AgriFutura apresenta na capital as novas tecnologias do campo

Evento realizado no Instituto Biológico destaca projetos recentes da agricultura paulista e revela como a inovação pode revolucionar a agropecuária nacional

O AgriFutura, evento promovido pela Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento (SAA), realizado no último fim de semana, atraiu mais de 2 mil participantes para o Instituto Biológico (IB), órgão da SAA sediado na Vila Mariana, zona sul da capital.

Formado por produtores rurais, técnicos agrícolas, empresários e universitários, o público visitou estandes de empresas, conheceu os 12 projetos de tecnologia desenvolvidos na competição Hackathon e assistiu às palestras destacando as mais recentes inovações aplicadas no campo.

Tendo como parceiros na organização a Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa do Agronegócio (Fundepag) e as agências Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta) e a Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), o AgriFutura teve como cenário duas tendas montadas ao lado dos 2 mil pés de café cultivados no IB.

Projeção

Nos dois dias do evento, as palestras incluíram temas como internet das coisas, uso de drones e informações aeroespaciais, Big Data e telemetria e gerenciamento de dados meteorológicos, uso de probióticos na aquicultura, entre outros.

Na abertura dos trabalhos, Antônio Álvaro Duarte, presidente da Fundepag, apontou o uso da tecnologia como saída para o País obter mais riquezas com sua agricultura e torná-la mais competitiva. “A estratégia nacional é lançar cada vez mais mão desse recurso para agregar maior valor às cadeias produtivas e atender ao mercado interno e de exportação”, informou.

Ranking

Segundo Duarte, no último ranking internacional Global Innovation Índex – levantamento anual realizado pela Organização Mundial de Propriedade Intelectual –, de um universo de 127 participantes, o Brasil ficou no posto de número 69 entre os mais inovadores (ver Serviço). “Embora em posição desfavorável nesse estudo de 2017, vejo que podemos figurar entre os 20 primeiros colocados em 2025”, pontuou.

Também pesquisador do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital/SAA), Duarte sublinha questões favoráveis para o crescimento. Segundo ele, imagens da órbita terrestre produzidas pela Nasa indicaram que a atividade agropecuária ocupa apenas 7,6% do território brasileiro. “É possível crescer em produtividade aumentando a eficiência nas áreas cultivadas, inclusive com sustentabilidade e preservação ambiental”, concluiu.

Parcerias

Seguindo a linha de raciocínio, o agrônomo Orlando de Melo Castro, coordenador da Apta, destacou o fato de muitas inovações apresentadas ao público terem origem nos 14 polos regionais e em seis institutos da Agência, rede formada pelo IB, Ital, Agronômico de Campinas (IAC), Economia Agrícola (IEA), Zootecnia (IZ) e Pesca (IP).

“São tecnologias diversas, voltadas para promover a sanidade animal e vegetal, diminuir o uso de agroquímicos, poupar água e aumentar a produção e a saudabilidade dos alimentos, entre outras propostas”, explicou Castro.

“Hoje, há muito conhecimento disponível, o desafio é conseguir abreviar o tempo necessário para transformá-lo em inovação, isto é, aprimorar processos em todas as etapas das cadeias produtivas.” Para isso, destacou como fundamental o papel dos Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs), presentes em todos os institutos da Apta/SAA.

“Cada NIT estrutura ações de proteção de propriedade intelectual e de compartilhamento do direito de uso das inovações desenvolvidas com empresas”, observa. Em novembro de 2016, foi assinada a primeira cooperação científica, por meio do NIT do IZ. Nela, o parceiro privado apoiou o desenvolvimento da tecnologia e agora investe na produção e comercialização de um carrapaticida à base de extratos naturais.

Resíduo reaproveitado

No AgriFutura, Gisele Anne Camargo, agrônoma do Ital, apresentou pela primeira vez os resultados de uma pesquisa conjunta realizada com o IAC. Com pedido de patente depositado em janeiro, a tecnologia dá às cooperativas e aos pequenos e médios produtores de café robusta opção de destinação mais rentável para os resíduos da casca do grão.

“Em vez de usar como adubo, o conceito é extrair, sem usar solventes, a cafeína e os antioxidantes: existentes na casca”, explica Gisele. Os resultados obtidos são dois ingredientes; um extrato aquoso, para ser usado em bebidas energéticas, saudáveis e sucos; e um, extrato seco para produzir biscoitos e barras de cereais. “Essa inovação possui também usos nas indústrias de cosméticos e de fármacos. Empresa interessada na tecnologia deve consultar o site da Rede NIT-Apta (ver Serviço).

