Simpósio debate em Araraquara os avanços da nanotecnologia no Estado

Área multidisciplinar da ciência inspira-se na natureza para criar medicamentos, cosméticos, vidros, cerâmica e até memórias

No mês passado, Araraquara foi palco do 1º Simpósio Paulista de Nanotecnologia, evento que atraiu pesquisadores brasileiros e internacionais ao Centro Multidisciplinar para o Desenvolvimento de Materiais Cerâmicos (CMDMC). Mais de 200 participantes, entre palestrantes e inscritos, debateram o cenário atual e as novas perspectivas para a nanotecnologia. A programação contemplou as três áreas com mais avanços e investimentos no Brasil: materiais, médica e fotônica.

O Centro Multidisciplinar é um grupo mantido pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) que reúne 120 cientistas de instituições públicas. É coordenado pelos professores Élson Longo e José Arana Varela, do Instituto de Química da Unesp. Tem equipes em São Carlos, da USP e da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

Segundo o professor Élson Longo da Silva, além de integrar os pesquisadores paulistas, o evento mostrou as tecnologias de alto nível criadas e usadas no Estado. “São estudos pioneiros que podem indicar novos rumos à indústria nacional, como a fabricação de para-raios com materiais nano e de vidros especiais para serem usados como memória de computador, com capacidade de armazenamento muito superior às atuais”, destacou Élson.

Na mesma linha de raciocínio, o físico José Arana Varela, pesquisador do Instituto de Química (IQ) do CMDMC e pró-reitor de pesquisa da Unesp, afirmou que simpósios desse tipo são fundamentais para ampliar a sinergia entre os centros de pesquisa brasileiros e internacionais.

Mundo nano

A nanotecnologia é uma ciência relativamente nova, multidisciplinar e ainda desconhecida de grande parte da população. Sua proposta é alterar, com fins específicos, as propriedades de átomos e moléculas para obter novas funcionalidades e materiais.

Para o cidadão comum, o conhecimento nano já é usado para fabricar medicamentos, dentes humanos artificiais e materiais odontológicos, memórias e discos rígidos para computador, cosméticos, espelhos telescópicos, pilhas, tintas, panelas e plásticos.

Para a sociedade, a pesquisa em nanotecnologia estimula a formação de pesquisadores de alto nível e favorece a criação de empresas de perfil tecnológico no País – novas fontes de emprego, renda e impostos.

Na história da ciência, compreender os fenômenos naturais sempre foi uma busca recorrente. Na área nano não é diferente. E alguns processos complexos despertam interesse especial dos pesquisadores, como a fotossíntese nos vegetais e a produção da madrepérola em algumas espécies de molusco, um biomaterial sofisticado.

O progresso da ciência nas últimas décadas ampliou a compreensão sobre os fenômenos naturais, químicos, físicos e biológicos. E a manipulação de materiais no nível atômico abre infinitas possibilidades de pesquisa básica e aplicada.

Energia alternativa

No primeiro dia de atividades do simpósio, o professor Édson Leite, do Departamento de Química da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), apresentou trabalhos nas áreas de polímeros, cerâmicas eletrônicas e filmes finos. E sublinhou o fato de serem todos compostos desenvolvidos no Laboratório Interdisciplinar de Eletroquímica e Cerâmica (Liec), um dos principais centros de pesquisa do CMDMC.

O professor expôs nanomateriais destinados à geração de energia a partir de tecnologias limpas e sustentáveis, como a célula combustível alimentada por hidrogênio. Este processo tem grande potencial para gerar eletricidade, é renovável e sem emissão de ruído e de gás carbônico. No entanto, assim como a energia solar, outra pesquisa em andamento no Centro Multidisciplinar, ainda tem baixa eficiência.

Do ponto de vista energético e ecológico, pesquisar e investir em tecnologia limpa é uma tendência mundial. A expectativa é obter mais segurança, autonomia e desempenho em motores elétricos. E substituir, com vantagem, as atuais pilhas e baterias usadas no controle remoto, celular e notebook.

As pilhas atuais contêm metais pesados na composição, suportam número limitado de recargas e têm grande potencial poluidor, caso não recebam tratamento ambiental adequado. De acordo com as leis vigentes, é tarefa dos fabricantes recolher as baterias após o descarte e fazer a destinação correta, do ponto de vista ambiental, das pilhas e baterias usadas.

Petróleo e aquecimento

Desde o início do século passado, o petróleo continua sendo a principal matriz energética do planeta. É matéria-prima fundamental para a produção de combustíveis, plásticos e fertilizantes. E na relação custo/benefício, permanece imbatível em comparação a outras fontes de energia.

Caso confirmem-se as previsões mais otimistas, o petróleo durará mais cem anos antes do seu esgotamento definitivo. E os outros hidrocarbonetos também de origem mineral (carvão e gás) utilizados como matriz energética estarão disponíveis por mais 300 anos.

