Alunos de escola estadual representam País em desafio científico internacional

Equipes acompanharam, em tempo real, desempenho de estudantes da França, Colômbia, Marrocos, Chile, Espanha, Canadá e Sérvia

Um grupo de dez alunos da Escola Estadual Professor Paulo Trajano da Silveira Santos, da Freguesia do Ó – capital, representou o Brasil na 3ª edição do Desafio Internacional – World Space Week. A competição anual, de caráter científico, foi organizada pela European Space Agency (ESA) e envolveu equipes de oito países.

A missão foi lançar um ovo de uma altura de dois metros do solo, direcionar a trajetória para a queda em um local determinado e evitar avarias e trincas na casca. A Estação Ciência da USP foi o cenário brasileiro da disputa, realizada simultaneamente, dia 4, em oito países.

As equipes participantes puderam acompanhar em tempo real, por meio de videoconferência, o desempenho de estudantes franceses, colombianos, marroquinos, chilenos, espanhóis, canadenses e sérvios. Do alto de uma escadinha, cada grupo de crianças se organizou, discutiu estratégias e utilizou materiais determinados pelo regulamento: quatro folhas de papel branco, 25 canudinhos de plástico, 25 palitos de sorvete, 150 cm de barbante, 150 cm de fita adesiva, cinco elásticos, uma tesoura, um cronômetro e um ovo cru.

Vencedores

Cada time projetou um pára-quedas para retardar a descida, revestiu o ovo com papel e fez um cestinho para a aterrissagem.

No término das apresentações, a comissão julgadora considerou a equipe do Marrocos como a que melhor executou o projeto; a ideia mais original foi a da Sérvia; o melhor tempo de resposta ficou com a Colômbia; o melhor caderno de experiências para a França e a equipe mais precisa, a brasileira. Cada grupo vencedor recebeu um certificado de participação assinado pelo físico francês George Charpak, vencedor do Prêmio Nobel e um dos responsáveis pelo concurso.

A participação do Brasil foi intermediada pelo Projeto ABC na Educação Científica – Mão na Massa. Beatriz de Castro Athayde é funcionária da Estação Ciência e uma das profissionais envolvidas com o programa.

“Através de experiências com materiais de baixo custo, estimulamos a expressão oral e escrita das crianças no estudo de ciências. Além disso, o professor é beneficiado, já que muitas vezes não tem formação específica na matéria. Os pais também participam do processo e acompanham os filhos quando eles reproduzem, em casa, as experiências realizadas na escola”, conta.

Grupo de alunos

Caíque Leite, 10 anos, e mais nove colegas foram os selecionados – pelos professores – entre 300 estudantes. Jéfferson da Silva, também do grupo, conta que na primeira reunião da equipe houve uma divisão de tarefas. “Decidimos, juntos, que cada um ficaria com a parte do trabalho que tivesse mais facilidade para desempenhar.

Beatriz Silva, que tem caligrafia bonita, foi escolhida para redigir o relatório de experiências. A maior dificuldade foi utilizar somente as quantidades de fita adesiva e barbante previstas no regulamento”, explicou Jéfferson. “Além disso, a professora Noemi Alves nos deu uma dica fundamental: revelou que se o ovo caísse com o fundo reto certamente racharia”.

Caio Pimentel acrescentou que a mestra também passou informações importantes sobre como vencer a resistência do ar e qual a melhor posição para o lançamento do ovo – alguns centímetros a mais do que o grupo estava fazendo.

A equipe de professores-orientadores da escola foi organizada por José Carlos Lima. E foi completada com os docentes Edna Sabino da Silva, Noemi Alves e Wanderleya Nogueira. Para o coordenador, o saldo final do trabalho foi positivo. “Conseguimos, num mês, orientar os estudantes. Além do que a competição integrou os alunos à escola e todos puderam aprender mais”, ressalta José Carlos.


Programa foi idealizado por vencedores do Prêmio Nobel

O Projeto ABC na Educação Científica – Mão-na-massa é uma iniciativa complementar de ensino de ciências para crianças entre cinco e doze anos. O intuito é aproximar a alfabetização à educação científica. Foi criado em 1996, a partir de uma ideia de dois físicos vencedores do Prêmio Nobel: o norte-americano Leon Ledderman e o francês George Charpak.

No Brasil, contatos entre educadores franceses e brasileiros possibilitaram, em julho de 2001, a instalação do programa com a direção-geral do professor aposentado da USP, Ernst Hamburguer. Na região metropolitana da capital participam 13 escolas da rede estadual; além delas o Mão-na-massa atende 115 estabelecimentos de ensino municipal na cidade de São Paulo, e também escolas de São Carlos e Ribeirão Preto.

Progressão da aprendizagem

O Mão-na-massa estimula as crianças a observarem um objeto ou fenômeno científico do mundo real, próximo e perceptível, e aprender com ele. Durante a investigação, a garotada argumenta, raciocina, discute idéias e, ao mesmo tempo, adquire conhecimento. As atividades propostas são sequenciais e permitem a progressão da aprendizagem.

