Estação Ciência da USP informa e educa jovens com entretenimento

Centro permanente de exposições estimula inclusão digital, desperta talentos precoces e amplia a formação cultural dos visitantes

Os alunos e professores da rede pública de ensino têm na Estação Ciência da USP uma aliada poderosa para o seu desenvolvimento cultural e educacional. Trata-se de uma rede de divulgação do saber que promove exposições científicas permanentes ou temporárias e virtuais, cursos de capacitação, oficinas, palestras, criação e empréstimos de kits educacionais e, ainda, laboratório de informática, dentre outros serviços gratuitos.

Iniciativa de extensão universitária da USP, a Estação Ciência foi criada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em 1987, e repassada à universidade em 1990. Fica localizada na Lapa, zona oeste da capital, num conjunto de barracões da década de 30 preservados pelo patrimônio histórico numa área de 2 mil metros quadrados.

Seu corpo profissional é composto por professores da USP, alunos estagiários, voluntários de ONGs e técnicos de formação multidisciplinar. O pessoal especializado auxilia nos experimentos, informa e esclarece dúvidas sobre as exposições, cujos temas abrangem astronomia, meteorologia, física, geografia, biologia, história, informática, tecnologia, matemática e humanidades.

Segundo o geólogo Wilson Teixeira, recém-empossado diretor da Estação Ciência, a proposta do centro é aguçar a curiosidade científica, despertar talentos precoces e ampliar a formação dos participantes. “Os cursos, eventos e demais atividades têm por objetivo popularizar a ciência e promover a educação do indivíduo. Essa mistura lúdica de entretenimento com divulgação científica é uma arma eficaz na formação de cidadãos conscientes e responsáveis”, observou.

Parcerias e visitas

O sucesso dos programas da Estação Ciência é fruto de parcerias com empresas como a Petrobras, IBM, British Council, Telefónica, Apple, Intel, Microtec, Banco do Brasil e ONGs, como o Centro de Estudos e Pesquisas da Criança e do Adolescente (Cepeca). No ano passado, 200 mil pessoas visitaram as exposições, que têm entrada franca e ficam abertas de terça a sexta-feira, das 8 às 18 horas. Aos sábados, domingos e feriados, das 13 às 18 horas. É possível agendar visitação de grupos escolares.

Outra opção é observar no seu site o laboratório virtual da instituição. “Com jogos, criatividade e animação, colocamos à disposição online pequenas amostras do que o público encontra nas exposições permanentes e do acervo”, informa Marcos Matsukuma, coordenador do núcleo de criação.

O material interativo encontrado no site tem sido utilizado como reforço pedagógico para alunos do ensino fundamental e médio. “Aqui recebemos pedidos e sugestões via e-mail dos professores. O objetivo é contribuir cada vez mais, sempre associando a alfabetização científica com o lazer”, atesta.

Kits educativos da Experimentoteca

Muitos professores não sabem, mas podem adicionar nas suas aulas de ciências, gratuitamente, kits educativos. A Experimentoteca é um laboratório de ciências naturais que funciona como uma biblioteca pública na Estação Ciência.

“O procedimento é simples: a diretora de escola pública ou particular cadastra seu estabelecimento de ensino. A partir daí, cada professor interessado assina um termo de compromisso, garantindo zelar pela conservação do material. O prazo de devolução é de uma semana e podem ser emprestados até três jogos ao mesmo tempo”, diz Carmem Ruiz, supervisora da Experimentoteca.

Os kits foram desenvolvidos pelo grupo de trabalho liderado pelo professor Dietrich Schiel, do Centro de Difusão Científica e Cultural (CDCC) da USP São Carlos. Contemplam 59 assuntos e incluem atividades para grupos de até 40 alunos. Os educadores recebem orientação prévia e, em cada experimento, há um roteiro explicativo sobre como proceder para realizar os testes.

“O aprendizado é induzido com perguntas do professor para a classe, organizada em grupos, para procurar respostas objetivas com aquilo que estão visualizando nas experiências. Depois da aula, o professor relata, numa ficha, sugestões e dificuldades que teve com o material. O aperfeiçoamento é constante”, garante Carmem.

