IAC: 120 anos como referência em pesquisa agronômica

Produtividade no País saltou de 60 para 120 milhões de toneladas de grãos por ano e área plantada aumentou somente 15%

O Instituto Agronômico de Campinas (IAC), o mais antigo centro de pesquisa em agricultura do Brasil e da América Latina completou 120 anos de fundação ontem.

Fundado por Dom Pedro II em 1887 e vinculado ao Governo Estadual desde 1892, o IAC foi criado para aprimorar o conhecimento do País na cultura cafeeira. Hoje é referência internacional em pesquisa e melhoramento genético em todas as atividades ligadas ao agronegócio no País.

Presente em todas as regiões paulistas, o IAC teve em 2006 orçamento de R$ 41 milhões, sendo R$ 25 milhões da Secretaria Estadual da Agricultura (SEA) e R$ 16 milhões da iniciativa privada e de agências de fomento: Fapesp, FinepCNPq. Abriga 350 funcionários, 204 pesquisadores e mantém 600 projetos em pesquisa.

Em seu mês de aniversário, o IAC celebra também a publicação de mais de 200 teses em seu projeto de pós-graduação stricto sensu, instituído em 1999. A formação acadêmica trouxe à sociedade novo serviço. Além de gerar conhecimento, o instituto passou a formar recursos humanos especializados em encontrar soluções para os problemas existentes nas lavouras brasileiras.

A pós-graduação é referendada pela Capes e dividida em três áreas de concentração: Gestão de Recursos Agroambientais, Melhoramento Genético Vegetal e Tecnologia da Produção Agrícola. O curso reúne profissionais interessados em trabalhar na iniciativa privada. Destaca-se por oferecer formação direcionada à pesquisa aplicada e geração de tecnologia específica para cada cultura.

Genoma de citros

Orlando de Melo Castro, diretor do IAC, comemora o sucesso de variedades produzidas, mais especificamente a cana forrageira (IAC86-2480), lançada em 2002 e bastante disseminada em São Paulo e Minas Gerais. A planta tem baixo teor de fibra, é adequada à alimentação do gado e aumenta o peso e a produtividade dos animais do rebanho leiteiro em comparação às outras fontes de alimentação.

Entre as novidades, Orlando destaca o atual estudo do IAC que visa a identificar e produzir laranjas ricas em vitaminas A e E por meio de melhoramento genético. Segundo ele, a meta é obter um fruto saboroso, de alto valor nutricional, resistente às pragas, de manejo simples e rentável para o produtor paulista e brasileiro.

Uma conquista recente, de 2002, foi o uso do manjericão como substituto ao pau-rosa, árvore da Amazônia ameaçada de extinção utilizada para a extração do linalol – óleo utilizado pela indústria de cosméticos para produzir aromas como o perfume Chanel nº 5.

Para o futuro, Orlando aponta como desafio para o IAC e para o Estado brasileiro conseguir transferir a inovação desenvolvida em seus laboratórios para o assentado ou pequeno produtor rural. Prover também meios de garantir a sustentabilidade de cada negócio.

“Com o adequado manejo é possível plantar frutas de regiões frias como a uva, o morango e a maçã em regiões do Nordeste brasileiro. Contudo, o desafio maior é fazer chegar até o produtor a informação de qualidade. Com a TV e a internet, os boletins e eventos regionais promovidos pelo IAC têm sido ferramentas importantes de divulgação, mas estes canais não são suficientes para integrar em definitivo o produtor de uma região distante à cadeia nacional do agronegócio”, observa.

Ação integrada

Na área agronômica, o IAC é um parceiro natural da iniciativa privada e seu trabalho contempla agricultores de pequeno, médio e grande porte. Muitas vezes a pesquisa é realizada dentro da propriedade do produtor rural, para ter mais abrangência e permitir análises aprofundadas de condições climáticas, qualidade do solo e oferta de água e luz.

São Paulo lidera a pesquisa e produção de açúcar e álcool no País. E a estratégia do instituto para a cana foi dividir em 1999 o Estado em sete áreas, de modo a produzir variedade específica para cada região do território paulista.