Um tema único é desenvolvido por pelo menos duas horas semanais. Cada criança anota suas experiências e tira dúvidas em grupo. O objetivo principal é a apropriação progressiva de conceitos científicos e de aptidões pelos alunos, além da consolidação da expressão escrita e oral.

Os parceiros científicos nas universidades acompanham o trabalho escolar e colocam sua competência à disposição. O professor-orientador encontra na internet módulos a executar, idéias para atividades e respostas às suas perguntas.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página II do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 11/11/2004. (PDF)

Estação Ciência da USP informa e educa jovens com entretenimento

Centro permanente de exposições estimula inclusão digital, desperta talentos precoces e amplia a formação cultural dos visitantes

Os alunos e professores da rede pública de ensino têm na Estação Ciência da USP uma aliada poderosa para o seu desenvolvimento cultural e educacional. Trata-se de uma rede de divulgação do saber que promove exposições científicas permanentes ou temporárias e virtuais, cursos de capacitação, oficinas, palestras, criação e empréstimos de kits educacionais e, ainda, laboratório de informática, dentre outros serviços gratuitos.

Iniciativa de extensão universitária da USP, a Estação Ciência foi criada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em 1987, e repassada à universidade em 1990. Fica localizada na Lapa, zona oeste da capital, num conjunto de barracões da década de 30 preservados pelo patrimônio histórico numa área de 2 mil metros quadrados.

Seu corpo profissional é composto por professores da USP, alunos estagiários, voluntários de ONGs e técnicos de formação multidisciplinar. O pessoal especializado auxilia nos experimentos, informa e esclarece dúvidas sobre as exposições, cujos temas abrangem astronomia, meteorologia, física, geografia, biologia, história, informática, tecnologia, matemática e humanidades.

Segundo o geólogo Wilson Teixeira, recém-empossado diretor da Estação Ciência, a proposta do centro é aguçar a curiosidade científica, despertar talentos precoces e ampliar a formação dos participantes. “Os cursos, eventos e demais atividades têm por objetivo popularizar a ciência e promover a educação do indivíduo. Essa mistura lúdica de entretenimento com divulgação científica é uma arma eficaz na formação de cidadãos conscientes e responsáveis”, observou.

Parcerias e visitas

O sucesso dos programas da Estação Ciência é fruto de parcerias com empresas como a Petrobras, IBM, British Council, Telefónica, Apple, Intel, Microtec, Banco do Brasil e ONGs, como o Centro de Estudos e Pesquisas da Criança e do Adolescente (Cepeca). No ano passado, 200 mil pessoas visitaram as exposições, que têm entrada franca e ficam abertas de terça a sexta-feira, das 8 às 18 horas. Aos sábados, domingos e feriados, das 13 às 18 horas. É possível agendar visitação de grupos escolares.

Outra opção é observar no seu site o laboratório virtual da instituição. “Com jogos, criatividade e animação, colocamos à disposição online pequenas amostras do que o público encontra nas exposições permanentes e do acervo”, informa Marcos Matsukuma, coordenador do núcleo de criação.

O material interativo encontrado no site tem sido utilizado como reforço pedagógico para alunos do ensino fundamental e médio. “Aqui recebemos pedidos e sugestões via e-mail dos professores. O objetivo é contribuir cada vez mais, sempre associando a alfabetização científica com o lazer”, atesta.

Kits educativos da Experimentoteca

Muitos professores não sabem, mas podem adicionar nas suas aulas de ciências, gratuitamente, kits educativos. A Experimentoteca é um laboratório de ciências naturais que funciona como uma biblioteca pública na Estação Ciência.

“O procedimento é simples: a diretora de escola pública ou particular cadastra seu estabelecimento de ensino. A partir daí, cada professor interessado assina um termo de compromisso, garantindo zelar pela conservação do material. O prazo de devolução é de uma semana e podem ser emprestados até três jogos ao mesmo tempo”, diz Carmem Ruiz, supervisora da Experimentoteca.

Os kits foram desenvolvidos pelo grupo de trabalho liderado pelo professor Dietrich Schiel, do Centro de Difusão Científica e Cultural (CDCC) da USP São Carlos. Contemplam 59 assuntos e incluem atividades para grupos de até 40 alunos. Os educadores recebem orientação prévia e, em cada experimento, há um roteiro explicativo sobre como proceder para realizar os testes.

“O aprendizado é induzido com perguntas do professor para a classe, organizada em grupos, para procurar respostas objetivas com aquilo que estão visualizando nas experiências. Depois da aula, o professor relata, numa ficha, sugestões e dificuldades que teve com o material. O aperfeiçoamento é constante”, garante Carmem.

