Instituto Biológico alerta sobre os cuidados com pragas em alimentos

Além da validade, consumidor deve conferir a manipulação dos gêneros e a higiene da loja, inclusive a presença de insetos no local; a despensa da residência deve ser verificada uma vez por semana

O Instituto Biológico (IB), órgão da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (SAA), orienta o consumidor sobre quais cuidados tomar para evitar contaminação por pragas, como carunchos e traças presentes no macarrão, arroz, farinha de trigo, fubá, achocolatados e bombons, bem como em produtos vendidos a granel, como ração para animais de estimação (pets), entre outros itens.

De acordo com o engenheiro agrônomo Marcos Roberto Potenza, da Unidade Laboratorial de Referência em Pragas Urbanas (ULR) do IB, para evitar esse risco, a orientação é sempre verificar as condições de armazenamento dos produtos (que devem estar em recipientes bem fechados), além de conferir como se dá a manipulação dos itens e a higiene do ponto comercial. Além disso, sugere observar, inclusive, a conservação predial e a presença de insetos voando pelo ambiente.

Segundo Potenza, as infestações podem ocorrer em massas, grãos, farinhas, farelos, cereais matinais, bolachas e biscoitos, chás desidratados e ervas aromáticas e condimentares, como hortelã, camomila, salsa, manjericão, coentro, tomilho e erva-doce. “Até chegar ao consumidor, o alimento passa por uma cadeia complexa, envolvendo transporte, armazenamento e comercialização. Muitas vezes, a infestação ocorre nessas etapas e não nos processos industriais”, comenta Potenza.

Contaminação

Segundo ele, os fabricantes têm modernizado seus processos e investido na certificação dos fornecedores, de modo a assegurar matérias-primas sem insetos. Entretanto, quando se constata a irregularidade, a missão da ULR é averiguar qual a origem do inseto e em que momento ocorreu a contaminação.

Uma hipótese é ter ocorrido falha nas chamadas boas práticas de fabricação, como, por exemplo, se alguma praga típica do alimento, como caruncho ou traça, já estava presente no momento da colheita, e se os procedimentos de beneficiamento e desinfestação não foram efetivos.

Na maioria dos casos, carunchos e traças não oferecem risco à saúde pública. Entretanto, moscas, baratas, formigas ou roedores, por se tratarem de vetores mecânicos de patógenos, são potenciais disseminadores de doenças.

“Ninguém precisa deixar de comprar a granel, deve somente analisar as condições do local de comercialização e como o produto está exposto. No caso de prateleiras de supermercados, quando a embalagem for transparente, é possível buscar indicativos de contaminação ainda na gôndola”, destaca Potenza.

Esses sinais, comenta, podem ser fios de seda feitos pelas lagartas das mariposas ou grãos de cereais perfurados por carunchos. Outro problema comum, comenta o agrônomo do IB, é a chamada infestação cruzada.

Esse tipo de contaminação ocorre quando algum produto da despensa da residência têm insetos e estes se dispersam para outros alimentos a granel ou industrializados. “Ao abrir o armário, a dica é sempre dar uma espiada em todo o conjunto armazenado, inspecionando prazos de validade. E sempre conferir tudo ao menos uma vez por semana”, aconselha Potenza.

Atendimentos

Quem tiver dúvida pode recorrer aos canais de comunicação da ULR do IB (ver Serviço). Em média, o Laboratório, órgão da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), atende cerca de mil solicitações provenientes de consumidores e da indústria alimentícia por ano. Quando esses pedidos não geram laudos, os serviços são gratuitos e a resposta costuma chegar em até dez dias, dependendo do problema a ser analisado.

De acordo com o biólogo Francisco Zorzenon, diretor da ULR-IB, as solicitações incluem a identificação de pragas urbanas, trabalhos relacionados a biologia, métodos de controle, resistência de embalagens à perfuração e taxa de sobrevivência dos insetos em matérias-primas: “O IB é referência brasileira no assunto e tem proximidade com todos os elos envolvidos nas cadeias de armazenamento, produção e comercialização, auxiliando no diagnóstico, prevenção e controle das pragas urbanas”.


Sinaprave

No período de 18 a 21 de junho, a ULR irá realizar na sede do IB, na Vila Mariana, capital paulista, o Simpósio Nacional de Pragas e Vetores (Sinaprave). De âmbito nacional, o encontro tem por objetivo promover o debate e ampliar o intercâmbio técnico-científico entre os diferentes elos do País envolvidos com a pesquisa, diagnóstico, prevenção, manejo e controle das pragas sinatrópicas, também conhecidas como pragas urbanas.