Entre 2006 e 2007, o consumo mundial de petróleo cresceu 60%. Além disso, outros fatores como o aumento constante da economia chinesa, a incessante instabilidade no Oriente Médio e a estagnação do volume de óleo extraído levaram o preço do barril do petróleo a ultrapassar a casa dos US$ 130 no mês de maio.

“A mudança climática na Terra provocada pelo aquecimento global é um problema maior que a escassez de petróleo”, afirma Édson Leite. Ele concorda com especialistas que associam a elevação da temperatura mundial com as emissões de gás carbônico causadas em grande parte pelo desmatamento e queima de combustíveis minerais.

Uma saída, indica o professor, é aumentar o investimento governamental e privado na geração alternativa. Este caminho já é seguido pelo Bloco Europeu, que investe na captação de energia eólica e solar e tem legislação ambiental severa, que prevê reduções progressivas no volume de emissões de gás carbônico para os próximos anos.

Édson Leite aprova o programa brasileiro de biocombustível (etanol e biodiesel), por ser sustentável e dispensar o subsídio governamental. No Brasil, os carros flex-fuel dominam o mercado e no exterior são vendidos veículos híbridos movidos a gasolina e a eletricidade: o Toyota Prius e o Honda Civic.

Ambos os modelos têm descontos e incentivos governamentais. Mas preço superior ao dos concorrentes e autonomia restrita quando impulsionados somente pelas baterias.

“A energia nuclear é viável se for bem executada e não emite gás carbônico”, analisa. Em contrapartida, o urânio, uma de suas principais matérias-primas, é um metal raro na natureza e de difícil extração. Além disso, o uso da matriz atômica pode provocar corrida armamentista e a proliferação de armas de destruição em massa.

Nova matriz energética

A luz solar é a maior fonte de energia disponível no planeta. O Brasil é o país com maior oferta deste recurso no mundo, porém, não existe nenhum programa governamental para aproveitá-lo. Na opinião de Édson Leite, a melhor saída seria, no futuro, o Brasil combinar o uso desta energia com o de célula combustível.

O princípio de funcionamento da célula combustível é similar, do ponto de vista teórico, ao usado pelos vegetais durante a fotossíntese para acumular energia. A planta capta e armazena a luz gerando elétrons (eletricidade) para queimar o hidrogênio que alimentará a célula combustível. O desafio para a ciência é obter a mesma eficiência.

Na sua exposição o professor Osvaldo Oliveira Júnior, do Instituto de Física da USP São Carlos (IFSC), apresentou estudos recentes no nível molecular para controlar propriedades de materiais para quaisquer tipos de aplicações. Uma das possibilidades é produzir filmes orgânicos ultrafinos para integrar biossensores e polímeros luminescentes.

Uma aplicação interessante do filme orgânico fino é simular em laboratório o efeito de um fármaco sobre um tecido humano. A técnica permite determinar se a substância penetra ou não na célula – e em qual concentração este processo ocorre.

Língua eletrônica

Osvaldo Oliveira Júnior alerta que o modelo usado no estudo é bastante limitado. No entanto, o conceito permite à indústria farmacêutica e de cosméticos pesquisar novos produtos e drogas com dosagem e tempo de atuação mais precisos no organismo.

Para o grupo de pesquisadores coordenado pelo professor, o principal desafio será explorar com eficiência a alta sensibilidade dos biossensores. Para a indústria, a meta será oferecer um medicamento de acordo com as características orgânicas e genéticas de cada paciente.

O destaque final da apresentação do docente foi a língua eletrônica. O dispositivo consiste em um arranjo de sensores usado para identificar os quatros sabores básicos do paladar: amargo, azedo, doce e salgado. (Os asiáticos acrescentaram um quinto sabor – o do peixe cru – à lista).

A inovação tem mil vezes mais sensibilidade que a língua humana. Emprega conceitos nano e de redes neurais para identificar com precisão, e em poucos minutos, uma substância num universo de até 800 amostras.

Já é usada por produtores de vinho para indicar variações entre as safras de uva e pela Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), para identificar os melhores grãos para produzir variedades finas. De baixo custo, o equipamento serve também para analisar a qualidade da água e verificar a presença de pesticidas, micro-organismos e metais pesados.

O projeto da língua eletrônica foi desenvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em parceria com a USP São Carlos, Unesp de Presidente Prudente, UFSCar de Sorocaba e Escola Politécnica de São Paulo.

Mais empresas

No segundo dia de debates a mesa-redonda foi constituída pelos pesquisadores Élson Longo (IQ-Unesp), Antônio Carlos Hernandes (USP-São Carlos), Luiz Henrique Matoso (Embrapa) e Edgar Dutra Zanotto (UFSCar). Eles discutiram sobre os caminhos para melhor aproveitar a produção científica paulista e incentivar a formação de empresas de perfil tecnológico no Estado.

