De Santos a Guarujá pelo fundo do mar

Prevista para 2016, ligação subterrânea suportará tráfego de pedestre, ciclista, carro, moto, caminhão e veículo leve sobre trilhos

A Dersa S.A., empresa mista ligada à Secretaria Estadual de Logística e Transportes do Estado de São Paulo, apresentou em seminário realizado no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), na capital, os desdobramentos do Projeto Prestes Maia. A novidade é a ligação por túnel das cidades de Santos e Guarujá. No encontro foram apresentados o local e o cronograma de construção da obra.

Com previsão de término para 2016, a ligação custará R$ 1,3 bilhão aos cofres do Estado. O túnel ficará 21 metros abaixo da superfície da água do canal e terá 900 metros de extensão. Interligará os bairros do Macuco, em Santos, pela Avenida Conselheiro Rodrigues Alves, até Vicente de Carvalho, próximo ao Terminal de Contêineres, no Guarujá. Suportará tráfego simultâneo de pedestre, ciclista, carro, moto, caminhão e Veículo Leve sobre Trilhos (VLT).

Origem e destino

Entre fevereiro e agosto de 2011, a Dersa realizou diversos estudos de viabilidade técnica e de trânsito nas duas cidades. O levantamento ouviu 7,5 mil moradores que diariamente transitam entre Santos e Guarujá. A pesquisa também analisou o perfil econômico da população da Região Metropolitana da Baixada Santista , que responde por 4% do PIB paulista e é formada por nove municípios: Bertioga, Cubatão, Guarujá, Itanhaém, Mongaguá, Peruíbe, Praia Grande, Santos e São Vicente.

A pesquisa da Dersa também considerou questões atuais, como os estrangulamentos do trânsito na região. E também temas futuros, como o aumento no tráfego local a partir do incremento do turismo e das operações da Petrobras na região, com a exploração do pré-sal e do petróleo nas jazidas marinhas da Baixada Santista.

Um dos objetivos é desafogar o trânsito de caminhões nas rodovias Anchieta e Cônego Domênico Rangoni (SP-55 – Piaçaguera-Guarujá). Atualmente, os transportadores precisam percorrer distância maior, pela SP-55, para o desembarque de cargas no Porto de Santos. E o túnel seria opção para diminuir tempo, trajetos e custos.

Complemento às balsas

A proposta do túnel será a de complementar o transporte feito pelas balsas, serviço operado pela Dersa. E assim absorver parte do tráfego na região, que abriga o porto de cargas e passageiros com maior movimento da América Latina.

O projeto da ligação Santos-Guarujá inclui escadas rolantes para pedestres. Além da cobrança de pedágio nos dois sentidos, está prevista a construção de estacionamentos pagos para veículos nos dois acessos do túnel. Uma das ideias propostas é usar esta receita acessória para diminuir o custo de construção e de manutenção da obra.

Quando estiver em operação, a expectativa com o túnel será a de reduzir em até 60% a procura pelo transporte na balsa, em especial nos horários de pico da população residente. Os períodos com mais congestionamentos são no início da manhã e no final da tarde dos dias de semana.

Túnel imerso

Segundo Laurence Casagrande Lourenço, diretor-presidente da Dersa, a opção de construir uma ponte acabou sendo descartada. Os motivos foram a legislação vigente que orienta as operações com navios no porto e o tráfego aéreo de aeronaves na Base Aérea de Santos, localizada no Guarujá.

A Autoridade Aeroportuária, responsável pela Base Aérea, define em 75 metros o limite de altura para edificações no entorno. Já a Autoridade Portuária especifica em 85 metros a distância mínima do espelho d’água para garantir a passagem de navio pelo canal. “Assim, a legislação inviabilizou qualquer projeto de ponte”, concluiu Lourenço.

Os passos seguintes da Dersa foram realizar mais estudos técnicos para decidir qual tipo de túnel seria adotado – escavado ou imerso. E depois da opção pelo segundo, pesquisaram então sete locais possíveis para a instalação do túnel. Até concluírem que o escolhido era o mais indicado.

