Legumes são tema de jogo educativo da USP São Carlos

A Agência Ciência Web, projeto do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo (USP) – Polo São Carlos, lançou o jogo educativo Sasonimugel. Gratuito e disponível on-line no site Ciência na Web, do IEA, o game celebra o Ano Internacional das Leguminosas, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 2016.

A data comemorativa foi criada com o objetivo de destacar e valorizar o papel fundamental desses vegetais na alimentação humana, na fertilidade do solo e em diversos conceitos de biologia e de ecologia inerentes ao seu cultivo (ver serviço).

Para apreciar Sasonimugel, a única exigência é ter instalado no navegador (browser) do computador o plugin gratuito Adobe Flash. Daí, usando mouse e a tecla CTRL do teclado, a missão é impedir o deslocamento no cenário de inimigos naturais das lavouras, como fungos (cogumelos), insetos e ratos.

Para bombardear as pragas, o jogador deve posicionar unidades de defesa do território em locais estratégicos do cenário, sendo esses elementos atacantes representados por grãos de ervilha, soja, grão-de-bico, amendoim, feijão e lentilha.

“A palavra Sasonimugel é ‘leguminosas’ escrita ao contrário e sua sonoridade remete a algo sazonal, uma característica de muitas dessas culturas”, explica Márcio Araújo, aluno de graduação em Estatística do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) e responsável pela criação do jogo.

Bolsista de iniciação científica, ele informa ter incluído no game diversos conteúdos sobre as leguminosas produzidos por dois colegas da Agência Ciência Web, Ana Laura Junqueira e Gevair Souza, estudantes do curso de Licenciatura em Ciência Exatas, também da USP São Carlos.

Ciência aplicada

Segundo Márcio, a colaboração de Ana Laura e Gevair possibilitou, por exemplo, atribuir ao feijão o maior alcance e potência de tiro do jogo, tendo como justificativa o fato de essa leguminosa ser largamente produzida e consumida no território nacional e compor com o arroz, a base da dieta da população brasileira.

Outro apelo ‘científico’ diz respeito às bactérias do gênero Rhizobium. Na natureza, esses micro-organismos vivem nas células das raízes das plantas e são fundamentais para a fixação do nitrogênio no solo, um dos ciclos biogeoquímicos mais importantes nos ecossistemas terrestres.

No game, o Rhizobium é a munição das torres de ataque às pragas e, em cada fase, o jogador começa com uma quantidade determinada, ganhando mais conforme progride. “Além de entreter, a proposta do Sasonimugel é incentivar seus usuários ao conhecimento sobre nutrição, leguminosas e pesquisar temas de biologia relacionados”, diz Araújo.

O desenvolvimento do jogo exigiu cinco meses, tendo sido construído com ActionScript 3.0, a linguagem de programação da plataforma Adobe Flash. O game foi apresentado originalmente na 11ª Semana da Licenciatura em Ciências Exatas (SeLic) do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP, evento realizado em outubro, na USP São Carlos, tendo recebido na oportunidade menção honrosa.

Segundo Márcio, o próximo passo será lançar, até o final do ano, uma versão de Sasonimugel como aplicativo gratuito e ser executado em celulares com sistema operacional Android.

Serviço

Jogo Sasonimugel
Agência Ciência Web
Instituto de Estudos Avançados da USP Polo São Carlos

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página II do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 12/01/2017. (PDF)

Aprovada pela USP, ração de feno é novidade para alimentar cavalos

Feno extrusado promete estar disponível em todas as épocas do ano, dispensando estocagem nos meses de pouca pastagem

Em 2010, chegará ao mercado brasileiro novo produto para alimentar equinos: o feno extrusado especial. Trata-se de uma ração desenvolvida por irmãos empresários de Nepomuceno (MG), cujo valor nutricional foi comprovado em testes realizados pela equipe do pesquisador Alexandre Gobesso, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ), da USP/Pirassununga.