O professor Edgar é um dos pioneiros em estudos com vidros nano no Brasil. Ele destacou o fato de atualmente ter crescido a oferta de recursos governamentais para estímulo à pesquisa. Também citou como exemplo de iniciativa estadual o Programa de Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas (Pipe) da Fapesp. E, no âmbito federal, a Subvenção Econômica da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep-MCT).

“O desafio é criar uma mentalidade empreendedora no pesquisador e transformar suas descobertas em novos produtos. Inovar e registrar a descoberta é apenas o primeiro passo”, observou Edgar. A etapa seguinte é analisar o potencial do mercado, criar a empresa e desenvolver o produto. Em paralelo, aprender conceitos de marketing, distribuição, venda e pós-venda.

Outra necessidade é firmar parcerias com fornecedores e traçar estratégias para concorrer com empresas asiáticas. Nestes países, as empresas locais levam vantagem sobre as brasileiras em muitos pontos, como logística, infraestrutura de transportes e mão-de-obra mais qualificada.

“Quem quer empreender e não tem todo o dinheiro necessário pode recorrer a um fundo de capital de risco. Assim, une-se a investidores experientes, que profissionalizam a gestão do negócio que, fortalecido, ajuda a evitar a mortalidade precoce. Nos últimos 25 anos em São Carlos foram criadas cem empresas e mais da metade desapareceu – em muitos casos pela falta de preparo administrativo e não científico”, observou Edgar.


Nanoarte: beleza e tecnologia

O Centro de Divulgação Científica e Cultural da USP São-Carlos (CDCC) promove até o dia 28 de junho a exposição Nanoarte: uma viagem pelo mundo da tecnologia. A mostra apresenta 30 imagens ampliadas e em alta resolução de materiais nano obtidas nos equipamentos do Centro Multidisciplinar para o Desenvolvimento de Materiais Cerâmicos.

A mostra Nanoarte é uma criação do professor Élson Longo e do jornalista Kleber Chicrala, que tem como objetivo demonstrar em imagens de 40 centímetros x 50 centímetros a beleza existente nas cores, formas e composições de muitos trabalhos científicos. A entrada é gratuita e a visita pode ser feita de segunda-feira a sábado, das 8 às 12 horas e das 14 às 18 horas.


Híbrido e molecular – pioneirismo

O professor Henrique Toma, do Instituto de Química da USP (IQ-USP), apresentou materiais de perfil híbrido e molecular. Ele é um dos pioneiros no País na área, e em sua exposição traçou um perfil da evolução da pesquisa nano no mundo.

A primeira fase começou há duas décadas e visou ao controle dimensional e estrutura molecular dos compostos. Resultou nos atuais sensores e catalisadores. A próxima etapa dará ênfase à nanoarquitetura e permitirá o controle e visão tridimensional dos átomos; a quarta geração se ocupará do controle molecular.

Henrique Toma citou exemplos recentes de aplicações industriais baseadas em princípios nano. “Inspirado nas células da pele do tubarão, o maiô especial criado pela Speedo e usado pelos nadadores para quebrar sucessivos recordes desliza melhor na água”, garante.

Outro exemplo é a cola sem cheiro e sem compostos químicos, usada em consertos caseiros e na construção civil. O produto comercializado pela empresa Adespec não traz riscos à saúde humana e ao meio ambiente e ganhou os nomes comerciais de Prego Líquido e FixTudo.

Durante o desenvolvimento, a pesquisa recebeu recursos do Projeto Pipe da Fapesp. Os produtos imitam as propriedades das células existentes nas patas da lagartixa que lhe permitem grudar no teto e nas paredes. No futuro, o mesmo princípio poderá ser utilizado numa roupa autolimpante.

“Muitos produtos já incorporam a tecnologia nano. Na área de cosméticos, é uma prática comum. Porém, por ser novidade, muitos fabricantes ocultam esta informação temendo a rejeição dos consumidores – um receio semelhante ao sofrido pelos alimentos transgênicos”, finaliza.


Glossário

Fotônica – Área científica voltada ao controle, manipulação, transferência e armazenamento de informações por meio do fóton – partícula elementar mediadora da força eletromagnética.

Polímero – Composto de elevada massa molecular relativa, resultante de reações químicas. São divididos em plásticos, borrachas e termofixos.

Biossensor – Analisa funções metabólicas de micro-organismos para medir poluentes.


Serviço

CDCC
Rua 9 de Julho 1.227 – Centro
São Carlos – Telefone (16) 3373-9772

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente nas páginas II e III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 03/06/2008. (PDF)

Incubadora da Unicamp gera emprego, renda e novos negócios no Brasil

Capacitação gerencial e o diferencial tecnológico originam 31 empresas com 150 empregos na Região Metropolitana de Campinas

A Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Unicamp (Incamp) investe na inovação e no empreendedorismo para gerar novos negócios e empregos no País. Criada em 2001 e coordenada por docentes e funcionários da universidade, a Incamp já orientou e preparou grupos de alunos para constituírem 31 novas organizações.