Os assuntos contemplados incluem kits sobre solo, ar, água, seres vivos, corpo humano, química e física. Compostos por materiais de baixo custo (lâmpadas, pilhas, eletrodos e tubos de ensaio), são acomodados em caixas de madeira.

Mão na Massa

O Projeto Mão na Massa – ABC na Educação Científica é um projeto-piloto iniciado em julho de 2001. Contempla hoje oito escolas da rede estadual e será expandido para mais 65 estabelecimentos de ensino. Consiste em oferecer treinamento aos professores e despertar nas crianças das primeiras séries do ensino fundamental o gosto pelo estudo de ciências.

Por meio de experiências práticas e coletivas com kits especiais na sala de aula, os alunos têm instigadas a curiosidade e a criatividade. O professor comanda os grupos de estudantes que, com a realização das atividades propostas, ampliam sua capacidade de ler, escrever e de se expressar de modo oral.

Rafaela Samagaia, responsável pelo projeto, explica que o Mão na Massa foi inspirado no projeto francês La Main à la pâte, que tem como origem o projeto norte-americano Hands On. Na França, a proposta era auxiliar os filhos de imigrantes que não dominavam o idioma e tinham dificuldade de aprendizado em ciências. “No Brasil, o Mão na Massa foi adaptado à realidade nacional, e o módulo sobre a água foi utilizado em todas as escolas”, comenta orgulhosa.

O Mão na Massa pressupõe o esforço do professor em duas frentes distintas: na sala de aula e com os demais colegas. “Na classe, abre a caixa e comanda as experiências do kit. Faz perguntas aos grupos de alunos, que procuram respostas para explicar determinado fenômeno”, justifica. Junto aos demais colegas, atua como agente multiplicador do conhecimento, repassando-lhes as informações recebidas na Estação Ciência.


Inclusão digital: Projeto Clicar

Há nove anos, a Estação Ciência criou com o Cepeca o Projeto Clicar, iniciativa de inclusão digital direcionada para crianças e adolescentes em situação de risco. “Estimulamos o uso livre de computadores e da Internet sem condições de frequência ou presença, por meio de jogos, atividades em grupo e monitoramento”, explica Cecília Toloza, uma das duas coordenadoras do projeto.

Dirce Pranzetti, também coordenadora, conta que o projeto foi concebido sob medida para atender aos anseios dos jovens carentes. “Fizemos uma pesquisa com os visitantes mais assíduos, que indicou o desejo coletivo de um laboratório de computadores. Hoje, mais de 800 estudantes trocam e-mails e redigem currículos e textos nos 26 computadores. Respeitamos o desejo e a motivação de cada um com a informática. Muitos frequentadores já deixaram de lado atividades ilícitas que praticavam. Os conhecimentos adquiridos permitiram a um grupo construir sua própria página na internet”, conta orgulhosa.


Física, biologia, geografia, geologia e astronomia são atrações permanentes

Na área de física, há experimentos que ilustram conceitos de eletromagnetismo, termodinâmica e óptica. As transformações entre os diversos tipos de energia são sempre evidenciadas. A exposição interativa de matemática tem 100 experimentos e convida os visitantes a explorar os fundamentos da ciência dos números, confrontando-os com aspectos do cotidiano e com outras áreas.

Já a biologia tem aquários de água salgada e doce. Além de peixes, apresenta espécies marinhas conservadas em formol. No espaço Butantã há viveiros de cobras, lagartos, aranhas e escorpiões e um terrário com plantas carnívoras.

Há, ainda, o Caracol, um espaço interativo, onde, por meio de programas de computador, o visitante pode saber mais sobre serpentes, aranhas e outros animais invertebrados venenosos e, também, sobre pássaros, com o auxílio de softwares educacionais.

Na de geografia, além dos painéis, atlas, mapas e globo terrestre, há uma grande maquete de bacia hidrográfica, com água corrente, representando principais rios, afluentes e represas. Ela é capaz de simular a queda da chuva em áreas urbanas e representar as enchentes.

