Observatório Astronômico em São Carlos é opção de ciência e cultura nestas férias

Atração permanente é grátis; visitante pode ver corpos celestes e adquirir conhecimentos de forma lúdica

Criado em abril de 1986, no rastro da decepcionante segunda passagem do cometa Halley pela órbita terrestre, o Observatório da Universidade de São Paulo, em São Carlos, é uma das atrações permanentes oferecidas pelo Centro de Difusão Científica e Cultural (CDCC) da universidade.

Todos os serviços oferecidos são gratuitos e um dos destaques para o visitante é conferir os corpos celestes através das lentes do telescópio refrator Grubb, de fabricação irlandesa.

O observatório foi montado com recursos da USP, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e de indústrias da cidade. O físico especializado em óptica Jorge Hönel é um dos responsáveis pelo local desde o início de suas atividades.

O nome oficial do observatório é Centro de Divulgação da Astronomia (CDA) e, desde sua criação, mais de 150 mil pessoas já o visitaram. Suas propostas incluem divulgar, de modo lúdico e interativo, a astronomia, a área do conhecimento mais antiga da humanidade; aproximar a universidade da população; e despertar nos alunos do ensino fundamental e médio o interesse pela ciência e pela cultura.


Formação complementada

Outra função do observatório é complementar a formação universitária dos alunos por meio de estágio e monitoria. Esta foi a escolha de Mariana Padoan, aluna do curso de Ciências Físicas e Biomoleculares e monitora desde dezembro de 2006. Solícita, esclareceu dúvidas do casal Israel e Eliana Nascimento, residentes em Brotas, dispostos a fazer observação noturna no dia 24.

Fellipy Dias Silva, estudante de Física da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), é monitor voluntário desde março. Nascido em Santos, desde a infância tinha em mente aprofundar conhecimentos em astronomia. A possibilidade de trabalhar no observatório foi considerada na sua decisão de cursar faculdade em São Carlos.

Na mesma noite, proferiu a palestra sobre o Projeto Constellation, missão norte-americana iniciada no ano passado, que visa à construção de um centro de pesquisa na Lua. Na oportunidade, fez uma reconstituição histórica da corrida espacial desde o pós-guerra. A exposição contemplou todas as missões Apollo, as incursões soviéticas e o ingresso da China, Japão e Índia no grupo de países com projetos espaciais avançados.


Equipamentos e instalações

O observatório funciona nas dependências do Campus I da USP São Carlos. O desenho atual do edifício é o resultado das obras de ampliação realizadas em 2002. Todo o projeto arquitetônico do prédio foi concebido de modo a privilegiar a observação astronômica.

No térreo ficam o auditório, com recursos multimídia e capacidade para 65 pessoas, a sala de apoio, os sanitários e o bebedouro. O primeiro andar abriga a sala de instrumentação, a escura, o relógio solar e uma área externa para observação celeste.

Estão no segundo piso a cúpula do telescópio Grubb e um vão livre usado pelos visitantes para a observação com binóculos, lunetas e os telescópios refrator Zeiss (baseado em lentes) e o Newtoniano-Dobsoniano (funciona com espelhos). Esses equipamentos foram cedidos pela instituição e têm acompanhamento dos monitores.


Visitação e roteiro turístico

A visita ao observatório pode ser individual ou em grupo. A instituição também agenda turmas escolares da rede pública e privada, nos horários matutino, vespertino e noturno. O programa dura duas horas, sendo 30 o número recomendado de alunos e 50 o limite. O pedido deve ser feito com antecedência.

“Temos pouca divulgação, mas já integramos o roteiro turístico municipal. Atualmente, muitas escolas da região programam excursões para São Carlos e associam a observação astronômica em um período do dia com outras visitas, como o Museu Asas de um Sonho, ligado à aviação”, observa Hönel.

O público médio nos horários de visita é de 20 pessoas e deve crescer em 2008, com a finalização do projeto Jardim do Céu na Terra. Essa iniciativa trará atividades como a Sala Solar, a ser instalada na parte externa do observatório.

Se as condições atmosféricas e do céu estiverem favoráveis e com pouca nebulosidade, é possível observar planetas, estrelas e nebulosas e outros astros. A entrada do observatório fica na Rua Dr. Carlos Botelho, esquina com a Rua Visconde de Inhaúma, região central.