As empresas originadas no meio acadêmico atuam em ramos empresariais diversificados – engenharia de alimentos e de computação, física, química, educação, eletrônica de precisão, novos materiais e telecomunicações. Porém, todas têm em comum a capacitação gerencial e o diferencial tecnológico.

Para empreender, não há pré-requisito. Sozinho ou em grupo, o universitário precisa inscrever seu projeto em um edital público de seleção, lançado pela Incamp, ao menos uma vez por ano. No entanto, deve estar matriculado em qualquer etapa de curso de graduação ou pós da universidade.

A Incamp tem capacidade para incubar até nove empresas simultaneamente. Há sempre muitos interessados e a dica para vencer a concorrência é prever todas as fases do projeto do novo negócio: desde a concepção do produto ou serviço até o pós-venda.

Incubar a empresa reduz custos operacionais para o empreendedor. E durante este período, o aluno recebe noções de administração geral, gestão financeira, custos, marketing, planejamento, produção e operações e infraestrutura.

Ter patrocinador ajuda e é fundamental. A Incamp orienta o incubado sobre como redigir seu plano de negócios e obter recursos no setor privado e público. As opções mais comuns de fomento governamental são a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapesp), a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Menos mortalidade

No Brasil, o maior desafio para a consolidação da micro e pequena empresa é resistir à alta mortalidade dos cinco anos iniciais. Dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) indicam que, em média, a cada ano são abertas 1,5 milhão de empresas no País por conta própria – e 71% não resistem a essa fase crítica.

Diferente do panorama nacional, na Incamp o porcentual médio de sobrevivência dos novos negócios é de 85%. As ex-incubadas já criaram 150 empregos – a maioria em municípios da Região Metropolitana  de Campinas (RMC). Uma das explicações da diminuição da mortalidade é o fortalecimento do projeto durante o período de incubação: a transformação do cientista em empresário.

A incubação pode durar até três anos e provê acesso para o futuro empresário nos laboratórios e equipamentos da universidade. Porém, o principal apoio é a supervisão dos professores da Unicamp, complementada com treinamentos ministrados por profissionais em atuação no mercado.

Para incubar a empresa, o interessado precisa fazer inscrição no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ). Depois de ter o projeto aprovado, paga R$ 550 mensais à Incamp no primeiro ano; no segundo, R$ 650; e no terceiro, R$ 750. O valor dá direito a uma sala com 25 metros quadrados, linha telefônica, conexão de internet de banda larga e limpeza do ambiente.

Criar em vez de importar

“Devolvemos para a sociedade o conhecimento produzido, com novos produtos, processo industriais, serviços, empregos e renda”, explica o professor e engenheiro Davi Sales, gerente da Incamp. “O novo negócio dá continuidade à pesquisa iniciada na Unicamp e começa um círculo virtuoso, criando novas cadeias produtivas com fornecedores e clientes”, destaca.

Segundo Davi, estimular o empreendedorismo é a mais nova missão da universidade pública brasileira. Trata-se de uma ação de responsabilidade social que complementa a formação do aluno em todas as carreiras acadêmicas. Também estende os três pilares básicos de atuação da Unicamp: o ensino, a pesquisa e a extensão.

“No nosso escasso mercado de trabalho, empreender é uma possibilidade concreta de inserção profissional e de gestão da carreira. Esta estratégia permite ao País criar tecnologia em vez de importá-la. E reforça o vínculo entre o ex-aluno e a universidade, prática comum em nações desenvolvidas e favorável ao desenvolvimento econômico e da sociedade”, finaliza.

Na Unicamp, os parceiros da incubadora são a agência de inovação (Inova), o Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) e a Fundação de Desenvolvimento da Unicamp (Funcamp). Externamente, a lista inclui o Sebrae, a prefeitura de Campinas, a Finep, o CNPq e o Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp).

Conhecimento e solução

Alan Yarschel conciliou os últimos anos de graduação em engenharia mecânica na Unicamp com o trabalho de representante comercial da Griaule (veja box na página seguinte). De tanto vender serviços para controle de acesso e conhecer clientes e fornecedores, vislumbrou a oportunidade de criar um novo negócio, quase sem concorrentes no mercado nacional.

Junto com dois colegas, Alan criou e incubou a Veridis Tecnologia, uma empresa especializada em desenvolver e integrar plataformas de hardware (componentes de computador) e software (programas). Hoje, as sedes da Veridis e da Griaule são quase vizinhas – ambas ficam na cidade universitária, em Barão Geraldo, a 200 metros da Unicamp.