“A programação do Sinaprave procura atender os diferentes segmentos envolvidos e impactados pelas pragas urbanas em arborização urbana, em produtos industrializados e em patrimônios históricos. Todas as informações a respeito do encontro estão disponíveis on-line no site do simpósio”, explica o engenheiro agrônomo Marcos Roberto Potenza, da Unidade Laboratorial de Referência em Pragas Urbanas (ULR).

Serviço

Unidade Laboratorial de Referência em Pragas Urbanas do IB
Tel. (11) 5087-1711
E-mail potenza@biologico.sp.gov.br

Sinaprave

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página I do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 09/06/2018. (PDF)

Feap/Banagro financia o desenvolvimento da agricultura paulista

Com juros de 3% ao ano, as 29 linhas de crédito têm prazos de carência e de pagamento mais atrativos em comparação aos oferecidos nos bancos comerciais

Para fortalecer e ampliar a sustentabilidade dos negócios no campo, o Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista (Feap), do Banco do Agronegócio Familiar (Banagro), da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (SAA) oferece diversos apoios para produtores pessoa física e jurídica, pescadores artesanais, associações e cooperativas.

O portfólio de opções inclui 29 linhas de crédito, Seguro Rural, os programas Pró-Trator e Pró-Implemento e o Contrato de Opção, um mecanismo pioneiro no País para garantir o preço mínimo futuro do café, milho, soja e boi gordo, commodities agrícolas negociadas na Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros de São Paulo (BM&FBovespa).

“A proposta é apoiar o pequeno e o médio produtor e a agroindústria paulista, além de garantir a oferta de alimentos de qualidade na mesa da população”, destaca o engenheiro agrônomo Fernando Aluizio Pontes de Oliveira Penteado, secretário executivo do Feap/Banagro.

Segundo ele, desde a criação do Fundo, por meio da Lei Estadual nº 7.964/1992, até o final de março de 2018, os repasses já totalizaram R$ 706,4 milhões em 28,2 mil operações de crédito efetuadas. “Hoje, estão vigentes 4,9 mil contratos, com saldo devedor de R$ 330 milhões. O orçamento anual é de R$ 60 milhões e há R$ 40 milhões disponíveis em caixa”, informa.

Regras

No Feap/Banagro, cada financiamento atende a uma atividade econômica específica e os juros são de 3% ao ano. “Porém, quem não atrasa pagamento, paga somente 2,25%”, observa Oliveira Penteado, destacando outros benefícios, como os prazos de carência e de parcelamento também mais vantajosos em comparação aos oferecidos pelos bancos.

O agente financeiro das operações é o Banco do Brasil e todas as informações sobre as linhas ficam disponíveis no site da SAA (ver Serviço). Nos empréstimos, a garantia a ser fornecida pelo crédito deve corresponder, no mínimo, à totalidade do valor solicitado, sendo aceito penhor, hipoteca, fiança, aval ou outras formas. Quem, por exemplo, compra um trator, pode oferecê-lo como garantia.

Se o requerente for um produtor rural pessoa física, com renda anual de até R$ 800 mil, tem direito a assinar mais de um contrato, porém a soma dos financiamentos não pode superar R$ 600 mil. Se o contratante for pessoa jurídica, o teto do faturamento anual sobe para R$ 2,4 milhões; para associações, este limite dobra; se for cooperativa, o montante máximo para a sobra e o lucro líquido é de R$ 4,8 milhões anuais.

Como pedir

Os pedidos de financiamento são realizados nas Casas da Agricultura, ação da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati/SAA) com as prefeituras paulistas (ver Serviço). A Fundação Instituto de Terras do Estado (Itesp), órgão vinculado à Secretaria Estadual da Justiça e da Defesa da Cidadania, também encaminha solicitações de crédito ao Feap/Banagro em projetos com assentamentos e comunidades quilombolas.

“Todo pedido é sempre associado a um projeto e elaborado por agrônomo da Casa da Agricultura em conjunto com o produtor. O documento detalha características da propriedade como porte, nível de renda, produtividade, entre outras questões”, destaca Oliveira Penteado. Segundo ele, outras duas ações importantes do Feap/Banagro são realizadas em parceria com a Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SMA).