Na área de geologia há exposição de minerais e rochas. São apresentados fenômenos geológicos como fendas, dobras e vulcões com esboços interativos. A exploração de petróleo tem maquetes sobre extração, transporte e refino e, ainda, um local onde o visitante tem um espaço para consultar material bibliográfico, vídeos e CD-ROMs.

A astronomia tem aparelhos que simulam a órbita de planetas e painel explicativo sobre a origem do universo, baseado na Teoria do Big Bang. A meteorologia reproduz em maquetes aparelhos de captação e medição de fenômenos atmosféricos, cujas observações possibilitam a previsão do tempo. Há, ainda, instrumentos instalados na Estação Ciência, que permitem o monitoramento do tempo de forma contínua, com dados de pressão, temperatura e umidade.

Serviço

Estação Ciência
Rua Guaicurus, 1.394 – Lapa – São Paulo (SP)
Tel. (11) 3871-6752

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente nas páginas II e III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 20/02/2004. (PDF)

Governo libera recursos de quase R$ 5 milhões para a região central do Estado

Governo libera recursos de quase R$ 5 milhões para a região central do Estado; nove secretarias autorizaram recursos para a realização de obras em diversos municípios da região central do Estado; foi confirmada, também, a construção em Américo Brasiliense, da segunda unidade da Furp, prevista para ser iniciada dentro de 90 dias

Ao encerrar a 12ª edição do Fórum São Paulo: Governo Presente, em Araraquara, o governador Geraldo Alckmin anunciou a criação de programas e a liberação de recursos da ordem de R$ 4,9 milhões para a realização de obras em diversos municípios da região central do Estado. Confira as autorizações:

Secretaria da Agricultura e Abastecimento

– Liberação de R$ 685 mil para recuperação de 24 km de estradas vicinais em Dourado, Fernando Prestes, Ibaté, Ribeirão Bonito e Taquaritinga.

Secretaria de Energia, Recursos Hídricos, Saneamento e Obras

– Liberação de R$ 298 mil para obras no sistema de tratamento de esgotos em Santa Rita do Passa Quatro e Santa Lúcia.

– Declara de utilidade pública, para fins de desapropriação, área localizada na passagem dos dutos de gás natural para retificação do trecho Araraquara, eixo Boa Esperança do Sul para instalação de estação da concessionária Gás Brasiliano Distribuidora.

Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho

– Criação do Programa Pró-Lar em Araraquara, Porto Ferreira, São Carlos e Taquaritinga.

– Liberação de R$ 315 mil para instalação de unidades do Banco do Povo Paulista, em Américo Brasiliense, Boa Esperança do Sul e Santa Ernestina.

Secretaria da Cultura

– Liberação de R$ 24 mil para instalação de bibliotecas municipais em Dobrada, Motuca, Nova Europa e Trabiju.

Secretaria da Educação

– Parceria com o sindicato das universidades privadas para inclusão do Programa de Alfabetização e Integração de Jovens e Adultos (PAI) nas Diretorias de Ensino regionais.

– Parceria com universidades locais, públicas ou privadas, para participação de estudantes em trabalho voluntário nos finais de semana.

– Liberação de R$ 518,4 mil para a concessão de 48 bolsas mestrado para a região.

Secretaria da Habitação

– Liberação de R$ 22,9 mil para reforma do Centro Comunitário do Conjunto Habitacional, em Rincão.

– Liberação de R$ 200 mil para tratamento de água em conjuntos habitacionais de São Carlos, com 928 unidades.

Secretaria da Saúde

– Abertura de processo licitatório para instalação da fábrica da Fundação para o Remédio Popular (Furp), em Américo Brasiliense.

– Liberação de R$ 254,4 mil para fluoretação das águas de abastecimento público em Boa Esperança do Sul, Borborema, Dobrada, Ibaté, Ibitinga, Itápolis, Matão, Motuca, Nova Europa, Ribeirão Bonito, Rincão, Tabatinga e Trabiju.

Secretaria dos Transportes

– Estudos para redução dos pedágios nas praças de Araraquara, Agulha e Catiguá, na SP- 310 (Washington Luiz), no trecho entre São Carlos e São José do Rio Preto.

