Estação Ciência faz 20 anos unindo cultura e entretenimento de qualidade

Instalações interativas e ambientes lúdicos despertam o gosto pelo conhecimento e ampliam a formação educacional do visitante

No próximo domingo, a Estação Ciência completa 20 anos e registra 8,3 milhões de visitas desde sua inauguração. Vinculada à Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP (PRCEU), o centro de divulgação científica interativo é pioneiro no País.

No mês de aniversário, além da programação especial, anuncia novidades em seus 5 mil metros quadrados de área, como a Praça dos Brinquedos, a nova cafeteria e a remodelação do conjunto da recepção, caixa e guarda-volumes.

Ao passar pela catraca e circular pelas dependências da Estação, o interessado entra em contato com construções de valor histórico da capital e tem a oportunidade de aprender ciências em ambientes lúdicos, distribuídos em dois pisos com mostras permanentes e temporárias.

A brincadeira enriquecedora do conhecimento é complementada com peças teatrais, palestras, oficinas e equipamentos especiais, como o simulador de terremotos. Às escolas da rede pública e particular são oferecidos empréstimos de 130 kits da Experimentoteca com atividades para alunos do ensino fundamental e médio. Para os professores, são ministrados cursos de capacitação e reciclagem.

Em sua fase inicial, Estação Ciência reunia somente estandes de empresas e tinha como público-alvo grupos escolares. Com o passar dos anos, houve mudança em seu perfil. Os intercâmbios e pesquisas com centros interativos de ciências internacionais, acompanhada da constante troca de informações de dados alinharam-na ao Exploratorium de San Francisco (EUA), ao Science Museum de Londres (Inglaterra) e ao Cosmocaixa de Barcelona (Espanha).

Passeio obrigatório

Diretor da EC desde 2004, o geólogo Wilson Teixeira destaca a consolidação do centro como roteiro turístico-cultural obrigatório do Brasil. Porém, sem perder de vista sua proposta principal, de promover a divulgação científica e os avanços tecnológicos fora do ambiente escolar.

“Além da Petrobras, muitas empresas têm proposto parcerias para criarmos novas exposições itinerantes. Na pauta atual estão relacionados temas de preservação do ecossistemas e o combate ao desperdício de água. Mostras complementam o acervo permanente, atraem público e mídia e depois rodam o País”, observa.

Segundo Carmem Ruiz, supervisora da Experimentoteca, a proposta de emprestar kits visa a aguçar a curiosidade, despertar talentos precoces e ampliar a formação educacional do visitante.

“Muitas atividades remetem a fenômenos naturais, presentes no dia-a-dia das pessoas. Com a experimentação, torna-se possível compreendê-los com mais graça e facilidade. A mistura lúdica de divulgação científica com entretenimento é arma eficaz na formação de cidadãos mais conscientes e responsáveis”, conclui.

O corpo profissional da Estação Ciência é constituído por professores, cem alunos estagiários da USP (monitores), 40 funcionários, voluntários de ONGs e técnicos de formação multidisciplinar.

O pessoal especializado auxilia nos experimentos, informa e esclarece dúvidas sobre as exposições permanentes. Os temas abordados são variados e contemplam todas as áreas do conhecimento: humanas, exatas, agrárias, biológicas e saúde.

Lazer cultural

O universitário Bruno Luiz de Oliveira, terceiro anista de Biologia da USP, foi estagiário da Estação Ciência até o final do ano passado. Hoje, prestes a concluir sua graduação, é professor do Colégio Claretiano e responsável pelo laboratório da escola. Neste período, não deixou de frequentar o local para rever amigos e conferir as novidades. No último dia de maio, regressou em visita agendada com seus alunos.

“Eles puderam aprender mais sobre Matemática, Física e Ciências. Fizeram perguntas e pretendo respondê-las nas próximas aulas. Para mim, sempre será gratificante voltar aqui”, diz.

Outro grupo de alunos provenientes da Unesp de Rio Claro e universitários do curso de Matemática também aprovaram a visita. O estudante Northon Canevari comentou que sua turma pode conferir na prática conceitos conhecidos somente na teoria. “E a interação com os universitários da USP também foi muito proveitosa”, observa.