Olho eletrônico

Usando software livre, a agrônoma Juliana Sanches, do IAC, criou um sistema informatizado para identificar frutas e hortaliças saudáveis e confirmar se as mesmas seguem aos padrões exigidos pela indústria, varejo e consumidores. Iniciado em 2005, com o limão taiti, o projeto atende produtores rurais de todos os portes.

Segundo a agrônoma, o ponto inicial foi fotografar e analisar exemplares de maçãs, tomates, pêssegos e gérberas e compará-los com as tabelas de classificação usadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e pela Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), as referências para classificação de peso e de cor usadas no mercado.

O passo seguinte foi criar parâmetros para o programa, tomando como referência de precisão a medição feita por colorímetros e paquímetros digitais – e assim construir dados confiáveis para servir como base nas comparações.

“Em 2009, a análise do formato do morango rendeu prêmio de iniciação científica a um aluno bolsista do IAC”, recorda. Desde então, vieram análises do pedúnculo do pimentão, verificação de danos mecânicos em maçãs e ameixas e a identificação da coloração e do tamanho de pêssegos e nectarinas – estudo que tem apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapesp).

O próximo passo agora é desenvolver uma mesa de seleção nacional com a tecnologia, de modo a oferecer aos produtores uma opção aos maquinários importados, inacessíveis para muitos por causa do preço.


Inovação em extensão rural é foco da Cati no AgriFutura

Campeões da competição Hackathon ganharam televisores; na disputa de programação, 12 equipes criaram soluções de tecnologia viáveis para a agropecuária nacional

No estande da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), o visitante do AgriFutura pode saber mais sobre o trabalho de extensão rural realizado pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SAA) em todo o território paulista. De acordo com o agrônomo José Maiorano, diretor regional de Campinas, as ações de orientação e de financiamento são realizadas nas 594 Casas de Agricultura, trabalho complementado pelos 40 Escritórios de Desenvolvimento Rural e 21 Núcleos de Produção de Sementes e Mudas.

“O foco principal dos atendimentos é auxiliar as cooperativas e os agricultores familiares no processo de tomada de decisão. Inclusive, com relação ao uso e possibilidades das novas tecnologias, considerando a oferta atual delas”, explicou Maiorano, ao lado de seu colega, Victor Branco de Araújo, diretor do Centro de Produção e Mudas do Departamento de Sementes, Mudas e Matrizes (DSMM) da Cati Campinas.

Censo rural

Entre outras inovações, o público conheceu no espaço da Cati o drone utilizado na produção de conteúdos, assim como o computador portátil usado no Censo Rural Paulista realizado nas 324 mil propriedades rurais do Estado. Com GPS e câmera embarcados, o dispositivo desenvolvido por profissionais da Cati e do IEA eliminou o papel no mapeamento das áreas.

O casal Iraci Clemente e Claudinei Pereira se interessou pela terra diatomácea, método de tratamento para sementes de milho variedade desenvolvido na Cati, cujos testes do projeto-piloto foram realizados pelo agrônomo Márcio Mondini, no Núcleo de Paraguaçu Paulista. “Essa tecnologia é uma alternativa mais barata, ecológica e sustentável de controle de insetos e pragas em comparação com o trato tradicional, que tem base em inseticidas e fungicidas”, explicou Maiorano.

Sua origem é o diatomito, tipo de rocha formada por algas mortas depositadas no fundo dos oceanos e rios há milhões de anos. Rica em silício e com diversas aplicações, a terra diatomácea é usada por mineradoras como isolante térmico. Áspera e abrasiva, também limpa metais e azulejos; nos cremes dentais, auxilia na retirada de restos de alimentos dos dentes; e na indústria cervejeira é usada para filtrar as sobras da fermentação alcoólica. “Foi uma grande surpresa descobrir que essa tecnologia também serve para feijão, trigo, milho, sorgo, soja e lentilha”, comentou Iraci.

Programação

A CampoTracker foi a equipe campeã do Hackathon, competição disputada ao longo dos dois dias do AgriFutura. Aberta a estudantes e profissionais das áreas de informática, agronegócio e criatividade, a maratona de programação foi organizada pela empresa Embarcados e teve 62 participantes, divididos em 12 equipes.

