Motobyte virtual é nova atração na área de informática da Estação Ciência da USP

Exposição de videogame interativo pretende despertar a curiosidade infantil e explicar como é o funcionamento de um computador

Parceria entre a Estação Ciência da USP e a Fundação Heydenreich resultou na montagem da exposição Aventurando-se no Universo do Computador, numa área de 20 metros quadrados. A atração inaugurou a área de informática na semana passada e foi incorporada ao acervo permanente da Estação.

A mostra parte de uma proposta pedagógica inovadora e lúdica para despertar a curiosidade infantil e explicar aos pequeninos como é o funcionamento de um computador. Depois de ouvir a explicação dos monitores da Estação Ciência e conferir os cartazes, a criançada é convidada a assumir o papel do Motobyte, motoboy virtual que é o protagonista da aventura multimídia.

O cenário do jogo virtual é o interior de uma placa-mãe de computador que simula uma cidade, e as imagens tridimensionais da “visita” são projetadas numa tela especial. Para começar a brincadeira, a criança aperta o botão vermelho de ignição, no guidão de uma bicicleta ergométrica adaptada. A trilha sonora é de competição e o ambiente interativo é diferente dos videogames convencionais.

Ao pedalar, o visitante queima calorias para aumentar a velocidade do veículo. E tem prazo de quatro minutos para concluir o trajeto especial dentro dos circuitos da placa-mãe do computador e alcançar o objetivo do jogo: encontrar a conexão para o teclado da máquina, saindo do processador.

Se o visitante não conseguir terminar a aventura dentro do tempo estabelecido, aciona o botão e recomeça a brincadeira. Dessa maneira, conhece a maioria dos componentes de hardware de um computador: chip, memória, disco rígido e placas de vídeo e de som. Assim, passa a compreender conceitos essenciais de funcionamento dos PCs, como entrada, processamento e saída de informações.

Multimídia

Um dos cartazes da exposição mostra uma placa-mãe e um disco rígido completamente desmontados, com os componentes identificados, de modo a facilitar a compreensão das crianças sobre o funcionamento da máquina.

A instalação multimídia é fruto da criatividade de Gílson Domingues, professor, designer gráfico e mestrando do Instituto de Artes da Unesp. O inventor construiu o aparelho em 120 dias, a pedido da Fundação Heydenreich, ONG paulistana que trabalha com inclusão digital e acesso à tecnologia da informação em escolas e creches da rede pública e de grupos especiais: idosos e jovens da periferia.

Para projetar o equipamento, Gílson explica que partiu de noções conhecidas da criança: a cidade, o tráfego de veículos e de pessoas, os endereços dos imóveis, as fábricas e a armazenagem de produtos. Por meio dessas metáforas, o educador construiu o traçado das trilhas tridimensionais que o Motobyte percorre pela placa-mãe do computador.

Gílson comenta que a instalação especial abrangeu conhecimentos básicos de informática, engenharia, desenho industrial e design. “O jogo abre novas possibilidades para os videogames. É simples sem ser simplório e, pretende, com cuidado estético e recursos multimídia, estimular na garotada a inquietação e o entusiasmo, para que seja, no futuro, artista e cientista brasileiro”, observa Gílson.

Inauguração

A primeira escola a conhecer a instalação foi o grupo de alunos do Colégio da Polícia Militar, da capital. A professora Flávia Cosma, da 7ª série, acompanhou a meninada e gostou do resultado. “A visita foi rica e mostrou princípios de física e eletrostática de modo didático e eficiente”, afirmou.

As alunas Natália Granero e Gabriela Araújo apreciaram o experimento e concordaram com o colega Erick de Souza Reis, o primeiro a controlar o Motobyte. “A instalação nos fez pensar em todas as coisas que ocorrem depois de acionarmos o computador”, explicaram as crianças.


Fundação Heydenreich: preocupação com a inclusão digital

A Fundação Heydenreich foi criada em 1929, na capital, a partir do legado dos irmãos Daniel e Hermann e sua esposa, todos imigrantes alemães. Uma das propostas da ONG é combater a exclusão digital no Estado e formar agentes multiplicadores em escolas e creches da rede pública. Também oferece cursos profissionalizantes, para formar jovens técnicos em informática.

Daniella Michel, gerente de projetos, explica que a instituição faz parcerias com organizações beneficentes, como o Rotary Club, e também atua em trabalho conjunto com entidades assistenciais vinculadas à igreja luterana. Já capacitou 900 educadores que atendem a 36 mil crianças.