“Os estudos realizados pelo Centro de Cana do IAC orientarão a instalação de novas usinas em Tocantins, oeste baiano e sul de Minas Gerais. A tecnologia desenvolvida nos laboratórios do instituto também orienta o cultivo do algodão no Paraná, Goiás e Mato Grosso. A cultura da mamona em São Paulo é pequena, com apenas mil hectares. Em contrapartida, a variedade Guarani criada no instituto é a mais cultivada no País, no Nordeste brasileiro e em Minas Gerais, os principais produtores”, observa Orlando.

“Embora São Paulo domine toda a cadeia produtiva do etanol, faz-se necessário disseminar em outros Estados e continentes sua tecnologia de produção. Assim será possível criar mercado internacional para o produto e evitar o risco futuro do desabastecimento. Além disso, a cultura sucroalcooleira (açúcar e álcool) tem potencial para impulsionar a economia de países com clima e características parecidas com as nacionais”, analisa.

“O risco de concorrência com os novos produtores será pequeno. O Brasil tem produção em maior volume, condições climáticas excepcionais e áreas disponíveis para ampliar o plantio, insuficiente ainda para atender toda a frota nacional de veículos flex”, ressalta.

Celeiro do mundo

Na opinião de Orlando, o Brasil ainda é chamado celeiro do mundo por ser uma das principais potências agrícolas internacionais. Sua tendência é crescer o suficiente sem depender, à semelhança da Europa e dos EUA, de subsídios governamentais.

De qualquer forma, tem como desafio incorporar gradativamente mais tecnologia e qualidade para passar a produzir e exportar itens de maior valor agregado. “Além de criar produtos diferenciados, com marca e identidade próprias, para conseguir ultrapassar as barreiras sanitárias estrangeiras, que serão ainda mais restritivas”, observa.

Nos últimos 15 anos, o País registrou aumento de 60 para 120 milhões de toneladas de grãos por ano, tendo ampliado a área plantada em apenas 15%. “A vocação brasileira continua sendo agrícola. O aumento na produtividade do algodão, milho, soja, feijão e arroz é resultado da incorporação de tecnologias, uso correto de defensivos, melhor adubação e manejo de solo, práticas de plantio direto. O IAC, ao completar 120 anos, tem participação direta nesses números”, comemora.


Café: a cultura inicial

O cafeeiro arábica foi trazido para o Brasil em 1727. Chegou em Campinas em 1810, tendo como origem o Vale do Paraíba. Até então era cultivado no Estado como cultura nômade. Em 1887, a partir de solicitação dos cafeicultores paulistas, foi criada a Estação Agronômica de Campinas, origem do atual IAC.

Na época, o desafio era encontrar respostas para as questões de adubação, de reposição de nutrientes e métodos de conservação do solo. Evitar, assim, o esgotamento da terra após os primeiros anos da cultura e interromper a constante procura e necessidade por novos terrenos, com solos produtivos e ricos em matéria orgânica.

Entretanto, o aumento da área cultivada e a adaptação da planta às condições de solo e ao clima paulista transformaram São Paulo no epicentro da economia brasileira.

No ano do seu 120º aniversário, o IAC continua sendo a principal referência brasileira sobre café. Seus estudos abrangem todos os aspectos ligados ao plantio e conservação dos grãos, incluindo agroclimatologia, fisiologia, fitopatologia, melhoramento genético e biotecnologia (Projeto Genoma), fertilização do solo, mecanização, qualidade, enxertia e tolerância à seca e ao calor e resistência às pragas do bicho mineiro, das famílias de vermes nematóides e à ferrugem.

O café é a bebida mais consumida no planeta – a cada ano são servidos 400 bilhões de xícaras. O Brasil é o maior produtor mundial e cultiva duas espécies: o arábica (Coffea arabica), com menor teor de cafeína e de melhor qualidade (65% do total de pés plantados) e o conilon (Coffea canephora), mais conhecido por robusta, mais rústico e com mais cafeína (35% da produção).

Em 2006, o País obteve 32 milhões de sacas. A produção foi liderada pelo Estado de Minas Gerais (50%), seguida pelo Espírito Santo (30%), São Paulo (10%), Paraná (5%) e os 5% restantes foram colhidos em outras unidades da Federação.

O agrônomo Luiz Carlos Fazuoli comanda o Centro de Café Alcides Carvalho. O nome da unidade do IAC homenageia o pesquisador do instituto falecido em 1992 e maior especialista do País em café.