Opção inédita

Lourenço observa que a técnica de construir túnel escavado é conhecida e adotada em larga escala no Brasil. Entretanto, foi preterida. “Por estar em terreno arenoso e ser submarino, seria preciso gastar muito para perfurar o solo e edificar estruturas de apoio e contenção nas entradas e saídas, para evitar que ele ruísse”, observou.

Embora nunca tenha sido usada no Brasil, a opção pelo túnel imerso foi a escolhida. Esta tecnologia é 60% mais barata que a do escavado. Foi usada pela primeira vez em 1910, no Rio Detroit, nos Estados Unidos, para interligar Estados Unidos e Canadá. Neste sistema, o túnel é construído na superfície, em pequenas unidades (perfis). Depois, cada uma delas é transportada em barcaças e afundada. A vedação, encaixe e posicionamento dos perfis são feitos no fundo do mar.

Outra vantagem do túnel imerso é poder ser instalado em menor profundidade e trazer risco geológico menor do que o escavado. Sua construção é mais rápida e, por ter inclinação menos acentuada que o escavado, é possível diminuir o comprimento total. As rampas de acesso e de saída são mais curtas, o que facilita o tráfego e a exaustão dos gases emitidos pelos escapamentos dos veículos no seu interior.

Como desvantagem, tem impacto maior para os moradores, por exigir mais desapropriações. E durante a execução da obra, o canteiro tem extensão maior que o escavado.


Tecnologia holandesa

Um dos destaques do seminário realizado no IPT foi a presença dos engenheiros holandeses Anton Driesse e Martijn Smitt. Eles participaram do evento como consultores e representantes de empresas europeias especializadas em construir túneis submersos.

A primeira delas é o grupo TEC, interessado em participar da concorrência pública internacional que definirá o projeto executivo do túnel. A outra é a Mergor/Strukton, que pretende se associar a uma empreiteira brasileira para disputar a licitação.

Atualmente, o grupo TEC está construindo uma conexão submersa (doca seca) de 19 quilômetros ligando Dinamarca e Alemanha. Anton Driesse disse que o primeiro projeto da TEC foi um túnel construído em 1988 no Porto de Roterdã, na Holanda. E mesmo com o passar dos anos, o principal desafio neste tipo de projeto é trabalhar com diferentes tipos de rocha e de solo no local da construção, além de encontrar meios para prover a segurança contra desabamentos e incêndios.

Na obra da Baixada Santista, segundo Anton, a principal dificuldade será a grande área urbanizada existente no local. Segundo ele, foi o mesmo desafio encontrado na construção de muitos túneis submersos de Amsterdã, na Holanda.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 18/11/2011. (PDF)

Novas tecnologias a seu dispor

IPT celebra 112 anos inaugurando, até o fim do ano, na capital, o Laboratório de Bionanotecnologia; em 2012 será entregue o de Estruturas Leves em São José dos Campos

O Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) celebrou 112 anos de fundação no dia 24 de junho. Criado em 1899, o instituto surgiu com o objetivo de avaliar a qualidade de materiais empregados nas áreas de construção civil e produção mecânica. Hoje, é referência internacional em metrologia e parceiro de órgãos públicos e empresas privadas em projetos de inovação, pesquisa, desenvolvimento e educação.

Vinculado à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia (SDECT), o IPT atua como elo multidisciplinar entre universidades e centros de pesquisas com diversos setores produtivos brasileiros. O serviço inclui desenvolver soluções tecnológicas e melhorar processos para pequenos e médios empresários, de modo a fortalecer o empreendedorismo no Estado e no País.

O IPT também é parceiro de setores industriais de grande porte, como petróleo, mineração, naval, aeronáutica, siderurgia, medicamentos, cosméticos, engenharias, construção civil, têxtil, florestal, química, geração de energia, biocombustíveis e livros didáticos.

O trabalho do órgão é realizado por 12 centros de pesquisa, 30 laboratórios, dez seções técnicas e núcleo de atendimento tecnológico à micro e pequena empresas. O quadro funcional integra mil pesquisadores, 275 profissionais administrativos e 160 estagiários e bolsistas. A sede fica na Cidade Universitária, zona oeste da capital, e o instituto possui filiais em Franca e São José dos Campos, interior paulista.