O diferencial da Veridis é conhecer os fornecedores de produtos de informática e as soluções de tecnologia disponíveis no mercado. Consegue, assim, oferecer soluções com relação custo/benefício competitivo para clientes como bancos, financeiras e operadoras de cartão de crédito.

A lista de serviços possíveis é extensa. Inclui sistemas e componentes para caixas eletrônicos e terminais de leitura de cartões de débito e de crédito.

“Aproveitamos a cadeia produtiva de fornecedores de informática constituída na região metropolitana de Campinas e consideramos sempre a necessidade específica de cada cliente”, conta Alan. “Mas o segredo de nosso sucesso foi termos refinado ao máximo a ideia da empresa durante a incubação”, observa, satisfeito.

Certificação e rastreabilidade

Incubado há um ano e atento às exigências dos países importadores da carne brasileira, o biólogo e pós-doutorado José Luiz Donato criou a Biomicrogen. A empresa atua na área de biotecnologia e certifica lotes de carne suína e de frango a partir da análise de 50 características do DNA.

O serviço permite ao comprador da carne identificar com 99,9% de precisão a origem do animal abatido. Certificar o rebanho aumenta o custo de produção, mas a novidade na área sanitária foi bem recebida pela Associação Paulista dos Criadores de Suínos (APCS), um dos parceiros da Biomicrogen.

A APCS vê na certificação uma evolução da qualidade do produto brasileiro. Trata-se de uma necessidade e de um pré-requisito para o exportador vender para grandes compradores da carne suína, como a Rússia e o Bloco Europeu.

Donato é ex-aluno da Unicamp e de Harvard. Como empresário, usa a rede de relacionamentos que construiu ao longo de sua carreira acadêmica e profissional para negociar com multinacionais da área frigorífica e órgãos governamentais. “Pretendo ficar incubado três anos e associado à Unicamp, que já abriu e continua me abrindo portas”, comemora Donato.

O feijão e o sonho

A Green Technologies foi a primeira incubada da Incamp. A empresa é uma criação do engenheiro químico boliviano Franz Ruiz Salces, pós-graduado em tecnologia de alimentos pela Unicamp.

Sem recursos próprios, Franz conseguiu patrocínio da Fapesp para iniciar o projeto. Ele desenvolveu uma técnica de pré-cozimento industrial que possibilita o preparo de cereais no forno microondas em cinco minutos.

A principal fonte de receita da Green Technologies é o recebimento de royalties sobre o faturamento de fabricantes que usam seus processos industriais. A empresa é sediada em Campinas e mantém em Atibaia um galpão para desenvolver novos produtos alimentícios.

A tecnologia empregada recebeu o nome de sistema dinâmico de tratamento térmico e permitiu o lançamento, em 2004, do primeiro produto da empresa: o feijão pré-processado. O alimento é cozido a vapor e pode ser também preparado na panela de pressão. O tempero fica a critério do gosto de cada família.

O feijão com tecnologia aplicada é processado pela empresa Ati-Gel e comercializado pela marca Broto Legal. É vendido em saco plástico acondicionado no freezer de supermercados. Dispensa a separação manual dos grãos antes do preparo e permite à dona de casa ganhar tempo na cozinha.

Por não perder caldo durante o processamento, tem valor nutricional superior ao do cereal tradicional. Seu aroma, textura e paladar foram aprovados em diversos testes feitos com consumidores. A novidade mais recente da Green Technologies é a soja pré-cozida. O produto teve adaptado o pré-processamento do feijão. E a estratégia pode ser repassada para quaisquer outros cereais, como ervilha, lentilha e grão-de-bico.


Cuidados básicos para empreender

No Brasil, as causas mais comuns da mortalidade precoce de empresas são pouca capacitação técnica; misturar gastos pessoais dos sócios com as finanças do negócio; ignorar concorrentes; não obedecer a aspectos legais; e não saber construir relacionamentos com clientes e fornecedores.

Dicas simples podem evitar grandes transtornos futuros, tais como obrigar estagiários a assinar termo de confidencialidade, fazer os cursos gratuitos de capacitação e estimular a divisão de tarefas entre os sócios.

Para fortalecer a empresa incubada, a estratégia é investir pesado em capacitação na área de empreendedorismo. A Incamp usa e produz material próprio sobre o assunto e mantém convênios com instituições voltadas às melhores práticas de gestão empresarial, como a Fundação Getúlio Vargas (FGV) e o Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec).

“A meta é refinar ao máximo o projeto durante o período de incubação. Em algumas situações, a ideia original até muda, porém a empresa não morre”, explica o professor Paulo Lemos, economista e responsável pela pré-incubação de empresas na Incamp.

“Hoje, aproximamos investidores com capital disponível dos alunos empreendedores. É a mesma estratégia adotada com sucesso no Vale do Silício, nos Estados Unidos, berço da indústria de informática”, observa Paulo.