Fazuoli lamenta nos últimos 15 anos a progressiva perda de espaço da cultura para outras mais rentáveis para o produtor, como a soja, os citros e a cana. Destaca, porém, que 90% de todo o café arábica plantado no Brasil tem origem no instituto e aponta como saída para estimular novamente a cafeicultura a criação de modalidades especiais e de uma marca de café especial com o selo do IAC.


Descafeinado naturalmente

A pesquisadora Maria Bernadete Silvarolla é a descobridora de um pé de café contendo o menor teor de cafeína já encontrado: somente 0,07% na sua composição. A inovação teve o apoio do biólogo e professor da Unicamp Paulo Mazzafera, responsável pelas análises laboratoriais das amostras. Com isso, abriu novas perspectivas para o aperfeiçoamento de uma linha de produtos com baixos teores da substância, capaz de agradar ao consumidor com esta necessidade.

Durante cinco anos, a agrônoma estudou individualmente as amostras dos grãos retiradas de cada uma das duas mil plantas presentes no jardim do Centro de Café Alcides Carvalho até encontrar, em 2003, o pé com baixo teor de cafeína. Esta plantação especial reúne todas as espécies de café existentes no mundo. E o café é uma planta perene – se tiver manejo adequado pode viver até cem anos, mas a operação comercial de cada planta é de até 20 anos.

Em média, cada xícara de café feito com coador tem 1% a 1,2% de cafeína na sua composição. O café descafeinado transformou-se em segredo industrial em 2005, após a assinatura de um convênio com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) para o desenvolvimento do produto.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente nas páginas II e III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 28/06/2007. (PDF)

Estação Ciência faz 20 anos unindo cultura e entretenimento de qualidade

Instalações interativas e ambientes lúdicos despertam o gosto pelo conhecimento e ampliam a formação educacional do visitante

No próximo domingo, a Estação Ciência completa 20 anos e registra 8,3 milhões de visitas desde sua inauguração. Vinculada à Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP (PRCEU), o centro de divulgação científica interativo é pioneiro no País.

No mês de aniversário, além da programação especial, anuncia novidades em seus 5 mil metros quadrados de área, como a Praça dos Brinquedos, a nova cafeteria e a remodelação do conjunto da recepção, caixa e guarda-volumes.

Ao passar pela catraca e circular pelas dependências da Estação, o interessado entra em contato com construções de valor histórico da capital e tem a oportunidade de aprender ciências em ambientes lúdicos, distribuídos em dois pisos com mostras permanentes e temporárias.

A brincadeira enriquecedora do conhecimento é complementada com peças teatrais, palestras, oficinas e equipamentos especiais, como o simulador de terremotos. Às escolas da rede pública e particular são oferecidos empréstimos de 130 kits da Experimentoteca com atividades para alunos do ensino fundamental e médio. Para os professores, são ministrados cursos de capacitação e reciclagem.

Em sua fase inicial, Estação Ciência reunia somente estandes de empresas e tinha como público-alvo grupos escolares. Com o passar dos anos, houve mudança em seu perfil. Os intercâmbios e pesquisas com centros interativos de ciências internacionais, acompanhada da constante troca de informações de dados alinharam-na ao Exploratorium de San Francisco (EUA), ao Science Museum de Londres (Inglaterra) e ao Cosmocaixa de Barcelona (Espanha).

Passeio obrigatório

Diretor da EC desde 2004, o geólogo Wilson Teixeira destaca a consolidação do centro como roteiro turístico-cultural obrigatório do Brasil. Porém, sem perder de vista sua proposta principal, de promover a divulgação científica e os avanços tecnológicos fora do ambiente escolar.

“Além da Petrobras, muitas empresas têm proposto parcerias para criarmos novas exposições itinerantes. Na pauta atual estão relacionados temas de preservação do ecossistemas e o combate ao desperdício de água. Mostras complementam o acervo permanente, atraem público e mídia e depois rodam o País”, observa.

Segundo Carmem Ruiz, supervisora da Experimentoteca, a proposta de emprestar kits visa a aguçar a curiosidade, despertar talentos precoces e ampliar a formação educacional do visitante.