Aplicações

Muitos brasileiros não sabem, mas o resultado do trabalho do IPT está presente em muitas situações cotidianas. A lista de tarefas é extensa. Inclui analisar consumo de energia e ruído de eletrodomésticos, participar de etapas do desenvolvimento de remédios, conferir a qualidade de roupas e tecidos. E, também, as características de materiais empregados na construção civil, avaliar o impacto ambiental de obras do Metrô e do Rodoanel, o risco de quedas de árvores nas cidades e testar radares de trânsito usados para controle de velocidade em ruas e rodovias.

A proposta do IPT é atender a sociedade brasileira em oportunidades para o País, como a descoberta das reservas de petróleo e pré-sal e o pioneirismo na produção de etanol. Para suprir a essas demandas, desde 2008 o Governo estadual investiu R$ 150 milhões no IPT.

O recurso está sendo usado para modernizar o instituto, com a contratação nos últimos três anos de novos profissionais concursados e requalificação dos atuais. O dinheiro também foi empregado para reformar e ampliar as instalações existentes. Desse total, R$ 46 milhões foram direcionados para a construção, na sede do órgão, do Laboratório de Bionanotecnologia, previsto para ser entregue até o final do ano.

Soluções sustentáveis

A bionanotecnologia é área de pesquisa promissora, capaz de manipular materiais milhares de vezes menores que a espessura de um fio de cabelo. Tradicionalmente, uma partícula recebe o prefixo “nano” caso tenha entre um e 100 nanômetros, aproximadamente 0,01% do diâmetro de um fio de cabelo. Hoje, estima-se em 600 o número de produtos que contêm nanomateriais disponíveis no mercado mundial.

O Laboratório de Bionanotecnologia do IPT estudará o desenvolvimento de organismos vivos, tecnologia de partículas (microencapsulação de componentes químicos e terapia medicinal, como em cosméticos), micromanufatura de equipamentos e metrologia.

Uma das propostas do instituto é privilegiar a busca de soluções sustentáveis. Para isso, uma de suas inovações recentes foi o bioplástico degradável. Diferente do produto à base de petróleo, que demora séculos para se decompor no meio ambiente, o bioplástico vira “comida” de bactéria em seis meses, sem poluir. E pode ser produzido a partir de restos de frutas das fábricas de suco ou bagaço de cana das usinas de álcool.

Corrida tecnológica

Outra novidade é o Laboratório de Estruturas Leves (LEL), previsto para ser concluído em 2012. Orçado em R$ 90,5 milhões, o LEL será instalado em São José dos Campos. A meta é ajudar empresas brasileiras a desenvolver novas tecnologias no setor aeroespacial, como, por exemplo, criar materiais capazes de reduzir o peso de componentes das aeronaves para, assim, torná-las mais competitivas no cenário internacional.

No projeto do LEL, o Governo paulista tem como parceiros a prefeitura local, BNDES, Embraer, Fapesp, Finep, Faculdade de Engenharia Industrial (FEI), Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), USP, Unicamp, Unesp, Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) e Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE).

Outro projeto em andamento é de uma planta de gaseificação de biomassa, em Piracicaba. A meta é conseguir produzir etanol de segunda geração a partir do bagaço de cana, atualmente aplicado na queima para a geração de energia.

Com a gaseificação, a expectativa é dobrar a produtividade das usinas canavieiras sem aumentar a atual área plantada. Esse projeto também marca a posição do IPT e do País em uma corrida tecnológica mundial, já que a gaseificação, com bagaço, carvão ou outra biomassa ainda está por ser dominada.

Novos desafios

Segundo João Fernando Gomes de Oliveira, diretor-presidente do IPT, os próximos passos do instituto são conseguir equilíbrio harmônico entre produzir conhecimento, aplicá-lo e vender serviços. Para Oliveira, são três os desafios para o desenvolvimento científico e tecnológico brasileiro – e todos representam novas oportunidades e necessidades.

O primeiro é uma imposição socioambiental, baseada na necessidade de se desenvolver tecnologias em prol da sustentabilidade. Assim, as pesquisas do IPT continuarão tentando despoluir rios e áreas degradadas, criar matérias biodegradáveis e energias renováveis (solar e da biomassa) e estruturar veículos e peças com materiais mais leves.