A primeira delas é no âmbito do Programa Nascentes e financia a recuperação de matas ciliares e corpos d’água em propriedades rurais. A segunda, prevista para terminar no final de setembro, é complementar as solicitações do Microbacias II – Acesso ao Mercado, iniciativa de crédito bancada pelo Governo do Estado e Banco Mundial voltada às cooperativas e associações de produtores realizada pela Cati em parceria com a Coordenadoria de Biodiversidade e Recursos Naturais (CBRN) da SMA.

Diversificado

O crédito rural financia itens para agricultura em ambiente protegido (estufas), irrigação (poços artesianos e semiartesianos) e equipamentos para transição agroecológica e modernização da produção orgânica. Há também linhas para avicultura de corte, apicultura, apoio às pequenas agroindústrias, bubalinocultura, desenvolvimento regional sustentável, café, caprinocultura, flores e plantas ornamentais, floresta, fruticultura, gestão da qualidade (certificação de produtos) e Integração lavoura-pecuária-floresta (Integra SP).

A lista inclui também crédito para a compra de máquinas e equipamentos comunitários, ovinocultura, plantio direto na palha, produção de mudas cítricas em ambiente protegido, pesca artesanal, piscicultura convencional em viveiros e barragens, piscicultura em tanques-rede, pecuária de leite, qualidade do leite, pupunha, renovação de pomares de citros, sericicultura, sementes e mudas, turismo rural.

Mais Leite, Mais Renda

Um dos executores do Plano Mais Leite, Mais Renda, o agrônomo José Luiz Fontes, da assessoria técnica da SAA, destaca aprimoramentos realizados em duas linhas de crédito do Feap/Banagro. “Rebatizadas como Pecuária de Leite e Qualidade do Leite, ambas financiam até R$ 200 mil, com carência de até um ano e seis anos para pagar”, explica. A motivação, comenta, é passar a atender demandas antes não atendidas e aumentar a qualidade, assim como o volume e a lucratividade. “Deste modo, o negócio ganha diferenciais, como, por exemplo, a produção de alimentos orgânicos e lácteos”, informa.

Hoje, a produção leiteira paulista supre apenas 25% do total consumido no Estado. O rebanho paulista tem 5,5 milhões de cabeças e produz 1,77 bilhão de litros por ano. A meta do Plano (ver Serviço) é crescer 3,5% ao ano e chegar a 2 bilhões de litros anuais em 2027. “Queremos saltar de 1,4 mil litros produzidos por uma vaca a cada ano (dado apurado em 2014 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE) para 2 mil litros anuais nos próximos dez anos”, analisa Fontes.

Nesse sentido, conclui, os financiamentos são uma das principais estratégias. Permitem ao produtor comprar matrizes e reprodutores e assim promover o melhoramento genético do rebanho; reformar e formar pastagens; construir e adequar estábulos, currais, bezerreiros, salas de ordenha e equipamentos; adquirir insumos e kits para manejo reprodutivo e inseminação artificial; instalação de sistemas de irrigação, entre outras possibilidades.

Serviço

Feap/Banagro
Lei nº 7.964/1992 (criação do Fundo)
Casas da Agricultura
Microbacias II – Acesso ao Mercado
Plano Mais Leite, Mais Renda


Crédito agrícola e extensão rural são aliados do produtor

Orientação agronômica da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral dá suporte a pedidos de financiamento e fortalece o desenvolvimento humano e social no campo

Localizada no Vale do Paraíba, no pé da Serra da Mantiqueira, a Fazenda Santa Terezinha, de Guaratinguetá, é exemplo do sucesso de produtividade e do potencial de expansão da pecuária leiteira paulista. Nos últimos quatro anos, seus donos, os irmãos Fábio e Marcelo Faria conseguiram elevar de 2,5 mil litros para 4,5 mil litros o volume diário ordenhado.

Um dos motivos, apontam, é o apoio permanente do Governo estadual, com serviços de extensão rural, assistência agronômica e os financiamentos do Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista (Feap) do Banco do Agronegócio Familiar (Banagro).

Com 600 hectares, a Santa Terezinha é hoje unidade de referência da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), órgão da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (SAA), em pecuária e produção de volumoso (silagem de milho e capim-mombaça) para alimentação de rebanho confinado.