Arte e ciência no palco

O teatro da Estação Ciência tem capacidade de 190 lugares. Em seu palco são encenadas peças e realizadas oficinas, aulas-espetáculo, palestras e seminários direcionados para públicos variados e de todas as idades. O seu Núcleo Teatral já produziu oito espetáculos ligados ao universo científico.

Desde 1998, o diretor-artístico Cauê Mattos lidera a equipe de 13 profissionais do grupo e responde pela pesquisa e produção. Ele explica que as montagens criadas resgatam da cultura popular, história, literatura, música, geografia, economia e artes plásticas. Depois da temporada no palco da Estação Ciência, essas montagens rodam o país inteiro em turnês.

“Os espetáculos encenados permitem licenças poéticas nos roteiros. A peça mais recente é Parem Tudo Vamos Voar. Traz metáforas sobre a liberdade, celebra o centenário do voo do 14 Bis em Paris e narra ao público, infantil e adulto, a vida de Santos Dumont. Provoca na plateia reflexões, como o gênio brasileiro da aviação pensaria se vivesse nos nossos dias, em conjunto com a apresentação de conceitos de aerodinâmica”, relata Cauê.


Memória ferroviária

A história da Estação Ciência começou em dezembro de 1986, a partir da doação de um terreno de 2 mil metros quadrados do governo paulista para o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O local abrigava um conjunto de antigos barracões construídos no início do século passado e foi repassado em 1990 para a Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP.

O nome e o primeiro logotipo da Estação Ciência são criações do publicitário Washington Olivetto e remetem à memória ferroviária do Estado. O centro de cultura é tombado pelo patrimônio histórico e preserva instalações de uma tecelagem, cujos galpões foram reconstruídos após um incêndio em 1936. Até a década de 70, foram utilizados como depósito de sementes da Secretaria Estadual da Agricultura até a doação para o CNPq, em 1986.

O logotipo atual foi redesenhado recentemente. Apresenta a ciência como um ciclo em constante transformação. Em breve, novo elemento será acrescentado à identidade visual: a torre da entrada, em substituição aos antigos barracões.


O senhor dos projetos

O arquiteto Francisco Medeiros é o responsável pela concepção e montagem dos elementos nas exposições – produz maquetes e projeta os espaços das mostras. Para evitar distorções na divulgação e compreensão dos conceitos científicos, tenta reproduzir com fidelidade máxima cada fenômeno natural abordado. Preocupa-se em prover instalações que sejam agradáveis e seguras para o público, utilizando materiais tecnológicos, resistentes e ecológicos.

“Antes da inauguração de uma atração, há muita pesquisa e trabalho de equipe. O tempo mínimo de preparação é de três meses e alguns projetos ultrapassam um ano de preparação, como o Tsunami e o Furacão, que utilizam água nas instalações. Os debates contemplam, entre outras questões, a base científica da mostra, quais equipamentos serão utilizados, o tamanho e a ocupação do espaço disponível e o roteiro para o visitante. Resultam em decisões como a escolha das matérias-primas, maquinários, correções nos textos dos painéis informativos e a contratação de profissionais para desempenhar tarefas específicas, de acordo com a necessidade de cada exposição.”, finaliza.

Economia de água

Desde 2006, em parceria com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), Francisco estuda opções para transformar os banheiros da Estação Ciência em áreas de exposição.

“Para combater o desperdício de água, a intenção é substituir os atuais vasos sanitários, torneiras e válvulas por equipamentos economizadores. A inovação será utilizar protótipos que ainda estão em teste no IPT, como o mictório feminino especial. A novidade é utilizada em outros países e permite à mulher urinar sem sentar no assento e conseguir reduzir os atuais seis litros utilizados em cada descarga”, conta.


Atrações permanentes

A Estação Ciência recebe visitação média diária de mil pessoas. O maior público reunido foi na inauguração da Sala de Terremoto, quando compareceram 2,6 mil pessoas, formando enormes filas. Atualmente, o centro funciona de terça a sexta-feira, das 8 às 18 horas. Aos sábados, domingos e feriados, das 13 às 18 horas. É possível agendar a visita para grupos escolares com até três meses de antecedência.