A fundação lançou, em co-autoria com Rosângela Coutinho Ares, em março, um livro que apresenta a experiência adquirida pela ONG no trabalho de inclusão social. A primeira edição teve 3 mil exemplares.

Intitulado Escolas públicas: a informática como instrumento pedagógico – Relato de uma experiência, pretende contribuir para ampliar a compreensão infantil de conteúdos programáticos tradicionais – disciplinas de português, matemática e geografia. Procura, ainda, estimular diretores escolares, professores e alunos a perderem o medo de usar o computador. A meta é tornar a máquina um aliado definitivo na formação das crianças.

“O conhecimento que foi adquirido está disponível para toda a sociedade, e pode servir como referência para a pesquisa de novas tecnologias pedagógicas e no treinamento de idosos e de grupos sociais com dificuldades para manejar o equipamento”, explica Daniella.

O prefácio da obra, com distribuição gratuita, é assinado pelo secretário da Educação do Estado. Pode ser retirada na sede da fundação, na Rua Dr. Guilherme Bannitz, 126, conjunto 71, no bairro da Vila Nova Conceição, na zona sul. Outra opção é fazer download gratuito do livro, pela internet, no site da fundação.

Serviço

Estação Ciência: Rua Guaicurus, 1.394 – Lapa – São Paulo (SP)
Tel. (11) 3673- 7022
Horários: de terça a sexta-feira, das 8 às 18 horas; sábado, das 13 às 18 horas; domingo, das 9 às 18 horas. Ingresso: R$ 2

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 23/11/2005. (PDF)

Escola Politécnica desenvolve tinta de parede sem cheiro e menos tóxica

Pesquisa da USP recebeu investimento de R$ 650 mil da Fapesp e mais R$ 135 mil de grupo multinacional produtor de polímeros; estudo durou sete anos e foi coordenado pelo engenheiro químico Reinaldo Giudici

A Escola Politécnica (Poli) da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveu nova variedade de tinta de parede praticamente sem cheiro e muito menos tóxica do que as disponíveis no mercado. Esses benefícios são possíveis graças a um método pioneiro para a fabricação de polímeros (resinas usadas em tintas).

A pesquisa durou sete anos e foi coordenada pelo engenheiro químico Reinaldo Giudici, também professor e pesquisador da Poli. O trabalho, em fase de finalização, está sendo realizado nos laboratórios do Departamento de Engenharia Química, a partir de encomenda de um grupo multinacional produtor de polímeros.

O Projeto Desenvolvimento de Processo de Polimerização para a Produção de Polímeros com Baixo Teor de Monômero Residual recebeu investimento de R$ 135 mil dessa empresa e R$ 650 mil da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). No mesmo projeto, o pesquisador da Poli elabora outro polímero (também menos tóxico e com menos cheiro), a ser aplicado em recobrimento de papel utilizado na impressão de revistas.

Tecnologia diferente

Os polímeros são macromoléculas formadas a partir de unidades estruturais menores, os monômeros, nos quais predominam as moléculas de carbono. Embora possam ser extraídos da madeira, do álcool ou do carvão – todos ricos em carbono –, é mais barato produzir os monômeros a partir do petróleo. A reação química que leva à formação de polímeros é a polimerização. Por meio de substâncias químicas, inicia-se a reação em cadeia que transforma as pequenas moléculas (os monômeros) em macromoléculas (os polímeros).

“Nesse processo, sempre sobra um pouco de monômeros entre as grandes moléculas”, explica Giudici. “Por serem substâncias voláteis, os monômeros são os responsáveis pelo cheiro e pela toxicidade das tintas e outros polímeros”, acrescenta. Os fabricantes de tintas e plásticos procuram criar métodos e tecnologias que diminuam a concentração residual de monômeros.

De acordo com o pesquisador, “o mais comum é borbulhar um gás ou vapor de água no polímero em emulsão, a fim de fazer com que os monômeros se volatilizem”. Mas o processo traz inconvenientes: “O borbulhamento gera efluentes que não podem escapar para o ambiente, pois são poluentes, e precisam ser tratados. Isso encarece o procedimento”, afirma Giudici. A tecnologia desenvolvida na Poli é diferente.