“O conceito empregado é o de ‘tirar leite do solo’, isto é, investir em manejo para aumentar a fertilidade do solo e assim melhorar a qualidade e a quantidade do alimento fornecido às vacas. Assim, as matrizes em lactação se nutrem adequadamente e têm maior rendimento”, explica o engenheiro agrônomo Jovino Paulo Ferreira Neto, diretor de desenvolvimento regional da Cati de Guaratinguetá e responsável pelo atendimento aos produtores.

Administração

Após a morte do pai, em 2010, os irmãos Faria assumiram o empreendimento comprado há 80 anos pelo avô. Na época, precisaram decidir entre vender ou investir na propriedade. “A produtividade das vacas era baixa e a alimentação do rebanho insuficiente”, conta Fábio, administrador da fazenda. Para virar o jogo, buscaram apoio da Cati em 2014 e, além de confiarem na orientação agronômica, também adotaram um modelo gerencial baseado em plano de negócio.

“O leite tem lucratividade média de até 15%, uma das mais atrativas do agronegócio”, destaca Fábio, informando ter metas de produtividade, análise de todos os custos envolvidos e pagamento de bônus por desempenho para os 13 funcionários, entre outras características, para manter o seu empreendimento no “azul”.

Também responsável pelo atendimento à propriedade, o agrônomo Vinicius Sampaio do Nascimento, da Cati de Guaratinguetá, indica como um dos diferenciais da Santa Terezinha a produção em suas dependências de toda a alimentação do rebanho. “Essa estratégia é fundamental para reduzir despesas e tornar o leite competitivo. Na planilha, este custo com o rebanho não pode exceder a 50% do valor total do leite”, explica.

Retomada

Além das chamadas boas práticas da produção leiteira, cuja lista inclui o controle da mastite das vacas e da sanidade no rebanho, Jovino e Vinicius também sugeriram e acompanharam a adoção de outras medidas. Esse trabalho incluiu a correção do solo com a recuperação de 50 hectares de pastagens degradadas e a mudança no sistema de plantio, sendo adotado o direto em vez do convencional, nos cultivos de milho, aveia-branca e capim-mombaça, usados como alimento do gado criado em confinamento.

Em 2010, o volume de silagem produzido era de 40 toneladas por hectare. Em 2014, subiu para 50 e, em 2018, é de 70 toneladas. Outra iniciativa foi o melhoramento genético, com a vinda de reses mais produtivas. “O ideal é sempre ter 83% das vacas em lactação. Em 2010, o plantel era de 250 vacas; em 2014, o número caiu para 220 e hoje são 190”, comenta Fábio destacando o fato de o volume leiteiro ter praticamente dobrado no período de 2010 a 2018.

Expansão

Fábio vende sua produção para a Cooperativa de Laticínios Serramar, de Guaratinguetá, responsável pelas marcas Maringá, Serra Mar e Milk Mix. Ele conta reservar um terço do faturamento de cada ano para reinvestir no negócio, com previsão de retorno desse gasto para os próximos dez anos. O controle gerencial do negócio e sua lucratividade o permitiram modernizar diversos processos da propriedade usando o crédito rural do Governo paulista, o Feap/Banagro.

Foram adquiridos trator (R$ 95 mil) e semeadora de plantio direto (R$ 37 mil), pelos programas Pró-Trator e Pró-Implemento; sistema de ordenha eletrônica (R$ 70 mil), pela linha de crédito Qualidade do Leite; vacas (R$ 200 mil), pela linha de crédito Pecuária Leiteira; tanque resfriador de leite (R$ 34 mil), pela linha de crédito Qualidade do Leite; e instalações (R$ 200 mil), por meio da linha de crédito Desenvolvimento Rural Sustentável.

Salvação pelo solo

Também situado na zona rural de Guaratinguetá, o Sítio Mandiouro, de 20 hectares, pertencente ao casal João José Moura Tavares e sua esposa Ana, teve sua produção ampliada após a assistência da Cati. Descendentes de produtores de leite típicos do Vale do Paraíba e sem funcionários, eles tiveram o negócio ameaçado pelo fato de a renda obtida não suprir a manutenção da propriedade.

Desde 2014, a equipe da Cati de Guaratinguetá os auxilia com tecnologias, como o pastejo rotacionado das vacas e medidas para ampliar a oferta de comida para supri-las, atualmente criadas em sistema semi-intensivo.