Entre as atrações da área de Física, há experimentos que ilustram conceitos de eletromagnetismo, termodinâmica e óptica e são sempre evidenciadas as transformações entre os diversos tipos de energia.

A área de Biologia tem aquários de água salgada e doce. Além de peixes, apresenta espécies marinhas conservadas em formol. No espaço Butantã há viveiros de cobras, lagartos, aranhas e escorpiões e um terrário com plantas carnívoras. Há, ainda, o Caracol, um espaço interativo, onde, por meio de programas de computador, o visitante pode saber mais sobre serpentes, aranhas e outros animais invertebrados venenosos e sobre pássaros.

Big-bang

Na seção de Geologia, painéis transparentes e maquetes ilustram fenômenos naturais, como a formação de fendas, dobras e vulcões. Na área de Geografia, há painéis, atlas, mapas, globo terrestre e uma grande maquete de bacia hidrográfica, com água corrente representando rios principais e afluentes, além de represas. Ela é capaz de simular a queda da chuva em áreas urbanas e representar as enchentes.

A Astronomia tem aparelhos que simulam a órbita de planetas e um painel explicativo sobre a origem do universo, baseado na teoria do Big Bang. A Meteorologia reproduz em maquetes aparelhos de captação e medição de dados. Há instrumentos instalados que permitem o monitoramento do tempo de forma contínua, com dados de pressão, temperatura e umidade.

Por fim, há o Projeto Clicar, de inclusão digital, iniciado em 1995. Consiste em oferecer o uso gratuito de computadores para crianças e adolescentes em situação de risco social. Na área reservada, o aluno é estimulado ao uso livre de computadores e da internet, com atividades individuais e em grupo.

Serviço

Estação Ciência
Rua Guaicurus, 1.394 – Lapa – zona oeste da capital.
Tel. (11) 3672-5364

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente nas páginas II e III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 21/06/2007. (PDF)

Bagaço de cana surge como alternativa para geração de energia elétrica em SP

Meta é ampliar oferta de energia na época seca do ano, quando o volume de água nos reservatórios das hidrelétricas é menor

Dobrar, em quatro anos, a produção anual de 2 mil para 4 mil megawatts de energia elétrica no Estado, gerados a partir do reaproveitamento do bagaço de cana. Essa é uma das metas da Comissão de Bioenergia, grupo multidisciplinar constituído pelo governador José Serra no final do mês de abril, com o objetivo de orientar a produção de energia limpa e renovável no território paulista.

O grupo congrega profissionais oriundos das secretarias de Desenvolvimento, Saneamento e Energia, Agricultura, Economia e Planejamento, Transportes, Meio Ambiente, e também Fapesp, USP, Unesp e Unicamp. No dia 16 de maio, a Comissão de Bioenergia se reuniu para estruturar e apresentar nos próximos seis meses plano de ação que norteará os rumos da energia no Estado. O documento contemplará temas ligados à pesquisa, produção, transporte, distribuição e uso de fontes renováveis em São Paulo.

No Estado, a iniciativa privada é responsável por todo o ciclo do açúcar e álcool (sucroalcooleiro). Porém, a intenção do governo paulista é estimular nas usinas a cogeração – produção simultânea de dois energéticos (eletricidade e sacarose) – a partir de um único combustível: o bagaço de cana. A meta é abastecer 9 milhões de residências em 2010, constituídas por famílias que tenham consumo médio mensal de 190 quilowatts.

Auto-suficiência

José Goldemberg, presidente da Comissão, explica que a usina é autossuficiente em energia elétrica. Primeiro ela mói a cana para produzir o bagaço que será queimado na caldeira. O calor da combustão libera vapor de água que é direcionado ao gerador para produzir eletricidade. Depois, o mesmo vapor é redirecionado com uma pressão mais baixa para as turbinas acopladas às moendas, para obter energia mecânica e movimentá-las, tornando permanente o ciclo de energia.

Nos anos 70 as usinas dominaram a técnica da cogeração. Com isso, ganharam a oportunidade de vender seus excedentes de energia para a rede elétrica, por meio de leilões que resultam em contratos de fornecimento futuro. Seus clientes são as 64 distribuidoras brasileiras de eletricidade, como, por exemplo, a Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL).