No desafio, cada grupo precisou escolher um dos quatro temas propostos: Clima, Doenças e Pragas, Comercialização ou Extensão Rural – e desenvolver e apresentar uma solução de tecnologia viável a partir dele. De acordo com Thiago Lima, diretor da Embarcados, a propriedade intelectual das ideias desenvolvidas no Hackathon segue com os autores.

“A torcida é para que os projetos originem novos negócios ou sejam incorporados em empresas estabelecidas”, informou Lima. No domingo, cada grupo teve três minutos para expor à plateia e aos juízes os trabalhos, e, na avaliação, foram considerados como critérios de julgamento: coerência, originalidade, impacto e execução.

Time campeão

Comercialização foi o tema escolhido pelas três equipes mais bem-colocadas. O projeto campeão é de autoria da especialista em marketing de produtos Samira Penteado, dos agrônomos Daniel Penteado e Felipe Sartori e dos analistas de sistemas Guilherme Uezima e Gustavo Soré. O grupo desenvolveu um sistema integrado de monitoramento de produtos, com o propósito de banir a pirataria e o contrabando da cadeia econômica de agroquímicos.

De acordo com o Fórum Nacional Contra Pirataria (FNCP), realizado em 2016, os produtos falsificados representavam 10% do setor de defensivos agrícolas no Brasil. No ano passado, o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg) elevou esse índice para um volume próximo de 20% das vendas e estimou os prejuízos em R$ 7 bilhões.

Perigos

Segundo os campeões, quando o produtor compra agrotóxico falsificado põe em risco sua saúde, a propriedade e o meio ambiente, por usar algo sem saber a real composição e procedência. Além disso, há também prejuízos para os fabricantes, por deixarem de vender seus produtos legítimos e ter seus nomes e marcas registradas associados a problemas causados pelos itens falsos.

A solução desenvolvida tem origem no sistema conhecido como Identificação por Radiofrequência (sigla em inglês RFID) e consiste em instalar dois sensores na embalagem de cada produto. O primeiro deles, com informações sobre lote, fabricação, data de validade, etc., permite à indústria rastrear em tempo real onde o mesmo está; o segundo, um lacre, informa se ocorreu alguma violação em qualquer etapa – desde a fabricação até chegar ao produtor.

Entusiasmados com o título do Hackathon, os autores da solução projetada para rodar em iPhones e em celulares Android procuram agora investidores-anjo dispostos a financiar a abertura de uma empresa. O custo total estimado é de R$ 500 mil e inclui o desenvolvimento do negócio, com software e hardware próprios, além do treinamento de recursos humanos.

Serviço

Agrifutura
Hackathon
Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI)
The Global Innovation Índex
Fundepag
Rede NIT-Apta
Embarcados

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente nas páginas II e III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 07/03/2017. (PDF)

Unicamp inova na produção de alimentos com probióticos

Tecnologia desenvolvida abre novas possibilidades para a indústria alimentícia; quando consumidos regularmente, micro-organismos trazem benefícios à saúde

Com pedido de patente já encaminhado, uma pesquisa com probióticos do Laboratório de Microbiologia Quantitativa de Alimentos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) abriu novas perspectivas para a sua utilização na indústria alimentícia. De acordo com o professor Anderson de Souza Sant’Ana, responsável pelo projeto acadêmico, esses micro-organismos já são incluídos vivos na composição de alimentos como iogurtes, leites fermentados, queijos e produtos lácteos, entre outros, e quando consumidos regularmente, trazem benefícios à saúde.

Atualmente, explica Sant’Ana, docente do Departamento de Ciência de Alimentos, da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA-Unicamp), um dos principais desafios do grupo de cientistas é encontrar meios para aumentar a sobrevivência dos probióticos em algumas etapas do processamento industrial dos alimentos. Isto é, como fazê-los resistir as altas temperaturas empregadas, ou, ainda, como resistir a uma mistura ácida comum, como, por exemplo, o suco de laranja.

Macarrão e almôndega

No Laboratório de Microbiologia Quantitativa de Alimentos, Anderson coordena equipe formada por quatro pós-doutorandos e 20 alunos de iniciação científica (graduação), mestrado e doutorado. Em 2017, o grupo apresentou três teses de doutorado. A primeira delas, de autoria da pesquisadora Mariana Batista Soares, teve bolsa concedida pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapesp) e consistiu em adicionar probióticos esporulados ao requeijão, ou seja, adotou como estratégia a incorporação deles ao alimento em uma fase de desenvolvimento anterior à adulta.