De acordo com os agrônomos, no sistema anterior, o casal privilegiava alimentar os animais no cocho em detrimento do pasto. Depois da orientação, investiram em melhoramento genético, sanidade animal, análise do solo, adubação e plantio de diversas variedades de capim. Desse modo, há sempre disponibilidade de forragens em quantidade e qualidade suficientes, sendo oferecidas forragens, na época das águas, e cana-de-açúcar, no período seco do ano.

Produtividade

Em 2014, a média diária de produção era de 92 litros, ordenhados de 35 vacas. Com a supervisão da Cati, em 2018, o número de vacas diminuiu para 16, entretanto, a média diário atual obtida é de 260 litros – e toda a produção é comercializada com a Cooperativa Serramar.

“A solução para melhorar o negócio estava aqui mesmo. Com a melhoria do solo nunca mais precisei sair à tarde para cortar capim nem alimentar as vaquinhas famintas depois da ordenha”, conta João José.

“Hoje, todas as áreas do sítio produzem alimento para elas e a produção não parou mais de crescer. No ano passado, quebramos em um dia o recorde de produção e ordenhamos 480 litros”, diz sorrindo o produtor. Para Ana, o apoio da Cati foi fundamental. “Estávamos quase desistindo”, conta emocionada.

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente nas páginas I, II e III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 06/06/2018. (PDF)

Fazenda Ataliba Leonel bate recorde de sementes

Executivo paulista investe R$ 5,5 milhões na revitalização do centro produtor localizado em Manduri; desde 2016, propriedade adota novo modelo gerencial

Depois de um período de estagnação, a Fazenda Ataliba Leonel, a principal produtora de sementes da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (SAA), adotou em abril de 2016 novo modelo gerencial – e, desde então, não parou mais de bater recordes. Somente nas safras 2016/2017 e 2017/2017, embalou 70 mil sacas de sementes de milho e 350 toneladas de sementes de cereais de inverno (aveia, trigo e triticale).

Para as safras 2017/2018 e 2018/2018, a expectativa do Departamento de Sementes, Mudas e Matrizes (DSMM), da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), responsável por sua gestão, é totalizar 85 mil pacotes de 20 quilos de sementes de milho variedade tradicional e três mil sacas de sementes de soja convencional.

União

O advogado Ricardo Lorenzini Bastos, diretor do DSMM, indica alguns dos motivos da retomada. Segundo ele, além dos R$ 5,5 milhões investidos pelo Governo estadual no núcleo produtor localizado em Manduri, no Sudoeste paulista, a 300 quilômetros da capital, outro ponto fundamental foi a estruturação do Comitê Gestor Interno, “uma inovação no âmbito da SAA”.

Presidido por Gerson Cazentini Filho, engenheiro agrônomo da Cati há 29 anos, o Comitê é composto por oito representantes – e o grupo passou a decidir coletivamente sobre as questões ligadas às atividades da fazenda, desde a compra de insumos e equipamentos, passando por plantios e logística de distribuição das sementes.

Paradigmas

“O Comitê inovou ao terceirizar os serviços de plantio e de colheita, assim como o de transporte do produto da roça para as unidades de beneficiamento da Cati no Estado – tudo por meio de licitações públicas”, comenta Lorenzini. Segundo ele, outro indicativo da recuperação do núcleo são os hectares plantados: em dezembro de 2015, eram 60, em março de 2018, o volume totalizava mil. Além dele e de Cazentini Filho, também integram o Comitê os agrônomos Fernando Alves dos Santos, José Antônio Piedade, João Paulo Teixeira Whitaker, Maria Paula Domene, Rubens Koudi Iamanaka e a engenheira agrícola Verusa Alvim Castaldim e Souza.

As decisões do grupo resultaram na modernização da Unidade de Beneficiamento de Sementes (UBS), compra de semeadeira, colheitadeira, trator, guincho, adoção de medidas de recuperação do solo, rotação de culturas, entre outras mudanças. Na propriedade de 3,4 mil hectares de extensão, metade da área é de preservação ambiental; e dos 1,7 mil hectares restantes, 1 mil deles são dedicados à produção de sementes de milho variedade e orgânico, soja convencional, cereais de inverno (trigo, triticale e aveia-branca e preta), nabo forrageiro, girassol e painço, entre outras variedades.