Biometria: sucesso garantido

Até o momento, nenhuma ex-incubada obteve tanto sucesso como a Griaule. Com investimento inicial de R$ 6 mil, a empresa de biometria comandada pelos engenheiros José Alberto Canedo e Iron Daher tem atualmente faturamento médio anual de R$ 4 milhões e emprega 22 funcionários, a maioria com pós-graduação.

O principal produto da Griaule é um sistema de identificação por impressão digital. O programa de computador tem precisão de 99,9% e funciona com o usuário pressionando o polegar em um leitor óptico. O software substitui catracas e senhas e, em poucos segundos, autoriza ou não o acesso.

O programa é vendido on-line no site da empresa. Os clientes são de 80 países e o preço inicial do produto é de U$ 38 por máquina com o software instalado. Interessado em adquirir o sistema pode fazer uso gratuito do programa por tempo limitado. Se gostar, compra depois.

As exportações respondem por 80% dos negócios da Griaule. Tem escritórios em San José, na Califórnia (EUA) e em Spandau (Alemanha). Foram obtidas seis certificações do Federal Bureau of Investigation (FBI) – a polícia federal norte-americana – para participar de licitações nos Estados Unidos.


Brasil: terceiro maior incubador do mundo

A Unicamp produz 15% da pesquisa científica brasileira. Criou, em 2003, um ano após a instalação da incubadora, sua agência de inovação, a Incamp. É conhecida como Inova e preserva a propriedade intelectual das descobertas da universidade por meio de pedidos de depósito de patente junto ao órgão responsável no País pela atividade, o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi).

A Inova atua em várias frentes: recebe do professor a notificação de uma descoberta ou inovação e o auxilia a redigir o pedido de registro da invenção. Depois, consegue um parceiro para que a patente seja desenvolvida. E, por fim, a repassa para a sociedade, por meio de licenciamento.

No organograma da Unicamp, o trabalho da incubadora foi incorporado ao da Inova. A agência possui 50 colaboradores e gere também o Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT). Além disso, promove e fortalece ações da universidade com empresas, órgãos governamentais e organismos da sociedade.

De acordo com a Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), o Brasil possui 400 incubadoras e 55 parques tecnológicos em fase de projeto, implantação ou operação. É o terceiro maior incubador do mundo, superado somente pela Coréia do Sul e Estados Unidos.

O professor Roberto Lotufo, diretor-executivo da Inova, observa que a Unicamp licencia muitas patentes, porém, na comparação com universidades internacionais, os centros de pesquisa brasileiros ainda têm longo caminho a percorrer. Para ele, a saída é integrar mais as incubadoras aos parques tecnológicos e os NITs.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente nas páginas II e III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 06/05/2008. (PDF)

Programa Jovem Doutor oferece aprendizado e desenvolvimento sustentável

Investindo em educação e práticas preventivas de saúde, docentes e alunos da USP estimulam a sustentabilidade em áreas carentes

Desde 2006, o Programa Jovem Doutor promove ações preventivas de saúde e educação com professores e alunos da Universidade de São Paulo (USP), em áreas carentes do Brasil. A atividade visa a favorecer o desenvolvimento social e a sustentabilidade das regiões e aproximar a comunidade acadêmica do cotidiano de grande parte da população brasileira.

Em 2007, equipes da USP no Jovem Doutor estiveram em Manaus e Parintins, na região amazônica, e em Tatuí, no interior paulista. Em fevereiro, nova edição do projeto foi iniciada na favela da Vila Dalva, comunidade de 20 mil habitantes vizinha à Cidade Universitária e à Rodovia Raposo Tavares, na zona oeste da capital.

Na USP, o Jovem Doutor é uma iniciativa de extensão universitária da equipe de Telemedicina da Faculdade de Medicina (FM), coordenada pelo professor Chao Lung Wen. A universidade, pioneira no País no assunto, criou seu programa em 1997 e sua rede de informática hospitalar é a maior da América Latina.

A Telemedicina propõe abordagem global para a saúde pública. Prioriza a saúde da família e considera as características e as necessidades de cada comunidade. Também valoriza a atenção primária ao paciente com acompanhamento periódico e diagnóstico precoce.

A tecnologia é uma aliada para melhorar a eficiência dos programas preventivos. Está presente por meio de sites, fóruns e videoconferências com o objetivo de capacitar profissionais a distância. A inclusão digital é outra proposta e muitas atividades ligadas à Telemedicina oferecem acesso gratuito à internet e treinamentos sobre como usar programas de computador.

Jovem Doutor

No Programa Jovem Doutor, a lista de ações inclui exame pré-natal, orientações sobre câncer, hanseníase, planejamento familiar, postura corporal, prática de exercícios físicos, nutrição, saúde bucal, prevenção de diabetes, alcoolismo, uso de drogas, hipertensão, DSTs, Aids, entre outras.