Às quartas-feiras, o funcionamento é das 9 às 11 horas e das 19h30 às 21h; às quintas-feiras, das 14h às 16h e das 19h30 às 21h30; e nas noites de sexta-feira a domingo, das 20h às 22h.


Mundo da Lua

“Para a maioria do público, ver a Lua e suas crateras nos telescópios é o pedido mais comum. Para conferir com mais nitidez o solo lunar e os efeitos das sombras, sugerimos a observação na fase quarto crescente em vez da cheia. A iluminação lateral do solo lunar evidencia o relevo da Lua”, explica Hönel.

Uma atração especial é a Sessão Astronomia, atividade especial realizada desde 1992 aos sábados, às 21 horas. Trata-se de uma palestra com até uma hora de duração, proferida, em cada data, por um dos dez alunos-monitores do Centro. Nesses encontros, o universitário usa linguagem simples para explicar fenômenos astronômicos para públicos de todas as faixas etárias. Os assuntos abordados são variados e retratam temas atuais e ligados ao cotidiano das pessoas.

Outra atividade pedagógica oferecida são os minicursos para turmas de alunos da rede pública e privada. As aulas e demais trabalhos são ministrados nas instalações do Centro. Para aprofundar conhecimentos, o visitante pode consultar o acervo permanente da instituição, nos horários de visita. Dispõe de livros, vídeos, animações, apresentações, fotos de campo do céu e de eventos celestes – eclipses da Lua e do Sol, entre outros. O site do observatório também é fonte recomendada de informações sobre astronomia.

Serviço

Observatório da USP São Carlos
E-mail cda@cdcc.sc.usp.br
Telefone (16) 3373-9191

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 21/12/2007. (PDF)

Pesquisa da Cena-USP em Mato Grosso e Rondônia estuda causas do efeito estufa

Trabalho relaciona as emissões de gases com a expansão da atividade agropecuária, queimadas e desmatamento

Uma equipe multidisciplinar do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena-USP) iniciou, em maio, um estudo para medir a concentração dos principais gases causadores do efeito estufa nos Estados de Mato Grosso e Rondônia. Ligado à Universidade de São Paulo, esse trabalho do Cena tem a coordenação do pesquisador Carlos Cerri e término previsto para 2010.

A pesquisa foi dividida entre dois grupos de trabalho e está avaliando, na região, o impacto do desmatamento, das queimadas e o avanço da agricultura nos últimos 40 anos. A verificação das emissões é feita em pontos especiais de coleta, distribuídos em uma área de 1,2 milhão de quilômetros quadrados, porção equivalente ao dobro do território da França.

Efeito estufa

No retorno da primeira expedição para a sede do Cena, localizada junto ao campus da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP), em Piracicaba, o professor Cerri explicou que um dos objetivos do trabalho é mapear a vegetação nativa. A expedição percorreu 15 mil quilômetros e avaliou 22 municípios em 45 dias, para medir as quantidades de carbono e nitrogênio emitidas na atmosfera por meio de atividades humanas, como a pecuária e a agricultura.

A metodologia da pesquisa emprega diversas bases obtidas nas prefeituras e mapas da superfície terrestre geradas por satélites da Agência Espacial Norte-americana (Nasa). Quando for finalizado, esse levantamento auxiliará a formulação e revisão de políticas públicas ligadas ao meio ambiente, ocupação do solo e definição de fronteiras agrícolas.

O professor Cerri é um dos pesquisadores brasileiros que contribuíram para a elaboração do Protocolo de Kyoto. O tratado internacional, redigido em 1997, pretende reduzir, com o passar dos anos, as emissões de gases que ampliam o efeito estufa na atmosfera terrestre, por meio do aumento da radiação infravermelha da base da atmosfera.

“Os números sobre as emissões na região permitirão às comunidades científicas brasileira e internacional aprofundar estudos sobre o efeito estufa”, explica o cientista. Segundo ele, 66% das emissões globais de gases responsáveis pelo fenômeno natural provêm da queima de combustíveis minerais (petróleo, carvão mineral e gás natural). O restante é relacionado à agricultura (20%) e ao desmatamento (14%).