Diversificação

Atualmente, a pecuária leiteira e de corte ocupa 200 mil hectares da Ataliba Leonel. Já o Projeto Cana, iniciativa científica e econômica coordenada pela agrônoma Raffaella Rossetto, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), da Agência Paulista de Tecnologia do Agronegócio (Apta/SAA), perfaz mais 500 mil hectares. Na parte de pesquisa, essa ação tem parceria com a Apta Regional e com o Centro de Cana da Apta, usando mudas pré-brotadas do IAC.

Já na parte de produção, por meio de licitação, foi contratado serviço de recuperação da área, antes imprópria para a produção de sementes. Vencedora da licitação, a Usina Agrícola Favarin Zanata planta cana, obtém remuneração com o cultivo e repassa o excedente para a fazenda. É estimada receita de R$ 1 milhão anual durante cinco anos. “Esse recurso auxiliará na manutenção da Ataliba Leonel, cuja proposta é de gestão baseada em autossuficiência”, observa Lorenzini Bastos.

Mais oferta

A busca por mais eficiência motivou ainda outra parceria, firmada pelo DSMM com o Instituto de Economia Agrícola (IEA). Por meio dela, o IEA consegue estimar o custo de produção das sementes pela Cati. “O objetivo é saber o real custo da produção, informação fundamental na tomada de decisão”, pontua Lorenzini Bastos, “uma estratégia para possibilitar reduzir despesas e continuar oferecendo ao produtor sacas com insumos de qualidade e preço acessível”.

As sementes estão disponíveis para produtores de todos os portes nos Núcleos de Produção de Sementes da Cati e nas Casas da Agricultura espalhadas pelo território paulista. “Agricultor familiar baseado no Estado tem 15% de desconto para comprar semente de milho, sorgo e feijão, além de mudas nativas; basta comprovar seu enquadramento”, salienta. “Outra novidade é a revenda autorizada: o interessado em comercializar os produtos do DSMM deve ligar para (19) 3743-3820”, acrescenta (ver Serviço).

Produção orgânica

Voltada à extensão rural, a Cati é pioneira no País na produção de sementes orgânicas. Em 2014, por meio de cooperadores, iniciou a atividade com o milho orgânico; “em 2017, demos mais um passo importante no sentido de oferecer alimentos ainda mais saudáveis para a população”, comenta o agrônomo Hiromitsu Gervásio Ishikawa, coordenador do Grupo de Trabalho de Sementes Orgânicas do DSMM. Nesta oportunidade, esclarece, a Fazenda Ataliba Leonel foi certificada pelo Instituto de Biodinâmica (IBD).

O selo IBD Orgânico é um reconhecimento legal de alcance nacional e internacional. De acordo com este documento, em 20 hectares específicos da Ataliba Leonel são cumpridas as regras da Lei Federal nº 10.831/2003 (ver Serviço), relativas à produção orgânica. Assim, é possível rastrear a origem de todos os insumos usados em todas as etapas de produção das sementes.

“A proposta é oferecer ao produtor sementes de qualidade, produzidas sem agrotóxicos”, explica Ishikawa. Um dos diferenciais da Cati, comenta, é tratar todas elas com terra diatomácea, uma alternativa aos agrotóxicos desenvolvida internamente na coordenadoria, com o objetivo de protegê-las contra insetos e pragas enquanto estão armazenadas em silos e silagens.


Milho da Cati atende produtor de todos os portes e perfis

Período médio entre a semeadura e a colheita é de 150 dias; insumo é resistente, tem preço acessível e é adaptado para germinar em todo o território paulista

Há 22 anos no quadro profissional da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), órgão da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (SAA), o engenheiro agrônomo Rubens Koudi Iamanaka destaca a produtividade e a versatilidade da variedade AL Avaré, indicada para propriedades rurais de todos os portes. “São milhos bastante rústicos, adaptados para plantios em todo o território paulista. Na média, o período entre a semeadura e a colheita requer 150 dias. Na safra 2017, os volumes obtidos superaram a marca de dez toneladas por hectare”, informa.

“O milho da Cati pode ser usado para a obtenção de grãos e também para silagem, isto é, alimentação animal, em cultivos da safra de verão, de maior rendimento, de setembro a novembro, e da ‘safrinha’, entre dezembro e fevereiro”, comenta Iamanaka, diretor do Núcleo de Produção de Sementes de Avaré da Cati. Disponíveis nos Núcleos de Produção de Sementes da coordenadoria e nas Casas da Agricultura de todo Estado, as sementes do Governo paulista são oferecidas em diversos tamanhos e têm etiquetagem padronizada – toda embalagem traz procedência, especificação, pureza, entre outras informações do produto.