O programa da Faculdade de Medicina integra o Projeto de Telemedicina do Programa Institutos do Milênio, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). E tem apoio da Intel, fabricante de componentes para computador.

Sem viés assistencialista, o Jovem Doutor tem prazo definido de duração: um ano. Suas equipes possuem perfil multidisciplinar, abrangendo universitários de áreas de administração, arquitetura, engenharia, enfermagem e medicina. Atua sempre em locais diferentes, de modo a estender para toda uma região vizinha o serviço prestado na comunidade original.

O protagonismo dos participantes é sempre incentivado. Eles aprendem e ensinam e, para os moradores, a missão é cooperar e disseminar os conceitos de cidadania adquiridos. A aposta é instituir, com o passar do tempo e a continuidade das ações, um novo modelo social.

“Usamos os recursos humanos e materiais existentes nas próprias comunidades, sem aportes financeiros”, conta o professor Chao. “É uma abordagem de saúde pública mais barata, periódica, freqüente e de longo prazo: previne em vez de remediar”, observa.

O próximo desafio, destaca Chao, é estimular outras universidades brasileiras a criar programas semelhantes. A meta é conseguir envolver 2 milhões de estudantes, até 2010, em atividades voluntárias.

Efeito multiplicador

Uma das estratégias do Jovem Doutor é estabelecer parceria com escolas da rede pública de ensino, transformando alunos e professores em agentes multiplicadores na comunidade. Outras características são complementar iniciativas em andamento na região, sem concorrer com as responsáveis, incentivar a busca de soluções sustentáveis e estimular o empreendedorismo nos habitantes.

Antes de entrar em contato com os moradores, os universitários passam por capacitação rigorosa, supervisionada pelo corpo docente da FM. Após a conclusão de cada jornada, são premiados no Concurso Jovens Talentos os universitários, os professores e as pessoas da comunidade que mais se destacaram.

Um dos destaques do programa é o material didático do Projeto Homem Virtual, produzido pela Telemedicina. É um conjunto de imagens tridimensionais que recria as estruturas do corpo humano, dividido em CDs multimídia que facilitam o aprendizado na área da saúde e estreitam a relação entre médico e paciente, por facilitar a visualização e a compreensão dos diagnósticos.

Gente que faz

A fisioterapeuta Débora Macea nasceu e sempre morou na zona leste da capital. De personalidade tímida, participou, durante a graduação, de projetos como a USP Júnior. Já presidiu a Liga de Telemedicina e lecionou Português no cursinho pré-vestibular gratuito da Faculdade de Medicina. Hoje, recém-formada, cursa mestrado e tem na Vila Dalva seu mais novo desafio.

Nas regiões carentes, a maioria dos pacientes de Débora é idosa. Apresentam dores nas costas e no pescoço, causadas em grande parte por má postura e sedentarismo. A jovem se destaca pela capacidade de propor e articular ações. “Faço bem o meio de campo entre a universidade e as pessoas”, explica a fisioterapeuta.

Mapeamento de problemas

Os universitários e a comunidade já definiram quais questões do bairro serão priorizadas. O primeiro obstáculo a ser superado é envolver mais os moradores em projetos coletivos e de capacitação.

Na sequência, os universitários vão orientar a criação e instalação de padaria, horta comunitária e forno solar nas escolas e cooperativa de reciclagem. A medida visa a combater a proliferação de mosquitos causadores da dengue e atenuar um problema sanitário que afeta a todos, o acúmulo de lixo na frente da Unidade Básica de Saúde.

Soluções sustentáveis

A proposta para o lixo é separar o material orgânico e evitar a contaminação do solo, da água e a proliferação de baratas, ratos e micro-organismos. O que puder ser reaproveitado vai virar adubo e as sobras de alimentos, como legumes e peixes acumulados no final de feiras livres, irão enriquecer a merenda escolar.

Materiais como vidro, papel, papelão, garrafas Pet, plásticos e alumínio serão encaminhados para reciclagem e revenda na cooperativa. A comunidade já sabe que, se moer as Pets antes de vender, o preço dobra, chegando a R$ 4 por quilo. Assim, pretende-se fazer um mutirão para comprar a máquina moedeira.

“Vamos investir muito em educação para mudar hábitos corriqueiros, como jogar lixo e entulho em locais inadequados”, aponta a engenheira ambiental Tatiana Gil, formada na USP de São Carlos, que participa, também, em outras questões sanitárias na Vila Dalva.

Economia e renda

A renda obtida com os recicláveis será reinvestida na horta, padaria e demais projetos comunitários. A plantação de legumes e verduras será em terreno cedido na Escola Estadual Samuel Klabin, assim como a instalação do primeiro forno solar, equipamento artesanal que aquece como o elétrico ou o a gás, porém gasta em média o dobro do tempo.