A ração pretende ser um alimento completo do ponto de vista nutricional para cavalos e éguas, com o mesmo custo da dieta tradicional. Promete preencher lacuna nos mercados brasileiro e internacional, a de estar disponível para o criador em todas as épocas do ano, dispensando a necessidade de estocar alimento nos meses de pouca oferta.

A expectativa é atender aos locais com grande quantidade de equinos mantidos em baias, como, por exemplo, os batalhões de cavalaria. A fórmula da ração é uma mistura de proporção variável. No entanto, contém máximo de 40% de fibra longa (capim), principal fonte de energia para o animal, com mínimo de 60% do chamado concentrado, que pode ser formado por farelo de soja, milho, óleo e minerais, por exemplo.

Técnico e científico

Para obter o registro do produto e lançá-lo no mercado, seus criadores precisavam de laudo técnico e científico atestando as propriedades nutricionais. No final de 2008, procuraram diversas universidades e nenhuma acreditou na possibilidade de produzir a ração em escala industrial. Duvidavam do valor nutricional do produto e sabiam de antemão que não existe máquina extrusora capaz de processar o feno sem entupir os dutos e danificar o equipamento.

A princípio, o pesquisador Alexandre Gobesso, do Departamento de Nutrição e Produção Animal da USP, também relutou, porém aceitou fazer a experiência, devido à insistência dos inventores. Os testes com a ração custaram R$ 20 mil, pagos pelos empresários.

A experiência, em delineamento – chamada de quadrado latino – durou 60 dias e foi realizada no campus, com quatro cavalos de criação da universidade. No teste, cada animal foi avaliado em quatro fases de 15 dias cada, sendo 13 de oferta de comida e outros dois de descanso. De modo simultâneo e intercalado em etapas diferentes, cada um recebeu um dos quatros tipos de dieta.

No primeiro tratamento, o cavalo foi alimentado com feno e ração, sem o produto a ser testado; no segundo, a dieta incorporou 33% de feno enriquecido extrusado em substituição à dieta-controle; no terceiro, 66% de feno enriquecido; e, no último, somente o produto a ser testado.

“Foram avaliadas a digestibilidade do alimento e a oferta de energia (curva glicêmica) obtida a partir dele. No final, a ração passou no teste e foi bem aceita nas quatro situações. Todos os animais ganharam peso e não tiveram alterações intestinais e clínicas”, observa Gobesso.

Segredo industrial

O projeto do equipamento para fabricar a ração de feno extrusado foi patenteado pelos irmãos inventores. Curiosamente, a pesquisa começou de modo empírico, com a análise das fezes de animais herbívoros (alimentação baseada no capim), como boi, cabra, ovelha e cavalo.

O objetivo dos criadores era descobrir o tamanho mínimo de corte da fibra vegetal para ser incluída no maquinário, sem prejudicar a função digestiva do alimento no organismo de animais. O passo final foi projetar uma máquina extrusora que não entupisse durante o processo. Seguiram o conceito de um moedor de carne manual, porém, com uma faca flexível, cuja lâmina não trincasse.

Custos

Na FMVZ, a avaliação da viabilidade econômica da ração foi feita pelo pesquisador Augusto Gameiro. Ele estimou em R$ 1 o preço por quilo da ração, valor de custo equivalente ao da dieta tradicional, porém com a vantagem de não desperdiçar o volumoso. Em média, cada cavalo precisa comer por dia 2% do seu peso em matéria seca.

A ideia dos produtores é oferecer a ração em três formulações de ingredientes e de preço. A primeira e mais cara – voltada para cavalos de competição – irá oferecer energia adicional. A segunda, de valor intermediário e mais rica em proteínas, alimentará animais jovens e reprodutores, e a última, mais barata, será para a manutenção do restante das tropas.

O próximo passo dos irmãos inventores é construir e iniciar a operação de uma fábrica em Embu, na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), para produzir a ração no segundo semestre de 2010. Eles convidaram os pesquisadores da FMVZ para participar da orientação técnica no processo. O empreendimento será enviado para o programa de Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapesp). Para o futuro, a meta é lançar rações semelhantes para criação bovina e caprina.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 19/09/2009. (PDF)