Um exemplo é o projeto da Embraer de criar em conjunto com o IPT um avião revestido 100% por compósito (mistura de fibra de carbono com polímero). “Por ser mais leve, a aceleração é mais rápida com menor gasto de energia. Além disso, o material é renovável e mais resistente do que o alumínio”, explica João.

Outra meta inclui explorar o recurso da luz solar, com projetos de células de silício, e obter mais eficiência com a biomassa abundante no campo. “Com as tecnologias futuras, será possível reaproveitar o bagaço de cana disponível no Estado de São Paulo e gerar eletricidade anual equivalente à produzida pela Usina de Itaipu (12 gigawats anuais)”, observou.

O segundo desafio consiste em aproveitar as oportunidades disponíveis, como o pré-sal. “Esta riqueza mineral dependerá de muita pesquisa para ser obtida – e também tornar viável e rentável a exploração. O IPT apoiará a Petrobras e sua cadeia de fornecedores no projeto, que requer perfurações em grandes profundidades marinhas, até 7 quilômetros abaixo do nível da superfície”, analisa.

O último desafio do IPT será aproveitar a oportunidade induzida pelo desenvolvimento da ciência, como a bionanotecnologia. O objetivo do novo ramo é incorporar novas funcionalidades nos materiais, a partir de mudanças em suas propriedades e composição.

As possibilidades da bionanotecnologia são infinitas e é possível agregar novas características do ponto de vista químico, mecânico, térmica, biológico, elétrico, etc. Uma das promessas é a de produzir um medicamento sob medida para cada organismo e, também, controlar seu princípio ativo de modo de só agir em condições especiais, evitando efeitos colaterais conhecidos das drogas atuais.


Serviços especializados do IPT

Tanque naval – O tanque naval do IPT é o maior da América Latina. Tem cerca de três quarteirões de extensão e é usado para simular em laboratório o comportamento de embarcações em água fluvial e alto-mar, para ajustes na fabricação de navios e equipamentos.

Fraturamento hidráulico – O fraturador hidráulico do IPT é usado para aprimorar equipamentos e definir metodologias para medição de tensões em rochas. Atende às engenharias civil, de minas e de petróleo e tem usos na construção de obras subterrâneas em rochas de qualquer natureza. O dispositivo foi usado na construção dos trechos subterrâneos da Rodovia dos Imigrantes, Rodoanel e Metrô. Também tem utilidade em túneis de pressão para geração de energia e em barragens (fundações e ombreiras) e cavernas.

Recursos hídricos – O instituto dispõe de um grupo multidisciplinar de 20 pesquisadores que acompanham 160 projetos relacionados às diversas bacias hidrográficas paulistas. Uma das ações é elaborar os planos delas, ou seja, identificar quem são os consumidores da água (setores municipal, agrícola e industrial) e verificar suas demandas. A tarefa inclui analisar demografia, qualidade das águas, monitoramento de chuvas, situação da vegetação, destinação do lixo urbano e poluição agrícola, entre outras demandas.

Segurança contra fogo – O serviço do IPT oferece diagnósticos das condições do setor de combate a incêndios no País e avalia as condições do combate ao fogo nas áreas urbana, rural e indústria petroquímica.

Livros didáticos – O instituto mantém três projetos ligados à qualidade dos livros do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). O serviço federal distribui esses materiais para alunos da rede pública nos 27 Estados brasileiros. Atende ao ensino fundamental, médio e de jovens e adultos e consiste em averiguar se a qualidade das publicações está de acordo com as especificadas em lei.

Siderurgia e etanol – Há 20 anos pesquisa a área de materiais metálicos fundidos resistentes a desgaste. O trabalho é realizado em parceria com o Laboratório de Fenômenos de Superfície, da Escola Politécnica (Poli-USP). Com relação ao etanol, o IPT pesquisa tecnologias para favorecer a exportação do etanol. A atividade verifica o grau de corrosão do biocombustível e rendeu metodologias de ensaio, aproximando as condições do laboratório com as verificadas na prática. O objetivo no futuro é estender o serviço.