– Liberação de R$ 200 mil para compra de material asfáltico para manutenção de estradas municipais de Américo Brasiliense, Araraquara, Boa Esperança do Sul, Borborema, Cândido Rodrigues, Dobrada, Gavião Peixoto, Ibitinga, Itápolis, Matão, Motuca, Nova Europa, Rincão, Santa Ernestina, Santa Lúcia, Tabatinga, Taquaritinga e Trabiju.

– Liberação de R$ 162,4 mil para obras nas estradas vicinais de Borborema e Descalvado.

– Liberação de R$ 571,3 mil para reforma nos terminais rodoviários de Ibitinga e São Carlos.

Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social

– Liberação de R$ 1,6 milhão para atendimento de programas sociais neste ano nos municípios da região.

Furp de Américo Brasiliense começa em 90 dias

O início da construção da segunda unidade da Furp, em Américo Brasiliense, foi uma das medidas mais importantes anunciadas pelo governador Geraldo Alckmin durante o 12º Fórum São Paulo: Governo Presente, em Araraquara. “Dentro de 90 dias, começa a construção da fábrica, com custo de R$ 115 milhões. O laboratório vai produzir comprimidos, soros, medicamentos injetáveis e hormônios. Na cidade, os trabalhos empregarão de imediato 250 trabalhadores”, comunicou.

Anunciou, também, a reforma e modernização do Hospital Nestor Goulart Reis, em Araraquara. “Além da tuberculose, o centro de saúde ampliará sua área de atuação e incluirá tratamento e estudo para moléstias infecciosas como aids, dengue e hepatite. O objetivo é transformá-lo num centro de referência nos moldes do Hospital Emílio Ribas, da capital. As obras começam em 90 dias e têm prazo de conclusão de 18 meses”, prevê.

Alckmin falou sobre o reforço no investimento estatal em transportes, em especial para as rodovias da região que estão sendo ampliadas, recuperadas e modernizadas em parceria com a iniciativa privada. O objetivo é reforçar a logística de distribuição do agronegócio e atrair mais turistas para cidades como Santa Rita do Passa Quatro e Ibitinga, município reconhecido nacionalmente pela produção de bordados”, revelou.

Gerar emprego e renda, desafios para a região

Na abertura do 12º Fórum São Paulo: Governo Presente, realizado em Araraquara, o secretário estadual da Ciência e Tecnologia, João Carlos de Souza Meirelles, indicou a geração de empregos como saída para promover o crescimento da região. Ele presidiu o 1º painel do evento, intitulado “Governo Solidário e Prestador de Serviços de Qualidade”.

Os 26 prefeitos da região administrativa central do Estado foram representados por Cleide Ginato, de Américo Brasiliense, e Florisvaldo Antônio Fiorentino, de Ibitinga. Cleide reivindicou o apoio da administração estadual para o custeio das despesas de manutenção das santas casas de saúde da região, a modernização do Hospital Nestor Goulart Reis, a criação das guardas municipais locais e a estruturação de um programa de Defesa Civil específico para a região.

“Precisamos, também, de pessoal especializado e treinamento para os técnicos da Defesa Civil. É necessária a alteração no modelo de convênio para a contratação de guardas temporários. Nosso objetivo é reduzir os gastos das pequenas prefeituras, impossibilitadas de arcar com essas despesas”, acentuou.

Apelo ambiental

Na qualidade de prefeito de estância turística, Florisvaldo Fiorentino sugeriu a criação de um departamento técnico, ligado à Secretaria Estadual do Meio Ambiente e atuando em parceria com o Ministério Público Estadual. A finalidade é providenciar o encaminhamento adequado das questões relacionadas com a legislação ambiental.

As medidas necessárias para a preservação do meio ambiente na região central do Estado incluem a construção de aterros sanitários, usinas de reciclagem e estações de tratamento de esgoto em todos os seus 26 municípios. “O cumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal faz com que os recursos municipais, em sua quase totalidade, sejam direcionados para atividades específicas. Por isso, não sobra dinheiro para obras ambientais, que têm alto custo. Uma estação de tratamento de esgotos, por exemplo, custa entre 4 e 5 milhões de reais”, exemplificou.