“O que fizemos foi prolongar e intensificar a reação química de polimerização, de modo que mais monômeros reajam e sejam transformados em polímeros”, diz Giudici. Como sobram menos monômeros, há redução do cheiro. Além disso, explica o professor, “o novo método tornará as tintas dez vezes menos tóxicas e os processos de fabricação gerarão menos efluentes a serem tratados”.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página I do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 19/11/2005. (PDF)

Projeto Parcelas Permanentes constrói base de dados sobre a biodiversidade

Pesquisa financiada pela Fapesp estuda as quatro principais formações florestais do Estado e aponta caminhos para a preservação ambiental

O projeto Parcelas Permanentes é um dos estudos que compõem o Biota-Fapesp, iniciativa multidisciplinar de mapeamento e identificação de toda fauna e flora paulista realizada por diversas universidades e centros de pesquisa do Estado. Iniciado em 2001, o trabalho é pioneiro no País e consiste em conhecer e estudar os mecanismos de funcionamento das quatro principais formações florestais de São Paulo e apontar as diferenças básicas existentes entre esses ecossistemas.

São eles: a Restinga, presente na Ilha do Cardoso, no município de Cananeia, no litoral sul; a Floresta de Encosta, no Parque Estadual de Carlos Botelho, no município de Sete Barras, no sul do Estado; o Cerradão, existente na Estação Ecológica de Assis, no oeste e a Floresta Estacional Semidescidual, na Estação Ecológica dos Caetetus, na cidade de Gália, localizada na região central de São Paulo, proximidades de Bauru.

O estudo relaciona os fatores abióticos (solo, luz e clima) e bióticos (fauna, flora e micro-organismos) que influenciam a manutenção dessas formações. As informações coletadas no campo se transformaram em artigos científicos publicados, livros, teses e atualmente alimentam o sistema de dados existente na internet, que informa sobre a incidência e a distribuição de espécies vegetais nas formações florestais típicas do Estado.

A coleta de dados também oferece bases científicas para futuras pesquisas e contribui para a preservação da biodiversidade nativa e de áreas de reprodução, como matas ciliares e manguezais. Além disso, o conhecimento dessas dinâmicas permite a utilização das informações em projetos de reflorestamento e de exploração sustentável.

A pesquisa científica realizada pelo Projeto Parcelas Permanentes é de caráter básico e foi dividida em duas fases. A primeira tem término previsto para fevereiro de 2006 e recebeu investimento da Fapesp de R$ 1,2 milhão. A segunda etapa, será realizada com a renovação do projeto temático e começará no ano que vem.

Trabalho de campo

Em cada uma das quatro áreas de estudo, cerca de 90 pesquisadores de diversas instituições como USP, Instituto Florestal (IF), Unesp, Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), Unicamp, Embrapa e Instituto Agronômico de Campinas (IAC) demarcaram uma área quadrangular, de 10,2 hectares.

Na área selecionada, cada árvore com mais de 15 centímetros de diâmetro de tronco recebeu uma plaqueta de identificação, contendo o nome e número do indivíduo, e sua posição na parcela foi georreferenciada – mapeada por satélite, para indicar para os pesquisadores a sua coordenada correta (latitude e longitude) dentro da parcela. A medida tinha por objetivo estudar a incidência e a distribuição espacial de cada uma das espécies, acompanhar o seu desenvolvimento e estudar suas relações com as outras espécies e sua interação com o conjunto do ecossistema.

A abrangência do estudo também considerou aspectos como os tipos de solo, a topografia, a variação climática durante quatro anos, a presença de luz e de lençóis freáticos e da luz, e a fauna microbiana do solo. A proposta inicial da pesquisa é comparar os dados colhidos entre os quatro ecossistemas e o passo seguinte foi cruzar as informações com estudos semelhantes.

Ilha do Cardoso

Há dois anos e meio, a bióloga Cibele de Castro faz pós-doutorado na Esalq, e atua nas Parcelas Permanentes da Ilha do Cardoso e de Assis. Ela estuda a reprodução de espécies arbóreas – sua pesquisa consistiu em descobrir a proporção de diferentes sistemas sexuais presentes nas reservas florestais.

“Estudei as flores de todas as árvores e descobri como é, nas parcelas, a distribuição das plantas pelo sexo. Analisei também a dispersão de sementes no solo e na água, a polinização feita por beija-flores e encontrei variedades vegetais que são hermafroditas (possuem os dois sexos) e têm predominância masculina – situação bastante interessante na natureza”, explica Cibele.

Miguel Cooper, professor do Departamento de Solos e Nutrição de Plantas da Esalq, comenta que parte dos relatórios científicos já está disponível na internet, no site do Programa Biota-Fapesp. Empresas, municípios ou órgãos públicos interessados podem utilizar os dados, basta pedir autorização. E podem utilizá-los para recuperar áreas degradadas, criar loteamentos imobiliários, construir portos, aeroportos e rodovias, ou mesmo instalar redes de água e esgoto com o mínimo de impacto ambiental.