Parceiro de empresas públicas e privadas

Em 1894, um grupo de engenheiros, liderados por Antonio Francisco de Paula Souza, fundou a Escola Politécnica de São Paulo. Para atender às crescentes demandas de ensaios de materiais de construção e às necessidades do curso, alguns professores criaram, em 1899, o Gabinete de Resistência de Materiais, que se tornaria o núcleo básico do que viria a ser o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT).

No início do século 20 o instituto pesquisou materiais para a construção civil e ajudou o empresariado paulista a instalar estradas de ferro e hidrelétricas. Até hoje, o órgão preserva amostras de concreto da época – e seria possível contar parte da história das construções civis brasileiras por meio delas.

Durante a Revolução Constitucionalista de 1932, o IPT orientou os paulistas sobre como fabricar morteiros, granadas, capacetes, carros de combate e trem blindado. Entre 1934 e 1946, desenvolveu produtos de madeira que tiveram larga utilização industrial, aplicando-os também na construção de aviões de treinamento e planadores. Em 1940 foi encarregado dos estudos para as fundações do complexo da Companhia Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda (RJ).

O mesmo aconteceu com a produção de armas durante a Segunda Guerra Mundial. Nesse caso, o IPT forneceu assistência direta às oficinas bélicas nacionais. Devido à escassez de gasolina, os técnicos do instituto adaptaram os motores dos carros para o gasogênio.

Na década de 1940, cresceu e ampliou suas tarefas e colaborou com grandes obras de engenharia do País. Entre elas, destacam-se a construção das rodovias Anchieta, Anhanguera, Rio-Petrópolis e Dutra, e a ampliação dos portos de Santos, Rio de Janeiro e São Sebastião.

No mesmo ritmo, em meados de 1950, o IPT participou da construção das hidrelétricas paulistas de Paranapanema, Jurumirim, Chavantes, Limoeiro, Euclides da Cunha, Jupiá, Ilha Solteira e da usina de Paulo Afonso (BA).

Nos anos 1970 ajudou a construir a Linha Norte-Sul do Metrô paulistano e nos anos 1980 prestou assistência técnica na Rodovia dos Imigrantes e nas hidrelétricas de Sobradinho (BA) e Itaipu (PR).

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente nas páginas II e III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 28/06/2011. (PDF)

 

Estação Ciência faz 20 anos unindo cultura e entretenimento de qualidade

Instalações interativas e ambientes lúdicos despertam o gosto pelo conhecimento e ampliam a formação educacional do visitante

No próximo domingo, a Estação Ciência completa 20 anos e registra 8,3 milhões de visitas desde sua inauguração. Vinculada à Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP (PRCEU), o centro de divulgação científica interativo é pioneiro no País.

No mês de aniversário, além da programação especial, anuncia novidades em seus 5 mil metros quadrados de área, como a Praça dos Brinquedos, a nova cafeteria e a remodelação do conjunto da recepção, caixa e guarda-volumes.

Ao passar pela catraca e circular pelas dependências da Estação, o interessado entra em contato com construções de valor histórico da capital e tem a oportunidade de aprender ciências em ambientes lúdicos, distribuídos em dois pisos com mostras permanentes e temporárias.

A brincadeira enriquecedora do conhecimento é complementada com peças teatrais, palestras, oficinas e equipamentos especiais, como o simulador de terremotos. Às escolas da rede pública e particular são oferecidos empréstimos de 130 kits da Experimentoteca com atividades para alunos do ensino fundamental e médio. Para os professores, são ministrados cursos de capacitação e reciclagem.

Em sua fase inicial, Estação Ciência reunia somente estandes de empresas e tinha como público-alvo grupos escolares. Com o passar dos anos, houve mudança em seu perfil. Os intercâmbios e pesquisas com centros interativos de ciências internacionais, acompanhada da constante troca de informações de dados alinharam-na ao Exploratorium de San Francisco (EUA), ao Science Museum de Londres (Inglaterra) e ao Cosmocaixa de Barcelona (Espanha).

Passeio obrigatório

Diretor da EC desde 2004, o geólogo Wilson Teixeira destaca a consolidação do centro como roteiro turístico-cultural obrigatório do Brasil. Porém, sem perder de vista sua proposta principal, de promover a divulgação científica e os avanços tecnológicos fora do ambiente escolar.