O efeito estufa ocorre em uma faixa determinada da atmosfera, quando parte da radiação solar, refletida pela superfície terrestre, é absorvida pelos gases presentes na atmosfera. Os principais gases envolvidos no processo natural são o dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4), o óxido nitroso (N2O) e os clorofluorcarbonos (CFCs).

Os gases absorvem uma porção da radiação infravermelha emitida pela superfície terrestre e irradiam partes dessa energia de volta para a superfície. Como consequência, o calor é retido e concentrado, devido à superfície receber quase o dobro de energia da atmosfera do que a proveniente do Sol.

Importância vital

“O efeito estufa é fundamental para a manutenção da vida na Terra. Eleva a temperatura em 30ºC na superfície do planeta e a torna amena e adequada à sobrevivência da biodiversidade e dos ecossistemas. Porém, traz riscos quando é acelerado pela ação humana. Pode desestabilizar o equilíbrio energético no planeta e contribuir para o aquecimento global”, explica o professor Cerri.

Segundo o Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas (IPCC), estabelecido em 1988 pela ONU e pela Organização Meteorológica Mundial, a maior parte desse aquecimento, observado durante os últimos 50 anos, se deve muito provavelmente a um aumento dos gases do efeito estufa.

Grande parte da comunidade científica internacional concorda com a tese. Aponta como fatores o aumento da poluição provocada pela queima de combustíveis minerais, o maior consumo energético e o uso intensivo de águas subterrâneas e do solo para a agricultura.

Verdade inconveniente

A industrialização dos três últimos séculos aumentou a concentração de gases do efeito estufa. O efeito sentido foi a elevação, com o passar dos anos, das temperaturas médias mundiais, o chamado aquecimento global. Se a tendência não for revertida, há a possibilidade de seca, desertificação, inundações, furacões, proliferação de doenças e extinção de espécies. Outro risco é o derretimento das calotas polares e geleiras, pois o aumento do nível das águas do mar ameaça áreas litorâneas e ilhas densamente povoadas.

A concentração de emissões no Hemisfério Norte é ligada à industrialização e ao grande consumo de combustíveis minerais. na porção Sul, os riscos incluem a expansão das fronteiras agrícolas, um dos principais pontos de interesse do estudo do Cena nas regiões Norte e Centro-Oeste. com relação ao Brasil, a emissão de gases é inversa à situação global: apenas 25% provém da queima de combustíveis fosseis.

“Cerca de 75% do dióxido de carbono que o País emite na atmosfera é derivado de práticas agrícolas. Se desconsiderarmos o desmatamento, o Brasil cai para a 17ª posição na classificação mundial dos emissores de gases do efeito estufa”, esclarece.

Segundo Cerri, há opções para reduzir a concentração atmosférica dos gases do efeito estufa, como estimular reflorestamentos e empregar a técnica do plantio direto na agricultura. “Em vez de usar implementos que revolvem a terra, essa metodologia aumenta a fixação do carbono no solo. É preciso, ainda, estimular a produção e o consumo dos biocombustíveis, para diminuir as emissões desses gases”, finaliza.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 17/11/2007. (PDF)

Bagaço da cana-de-açúcar pode ser o futuro energético do País, diz estudo

Pesquisa que está sendo desenvolvida na Esalq pretende dobrar em cinco anos a produção de açúcar e álcool sem aumentar áreas de plantio

Um estudo da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP) avançou mais um passo na corrida pela hidrólise enzimática (ver glossário) com o bagaço de cana. Esse processo biológico é objeto de interesse de diversos centros de pesquisa no Brasil e visa a permitir nova fermentação da matéria-prima vegetal, após a moagem da cana na usina para produzir açúcar e álcool.

A pesquisa foi iniciada há três anos em Piracicaba. Consiste em introduzir fungos da classe dos basidiomicetos para fazer a hidrólise enzimática e reaproveitar a celulose contida no bagaço. Segundo a professora Sandra Cruz, coordenadora do estudo, os resultados obtidos no laboratório têm sido promissores. A experiência está em fase inicial, mas pretende dobrar a produtividade da cana sem aumentar as áreas de plantio, quando for concluída.

Abundante e barato

Da moagem de uma tonelada de cana, a usina produz, em média, 153 quilos de melaço (açúcar e etanol), 165 quilos de palha e 276 quilos de bagaço. Essa matéria-prima é abundante, de baixo custo e está disponível em grandes quantidades no País. Em comparação com outras biomassas existentes no Brasil, como a soja e o dendê, o bagaço de cana é o mais rico em celulose e essa propriedade desperta grande interesse científico e empresarial.