Especialista em solos, o agrônomo Miguel explica que o monitoramento realizado nas parcelas trouxe conhecimento bastante útil para os pesquisadores, que será transformado em livro.


Extração ilegal, ameaça permanente

No texto, serão apresentadas as saídas encontradas para contornar dificuldades administrativas e específicas de campo, como a demarcação do território das parcelas, o sistema de trilhas abertas no meio das matas e uma nova disciplina que foi incluída nos currículos superiores, que orienta o pesquisador sobre a adoção de condutas conscientes nos locais de preservação.

Extração do palmito

A colocação de placas nas árvores da parcelas segue padrões internacionais de identificação. E já foi realizada na Amazônia, na Costa Rica e Panamá, em florestas tropicais e equatoriais. A equipe de pesquisadores aponta, também, que a educação ambiental dos moradores das regiões que vivem nas áreas de preservação não é o foco primordial do trabalho, porém é uma possibilidade para o futuro.

Os estudos realizados podem facilitar, no futuro, caminhos para o manejo sustentado, nas regiões próximas das parcelas, de diversas variedades de matérias-primas da floresta com apelo comercial e que poderiam ser produzidas com esta finalidade. Exemplos são o palmito-juçara, o bambu, espécies de bromélias, samambaias, orquídeas, plantas ornamentais e outras espécies nativas da Mata Atlântica.

A extração ilegal do palmito é uma das ameaças à preservação dos ecossistemas remanescentes da Mata Atlântica. Para obter um cilindro de 40 cm do alimento, situado na extremidade mais alta da árvore, é preciso sacrificar uma palmeira com oito metros de altura, em média. O prejuízo é ampliado com o sacrifício de outras árvores que são derrubadas na queda do palmiteiro.

O corte de uma palmeira impede também o desenvolvimento de outras espécies vegetais que se fixam ao longo de seu tronco, como as orquídeas. Também prejudica insetos, aves, roedores e cobras que vivem e se reproduzem dentro da mata. Uma possibilidade de preservação é a criação de fazendas exclusivas para a finalidade de cultivo do palmito e também de bromélias, que têm a capacidade de se regenerar na natureza quando seus “copos” que armazenam água são cortados e plantados em vasos.

O trabalho do biólogo Tiago Breier, aluno de doutorado da Unicamp, foi florístico. Ele fez um levantamento de todas as espécies de plantas das quatro Parcelas Permanentes que se desenvolvem sem contato com o caule no solo. Do estudo de cipós, árvores e ervas, encontrou uma nova espécie de orquídea e, em breve, dará início à sua descrição e catalogação científica.

Breier também observou o processo de polinização de diversos vegetais e as interações existentes entre insetos, particularmente moscas e plantas. “O estudo mostrou que quanto mais grosso o tronco da árvore, maior o número de espécies e vegetais que se desenvolvem aderidas a ela”, explicou.

A bióloga Daniela Sampaio, doutoranda da Unicamp, publicou um livro contendo a identificação das espécies de árvores existentes na Ilha do Cardoso, em Cananeia, uma das quatro Parcelas Permanentes. E comentou que a maioria das espécies identificadas são árvores de grande porte, em média 20 metros de altura. Muitas são bastante conhecidas da população por seus nomes populares, como o jacarandá, o palmito-juçara, a canela e a clúsia, espécie ornamental muito utilizada em projetos paisagísticos.


Nascido e criado na Ilha do Cardoso

O mateiro Roberto Barreto nasceu na divisa do Estado de São Paulo com o Paraná. Há 30 anos é funcionário do Instituto Florestal e trabalha no Parque Estadual da Ilha do Cardoso. Ele ajudou a construir as cinco casas da ilha e conhece, de modo autodidata, todas as ilhas vizinhas e também todas espécies de animais e vegetais que vivem no ecossistema.

Roberto virou guia turístico e também referência para os pesquisadores, porque subia em árvores, indicava o caminho correto em todas as trilhas e ajudava na extração e coleta dos vegetais. Além disso, indicava os nomes populares das plantas, auxílio fundamental para a identificação das espécies. “Meu maior prazer ainda é poder estar presente todos os dias na Ilha do Cardoso”, afirma.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente nas páginas I e IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 21/10/2005. (PDF)