Estado cria mais duas reservas naturais de preservação ambiental

Reserva Particular do Patrimônio Natural mantém a biodiversidade sem alterar o uso da propriedade; novas unidades preservam trechos de Mata Atlântica em Atibaia e em São Miguel Arcanjo

A Fundação Florestal, órgão da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SMA) entregou títulos de reconhecimento provisório para duas novas Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) no território paulista. Essas Unidades de Conservação (UCs) protegem trechos remanescentes de Mata Atlântica: a primeira delas, chamada Trápaga, tem 71 hectares de extensão e fica no município de São Miguel Arcanjo, região de Sorocaba; a segunda, denominada Solar da Montanha, com 1,2 hectare, está localizada em Atibaia.

De acordo com Walter Tesch, diretor executivo da Fundação Florestal, a RPPN é uma unidade de conservação da biodiversidade de domínio privado e perpétuo, podendo estar situada em trecho rural ou urbano. Tem como característica apresentar vegetação nativa íntegra e representativa do bioma de uma região – as paulistas, por exemplo, preservam áreas de Cerrado e Mata Atlântica – e cada uma delas também abriga recursos hídricos, como nascentes e cursos d’água, mata ciliar, fauna e flora, dentre outros elementos típicos de reservas nativas.

Conscientização

“Criar uma RPPN em um trecho delimitado ou em toda a extensão de uma propriedade é uma decisão cidadã, voluntária e exclusiva de seu dono. Entretanto, esse apoio privado é fundamental para o esforço nacional de conservação”, sublinha Walter. Segundo ele, não há tamanho mínimo para o estabelecimento de uma reserva particular, assim como não são exigidas desapropriações, permanecendo o dono e seus herdeiros e sucessores plenos senhores da área, devendo apenas observar os usos previstos pela legislação, assim como as obrigações assumidas quando da criação da UC.

De acordo com Ana Fernandes Xavier, analista de recursos ambientais da Fundação Florestal, para formalizar o pedido de criação junto ao poder público, o site da Fundação Florestal detalha os passos necessários, incluindo a documentação, prazos e outras informações.

“O procedimento é simples. Se a documentação estiver regular, é possível obter o registro provisório em quatro meses. Essa autorização dá ao dono prazo de 60 dias para solicitação em cartório do título definitivo – e, uma vez criada a RPPN, a reserva passa a integrar o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), instituído pela Lei Federal 9.985/2000.

De âmbito nacional, essa legislação possibilita nas RPPNs o desenvolvimento de pesquisas, atividades de ecoturismo, educação ambiental e iniciativas voltadas ao desenvolvimento sustentável, capazes de gerar emprego e renda para os moradores das adjacências.

“A partir de 1992, iniciou-se no Estado de São Paulo a criação das reservas particulares, a primeira delas instituída pelo Ibama. Em 2006, com a promulgação do Decreto 51.150, foi criado o Programa Estadual de Apoio às RPPN Paulistas da Fundação Florestal. Atualmente, já somando as duas novas recém-criadas, o território paulista tem 93 RPPNs, totalizando 21,3 mil hectares de vegetação nativa preservada”, observa Ana, que ao lado do engenheiro agrônomo Oswaldo José Bruno pelo Programa RPPN Paulistas. (ver links em Serviço)

Segundo Ana, algumas RPPNs possibilitam conectar a reserva particular com outras UCs já existentes, como parques naturais municipais e estaduais, Áreas de Proteção Ambiental (APAs). Dessa forma, ampliam a proteção de ecossistemas e a sobrevivência da flora e fauna. Uma conquista já obtida, destaca, é o fato de 45 RPPNs paulistas terem sido instituídas por meio do programa da Fundação Florestal e de estarem em análise mais 25 pedidos de criação de novas reservas particulares.