“Muitas atividades remetem a fenômenos naturais, presentes no dia-a-dia das pessoas. Com a experimentação, torna-se possível compreendê-los com mais graça e facilidade. A mistura lúdica de divulgação científica com entretenimento é arma eficaz na formação de cidadãos mais conscientes e responsáveis”, conclui.

O corpo profissional da Estação Ciência é constituído por professores, cem alunos estagiários da USP (monitores), 40 funcionários, voluntários de ONGs e técnicos de formação multidisciplinar.

O pessoal especializado auxilia nos experimentos, informa e esclarece dúvidas sobre as exposições permanentes. Os temas abordados são variados e contemplam todas as áreas do conhecimento: humanas, exatas, agrárias, biológicas e saúde.

Lazer cultural

O universitário Bruno Luiz de Oliveira, terceiro anista de Biologia da USP, foi estagiário da Estação Ciência até o final do ano passado. Hoje, prestes a concluir sua graduação, é professor do Colégio Claretiano e responsável pelo laboratório da escola. Neste período, não deixou de frequentar o local para rever amigos e conferir as novidades. No último dia de maio, regressou em visita agendada com seus alunos.

“Eles puderam aprender mais sobre Matemática, Física e Ciências. Fizeram perguntas e pretendo respondê-las nas próximas aulas. Para mim, sempre será gratificante voltar aqui”, diz.

Outro grupo de alunos provenientes da Unesp de Rio Claro e universitários do curso de Matemática também aprovaram a visita. O estudante Northon Canevari comentou que sua turma pode conferir na prática conceitos conhecidos somente na teoria. “E a interação com os universitários da USP também foi muito proveitosa”, observa.


Arte e ciência no palco

O teatro da Estação Ciência tem capacidade de 190 lugares. Em seu palco são encenadas peças e realizadas oficinas, aulas-espetáculo, palestras e seminários direcionados para públicos variados e de todas as idades. O seu Núcleo Teatral já produziu oito espetáculos ligados ao universo científico.

Desde 1998, o diretor-artístico Cauê Mattos lidera a equipe de 13 profissionais do grupo e responde pela pesquisa e produção. Ele explica que as montagens criadas resgatam da cultura popular, história, literatura, música, geografia, economia e artes plásticas. Depois da temporada no palco da Estação Ciência, essas montagens rodam o país inteiro em turnês.

“Os espetáculos encenados permitem licenças poéticas nos roteiros. A peça mais recente é Parem Tudo Vamos Voar. Traz metáforas sobre a liberdade, celebra o centenário do voo do 14 Bis em Paris e narra ao público, infantil e adulto, a vida de Santos Dumont. Provoca na plateia reflexões, como o gênio brasileiro da aviação pensaria se vivesse nos nossos dias, em conjunto com a apresentação de conceitos de aerodinâmica”, relata Cauê.


Memória ferroviária

A história da Estação Ciência começou em dezembro de 1986, a partir da doação de um terreno de 2 mil metros quadrados do governo paulista para o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O local abrigava um conjunto de antigos barracões construídos no início do século passado e foi repassado em 1990 para a Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP.

O nome e o primeiro logotipo da Estação Ciência são criações do publicitário Washington Olivetto e remetem à memória ferroviária do Estado. O centro de cultura é tombado pelo patrimônio histórico e preserva instalações de uma tecelagem, cujos galpões foram reconstruídos após um incêndio em 1936. Até a década de 70, foram utilizados como depósito de sementes da Secretaria Estadual da Agricultura até a doação para o CNPq, em 1986.

O logotipo atual foi redesenhado recentemente. Apresenta a ciência como um ciclo em constante transformação. Em breve, novo elemento será acrescentado à identidade visual: a torre da entrada, em substituição aos antigos barracões.


O senhor dos projetos

O arquiteto Francisco Medeiros é o responsável pela concepção e montagem dos elementos nas exposições – produz maquetes e projeta os espaços das mostras. Para evitar distorções na divulgação e compreensão dos conceitos científicos, tenta reproduzir com fidelidade máxima cada fenômeno natural abordado. Preocupa-se em prover instalações que sejam agradáveis e seguras para o público, utilizando materiais tecnológicos, resistentes e ecológicos.