Até o fim deste mês será realizado o próximo leilão. Estão cadastradas para participar 38 usinas paulistas, que irão oferecer 1,5 mil megawatts a serem repassados à rede elétrica a partir de 2010. De acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o Brasil tem 222 usinas. Dessas, 135 estão localizadas em São Paulo, Estado produtor de 65% de toda a cana colhida no País. Dos atuais 2 mil megawatts anuais produzidos nas usinas, 1,4 mil megawatts são utilizados internamente e os 600 restantes são revendidos em leilões de energia elétrica.

Subprodutos

O engenheiro Jean Cesare Negri, da Secretaria Estadual de Saneamento e Energia, explica que a moagem de uma tonelada de cana gera três subprodutos: melaço (153 quilos de açúcar e etanol), bagaço (276 quilos) e palha (165 quilos). Ele comenta que o uso da tecnologia vem permitindo aumentos de produtividade nas colheitas e também ampliando as possibilidades de cogeração. “As usinas estão sendo incentivadas a substituir caldeiras antigas por novas com maior capacidade de pressão”, informa.

Até 2004, ano da revisão no modelo do setor elétrico brasileiro, o dono de usina não tinha incentivos para revender seus excedentes. Os motivos incluíam a baixa quantidade de energia adicional produzida, a falta de interligação da usina com a rede de distribuição (que custa U$ 150 mil cada quilômetro de instalação) e, principalmente, a sazonalidade do fornecimento, uma vez que a cogeração somente é possível no período de safra da cana – de maio a novembro.

“O governo estadual está incentivando a cogeração no setor canavieiro, para aumentar a oferta de energia nos meses do outono e do inverno, os mais críticos para a produção de energia nas hidrelétricas. A colheita da cana é realizada na época de menos chuvas do ano, período que coincide com a baixa nos níveis dos reservatórios das hidrelétricas”, explica Jean.

Entre as medidas adotadas, está a regulação do setor, a possibilidade de conseguir financiamentos do BNDES e de vender eletricidade diretamente para clientes com consumo médio mensal acima de 500 quilowatts, como shoppings e condomínios. “Além disso, a usina pode comercializar seus excedentes nos leilões a partir de sua média anual de produção de energia e obter redução de no mínimo 50% de suas tarifas com a rede elétrica”, finaliza.


Apagão elétrico em 2009

O secretário adjunto do Desenvolvimento, Américo Pacheco, revela a disposição do governo paulista em ampliar investimentos para aprimorar ainda mais a cadeia produtiva do açúcar e do álcool. O objetivo é obter no futuro novos produtos derivados da cana, como plásticos, açúcares especiais, enzimas e matérias-primas para a indústria alimentícia.

“No setor sucroalcooleiro, São Paulo é o principal produtor e exportador do País. Detém as mais avançadas técnicas de produção de mudas, plantio e colheita e concentra as indústrias de implementos agrícolas, de máquinas para usinas e os fabricantes de motores flex. O próximo passo da comissão de Bioenergia é criar condições para que o Estado mantenha a liderança internacional na pesquisa com a cana e seus derivados e consiga produzir álcool a partir de qualquer biomassa”, explica.

Pacheco alerta para o risco de apagão elétrico em 2009, caso sejam mantidas as atuais perspectivas de crescimento da economia sem a ampliação da oferta de energia elétrica no País. “Independentemente de haver escassez ou não, a geração de energia a partir do bagaço de cana é a opção mais fácil de ser adotada – entre o plantio e a colheita são necessários apenas dois anos. E este reforço fortalecerá a disponibilidade de energia, além de ser renovável”, finaliza.


Opção para os empresários

José Carlos Meneghin, gerente industrial da Usina Zanin, de Araraquara, informa que o maquinário utilizado pela maioria das usinas brasileiras é antigo. São caldeiras com capacidade máxima de 22 bar de pressão, que operam na temperatura de 300ºC e, em média, conseguem oferecer 2,7 megawatts por hora nos 200 dias de safra. Entretanto, a popularização do motor flex na última década motivou os empresários a trocarem as caldeiras das usinas para ampliar a potência instalada.