Fiorentino lembrou, ainda, que a Constituição Federal estabelece que o investimento em obras ambientais é competência comum dos municípios, dos Estados e da União.

Problema federal

Em resposta aos vários pedidos de mais verbas para as santas casas, o secretário da Saúde, Luiz Roberto Barradas Barata, afirmou que o problema será resolvido quando o Ministério da Saúde reajustar os valores dos serviços prestados pelo Sistema Unificado de Saúde (SUS).

“O atual modelo é deficitário. Os gastos com um parto ficam, em média, entre R$ 500 e R$ 600 para uma instituição administrada de modo eficiente. Eles incluem a remuneração de médicos e enfermeiros, custos referentes à internação da parturiente e despesas com a manutenção hospitalar, entre outras. Como o SUS paga R$ 300 por parto, há então um prejuízo de R$ 300 por serviço prestado”, conclui.

Claudeci Martins e Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente nas páginas II e III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 31/01/2004. (PDF)

Seminário discute evolução, estratégias e controle da Aids no Estado

Contágio cresce em mulheres, heterossexuais e pobres; aumenta a sobrevida dos soropositivos e número de casos se estabilizam

São Paulo é o Estado brasileiro onde foi iniciada a luta contra a Aids há 20 anos. Para marcar a data, a Secretaria Estadual da Saúde promoveu entre os dias 2 e 3 de dezembro no Hotel Hilton, na capital, o Seminário “20 Anos de Aids – Desafios e Propostas”. O encontro reuniu especialistas brasileiros e autoridades da União, estados e municípios, no combate à doença que aflige 40 milhões de portadores do vírus no planeta.

No centro dos debates, questões como o desenvolvimento de vacinas contra o HIV; a proteção das classes mais vulneráveis a doença; a distribuição e controle de preservativos e de medicamentos antivirais; o estímulo a realização dos testes anti-HIV em casos de suspeita de contaminação; a notificação correta dos novos casos; e um consenso entre os especialistas, a necessidade de informar a população mundial sobre o perigo da Aids.

Entre os palestrantes, Dráurio Barreira, médico e diretor da Vigilância Epidemiológica do Programa Nacional de DST/Aids, o secretário estadual da Saúde Luiz Roberto Barradas Barata e agentes de saúde pública federal, estadual e municipal, professores universitários, médicos, enfermeiros, líderes religiosos, psicólogos e representantes de ONGs.

Números

Segundo o diretor do Serviço de Vigilância Epidemiológica do Programa Nacional de DST/Aids, Dráurio Barreira, são 600 mil o número de pessoas com HIV no Brasil no ano de 2002. A via sexual responde por 85% dos casos de transmissão. Este ano foram já foram notificados 277 mil casos. Os desafios são brecar a disseminação da doença, em especial no continente africano, onde 39% dos adultos têm o vírus, segundo dados de 2001 da OMS. E também proteger as mulheres, segmento da população mais exposto à contaminação. No Brasil, a proporção atual é de 1,7 homem para cada mulher infectada.

No início da epidemia, a Aids concentrava-se nos homossexuais. Na época, eles eram chamados de modo pejorativo de grupos de risco. “O conceito evoluiu hoje para comportamentos de risco, como sexo desprotegido e uso de drogas injetáveis. Nenhum grupo social, independente da faixa etária, classe ou condição social deve abdicar da prevenção” alerta o pesquisador.

Dráurio apontou avanços no controle à Aids no País, como a estabilização do número de soropositivos e de doentes e a redução na transmissão vertical do HIV, da gestante para o bebê. Em 1997, a taxa era de 16% e em 2002 caiu para 3,2% para as parturientes soropositivas. O Brasil é considerado país modelo de assistência aos portadores de HIV/Aids pela ONU e produz sete dos 15 medicamentos anti-retrovirais distribuídos no País. Ele destacou a progressiva informatização dos sistemas públicos de notificação de casos e o cruzamento de dados como fundamentais para manter a epidemia sob controle.