Zonas de refúgio

O preço, destaca o diretor, é um dos principais diferenciais da AL Avaré: cada saca com 20 quilos custa R$ 90, ante os R$ 500, valor médio dos produtos híbridos, e permite cultivar um hectare, área correspondente a 10 mil metros quadrados. Outra vantagem, aponta, é criar zonas de refúgio no milharal. Essa estratégia consiste em plantar uma faixa da variedade convencional da Cati, ao lado das plantas transgênicas, de maior custo.

Uma das características do milho transgênico, desenvolvido em laboratório, é não atrair pragas. Assim, em uma lavoura com as duas variedades cultivadas, os predadores naturais acabam atacando a tradicional, mais barata, fator de minimização de prejuízos. Além disso, esta ‘preferência’ da praga também auxilia a retardar o desenvolvimento de populações mais resistentes de lagartas e insetos. Com o passar do tempo e seguidas pulverizações, este problema, análogo ao dos antibióticos, pode se agravar.

“Se não for utilizada de maneira correta, uma tecnologia recente como a transgenia perde a eficiência”, comenta Iamanaka. “Das quatro últimas versões de milho híbrido, resistente às lagartas, três já criaram resistência por mau uso”, pontua. “Nesse sentido, o milho variedade da Cati também contribui para o sucesso das variedades geneticamente modificadas, além de manter teto produtivo razoável na média das propriedades”, observa.

Segurança

Com 780 hectares de extensão e especializada em pecuária de corte e agricultura, a Fazenda Campininha, de Avaré, planta desde 1994 o milho variedade da Cati. De acordo com o agrônomo Adriano Menk Pinheiro, gerente da fazenda, a decisão de optar pelo insumo produzido pelo Governo paulista foi tomada pelos proprietários desde a compra do empreendimento rural, no ano anterior.

“Na época, os recursos eram escassos, assim, apostamos na segurança e na qualidade do milho e da soja da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral”, salienta Pinheiro. Na avaliação dele, depois da safra, o principal ponto considerado para o agricultor é quanto lhe sobra no bolso depois do investimento inicial e demais custos. “No campo, a tomada de decisão é crítica, qualquer erro pode comprometer tudo. A etapa final do processo consiste, sempre, aprender com os bons e maus resultados obtidos em cada temporada”, observa.

Parceria

Satisfeito pelo fato de os insumos da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral “responderem dentro dos tetos de produção previamente estabelecidos”, Pinheiro se tornou cliente habitual da Cati. Passou a comprar também sementes de trigo e de feijão na regional de Avaré, assim como começou a recomendar o uso delas para outros agricultores e agrônomos.

Em 1998, Pinheiro foi convidado por Iamanaka para plantar milho, soja, feijão, trigo e cevada na Campininha para produzir sementes para a Cati. Desde então, a parceria do Estado com a fazenda não parou mais. A última aquisição de insumos, realizada pelo produtor, foi no final de 2017. A compra incluiu 2,6 mil quilos de sementes usadas para cultivar 109 hectares.

Inovação

De acordo com o gerente, atualmente a Campininha adota os conceitos da chamada ‘agricultura de precisão’, baseada na produção sustentável a partir do emprego intensivo da tecnologia associado ao uso racional da água e dos demais recursos naturais. Essa metodologia inclui a coleta de dados meteorológicos de satélite na estação local da fazenda, a produção e análise de imagens aéreas produzidas por drones, estratégia para corrigir adubação e outros problemas no solo e mais a mecanização, com diversos equipamentos participando de processos de semeadura, adubação, irrigação, pulverização e colheita, entre outros.

“Hoje, a fazenda tem 400 hectares irrigados, mais 110 hectares de lavoura em área seca e 154 de pastagens no sistema intensivo rotacional. Entretanto, o emprego da tecnologia de ponta na maioria das culturas somente faz sentido com produtos confiáveis, como os da Cati, em uso na Campininha há mais de três décadas”, conclui.

Serviço

DSMM/Cati
Telefone (19) 3743-3820
E-mail dsmm@cati.sp.gov.br

Agricultura:
– Orgânica – Lei Federal nº 10.831/2003
– Familiar – Lei Federal nº 11.326/2006

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente nas páginas I, II e III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 30/05/2018. (PDF)