Além disso, no Estado de São Paulo, os donos de RPPNs têm a possibilidade de participar de editais do Projeto Crédito Ambiental Paulista (CAP) e receber pagamento por serviços ambientais, como proteção, recuperação e vigilância. Pioneira no País, essa iniciativa utiliza recursos do Fundo Estadual de Controle e Prevenção da Poluição (Fecop).


Pioneirismo

Reconhecida em setembro de 2014, a Reserva Botujuru – Serra do Itapeti, de Mogi das Cruzes, foi a primeira RPPN paulista a ter seu plano de manejo aprovado na SMA (novembro de 2015). Esse documento, explica Júlia Krahenbuhl, do Instituto Ecofuturo, Organização Não-governamental (ONG) responsável pela gestão da área verde, tem por objetivo cumprir as metas definidas na criação da UC, além de estabelecer as ações necessárias para o uso sustentável e a manutenção de uma das últimas áreas remanescentes de Mata Atlântica da região.

A RPPN ocupa 437 hectares da antiga Fazenda Rodeio e pertence à Suzano Papel e Celulose – sua finalidade original era fornecer eucalipto para o parque fabril. Em 2008, a empresa uniu-se a outras duas do setor imobiliário e juntas elaboraram o plano urbanístico da Serra do Itapeti. Nesse projeto, situado dentro da mancha urbana de Mogi das Cruzes, incluíram lotes residenciais e comerciais, e desde a criação da reserva, o grupo Suzano delegou sua gestão ao Instituto Ecofuturo.

Oásis urbano

Localizada entre os municípios de Suzano, Guararema e Mogi das Cruzes, a Serra do Itapeti tem cerca de 33 mil hectares e abriga nascentes dos rios Tietê e Paraíba do Sul, com alta diversidade de espécies. Muitas delas, inclusive, ameaçadas de extinção, como o cascudinho do tietê (peixe), o pavó (ave) e a palmeira juçara (fornecedora de palmito).

Júlia destaca o fato da RPPN criada integrar o corredor verde formado pelo Parque Municipal Chiquinho Veríssimo e a Estação Ecológica Itapeti, da SMA, ambos em Mogi das Cruzes, e mais a APA Várzeas do Tietê, unidade de conservação fundamental para represar a água da chuva e conter enchentes na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP). “A preservação de toda a área é fundamental para a qualidade de vida na capital e adjacências. Todos os cursos d’água da RPPN desembocam no Ribeirão Botujuru, afluente urbano importante do Rio Tietê”, informa.

Serviço

Fundação Florestal
Programa RPPN Paulista/SMA
Tel. (11) 2997-5063
e-mail rppn@fflorestal.sp.gov.br

Decreto Estadual 51.150/2006
Lei Federal 9.985/2000 (SNUC)
Instituto Ecofuturo

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 24/02/2018. (PDF)

Projeto da Fundação Florestal pretende preservar vegetação do cerrado paulista

Primeira colocada entre 192 concorrentes, a instituição vai conservar três áreas com quase mil hectares nos municípios de Rincão e São Carlos

Um projeto de preservação do cerrado paulista, proposto pela Fundação Florestal, vinculada à Secretaria Estadual do Meio Ambiente, foi classificado em primeiro lugar entre 192 concorrentes de todo o País para conseguir financiamento do Ministério da Justiça. A iniciativa preservará três importantes fragmentos de vegetação de cerrado e de floresta estacional, que totalizam 993 hectares, localizados nos municípios de Rincão e São Carlos.

Os recursos que possibilitarão a benfeitoria serão repassados pelo Conselho Federal Gestor do Fundo de Defesa dos Direitos Difusos, órgão do Ministério da Justiça que divulgou a relação com os 25 trabalhos escolhidos.

O dinheiro será destinado à reparação de danos causados ao meio ambiente por infração à ordem econômica e a outros interesses coletivos. O custo previsto é de R$ 354 mil: R$ 210 mil de origem federal e R$ 144 mil vindos da Fundação. O Projeto Conservação e Conectividade de Remanescentes de Cerrado e Floresta Estacional no Interior Paulista vai recuperar 14 hectares de matas ciliares, de modo a formar corredores ecológicos que permitam restabelecer a ligação entre os três terrenos.