“Além da Petrobras, muitas empresas têm proposto parcerias para criarmos novas exposições itinerantes. Na pauta atual estão relacionados temas de preservação do ecossistemas e o combate ao desperdício de água. Mostras complementam o acervo permanente, atraem público e mídia e depois rodam o País”, observa.

Segundo Carmem Ruiz, supervisora da Experimentoteca, a proposta de emprestar kits visa a aguçar a curiosidade, despertar talentos precoces e ampliar a formação educacional do visitante.

“Muitas atividades remetem a fenômenos naturais, presentes no dia-a-dia das pessoas. Com a experimentação, torna-se possível compreendê-los com mais graça e facilidade. A mistura lúdica de divulgação científica com entretenimento é arma eficaz na formação de cidadãos mais conscientes e responsáveis”, conclui.

O corpo profissional da Estação Ciência é constituído por professores, cem alunos estagiários da USP (monitores), 40 funcionários, voluntários de ONGs e técnicos de formação multidisciplinar.

O pessoal especializado auxilia nos experimentos, informa e esclarece dúvidas sobre as exposições permanentes. Os temas abordados são variados e contemplam todas as áreas do conhecimento: humanas, exatas, agrárias, biológicas e saúde.

Lazer cultural

O universitário Bruno Luiz de Oliveira, terceiro anista de Biologia da USP, foi estagiário da Estação Ciência até o final do ano passado. Hoje, prestes a concluir sua graduação, é professor do Colégio Claretiano e responsável pelo laboratório da escola. Neste período, não deixou de frequentar o local para rever amigos e conferir as novidades. No último dia de maio, regressou em visita agendada com seus alunos.

“Eles puderam aprender mais sobre Matemática, Física e Ciências. Fizeram perguntas e pretendo respondê-las nas próximas aulas. Para mim, sempre será gratificante voltar aqui”, diz.

Outro grupo de alunos provenientes da Unesp de Rio Claro e universitários do curso de Matemática também aprovaram a visita. O estudante Northon Canevari comentou que sua turma pode conferir na prática conceitos conhecidos somente na teoria. “E a interação com os universitários da USP também foi muito proveitosa”, observa.


Arte e ciência no palco

O teatro da Estação Ciência tem capacidade de 190 lugares. Em seu palco são encenadas peças e realizadas oficinas, aulas-espetáculo, palestras e seminários direcionados para públicos variados e de todas as idades. O seu Núcleo Teatral já produziu oito espetáculos ligados ao universo científico.

Desde 1998, o diretor-artístico Cauê Mattos lidera a equipe de 13 profissionais do grupo e responde pela pesquisa e produção. Ele explica que as montagens criadas resgatam da cultura popular, história, literatura, música, geografia, economia e artes plásticas. Depois da temporada no palco da Estação Ciência, essas montagens rodam o país inteiro em turnês.

“Os espetáculos encenados permitem licenças poéticas nos roteiros. A peça mais recente é Parem Tudo Vamos Voar. Traz metáforas sobre a liberdade, celebra o centenário do voo do 14 Bis em Paris e narra ao público, infantil e adulto, a vida de Santos Dumont. Provoca na plateia reflexões, como o gênio brasileiro da aviação pensaria se vivesse nos nossos dias, em conjunto com a apresentação de conceitos de aerodinâmica”, relata Cauê.


Memória ferroviária

A história da Estação Ciência começou em dezembro de 1986, a partir da doação de um terreno de 2 mil metros quadrados do governo paulista para o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O local abrigava um conjunto de antigos barracões construídos no início do século passado e foi repassado em 1990 para a Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP.

O nome e o primeiro logotipo da Estação Ciência são criações do publicitário Washington Olivetto e remetem à memória ferroviária do Estado. O centro de cultura é tombado pelo patrimônio histórico e preserva instalações de uma tecelagem, cujos galpões foram reconstruídos após um incêndio em 1936. Até a década de 70, foram utilizados como depósito de sementes da Secretaria Estadual da Agricultura até a doação para o CNPq, em 1986.