“Antes da inauguração de uma atração, há muita pesquisa e trabalho de equipe. O tempo mínimo de preparação é de três meses e alguns projetos ultrapassam um ano de preparação, como o Tsunami e o Furacão, que utilizam água nas instalações. Os debates contemplam, entre outras questões, a base científica da mostra, quais equipamentos serão utilizados, o tamanho e a ocupação do espaço disponível e o roteiro para o visitante. Resultam em decisões como a escolha das matérias-primas, maquinários, correções nos textos dos painéis informativos e a contratação de profissionais para desempenhar tarefas específicas, de acordo com a necessidade de cada exposição.”, finaliza.

Economia de água

Desde 2006, em parceria com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), Francisco estuda opções para transformar os banheiros da Estação Ciência em áreas de exposição.

“Para combater o desperdício de água, a intenção é substituir os atuais vasos sanitários, torneiras e válvulas por equipamentos economizadores. A inovação será utilizar protótipos que ainda estão em teste no IPT, como o mictório feminino especial. A novidade é utilizada em outros países e permite à mulher urinar sem sentar no assento e conseguir reduzir os atuais seis litros utilizados em cada descarga”, conta.


Atrações permanentes

A Estação Ciência recebe visitação média diária de mil pessoas. O maior público reunido foi na inauguração da Sala de Terremoto, quando compareceram 2,6 mil pessoas, formando enormes filas. Atualmente, o centro funciona de terça a sexta-feira, das 8 às 18 horas. Aos sábados, domingos e feriados, das 13 às 18 horas. É possível agendar a visita para grupos escolares com até três meses de antecedência.

Entre as atrações da área de Física, há experimentos que ilustram conceitos de eletromagnetismo, termodinâmica e óptica e são sempre evidenciadas as transformações entre os diversos tipos de energia.

A área de Biologia tem aquários de água salgada e doce. Além de peixes, apresenta espécies marinhas conservadas em formol. No espaço Butantã há viveiros de cobras, lagartos, aranhas e escorpiões e um terrário com plantas carnívoras. Há, ainda, o Caracol, um espaço interativo, onde, por meio de programas de computador, o visitante pode saber mais sobre serpentes, aranhas e outros animais invertebrados venenosos e sobre pássaros.

Big-bang

Na seção de Geologia, painéis transparentes e maquetes ilustram fenômenos naturais, como a formação de fendas, dobras e vulcões. Na área de Geografia, há painéis, atlas, mapas, globo terrestre e uma grande maquete de bacia hidrográfica, com água corrente representando rios principais e afluentes, além de represas. Ela é capaz de simular a queda da chuva em áreas urbanas e representar as enchentes.

A Astronomia tem aparelhos que simulam a órbita de planetas e um painel explicativo sobre a origem do universo, baseado na teoria do Big Bang. A Meteorologia reproduz em maquetes aparelhos de captação e medição de dados. Há instrumentos instalados que permitem o monitoramento do tempo de forma contínua, com dados de pressão, temperatura e umidade.

Por fim, há o Projeto Clicar, de inclusão digital, iniciado em 1995. Consiste em oferecer o uso gratuito de computadores para crianças e adolescentes em situação de risco social. Na área reservada, o aluno é estimulado ao uso livre de computadores e da internet, com atividades individuais e em grupo.

Serviço

Estação Ciência
Rua Guaicurus, 1.394 – Lapa – zona oeste da capital.
Tel. (11) 3672-5364

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente nas páginas II e III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 21/06/2007. (PDF)

Bagaço de cana surge como alternativa para geração de energia elétrica em SP

Meta é ampliar oferta de energia na época seca do ano, quando o volume de água nos reservatórios das hidrelétricas é menor

Dobrar, em quatro anos, a produção anual de 2 mil para 4 mil megawatts de energia elétrica no Estado, gerados a partir do reaproveitamento do bagaço de cana. Essa é uma das metas da Comissão de Bioenergia, grupo multidisciplinar constituído pelo governador José Serra no final do mês de abril, com o objetivo de orientar a produção de energia limpa e renovável no território paulista.

O grupo congrega profissionais oriundos das secretarias de Desenvolvimento, Saneamento e Energia, Agricultura, Economia e Planejamento, Transportes, Meio Ambiente, e também Fapesp, USP, Unesp e Unicamp. No dia 16 de maio, a Comissão de Bioenergia se reuniu para estruturar e apresentar nos próximos seis meses plano de ação que norteará os rumos da energia no Estado. O documento contemplará temas ligados à pesquisa, produção, transporte, distribuição e uso de fontes renováveis em São Paulo.