As outras duas tecnologias são de autoria das gêmeas Caroline e Carine Nunes de Almada. Com bolsas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), as irmãs produziram trabalhos acadêmicos com resultados promissores para a indústria alimentícia. “Tão logo foi identificado o potencial delas para a indústria, buscamos apoio e orientação da Agência de Inovação Inova Unicamp para proteger a descoberta com pedidos de patente junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi)”, informa Sant’Ana.

De acordo com a literatura científica, quanto mais íntegro for o probiótico na sua ingestão, maiores serão os benefícios à saúde. Entretanto, destaca o professor Anderson, mesmo estando mortos, esses micro-organismos mantêm efeitos benéficos à saúde. Tomando por base esse princípio, Caroline desenvolveu uma versão inativa das bactérias probióticas para ser agregada ao macarrão. Chamada de paraprobiótica, pode ser adicionada a alimentos submetidos a alta temperatura em seu processo de produção.

Carine, avaliou o uso de oito tipos de probióticos esporulados com diversos alimentos, como leite, suco de laranja, almôndega, pão, pimenta em pó e iogurte – todos capazes de suportar processos como pasteurização, cozimento, forneamento e irradiação, comuns na indústria. Entre as variedade testadas, a de resultados mais satisfatórios foi averiguada com pão, suco de laranja e iogurte em simulações com roedores e em laboratório. O objetivo era estudar os efeitos benéficos à saúde quando as bactérias esporuladas eram veiculadas por diferentes alimentos.

“Os animais que consumiram o iogurte tiveram redução de glicose de 10% e de 34% de triglicerídeos, e também mostraram indicativos de efeitos benéficos sobre a microbiota intestinal”, relata o professor Sant’Ana. Assim, há agora novas possibilidades para a indústria, “pelo fato de os probióticos tradicionais não suportarem muitos dos processos testados agora com sucesso na Unicamp”, comenta. “Os próximos passos são aprimorar ainda mais a pesquisa e aguardar o contato de empresas interessadas nas inovações do Laboratório”, finaliza.

Serviço

Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA-Unicamp)
Tel. (19) 3521-2155

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página II do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 01/03/2018. (PDF)

Estado cria mais duas reservas naturais de preservação ambiental

Reserva Particular do Patrimônio Natural mantém a biodiversidade sem alterar o uso da propriedade; novas unidades preservam trechos de Mata Atlântica em Atibaia e em São Miguel Arcanjo

A Fundação Florestal, órgão da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SMA) entregou títulos de reconhecimento provisório para duas novas Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) no território paulista. Essas Unidades de Conservação (UCs) protegem trechos remanescentes de Mata Atlântica: a primeira delas, chamada Trápaga, tem 71 hectares de extensão e fica no município de São Miguel Arcanjo, região de Sorocaba; a segunda, denominada Solar da Montanha, com 1,2 hectare, está localizada em Atibaia.

De acordo com Walter Tesch, diretor executivo da Fundação Florestal, a RPPN é uma unidade de conservação da biodiversidade de domínio privado e perpétuo, podendo estar situada em trecho rural ou urbano. Tem como característica apresentar vegetação nativa íntegra e representativa do bioma de uma região – as paulistas, por exemplo, preservam áreas de Cerrado e Mata Atlântica – e cada uma delas também abriga recursos hídricos, como nascentes e cursos d’água, mata ciliar, fauna e flora, dentre outros elementos típicos de reservas nativas.

Conscientização

“Criar uma RPPN em um trecho delimitado ou em toda a extensão de uma propriedade é uma decisão cidadã, voluntária e exclusiva de seu dono. Entretanto, esse apoio privado é fundamental para o esforço nacional de conservação”, sublinha Walter. Segundo ele, não há tamanho mínimo para o estabelecimento de uma reserva particular, assim como não são exigidas desapropriações, permanecendo o dono e seus herdeiros e sucessores plenos senhores da área, devendo apenas observar os usos previstos pela legislação, assim como as obrigações assumidas quando da criação da UC.

De acordo com Ana Fernandes Xavier, analista de recursos ambientais da Fundação Florestal, para formalizar o pedido de criação junto ao poder público, o site da Fundação Florestal detalha os passos necessários, incluindo a documentação, prazos e outras informações.