O gerente explica que as usinas mais novas têm possibilidades concretas de vender excedentes de energia. Utilizam caldeiras que suportam até 63 bar de pressão e calor de 500º C e conseguem oferecer excedentes de até 59 megawatts por hora. Meneghin aponta a cogeração como uma alternativa viável como investimento complementar à produção de etanol e açúcar. E também uma opção interessante para a destinação final do bagaço de cana, acumulado em grandes quantidades.

“Há muitas pesquisas em andamento, como a hidrólise enzimática, que promete enriquecer o bagaço e permitir seu reaproveitamento, ampliando a produtividade da cana em até 50% para a usina. Porém, atualmente a cogeração é uma alternativa mais viável e efetiva, mas a decisão de vender excedentes de energia está ligada a critérios geográficos e às peculiaridades dos negócios de cada uma”, finaliza.

União público-privada

Promover o desenvolvimento da indústria canavieira no Brasil. Essa é a missão do Centro Avançado da Pesquisa Tecnológica do Agronegócio de Cana do IAC, órgão vinculado à Secretaria Estadual da Agricultura. Hoje, o centro responde por 22% de todas as variedades criadas no País e conseguiu aumentar a produtividade do setor em 25%.

O Centro Apta Cana é parceiro de mais de 60 usinas paulistas e concentra pesquisas nas áreas de genética, fisiologia, fitopatologia, entomologia, pedologia, fertilidade, climatologia e fitotecnia. As atividades são centralizadas em Ribeirão Preto e também realizadas nos demais pólos regionais do IAC, em Assis, Adamantina, Jaú, Jundiaí, Mococa, Pindorama e Piracicaba. O custo das pesquisas do Centro é dividido entre a Agricultura e as usinas.

O objetivo dessa parceria é utilizar o melhoramento genético para produzir mudas especiais, plantas híbridas que reúnam características de alto teor de sacarose, volume adequado de fibras, resistência contra seca prolongada, pragas e doenças e pouca palha, capaz de facilitar a colheita mecânica.

Matrizes e híbridos

O agrônomo Fábio Dias é um dos 13 pesquisadores do Centro, que possui 45 funcionários. Diz que um dos desafios atuais nas pesquisas é conseguir diminuir o tempo atual para a produção de uma nova variedade, que é de 12 anos.

“Os cruzamentos são realizados com diversas espécies de cana e vão dar origem a sementes para germinar o vegetal. Seu potencial será avaliado e, caso a planta tenha apelo comercial, fornecerá as mudas que serão testadas nas estufas do Centro e, posteriormente, no solo da usina solicitante da variedade. Por fim, depois de um grande número de testes e de cinco cortes na planta, realizados um a cada ano, a variedade estará pronta para ser lançada”, explica.

Reserva especial

O IAC tem um jardim especial com exemplares de todas as variedades lançadas pelo instituto. Nele também são plantadas as matrizes de todas as espécies de cana existentes no mundo – inclusive descendentes dos primeiros pés plantados pelos
colonizadores portugueses em São Vicente e em Recife, a partir de 1537.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente nas páginas I e IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 13/06/2007. (PDF)

Estudantes da USP São Carlos vencem etapa internacional de aeromodelismo

Competição exigia projeto e construção de um avião radiocontrolado capaz de transportar carga de 20 quilos

Um grupo de 12 alunos de graduação da Escola de Engenharia da USP São Carlos (EESC) venceu na categoria aberta o SAE Aerodesign East Competition, torneio internacional de aeromodelismo disputado entre os dias 4 e 6 de maio, em Forth Worth, no estado do Texas (EUA). Participaram do campeonato estudantes dos Estados Unidos, Canadá, México, Polônia, Venezuela e Porto Rico.

A equipe brasileira obteve o primeiro lugar na classificação geral da competição e recebeu também menção honrosa por ter criado o projeto mais inovador. Trouxe ainda na bagagem o terceiro título da EESC no torneio, cujo objetivo era a construção de um avião radiocontrolado com no máximo cinco quilos de peso e capaz de carregar carga de 20 quilos.

O credenciamento para a disputa da etapa internacional foi obtido após a vitória do grupo na oitava edição do concurso anual SAE Brasil Aerodesign, realizado em setembro de 2006 no Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial, em São José dos Campos. Do grupo de 12 alunos, oito viajaram para os EUA para representar o Brasil na etapa internacional da competição.