A escola tem mil alunos matriculados e oferece ensino fundamental, médio e Educação de Jovens e Adultos (EJA). Sueli Simas, vice-diretora, explica que as verduras colhidas enriquecerão a merenda escolar e que as atividades ligadas à horta abrem muitas possibilidades de educação ambiental, envolvendo pais, alunos, professores e funcionários.

As tarefas previstas na escola estadual incluem a limpeza do terreno, decisão sobre quais vegetais serão cultivados, orientação agronômica, uso de utensílios, adubação, irrigação, estudos sobre insetos e controle biológico de pragas.

Agentes comunitários

O Jovem Doutor tem, também, parceria com a Unidade Básica de Saúde (UBS), órgão da prefeitura na Vila Dalva. O local é um grande ponto de encontro do bairro e, no posto de atendimento, a proposta dos universitários é apoiar e orientar médicos, enfermeiros e a rede de agentes comunitários de saúde.

O agente comunitário faz a ponte entre a população e a UBS. A maioria deles mora no bairro e cada um visita, em média, 120 famílias por mês. Nas andanças pelo bairro, relatam eventuais problemas e participam de caminhada, campanha de prevenção de hipertensão e diabetes.

As agentes Andréa Aparecida e Cristiane Marques aprovaram a vinda dos universitários. Segundo elas, até o momento foram poucos os contatos, porém elogiaram as propostas da engenheira ambiental Tatiana Gil para a questão do lixo. Agora, pretendem retomar um antigo projeto de curso sobre nutrição e alimentação de baixo custo, a partir do apoio do estudante de medicina Philippe Hawlitschek.


Vila Dalva, microcosmo do Brasil

A ocupação popular na Vila Dalva ocorreu há 50 anos. A localidade é rodeada por condomínios fechados de alto padrão, como o Parque dos Príncipes. E repete, em escala reduzida, os contrastes sociais e a má distribuição de renda no País.

A comunidade tem três escolas públicas: uma estadual (Samuel Klabin) e duas municipais (Silva Braga e Carolina de Jesus). Possui uma UBS da prefeitura, três creches, dois centros comunitários, centro cultural (Espaço dos Sonhos) e de capacitação de jovens e adultos e duas ONGs atuando no local, o Instituto Stefanini e o Projeto Ponte Brasil-Itália.

Como na maior parte da periferia paulistana, predominam na Vila Dalva os bares, as igrejas evangélicas e o comércio miúdo, formado por mercadinho, borracharia, oficina mecânica, serralheria e papelaria. A maior parte das casas é de alvenaria, o esgoto não é tratado e o fornecimento de água e luz é feito com ligações clandestinas, as chamadas gambiarras ou gatos.

Na comunidade, as mulheres comandam 30% das famílias. A maioria é mãe solteira ou separada e trabalha em emprego com pouca qualificação. Repassa para suas mães a tarefa de cuidar dos filhos. A exclusão social e o desemprego são os maiores problemas. Afetam grande parte dos moradores, em especial os jovens, e muitos acabam aliciados pelo tráfico.

Crianças e adolescentes têm poucas opções de lazer. Faltam praças, quadras de esportes e equipamentos culturais como bibliotecas. A principal diversão infantil é empinar pipa. O caminhão do lixo passa uma vez por semana. As ruas e vielas têm nomes e os carteiros e caminhões de entrega de lojas populares têm acesso irrestrito na comunidade.


Ampliando horizontes

Thiago Batista Costa, 23 anos, é filho de uma agente comunitária de saúde. Apaixonado por cultura e artes, visitou várias famílias da Vila Dalva com o objetivo de resgatar a história e imaginário dos moradores. Conheceu, assim, muita gente e identificou traços comuns no grupo, como reduzida auto-estima e dúvidas sobre questões étnicas e religiosas.

O jovem sempre residiu no bairro e trabalha no balcão de atendimento aos moradores da UBS. Em 2005, colaborou com um documentário sobre a Vila Dalva. Antes das filmagens, foram colhidos depoimentos de moradores locais. Os relatos abordavam as dificuldades enfrentadas pela comunidade. O material foi reunido e algumas das situações descritas foram encenadas e gravadas. Os atores foram os próprios moradores.

A aproximação das pessoas da comunidade originou o Programa Conversando a Gente se Entende (Case), uma dinâmica local periódica realizada por diversas instituições atuantes na comunidade. Como diz o nome, visa a ampliar o diálogo e estreitar laços na comunidade para a busca coletiva de soluções.

Os encontros do Case originaram oficinas de artesanato, palestras de prevenção à saúde e diversos eventos. A proposta do Jovem Doutor é aproveitar a organização do Case para se integrar a atividades em andamento na comunidade, realizadas por escolas, ONGs e pela UBS.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente nas páginas II e III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 02/04/2008. (PDF)