Alunos utilizam casca de ovo no tratamento de água

Pioneiro e sustentável, o estudo de alunos da Etec Barretos abre possibilidade de outra pesquisa, usando o resíduo de origem animal como fertilizante

Reaproveitar um resíduo de alimento abundante no pré-tratamento de água. Esta é a novidade proposta por um grupo de alunos do curso de química da Escola Técnica Estadual (Etec) Coronel Raphael Brandão, de Barretos. De viés sustentável, a pesquisa idealizada pelo estudante Renan Tristão, de 20 anos, é o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) do seu grupo. A técnica desenvolvida irá originar dois pedidos de patente.

A família de Renan é proprietária de uma padaria em Barretos, onde ele, o irmão e seus pais trabalham. Diariamente, ao observar o lixo produzido, ele imaginava qual destino poderia ser dado aos restos de 40 ovos usados na produção de doces, pães e bolos. Sua ideia original era desenvolver um fertilizante com as cascas, considerando que esta matéria-prima de origem animal tem, em média, 90% de carbonato de cálcio em sua composição.

Quando ingressou na Etec, em janeiro de 2013, Renan apresentou a ideia aos seus colegas de turma, os também calouros Adriel Martins (hoje com 22 anos), Flavia Oliveira (18), Gabriel Moreira (17) e Marcelo Pereira (18). Aprovado pelos estudantes, o projeto de pesquisa recebeu orientação teórica da professora Suellen Caffer. A parte prática ficou a cargo do responsável pela disciplina Operações Unitárias, o professor Evandro Lucas de Lima, que também é coordenador do curso de química da Etec.

Além da orientação acadêmica, o grupo pesquisou a fundo na internet. O desafio inicial era extrair o carbonato de cálcio da casca de ovo. O primeiro método possível, a calcinação, foi descartado, por exigir um laboratório específico. Trata-se de processo que demanda muita energia e requer equipamentos capazes de atingir temperatura de mil graus Celsius.

A segunda opção, a escolhida, era pré-tratar a casca de ovo com reagentes químicos na água. Nesse processo, os estudantes observaram que surgiam flocos na mistura e as impurezas presentes se depositavam na parte inferior do recipiente, ou seja, ocorria a decantação. Essa técnica se assemelha àquela realizada na primeira fase do trabalho feito pelas estações de tratamento de água.

Para descobrir a formulação ideal, entre outras questões, o grupo fez dezenas de testes com cinco amostras diferentes de água da região, vindas de lagos, da rede de abastecimento, de fazendas, entre outros locais. Os estudantes concluíram que 2,2 gramas de pó de casca de ovo são suficientes para pré-tratar um litro de água – o processo demora, em média, cinco minutos. “O segredo foi descobrir a formulação mais eficiente da mistura, pois são os flocos que ‘separam’ os materiais particulados e demais impurezas da água”, revela Renan.

Próximos passos

Para se tornar potável, a água pré-tratada com casca de ovo precisaria passar por etapas de filtração, adição de cloro e de flúor, como ocorre no processo tradicional. A pesquisa da Etec Barretos segue em fase laboratorial, visando ao aprimoramento da formulação ideal dos dois reagentes usados no processo inovador. O grupo espera terminar a etapa até julho de 2016 e encaminhar, com apoio do Núcleo de Inovação Tecnológica do Centro Paula Souza, os pedidos de patentes.

Um desdobramento possível da pesquisa é a casca de ovo se transformar em alternativa aos sais (sulfato de alumínio e policlorato de alumínio) usados atualmente no pré-tratamento da água. Ricas em alumínio, essas substâncias têm alto potencial contaminante, pois deixam resíduos no lodo resultante do processo.

Outra meta, destaca o professor Evandro de Lima, é retomar a ideia original de reaproveitamento da casca de ovo como fertilizante. “Embora tenha origem animal, essa matéria-prima hoje é desperdiçada e demora muito tempo para se decompor na natureza depois de descartada. Além disso, o grupo de Renan se formará em junho – e essa linha de pesquisa da Etec Barretos, assim como as outras, deve prosseguir com novas turmas”, adianta o coordenador.