Agentes multiplicadores

Na opinião do líder de ONG, e religioso de candomblé Babalorixá Celso Ricardo de Oxaguian, “as mulheres negras e minorias são as maiores vítimas da doença. O racismo, desprezo e o abandono de amigos e parentes contribuem também negativamente. Discriminar é crime previsto no Código Penal, porém, simplesmente ignorar não”, lamenta.

Celso preside a ONG paulista Grupo de Valorização do Trabalho em Rede e em sua comunidade na zona oeste da capital, há quatro anos, ele monta balcões de atendimento e aconselhamento a população sobre DSTs. O local funciona também como um centro de formação de agentes multiplicadores de conhecimentos. “Os alunos articulam ações e repassam as noções adquiridas. São fundamentais para atingir um número maior de cidadãos”, conclui.

Sexo casual

A psicóloga Vera Paiva do Núcleo de Estudos para Prevenção da Aids (Nepaids) da USP, lembra a necessidade de criação de espaços não só de tratamento clínico da infecção, mas também de atendimento, treinamento e aconselhamento da população. E sentencia: “não adianta apenas colher dados, há 20 anos fazemos isto. Precisamos valorizar o trabalho clínico, traçar estratégias a partir das informações colhidas e repassar aquilo que foi aprendido para o resto do País”, explica.

Estudiosa do comportamento, Vera, explica que um dos desafios da prevenção é conscientizar a população para usar a camisinha em todas as relações. “Tenho relatos de caminhoneiros que fazem sexo em três contextos diferentes, com a esposa, com a amante e com profissionais do sexo, de acordo com o vínculo afetivo. O desafio é fazer com que eles usem preservativo sempre, já que a via sexual responde hoje por 85% dos casos de transmissão”, relata.

Vera coloca a informação como fator decisivo para o controle da doença. “A epidemia cresce mais nos segmentos de menor escolaridade da população. É preciso chamar a atenção das pessoas que fazer sexo sem proteção traz riscos e assim, qualificar a tomada de decisão sobre fazer sexo ou não”, conclui.

Pioneirismo

O Programa de DST/Aids da Secretaria Estadual da Saúde foi criado em 1983, por técnicos da pasta liderados pelo médico Paulo Roberto Teixeira. Ele é hoje diretor do programa para Aids da Organização Mundial da Saúde (OMS). Ele lembra que na época, não havia informação suficiente sobre a doença e sua transmissão.

As propostas iniciais eram pesquisar e conhecer a dimensão da epidemia, evitar o pânico na população e a discriminação de grupos considerados vulneráveis. Pretendia também atender aos casos notificados e orientar os profissionais de saúde no manejo dos pacientes, conta Artur Kalichman, médico sanitarista e coordenador do Programa Estadual DST/Aids-SP.

“O objetivo hoje é diminuir a vulnerabilidade da população paulista às DSTs e HIV/Aids, melhorar a qualidade dos já afetados e reduzir o preconceito e impactos negativos, de acordo com os princípios do Sistema Unificado de Saúde (SUS)”, declara Kalichman.

O Estado de São Paulo é pioneiro na utilização e distribuição gratuita de medicamentos para portadores de infecção pelo HIV/Aids. Em 1990, adquiriu a Zidovudina (AZT) primeira droga usada no tratamento dos portadores de HIV/Aids. Em outubro de 1996, o programa estadual de passou a adquirir os medicamentos anti-retrovirais, compostos pelos inibidores de proteases (Indinavir, Ritonavir, Saquinavir) e de transcriptase reversa análogos de nucleosídeos (Lamivudina) e passou a fornecê-los para todos pacientes necessitados do Estado.

A Secretaria Estadual da Saúde oferece tratamento gratuito para soropositivos e doentes. Segundo a infectologista Cáritas Basso, a redução da mortalidade por Aids pode ser notada a partir da redução de 40% no número de internações no Estado entre 1996 e 2000. A análise da sobrevida de pacientes diagnosticados em 1992, apontou que apenas 22,8% sobreviviam após 36 meses de acompanhamento, porcentual que subiu para 79,2% entre os diagnosticados em 1997.