Desde a década de 70, as usinas brasileiras queimam o bagaço para gerar eletricidade. A energia obtida impulsiona as turbinas e o complexo industrial da propriedade. Torna, assim, a usina autossuficiente em energia na época da safra (abril a novembro), período que coincide com o de baixos níveis de água nos reservatórios das hidrelétricas.

Técnica multiúso

A pesquisadora  Sandra é química e iniciou em 2004 o estudo com os fungos. Hoje, coordena o grupo formado por dois professores do Departamento de Agroindústria, Alimentos e Nutrição da Esalq, uma pesquisadora do Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo (Cena-USP), alunos de mestrado e estagiários de iniciação científica.

A ideia surgiu de um projeto paralelo, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapesp), que tinha o objetivo de clarear, com os fungos, o melaço – matéria-prima rica em açúcar.

“A hidrólise enzimática pode ampliar o uso do bagaço sem prejudicar a geração de eletricidade”, avalia Sandra. “Essa matéria-prima é usada para produzir ração animal. No futuro, irá atender aos diversos segmentos industriais, como polímeros (plásticos especiais) e à alimentação humana”, prevê.

Sandra explica que um desdobramento do estudo será estender a técnica aplicada ao bagaço para outras biomassas. Outro efeito possível será retardar o avanço do canavial e outras culturas ligadas aos biocombustíveis sobre áreas de preservação – Pantanal, cerrado e região amazônica.


Processo de hidrólise

A pesquisadora Sandra observa que a barreira tecnológica da hidrólise já foi vencida em alguns laboratórios de empresas brasileiras e estrangeiras. A técnica emprega enzimas produzidas nos Estados Unidos e na Dinamarca, principal produtora. Todavia, o custo de importação encarece e dificulta sua disseminação no Brasil.

“Seguimos um caminho paralelo ao já obtido. Nos dois processos, o fungo sintetiza as enzimas. No entanto, em vez de usar o material importado, introduzimos no bagaço colônias inteiras dos micro-organismos, produzidos na Esalq. A partir daí, um processo biológico dos fungos degrada a lignina e libera as moléculas de glicose existentes”, explica Sandra.

“Os basidiomicetos são fungos que têm por característica degradar matéria-prima vegetal. Para evitar que consumam todo o açúcar disponível, são mortos com elevação da temperatura (calor). Possibilita-se, então, uma nova fermentação do bagaço, que também já está esterilizado, sem riscos ambientais. Outra opção é queimá-lo novamente na caldeira para gerar eletricidade”, observa.

Parceiros

“A perspectiva é repassar às usinas, em até cinco anos, a tecnologia. O primeiro desafio é reduzir o período de 20 dias da hidrólise (contato dos fungos com o bagaço). Depois, será preciso patentear a metodologia e finalizar os testes em escala laboratorial, piloto e industrial”, explica.

“A meta agora é encontrar um parceiro privado para investir cerca de R$ 300 mil em equipamentos e bolsas de estudo para os alunos. Esse valor é baixo ante as possibilidades da descoberta. Interessados em colaborar devem procurar a Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (Fealq) ou a Fapesp”, anuncia.


Glossário
(Fonte: Wikipedia)

Hidrólise enzimática do bagaço – Reação microbiana que permite a liberação dos açúcares utilizados na fermentação

Biomassa – Toda matéria-prima animal ou vegetal renovável que pode ser aproveitada como matriz energética (combustível). Exemplo: cana, lenha, gordura bovina, soja, milho, mamona, dendê, girassol, canola, pinhão-manso, madeiras e resíduos orgânicos e de indústrias agrícola e alimentícia.

Lignina – Polímero tridimensional sem forma encontrado nas plantas terrestres, associado à parede celular. Sua função é conferir rigidez, impermeabilidade e resistência a ataques microbiológicos e mecânicos aos tecidos vegetais.

Glicose – As células usam este carboidrato como fonte de energia. É um dos principais produtos da fotossíntese.

Basidiomicetos – Fungos que têm por característica degradar matéria-prima vegetal.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página I do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 10/11/2007. (PDF)