O logotipo atual foi redesenhado recentemente. Apresenta a ciência como um ciclo em constante transformação. Em breve, novo elemento será acrescentado à identidade visual: a torre da entrada, em substituição aos antigos barracões.


O senhor dos projetos

O arquiteto Francisco Medeiros é o responsável pela concepção e montagem dos elementos nas exposições – produz maquetes e projeta os espaços das mostras. Para evitar distorções na divulgação e compreensão dos conceitos científicos, tenta reproduzir com fidelidade máxima cada fenômeno natural abordado. Preocupa-se em prover instalações que sejam agradáveis e seguras para o público, utilizando materiais tecnológicos, resistentes e ecológicos.

“Antes da inauguração de uma atração, há muita pesquisa e trabalho de equipe. O tempo mínimo de preparação é de três meses e alguns projetos ultrapassam um ano de preparação, como o Tsunami e o Furacão, que utilizam água nas instalações. Os debates contemplam, entre outras questões, a base científica da mostra, quais equipamentos serão utilizados, o tamanho e a ocupação do espaço disponível e o roteiro para o visitante. Resultam em decisões como a escolha das matérias-primas, maquinários, correções nos textos dos painéis informativos e a contratação de profissionais para desempenhar tarefas específicas, de acordo com a necessidade de cada exposição.”, finaliza.

Economia de água

Desde 2006, em parceria com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), Francisco estuda opções para transformar os banheiros da Estação Ciência em áreas de exposição.

“Para combater o desperdício de água, a intenção é substituir os atuais vasos sanitários, torneiras e válvulas por equipamentos economizadores. A inovação será utilizar protótipos que ainda estão em teste no IPT, como o mictório feminino especial. A novidade é utilizada em outros países e permite à mulher urinar sem sentar no assento e conseguir reduzir os atuais seis litros utilizados em cada descarga”, conta.


Atrações permanentes

A Estação Ciência recebe visitação média diária de mil pessoas. O maior público reunido foi na inauguração da Sala de Terremoto, quando compareceram 2,6 mil pessoas, formando enormes filas. Atualmente, o centro funciona de terça a sexta-feira, das 8 às 18 horas. Aos sábados, domingos e feriados, das 13 às 18 horas. É possível agendar a visita para grupos escolares com até três meses de antecedência.

Entre as atrações da área de Física, há experimentos que ilustram conceitos de eletromagnetismo, termodinâmica e óptica e são sempre evidenciadas as transformações entre os diversos tipos de energia.

A área de Biologia tem aquários de água salgada e doce. Além de peixes, apresenta espécies marinhas conservadas em formol. No espaço Butantã há viveiros de cobras, lagartos, aranhas e escorpiões e um terrário com plantas carnívoras. Há, ainda, o Caracol, um espaço interativo, onde, por meio de programas de computador, o visitante pode saber mais sobre serpentes, aranhas e outros animais invertebrados venenosos e sobre pássaros.

Big-bang

Na seção de Geologia, painéis transparentes e maquetes ilustram fenômenos naturais, como a formação de fendas, dobras e vulcões. Na área de Geografia, há painéis, atlas, mapas, globo terrestre e uma grande maquete de bacia hidrográfica, com água corrente representando rios principais e afluentes, além de represas. Ela é capaz de simular a queda da chuva em áreas urbanas e representar as enchentes.

A Astronomia tem aparelhos que simulam a órbita de planetas e um painel explicativo sobre a origem do universo, baseado na teoria do Big Bang. A Meteorologia reproduz em maquetes aparelhos de captação e medição de dados. Há instrumentos instalados que permitem o monitoramento do tempo de forma contínua, com dados de pressão, temperatura e umidade.

Por fim, há o Projeto Clicar, de inclusão digital, iniciado em 1995. Consiste em oferecer o uso gratuito de computadores para crianças e adolescentes em situação de risco social. Na área reservada, o aluno é estimulado ao uso livre de computadores e da internet, com atividades individuais e em grupo.

Serviço

Estação Ciência
Rua Guaicurus, 1.394 – Lapa – zona oeste da capital.
Tel. (11) 3672-5364

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente nas páginas II e III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 21/06/2007. (PDF)