Segundo dados da pesquisadora Naila Janilde Seabra, do Centro de Referência e Treinamento em DSTs e Aids do Estado de São Paulo, do início da epidemia até 31 de dezembro do ano passado foram notificados 116.733 casos de Aids no Estado, entre eles 85.253 homens e 31.480, mulheres; destes 70.687 morreram. Atualmente 55 mil pacientes são beneficiados pela terapia anti-retroviral no Estado, e tem à sua disposição 170 serviços de assistência especializada (ambulatórios) dos quais 26 possuem leitos-dia, 252 serviços que atendem portadores de DSTs, 28 hospitais-dia, 27 serviços prestando assistência domiciliar terapêutica, 39 centros de testagem e aconselhamento e 840 leitos públicos e privados (filantrópicos) destinados a assistência aos portadores de HIV/Aids e DST.

Vacina anti-Aids

Para acompanhar de perto as novas tecnologias, o Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids está participando desde janeiro deste ano, de um estudo denominado Projeto HM (Homem e Mulher), que tem como objetivo principal a preparação da unidade para a realização de futuros testes de vacina anti-HIV. O Centro integra uma rede internacional de colaboração para o desenvolvimento de uma vacina contra o HIV, financiada pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos. “Para conter a epidemia no longo prazo, a melhor estratégia é o desenvolvimento de uma vacina segura, eficaz e acessível”, comenta Kalichman.

Disque DST/Aids

O Disque DST/Aids (136) é um serviço telefônico gratuito de aconselhamento para a população sobre Aids e DSTs. Os interessados têm a disposição a relação de locais onde podem fazer testes anti-HIV, de hospitais do SUS que atendem soropositivos e o que fazer para conseguir o coquetel antiviral. As telefonistas informam também sobre sobre práticas de sexo seguro e indicam a relação de instituições governamentais e ONGs que atuam na defesa dos direitos dos portadores de DSTs/Aids.

Informação nas escolas

O “Programa Prevenção Também se Ensina” é o resultado de uma parceria firmada em 1996 entre as secretarias estaduais da Saúde e da Educação. Ela envolve 3,5 mil escolas da rede pública e atende 3,5 milhões de alunos no Estado e discute temas relacionados à Educação Preventiva (DST/HIV/Aids, Drogas, Sexualidade e Cidadania) no cotidiano dos estabelecimentos de ensino.

A iniciativa também estimula a construção de uma cultura de prevenção e de valorização da vida, que assegure direitos individuais e coletivos, a convivência entre diferentes raças, gêneros, orientação sexual e de geração.

Redução de danos

Nos 20 anos de combate à Aids, houve progressos na logística de distribuição de insumos para prevenção. De 1987 a 1994, a distribuição de preservativos masculinos estava focada em campanhas tais como “Dia Mundial de Combate à Aids (1º de dezembro)” e carnaval, e em projetos pontuais associados a estudos sorológicos e sociocomportamentais com populações específicas. Em 1994, a Secretaria Estadual da Saúde iniciou a distribuição sistemática de preservativos masculinos priorizando usuários dos serviços de saúde com atendimento especializado em DST/HIV/Aids, e os locais onde eram desenvolvidas ações preventivas com as populações de maior risco.

Na década de 80, a Saúde distribuiu 300 mil preservativos/mês no Estado. Em 2002, cerca de 34 milhões de preservativos masculino foram repassados e atualmente, a distribuição é de cerca de 5 milhões de unidades/mês. Em 1998 iniciou-se a distribuição de preservativos femininos com 111 mil unidades. A partir de 1999, também foram oferecidos gel lubrificante como parte dos insumos de prevenção. Foram distribuídos 12 mil unidades de 40g e seis mil unidades de 5g para projetos desenvolvidos por ONGs, centros de referência em DST/Aids e coordenações municipais de DST/Aids que atuam com a população de homens que fazem sexo com homens, profissionais do sexo masculinos e travestis.

Em 2002, os 37 programas de redução de danos entre usuários de drogas do Estado distribuíram 138 mil seringas/agulha fixa, 47,5 mil seringas removíveis, 43,5 mil agulhas, 125 mil frascos de água destilada, 129 mil lenços para assepsia, 99 mil copos para diluição e 58,5 mil estojos para kits de redução de danos.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente nas páginas II e III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 09/12/2003. (PDF)