No Estado, a iniciativa privada é responsável por todo o ciclo do açúcar e álcool (sucroalcooleiro). Porém, a intenção do governo paulista é estimular nas usinas a cogeração – produção simultânea de dois energéticos (eletricidade e sacarose) – a partir de um único combustível: o bagaço de cana. A meta é abastecer 9 milhões de residências em 2010, constituídas por famílias que tenham consumo médio mensal de 190 quilowatts.

Auto-suficiência

José Goldemberg, presidente da Comissão, explica que a usina é autossuficiente em energia elétrica. Primeiro ela mói a cana para produzir o bagaço que será queimado na caldeira. O calor da combustão libera vapor de água que é direcionado ao gerador para produzir eletricidade. Depois, o mesmo vapor é redirecionado com uma pressão mais baixa para as turbinas acopladas às moendas, para obter energia mecânica e movimentá-las, tornando permanente o ciclo de energia.

Nos anos 70 as usinas dominaram a técnica da cogeração. Com isso, ganharam a oportunidade de vender seus excedentes de energia para a rede elétrica, por meio de leilões que resultam em contratos de fornecimento futuro. Seus clientes são as 64 distribuidoras brasileiras de eletricidade, como, por exemplo, a Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL).

Até o fim deste mês será realizado o próximo leilão. Estão cadastradas para participar 38 usinas paulistas, que irão oferecer 1,5 mil megawatts a serem repassados à rede elétrica a partir de 2010. De acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o Brasil tem 222 usinas. Dessas, 135 estão localizadas em São Paulo, Estado produtor de 65% de toda a cana colhida no País. Dos atuais 2 mil megawatts anuais produzidos nas usinas, 1,4 mil megawatts são utilizados internamente e os 600 restantes são revendidos em leilões de energia elétrica.

Subprodutos

O engenheiro Jean Cesare Negri, da Secretaria Estadual de Saneamento e Energia, explica que a moagem de uma tonelada de cana gera três subprodutos: melaço (153 quilos de açúcar e etanol), bagaço (276 quilos) e palha (165 quilos). Ele comenta que o uso da tecnologia vem permitindo aumentos de produtividade nas colheitas e também ampliando as possibilidades de cogeração. “As usinas estão sendo incentivadas a substituir caldeiras antigas por novas com maior capacidade de pressão”, informa.

Até 2004, ano da revisão no modelo do setor elétrico brasileiro, o dono de usina não tinha incentivos para revender seus excedentes. Os motivos incluíam a baixa quantidade de energia adicional produzida, a falta de interligação da usina com a rede de distribuição (que custa U$ 150 mil cada quilômetro de instalação) e, principalmente, a sazonalidade do fornecimento, uma vez que a cogeração somente é possível no período de safra da cana – de maio a novembro.

“O governo estadual está incentivando a cogeração no setor canavieiro, para aumentar a oferta de energia nos meses do outono e do inverno, os mais críticos para a produção de energia nas hidrelétricas. A colheita da cana é realizada na época de menos chuvas do ano, período que coincide com a baixa nos níveis dos reservatórios das hidrelétricas”, explica Jean.

Entre as medidas adotadas, está a regulação do setor, a possibilidade de conseguir financiamentos do BNDES e de vender eletricidade diretamente para clientes com consumo médio mensal acima de 500 quilowatts, como shoppings e condomínios. “Além disso, a usina pode comercializar seus excedentes nos leilões a partir de sua média anual de produção de energia e obter redução de no mínimo 50% de suas tarifas com a rede elétrica”, finaliza.


Apagão elétrico em 2009

O secretário adjunto do Desenvolvimento, Américo Pacheco, revela a disposição do governo paulista em ampliar investimentos para aprimorar ainda mais a cadeia produtiva do açúcar e do álcool. O objetivo é obter no futuro novos produtos derivados da cana, como plásticos, açúcares especiais, enzimas e matérias-primas para a indústria alimentícia.

“No setor sucroalcooleiro, São Paulo é o principal produtor e exportador do País. Detém as mais avançadas técnicas de produção de mudas, plantio e colheita e concentra as indústrias de implementos agrícolas, de máquinas para usinas e os fabricantes de motores flex. O próximo passo da comissão de Bioenergia é criar condições para que o Estado mantenha a liderança internacional na pesquisa com a cana e seus derivados e consiga produzir álcool a partir de qualquer biomassa”, explica.