Forte ameaça

Antônia Pereira de Avila Vio, diretora-executiva da Fundação Florestal, explica que o programa de preservação é fundamental. Mantém as últimas áreas de cerrado no Estado, bioma de grande diversidade biológica que já cobriu 14% do território paulista e hoje ocupa menos de 1% do total. Sandra Leite, uma das coordenadoras do programa, ressalta que das três áreas vegetais remanescentes escolhidas, duas estão sob forte ameaça de extinção e já foram motivo de multas pela Polícia Ambiental e de ações movidas pelo Ministério Público, em razão de desmatamentos irregulares. A terceira tem um processo de pedido de desmatamento no Departamento Estadual de Proteção de Recursos Naturais.

Os três fragmentos estão localizados num raio de 10 quilômetros entre as estações ecológicas de Jataí e de São Carlos, administradas pelo Instituto Florestal, que também participa do projeto. “Um dos efeitos positivos esperados é o amortecimento dos impactos nessas unidades de conservação de proteção integral”, anuncia Sandra.

Claudette Hahn, também coordenadora do projeto, informa que a recuperação das matas ciliares pode conseguir a adesão de proprietários rurais e eliminar fatores de degradação. Para isso, estão sendo instaladas unidades demonstrativas de recuperação florestal, que promovem reuniões e atividades objetivando sensibilizar e mobilizar a comunidade local, que participará da tomada de decisões.

SP tem um milhão de árvores nativas plantadas ao longo de suas rodovias

A Agência de Transporte do Estado (Artesp), órgão responsável pela fiscalização das atividades das empresas concessionárias das rodovias paulistas contabilizou 1,1 milhão de mudas de árvores nativas plantadas às margens das estradas privatizadas no Estado. A reposição florestal é ação prevista nos contratos de concessão entre as empresas e o governo de São Paulo.

Objetiva repor e recuperar a flora atingida pela construção e remodelação das vias. Depois de seis anos do início do programa de concessões, foram plantadas 311 mil árvores nas regiões de Campinas, 154 mil em Araraquara, 120 mil na Baixada Santista, 119 mil em Franca, 114 mil em Araras, 82 mil em Itu, 75 mil em Itapetininga, 46 mil em Ribeirão Preto, 30 mil em Bauru, 27 mil em Sorocaba, 10 mil em Mogi Guaçu e 4 mil em Barretos.

Recuperação dos passivos ambientais – problemas resultantes de obras e operação nas rodovias, assumidos pelas empresas ao assinarem o contrato de concessões – alcançou o índice de 60% de recuperação dos ecossistemas, num total de 3,5 mil quilômetros de rodovias. O trabalho consiste em recuperar a cobertura vegetal, fauna silvestre e realizar drenagens ao longo das pistas. No ano passado, as regiões mais recuperadas foram Itu (90%), Araraquara (82%) e Araras (77%), Bauru (76%) e Barretos (68%). A Artesp fiscaliza 12 concessionárias e o trabalho inclui a cessão de licenças ambientais.

A finalidade é causar menor impacto ao meio ambiente na execução das obras da malha viária, que interfiram em área de preservação permanente ou que necessitem de supressão de árvores nativas.

Plano emergencial

O conjunto de ações previstas em contrato permitiu a instalação de programas ambientais permanentes. Entre eles, a elaboração obrigatória de Plano de Ação Emergencial (PAE) para escolta ou atendimento a acidentes com transportes rodoviários, que carregam produtos considerados perigosos e prejudiciais ao meio ambiente. Atualmente, 23 programas socioambientais, alguns premiados, visam a melhorar a saúde e a qualidade de vida da população dos municípios interligados pelas rodovias concedidas. As atividades incluem avaliações acústicas, planos de salvamento arqueológico, passagens e estudos de manejo de fauna.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página II do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 04/12/2004. (PDF)