“O procedimento é simples. Se a documentação estiver regular, é possível obter o registro provisório em quatro meses. Essa autorização dá ao dono prazo de 60 dias para solicitação em cartório do título definitivo – e, uma vez criada a RPPN, a reserva passa a integrar o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), instituído pela Lei Federal 9.985/2000.

De âmbito nacional, essa legislação possibilita nas RPPNs o desenvolvimento de pesquisas, atividades de ecoturismo, educação ambiental e iniciativas voltadas ao desenvolvimento sustentável, capazes de gerar emprego e renda para os moradores das adjacências.

“A partir de 1992, iniciou-se no Estado de São Paulo a criação das reservas particulares, a primeira delas instituída pelo Ibama. Em 2006, com a promulgação do Decreto 51.150, foi criado o Programa Estadual de Apoio às RPPN Paulistas da Fundação Florestal. Atualmente, já somando as duas novas recém-criadas, o território paulista tem 93 RPPNs, totalizando 21,3 mil hectares de vegetação nativa preservada”, observa Ana, que ao lado do engenheiro agrônomo Oswaldo José Bruno pelo Programa RPPN Paulistas. (ver links em Serviço)

Segundo Ana, algumas RPPNs possibilitam conectar a reserva particular com outras UCs já existentes, como parques naturais municipais e estaduais, Áreas de Proteção Ambiental (APAs). Dessa forma, ampliam a proteção de ecossistemas e a sobrevivência da flora e fauna. Uma conquista já obtida, destaca, é o fato de 45 RPPNs paulistas terem sido instituídas por meio do programa da Fundação Florestal e de estarem em análise mais 25 pedidos de criação de novas reservas particulares.

Além disso, no Estado de São Paulo, os donos de RPPNs têm a possibilidade de participar de editais do Projeto Crédito Ambiental Paulista (CAP) e receber pagamento por serviços ambientais, como proteção, recuperação e vigilância. Pioneira no País, essa iniciativa utiliza recursos do Fundo Estadual de Controle e Prevenção da Poluição (Fecop).


Pioneirismo

Reconhecida em setembro de 2014, a Reserva Botujuru – Serra do Itapeti, de Mogi das Cruzes, foi a primeira RPPN paulista a ter seu plano de manejo aprovado na SMA (novembro de 2015). Esse documento, explica Júlia Krahenbuhl, do Instituto Ecofuturo, Organização Não-governamental (ONG) responsável pela gestão da área verde, tem por objetivo cumprir as metas definidas na criação da UC, além de estabelecer as ações necessárias para o uso sustentável e a manutenção de uma das últimas áreas remanescentes de Mata Atlântica da região.

A RPPN ocupa 437 hectares da antiga Fazenda Rodeio e pertence à Suzano Papel e Celulose – sua finalidade original era fornecer eucalipto para o parque fabril. Em 2008, a empresa uniu-se a outras duas do setor imobiliário e juntas elaboraram o plano urbanístico da Serra do Itapeti. Nesse projeto, situado dentro da mancha urbana de Mogi das Cruzes, incluíram lotes residenciais e comerciais, e desde a criação da reserva, o grupo Suzano delegou sua gestão ao Instituto Ecofuturo.

Oásis urbano

Localizada entre os municípios de Suzano, Guararema e Mogi das Cruzes, a Serra do Itapeti tem cerca de 33 mil hectares e abriga nascentes dos rios Tietê e Paraíba do Sul, com alta diversidade de espécies. Muitas delas, inclusive, ameaçadas de extinção, como o cascudinho do tietê (peixe), o pavó (ave) e a palmeira juçara (fornecedora de palmito).

Júlia destaca o fato da RPPN criada integrar o corredor verde formado pelo Parque Municipal Chiquinho Veríssimo e a Estação Ecológica Itapeti, da SMA, ambos em Mogi das Cruzes, e mais a APA Várzeas do Tietê, unidade de conservação fundamental para represar a água da chuva e conter enchentes na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP). “A preservação de toda a área é fundamental para a qualidade de vida na capital e adjacências. Todos os cursos d’água da RPPN desembocam no Ribeirão Botujuru, afluente urbano importante do Rio Tietê”, informa.

Serviço

Fundação Florestal
Programa RPPN Paulista/SMA
Tel. (11) 2997-5063
e-mail rppn@fflorestal.sp.gov.br

Decreto Estadual 51.150/2006
Lei Federal 9.985/2000 (SNUC)
Instituto Ecofuturo

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 24/02/2018. (PDF)