Pacheco alerta para o risco de apagão elétrico em 2009, caso sejam mantidas as atuais perspectivas de crescimento da economia sem a ampliação da oferta de energia elétrica no País. “Independentemente de haver escassez ou não, a geração de energia a partir do bagaço de cana é a opção mais fácil de ser adotada – entre o plantio e a colheita são necessários apenas dois anos. E este reforço fortalecerá a disponibilidade de energia, além de ser renovável”, finaliza.


Opção para os empresários

José Carlos Meneghin, gerente industrial da Usina Zanin, de Araraquara, informa que o maquinário utilizado pela maioria das usinas brasileiras é antigo. São caldeiras com capacidade máxima de 22 bar de pressão, que operam na temperatura de 300ºC e, em média, conseguem oferecer 2,7 megawatts por hora nos 200 dias de safra. Entretanto, a popularização do motor flex na última década motivou os empresários a trocarem as caldeiras das usinas para ampliar a potência instalada.

O gerente explica que as usinas mais novas têm possibilidades concretas de vender excedentes de energia. Utilizam caldeiras que suportam até 63 bar de pressão e calor de 500º C e conseguem oferecer excedentes de até 59 megawatts por hora. Meneghin aponta a cogeração como uma alternativa viável como investimento complementar à produção de etanol e açúcar. E também uma opção interessante para a destinação final do bagaço de cana, acumulado em grandes quantidades.

“Há muitas pesquisas em andamento, como a hidrólise enzimática, que promete enriquecer o bagaço e permitir seu reaproveitamento, ampliando a produtividade da cana em até 50% para a usina. Porém, atualmente a cogeração é uma alternativa mais viável e efetiva, mas a decisão de vender excedentes de energia está ligada a critérios geográficos e às peculiaridades dos negócios de cada uma”, finaliza.

União público-privada

Promover o desenvolvimento da indústria canavieira no Brasil. Essa é a missão do Centro Avançado da Pesquisa Tecnológica do Agronegócio de Cana do IAC, órgão vinculado à Secretaria Estadual da Agricultura. Hoje, o centro responde por 22% de todas as variedades criadas no País e conseguiu aumentar a produtividade do setor em 25%.

O Centro Apta Cana é parceiro de mais de 60 usinas paulistas e concentra pesquisas nas áreas de genética, fisiologia, fitopatologia, entomologia, pedologia, fertilidade, climatologia e fitotecnia. As atividades são centralizadas em Ribeirão Preto e também realizadas nos demais pólos regionais do IAC, em Assis, Adamantina, Jaú, Jundiaí, Mococa, Pindorama e Piracicaba. O custo das pesquisas do Centro é dividido entre a Agricultura e as usinas.

O objetivo dessa parceria é utilizar o melhoramento genético para produzir mudas especiais, plantas híbridas que reúnam características de alto teor de sacarose, volume adequado de fibras, resistência contra seca prolongada, pragas e doenças e pouca palha, capaz de facilitar a colheita mecânica.

Matrizes e híbridos

O agrônomo Fábio Dias é um dos 13 pesquisadores do Centro, que possui 45 funcionários. Diz que um dos desafios atuais nas pesquisas é conseguir diminuir o tempo atual para a produção de uma nova variedade, que é de 12 anos.

“Os cruzamentos são realizados com diversas espécies de cana e vão dar origem a sementes para germinar o vegetal. Seu potencial será avaliado e, caso a planta tenha apelo comercial, fornecerá as mudas que serão testadas nas estufas do Centro e, posteriormente, no solo da usina solicitante da variedade. Por fim, depois de um grande número de testes e de cinco cortes na planta, realizados um a cada ano, a variedade estará pronta para ser lançada”, explica.

Reserva especial

O IAC tem um jardim especial com exemplares de todas as variedades lançadas pelo instituto. Nele também são plantadas as matrizes de todas as espécies de cana existentes no mundo – inclusive descendentes dos primeiros pés plantados pelos
colonizadores portugueses em São Vicente e em Recife, a partir de 1537.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente nas páginas I e IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 13/06/2007. (PDF)