece Pereira (ver serviço).

Autorização

A informatização possibilita à CDA monitorar em tempo real o fluxo de utilização dos agrotóxicos no Estado. “O Gedave permite às 40 regionais da CDA planejar e executar ações mais eficazes de fiscalização de uso dos defensivos, uma arma importante para combater pragas da citricultura, como o greening e o cancro cítrico, além de outras presentes em canaviais, cafeeiros e diversos outros plantios”, comenta Pereira.

A ferramenta inclui receituário agronômico e sistemas de relatórios e de auditoria de atividades. Com poucos cliques, o produtor faz diversas consultas e consegue verificar, por exemplo, se um agroquímico tem registro para uma determinada cultura e, ainda, se a loja ou a empresa aplicadora está regular com o Estado. Outra inovação é resolver on-line demandas que antes exigiam pelo menos quatro meses, como a solicitação de recolhimento de produtos vencidos, por exemplo.

Serviço

Sistema Gedave
Apta Balanço Social

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página I do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 20/03/2018. (PDF)

Com foco na preservação, pesquisa identifica frutas raras da mata atlântica

Estudo da Esalq-USP e Unicamp comprova ação antioxidante, antimicrobiana e anti-inflamatória de ubajaí, grumixama, araçá-piranga, bacupari-mirim e cereja-do-rio-grande

Estudo acadêmico pioneiro identificou cinco espécies de frutas originárias da mata atlântica com elevadas propriedades bioativas, isto é, além do valor nutricional, elas possuem ação antioxidante, anti-inflamatória e antimicrobiana, entre outras características funcionais. Os autores são os professores Severino Matias de Alencar, doutor em ciências de alimentos da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP), e Pedro Luiz Rosalen, doutor em farmacologia da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

De acordo com os cientistas, as pesquisas com alimentos naturais com funções biológicas encontrados em biomas brasileiros começaram há mais de 20 anos. O própolis, considerado um dos antibióticos mais antigos que se tem conhecimento, foi o primeiro extrato vegetal estudado. Desde o princípio, o trabalho da dupla tem a participação do biólogo Masaharu Ikegaki, doutor em ciências de alimentos da Universidade Federal de Alfenas (Unifal-MG).

Prata da casa

O trabalho pretende preservar biomas ameaçados, como a mata atlântica, incentivar o uso sustentável da biodiversidade por meio da agricultura familiar e encontrar novas matérias-primas para a indústria alimentícia, cosmética e farmacêutica, entre outros propósitos. “Uma das expectativas é repetir o sucesso internacional do açaí”, explicam Alencar e Rosalen, comentando sobre o fruto de palmeira amazônica altamente energético, rico em antioxidantes, com vasto consumo no Brasil e exportado para diversos países.

Segundo eles, as frutas nativas pesquisadas apresentam novos sabores e texturas para chefs de cozinha ávidos a inovar em seus pratos. Elas são também fonte de recursos para a universidade pública. “Essas descobertas resultaram no depósito de cinco patentes, e uma delas gera renda a partir da venda de produtos registrados”, explica a dupla, sublinhando o “papel fundamental” das agências de inovação da USP e da Unicamp no processo de definição das regras de exploração de uso da propriedade intelectual desenvolvida.

Saudáveis

Com exceção do bacupari-mirim, as outras quatro variedades provenientes na mata atlântica estudadas a partir do ano 2012 são do gênero Eugenia: araçá-piranga, cereja-do-rio-grande, grumixama e ubajaí. “Elas são raras e algumas estão em risco de extinção. As amostras usadas nos testes de laboratório foram fornecidas por um produtor de Campina do Monte Alegre, cidade paulista próxima a Itapetininga”, explicam.

O estudo analisou os compostos fenólicos das folhas, sementes e polpa das frutas, isto é, averiguou o conjunto de estruturas químicas presentes nelas com potencial preventivo e funcional e seus mecanismos antioxidantes e anti-inflamatórios. Essas propriedades inibem processos ligados a fatores de risco do desenvolvimento de doenças, como câncer, diabetes e Alzheimer. Combatem também os chamados radicais livres, aceleradores do envelhecimento.

Promissoras

Do ponto de vista da ação antioxidante e antirradicais livres, as frutas com maiores porcentuais encontrados nos testes foram a grumixama e a cereja-do-rio-grande – ambas têm sabor agridoce, semelhante ao da amora e do morango. O araçá-piranga se revelou um anti-inflamatório poderoso. Ele inibiu 63% dos processos estimulados em laboratório e apresentou significativa ação antimicrobiana.

O próximo passo, informam os pesquisadores, é aprimorar o cultivo e a produção das plantas pesquisadas. “Iremos agora ‘domesticar’ essas espécies para o cultivo, com o intuito de homogeneizar frutos, obter mudas e orientar um método de manejo adequado a pequenos produtores. Assim, além de preservarem as espécies nativas, eles terão alimento saudável e a opção de gerar renda para suas famílias”, explicam.

Cooperação

Desde 2012, o estudo conjunto Esalq-USP e FOP-Unicamp recebe auxílio regular da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que é direcionado para manter equipamentos e comprar materiais de consumo. De acordo com Alencar e Rosalen, também bolsistas de produtividade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o fato de terem passado por uma seleção da Fapesp para receber o recurso inicial os credenciou a firmarem em 2014 uma cooperação bilateral com a Universidad de La Frontera, do Chile, na área de alimentos funcionais e funções biológicas.

No acordo internacional estabelecido, os cientistas brasileiros estudam as frutas nativas de seu território, e os chilenos, as do país deles, incluindo fungos comestíveis. Os dois grupos mantêm contato permanente, compartilham metodologias de trabalho, resultados encontrados e promovem o intercâmbio de pesquisadores entre as instituições científicas participantes: Esalq-USP, FOP-Unicamp e Universidad de La Frontera.

“Hoje, no mundo, há uma corrida entre diversos centros de pesquisa para encontrar substitutos para os antioxidantes sintéticos usados pela indústria, como o hidroxitolueno butilado (BHT), substâncias que podem provocar efeitos colaterais no organismo”, explica a dupla. “Assim, outro rumo do trabalho é achar na flora brasileira uma opção natural ao BHT e similares, se possível, a partir de uma dessas frutas ameaçadas de extinção. Essa opção seria mais barata, sustentável e teria apelo ecológico”, concluem.

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 30/11/2017. (PDF)