Os assuntos contemplados incluem kits sobre solo, ar, água, seres vivos, corpo humano, química e física. Compostos por materiais de baixo custo (lâmpadas, pilhas, eletrodos e tubos de ensaio), são acomodados em caixas de madeira.

Mão na Massa

O Projeto Mão na Massa – ABC na Educação Científica é um projeto-piloto iniciado em julho de 2001. Contempla hoje oito escolas da rede estadual e será expandido para mais 65 estabelecimentos de ensino. Consiste em oferecer treinamento aos professores e despertar nas crianças das primeiras séries do ensino fundamental o gosto pelo estudo de ciências.

Por meio de experiências práticas e coletivas com kits especiais na sala de aula, os alunos têm instigadas a curiosidade e a criatividade. O professor comanda os grupos de estudantes que, com a realização das atividades propostas, ampliam sua capacidade de ler, escrever e de se expressar de modo oral.

Rafaela Samagaia, responsável pelo projeto, explica que o Mão na Massa foi inspirado no projeto francês La Main à la pâte, que tem como origem o projeto norte-americano Hands On. Na França, a proposta era auxiliar os filhos de imigrantes que não dominavam o idioma e tinham dificuldade de aprendizado em ciências. “No Brasil, o Mão na Massa foi adaptado à realidade nacional, e o módulo sobre a água foi utilizado em todas as escolas”, comenta orgulhosa.

O Mão na Massa pressupõe o esforço do professor em duas frentes distintas: na sala de aula e com os demais colegas. “Na classe, abre a caixa e comanda as experiências do kit. Faz perguntas aos grupos de alunos, que procuram respostas para explicar determinado fenômeno”, justifica. Junto aos demais colegas, atua como agente multiplicador do conhecimento, repassando-lhes as informações recebidas na Estação Ciência.


Inclusão digital: Projeto Clicar

Há nove anos, a Estação Ciência criou com o Cepeca o Projeto Clicar, iniciativa de inclusão digital direcionada para crianças e adolescentes em situação de risco. “Estimulamos o uso livre de computadores e da Internet sem condições de frequência ou presença, por meio de jogos, atividades em grupo e monitoramento”, explica Cecília Toloza, uma das duas coordenadoras do projeto.

Dirce Pranzetti, também coordenadora, conta que o projeto foi concebido sob medida para atender aos anseios dos jovens carentes. “Fizemos uma pesquisa com os visitantes mais assíduos, que indicou o desejo coletivo de um laboratório de computadores. Hoje, mais de 800 estudantes trocam e-mails e redigem currículos e textos nos 26 computadores. Respeitamos o desejo e a motivação de cada um com a informática. Muitos frequentadores já deixaram de lado atividades ilícitas que praticavam. Os conhecimentos adquiridos permitiram a um grupo construir sua própria página na internet”, conta orgulhosa.


Física, biologia, geografia, geologia e astronomia são atrações permanentes

Na área de física, há experimentos que ilustram conceitos de eletromagnetismo, termodinâmica e óptica. As transformações entre os diversos tipos de energia são sempre evidenciadas. A exposição interativa de matemática tem 100 experimentos e convida os visitantes a explorar os fundamentos da ciência dos números, confrontando-os com aspectos do cotidiano e com outras áreas.

Já a biologia tem aquários de água salgada e doce. Além de peixes, apresenta espécies marinhas conservadas em formol. No espaço Butantã há viveiros de cobras, lagartos, aranhas e escorpiões e um terrário com plantas carnívoras.

Há, ainda, o Caracol, um espaço interativo, onde, por meio de programas de computador, o visitante pode saber mais sobre serpentes, aranhas e outros animais invertebrados venenosos e, também, sobre pássaros, com o auxílio de softwares educacionais.

Na de geografia, além dos painéis, atlas, mapas e globo terrestre, há uma grande maquete de bacia hidrográfica, com água corrente, representando principais rios, afluentes e represas. Ela é capaz de simular a queda da chuva em áreas urbanas e representar as enchentes.

Na área de geologia há exposição de minerais e rochas. São apresentados fenômenos geológicos como fendas, dobras e vulcões com esboços interativos. A exploração de petróleo tem maquetes sobre extração, transporte e refino e, ainda, um local onde o visitante tem um espaço para consultar material bibliográfico, vídeos e CD-ROMs.

A astronomia tem aparelhos que simulam a órbita de planetas e painel explicativo sobre a origem do universo, baseado na Teoria do Big Bang. A meteorologia reproduz em maquetes aparelhos de captação e medição de fenômenos atmosféricos, cujas observações possibilitam a previsão do tempo. Há, ainda, instrumentos instalados na Estação Ciência, que permitem o monitoramento do tempo de forma contínua, com dados de pressão, temperatura e umidade.

Serviço

Estação Ciência
Rua Guaicurus, 1.394 – Lapa – São Paulo (SP)
Tel. (11) 3871-6752

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente nas páginas II e III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 20/02/2004. (PDF)