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página II do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 19/05/2015. (PDF)

Governo vai criar laboratório de inovação para o setor público

Pioneiro no País, o iGovLab abre espaço permanente para o debate e solução de questões públicas complexas

Buscar soluções coletivas para problemas complexos do setor público é a proposta do Laboratório de Inovação em Governo (iGovLab), primeiro do gênero a ser criado no País. Com inauguração prevista para a segunda quinzena de junho, a iniciativa resulta da parceria entre Secretaria Estadual de Governo, Universidade de São Paulo (USP), Fundação do Desenvolvimento Administrativo (Fundap), Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) e Centro de Estudos e Pesquisas de Administração Municipal (Cepam).

O iGovLab adotará metodologias e técnicas gerenciais modernas, centradas na colaboração e na criatividade, como Design Thinking (métodos de abordagem de problemas a partir de processos utilizados por designers) e o Storytelling (técnica de contar histórias que consiste em transmitir eventos na forma de palavras, imagens e sons), entre outras.

Inéditas em órgãos públicos, essas abordagens propõem ouvir a sociedade, gestores e agentes públicos interessados em um processo, com o objetivo de revê-lo, incorporando melhorias, seguindo os seis passos propostos pelo Design Thinking: entender, observar, definir, idealizar, prototipar e testar as soluções encontradas.

Coletivo

O laboratório vai adotar como um de seus princípios o aproveitamento das novas tecnologias disponíveis e a inteligência coletiva de servidores e cidadãos, explica Roberto Agune, da Unidade de Inovação da Secretaria Estadual de Governo; além de incentivar a criatividade, o protagonismo e o empreendedorismo dos participantes na busca por soluções.

“Buscar estender para outros serviços públicos o padrão de excelência atingido pelo Poupatempo (99% de aprovação) está entre os objetivos do projeto”, explica Agune. Hoje, o cidadão pode agendar pela internet ou por telefone atendimento nos 64 postos espalhados pelo Estado. No próprio balcão, cada usuário atribui uma nota ao serviço prestado. Instantaneamente tabulada, essa informação permite aos responsáveis pelo programa tomar decisões gerenciais rápidas e contornar desafios imprevistos (ver serviço).

Interesse público

Álvaro Gregório, também da Unidade de Inovação e um dos mentores do iGovLab, informa alguns dos temas previstos para análise no laboratório. O Acessa São Paulo – rede estadual com 847 infocentros lançada há 15 anos – será o primeiro. A ideia é rever o modelo de negócio, processos, instalações e serviços ligados ao programa de inclusão digital.

O trabalho dos bombeiros aparece como segunda pauta. Periodicamente, a corporação estuda o conjunto de ocorrências atendidas e analisa as de maior incidência e de periculosidade. No iGovLab, há a proposta de capacitar os agentes desse processo para propor e estabelecer ações preventivas (mais baratas que as ostensivas) e capazes de prevenir situações de risco à população, como incêndios e outros acidentes.

“Pretende-se criar um espaço permanente para o Estado atacar problemas de difícil resolução e de caráter multidisciplinar. Questões que abrangem diversos atores públicos e privados em várias áreas, como saúde, segurança e mobilidade urbana”, observa Agune.

Para inovar e formatar soluções, uma das estratégias é apostar na progressiva abertura e integração das bases de dados governamentais, hoje dispersas e fragmentadas em diversas secretarias de Estado e órgãos federais e municipais.

“Uma das ideias é criar uma camada integradora envolvendo esses cadastros e aproveitar essa ‘janela tecnológica’ no iGovLab para propor novos serviços e políticas públicas”, explica Agune. Como exemplo do que pode ser feito, pode-se citar o novo Registro de Identidade Civil (RIC).

Este projeto do Instituto de Identificação Ricardo Gumbleton Daunt substituirá o documento de identificação tradicional. O novo RG terá por característica armazenar em memória interna informações pessoais do proprietário, para preservar a privacidade, dar segurança e permitir leitura rápida, via QRcode (leitura pela câmera do celular), inclusive em sistemas móveis, em transações públicas e privadas.

Contatos

Para sugerir temas ou se comunicar com o iGovLab, o cidadão ou servidor público pode recorrer aos portais da Rede Paulista de Inovação em Governo (iGovSP) e o da Fundap. Também há a opção de contatar a Ouvidoria-Geral do Estado, cujo site direciona o interessado às ouvidorias de secretarias, fundações, autarquias e demais empresas públicas paulistas, responsáveis pela demanda (ver serviço).