Cecília Pereira Machado é a única mulher da equipe. Ela conta que o projeto e a construção do modelo campeão começaram numa prancheta, exigiu seis meses de trabalho e conhecimentos e habilidades de todo o grupo, formado por universitários das demais áreas de engenharia.

“Para não prejudicar as atividades acadêmicas, que são extensas, nos reuníamos na oficina todas as noites, finais de semana e feriados. Em média, cada aluno dispendeu duas horas por dia para esta atividade. No início, fizemos uma divisão do trabalho que separou as tarefas em seis áreas: aerodinâmica; propulsão; estabilidade e controle; estruturas; desenho e desempenho”, lembra.

Pedro Castro Souza Villela, aluno de engenharia aeronáutica, ficou responsável pela propulsão do monoplano. Projetou conceitos inovadores para o avião, como a cauda no formato H e uma adaptação nos sistemas do trem de pouso e de freio, de modo a amortecer o impacto na decolagem e na aterrissagem.

“Fizemos um grande trabalho de pesquisa, que necessitou de muitas discussões e aprimoramentos. A intenção era utilizar os materiais mais leves na construção e se aproximar ao máximo dos princípios fundamentais da aeronáutica”, recorda.

Pedro explica que o regulamento da competição exigia um voo inicial completo sem a carga. Na sequência, era preciso fazer nova viagem, com a aeronave carregando o peso. “Uma das maiores dificuldades foi fazer o monoplano decolar numa distância de somente 30 metros, a metade da permitida na etapa realizada na competição do ano passado”, observa. Depois de vencidos todos os desafios, considera importante destacar o apoio recebido pelos patrocinadores da equipe: Opto Eletrônica e a NSK Rolamentos, que financiaram a compra dos materiais para a construção do protótipo.

Asas à imaginação

O regulamento da competição proibia a participação de construtores profissionais para auxiliar os alunos, porém lhes permitia receber orientação dos professores. Na EESC, o engenheiro Paulo Celso Greco é o responsável pela competição e divide a função com mais dez colegas do Departamento de Materiais e Engenharia Aeronáutica.

“Além da troca de idéias, incentivamos os estudantes a participar deste tipo de desafio. Um dos méritos do torneio é estimular a criatividade e permitir a realização de testes e simulações que seriam impossíveis em grandes empresas construtoras de aviões, cujo custo dos projetos alcançam a casa dos milhões de dólares”, explica.

O professor ressalta que muitas destas empresas observam o desempenho dos estudantes neste tipo de competição e acabam contratando-os depois do término da graduação.

“Esta área profissional alterna períodos de pouca e grande demanda por pessoal qualificado. Contudo, há mais de uma década no Brasil o mercado está aquecido e faltam quadros qualificados. Grandes fabricantes, a exemplo da Embraer, precisam contratar estrangeiros e também oferecer cursos internos de formação para engenheiros de outras áreas para adaptá-los às necessidades da indústria aeronáutica”, analisou.


Difusão e intercâmbio

A Sociedade de Engenheiros da Mobilidade (SAE Brasil) é responsável pela organização da etapa nacional do concurso. Trata-se de uma associação sem fins lucrativos fundada em 1991. Reúne engenheiros, técnicos e executivos unidos pela missão de disseminar técnicas e conhecimentos relativos à tecnologia da mobilidade nas áreas terrestre, marítima e aeroespacial. Congrega 3,7 mil associados, distribuídos em 11 seções regionais e pretende integrar os profissionais do País no processo de globalização.

A SAE International foi fundada em 1905, nos EUA, por notórios empresários: Henry Ford, Thomas Edison e outros representantes da indústria automotiva e aeronáutica. No mundo, está presente em 93 países, tem 90 mil sócios e já especificou mais de cinco mil normas e padrões para os setores automotivo e aeroespacial.

André van de Schepop, responsável da SAE Brasil pela competição, explica que o principal objetivo da disputa é propiciar a difusão e o intercâmbio de técnicas e conhecimentos aeronáuticos entre estudantes e futuros profissionais e contribuir para a formação de mão-de-obra qualificada no País.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 30/05/2007. (PDF)