Todas as manifestações recebidas nas ouvidorias recebem um número de protocolo e ficam registradas nos sistemas internos de informática, independentemente de ser pedido de informação, elogio, reclamação, denúncia, sugestão ou outras demandas. Além disso, o solicitante pode acompanhar pela internet o andamento do seu contato.


iGovLab: montagem e estrutura

O iGovLab segue em fase de montagem. O laboratório de inovação será administrado por um comitê gestor e funcionará, em área de 200 metros quadrados, no quarto andar do edifício sede da Fundação do Desenvolvimento Administrativo (Fundap), localizada na Rua Alves Guimarães, 429 – capital.

O espaço inclui ambiente de aprendizagem, com capacidade para 40 pessoas; local para resolução de problemas, para apoiar a criação, desenvolvimento e lançamento de projetos e sala de descompressão, para descanso, troca de ideias e de impressões entre os participantes.

Os encontros presenciais e virtuais do iGovLab terão suas possibilidades ampliadas com quatro lousas digitais e quatro computadores (servidores de redes) cedidos pela USP. Com microfones capazes de capturar o áudio ambiente e câmeras com rotação de 360º, o sistema de videoconferência permite debates e capacitações em tempo real, com participantes geograficamente distantes.

“A inovação em governo é tão importante quanto a tecnológica. Trata-se de caminho promissor para buscar respostas a desafios impostos pela legislação, burocracia e outras questões complexas”, informa o professor da USP e diretor executivo da Fundap, Wanderley Messias da Costa. “Fruto de convênio assinado em outubro de 2013, entre a USP e os demais parceiros estaduais, o iGovLab tem consultoria acadêmica e muita dedicação dos pesquisadores Ulisses Araújo e Ary Plonski ao projeto”, esclarece o professor.

Ouvidoria-Geral do Estado
Rede Paulista de Inovação em Governo (iGovSP)
Fundap
Poupatempo

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página I do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 13/05/2015. (PDF)

USP São Carlos auxilia a mapear áreas arrasadas no Nepal

Auxiliar no resgate de vítimas e na reconstrução da infraestrutura de cidades arrasadas por desastres naturais. Esta é a proposta do grupo acadêmico liderado pelo professor do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP São Carlos, João Porto de Albuquerque. O trabalho é realizado depois das aulas e tem adesão voluntária de 50 alunos de graduação e pós-graduação.

Desde o dia 26 de abril, o grupo paulista de pesquisadores se uniu a outros milhares de voluntários de diversos países para auxiliar, pela internet, na produção colaborativa de mapas bidimensionais. As informações geográficas ajudam nas tomadas de decisão em ações de socorro e de assistência aos flagelados do terremoto ocorrido na véspera, no Nepal.

O abalo sísmico de 7,8 pontos na Escala Richter atingiu áreas densamente povoadas do país asiático, distante 15 mil quilômetros do Brasil. O tremor de terra afetou a vida de 8 milhões de pessoas, causando, de acordo com informações mais recentes, 7,2 mil mortes e 14 mil feridos.

Comparações

O professor explica que os mapas bidimensionais integram um banco de dados de uso livre, o OpenStreetMap, e são gerados a partir de fotos de satélites, cujos direitos de uso foram cedidos por questões humanitárias. De âmbito mundial, a plataforma tecnológica simula, no computador, a disposição original e exata de escolas, edifícios, estradas, ruas, hospitais, viadutos, etc.

A comparação das imagens processadas no mundo virtual com as atuais permite identificar com precisão quais eram os antigos locais e o que havia sobre eles. Desse modo, facilita o acesso, nos escombros, a possíveis sobreviventes e favorece a distribuição de alimentos, medicamentos e cobertores nas tendas com desabrigados. “Essas informações também serão úteis no futuro, no momento da reconstrução”, acrescenta o professor.

Desdobramentos

Ele informa que a USP mantém um projeto piloto com a prefeitura de São Carlos para mapear áreas de risco de enchentes na cidade. Financiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), a pesquisa tem término previsto para março de 2018.

“A ideia é aprimorar ao máximo a metodologia de mapeamento de áreas de risco de desastres naturais no Estado de São Paulo. E, depois, repassá-la aos órgãos responsáveis por ações preventivas e ostensivas, como Defesa Civil, Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden)”, destaca o professor.

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página I do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 07/05/2015. (PDF)