USP Ribeirão Preto terá primeiro centro de estudos de canabidiol

Vinculada à Faculdade de Medicina, a unidade fará pesquisas pré-clínicas e clínicas com pacientes, além de desenvolver princípios ativos e medicamentos a partir da substância; inauguração está prevista para o fim do ano

Até o fim deste ano, a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) abrigará em seu câmpus o primeiro Centro de Pesquisas em Canabinoides do País. A criação da unidade é resultado de convênio firmado em janeiro do ano passado com a indústria farmacêutica Prati-Donaduzzi para desenvolver princípios ativos e medicamentos a partir do canabidiol (CBD) e de outras substâncias derivadas da maconha, nome popular da planta Cannabis sativa.

Coordenador do projeto, o professor Antonio Waldo Zuardi, do Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento da FMRP-USP, prevê inaugurar o centro, uma ampliação do prédio da Saúde Mental, até o fim do ano. Segundo ele, o investimento inicial para a construção do prédio será de R$ 3 milhões e a licitação da obra já foi aprovada.

Há 40 anos, Zuardi e a equipe de Ribeirão Preto lideram o volume brasileiro de publicações científicas sobre o canabidiol. Atualmente, mais oito instituições e 18 subcentros nacionais e estrangeiros dedicam-se a esse tipo de pesquisa.

Alternativa

As operações na unidade serão divididas em duas alas, as quais serão dedicadas a estudos pré-clínicos e clínicos. A primeira delas estará centrada na pesquisa básica laboratorial; e a segunda terá como núcleo atividades com pacientes e voluntários saudáveis.

O grupo de pesquisas com canabinoides da FMRP-USP recebeu autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o estudo clínico com o CBD e fará testes em mais de 120 crianças e adolescentes com epilepsia refratária, pacientes cujo quadro não melhorou após o uso da medicação convencional.

“A meta primordial é criar produtos farmacêuticos, que consigam obter seu registro como medicamentos produzidos à base de canabidiol, inclusive custeando os ensaios clínicos necessários”, explica o coordenador. Na etapa seguinte, observa o professor, o objetivo é avançar em estudos com alguns dos cerca de 400 canabinoides presentes na maconha, além de testar o potencial do próprio canabidiol nas doenças que exigem tratamentos efetivos, como doença de Parkinson, esquizofrenia e câncer.

Terapêutico

O grupo de estudos sobre canabinoides da FMRP-USP integra o Instituto Nacional de Ciências e Tecnologia Translacional em Medicina (INCT-TM) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Essa iniciativa é coordenada pelos professores Jaime Hallak, também da USP Ribeirão Preto, e Flavio Kapzinski, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

O time nacional de pesquisadores aposta no canabidiol por ser uma droga com múltiplas ações no sistema nervoso central. A substância interfere não apenas no sistema endocanabinoide, mas em outros afins, como o serotonérgico e o vaniloide. Entretanto, ainda é desconhecida a forma como ocorre sua ação antiepilética. Com a ampliação dos estudos, há a expectativa de melhora da qualidade de vida de pacientes e seus familiares.

“Aguardamos autorização da Anvisa para realizar ensaio clínico com as crianças portadoras de epilepsia refratária. Elas serão recrutadas nos ambulatórios do Hospital das Clínicas da FMRP-USP”, informa Zuardi. Segundo ele, o canabidiol pode abrir novas frentes no tratamento da doença, tendo em vista o fato de 30% dos pacientes não reagirem à medicação convencional disponível.

“Para avançar, essas pesquisas dependem do registro do CBD como medicamento pelas agências reguladoras. A expectativa é obtê-lo a partir dos resultados conseguidos nas experiências entre os pacientes do centro de pesquisa”, informa.

Descoberta

O efeito antiepilético do CBD foi descoberto por um grupo de pesquisadores brasileiros liderado pelo professor Elisaldo Carlini, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), na década de 1970. Esse fato científico foi ignorado por mais de 30 anos e recuperado no fim de 2013, por pais de filhos com epilepsia refratária. No ano passado, foi publicado o primeiro estudo acadêmico do tipo duplo-cego com um número elevado de crianças e ficaram comprovados, na prática, os efeitos benéficos do canabidiol em pacientes infantis.

Serviço

Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP)

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página II do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 16/03/2017. (PDF)

Terapia dos Doutores da Alegria contagia crianças em recuperação

São Joãozinho, show temático da trupe circense, leva alegria e animação aos pacientes do Instituto de Tratamento do Câncer Infantil (Itaci); até o fim do mês os artistas se apresentam em mais três hospitais

Entusiasmadas, as crianças internadas no Instituto de Tratamento do Câncer Infantil (Itaci), na capital, receberam, quarta-feira, 15, a trupe dos Doutores da Alegria com o show temático São Joãozinho. A apresentação dos artistas celebra as festas juninas com músicas típicas cantadas em ritmo de forró e inclui brincadeiras – pescaria, correio elegante e “guerra” de bolinhas de papel.

O cortejo de São Joãozinho e a celebração natalina são as duas comemorações especiais da organização não governamental Doutores da Alegria. Desde o início do mês, a trupe circense, formada por 40 palhaços (23 atores profissionais em São Paulo e 17 no Recife), que se intitula “mestres em besteirologia”, já se apresentou em diversos hospitais paulistanos.

A programação incluiu o Instituto da Criança (dia 8); Hospital Geral do Grajaú (9), Itaci (15) e Hospital Municipal do Campo Limpo (ontem). Até o final do mês, a programação seguirá para o Hospital Santa Marcelina (22); Hospital do Mandaqui (23); e Hospital Universitário da Faculdade de Medicina da USP (30).

Residente

O ator David Tayiu (o palhaço Dr. Dadúvida) é Doutor da Alegria desde 1991, ano de criação do grupo. Ele explica que a proposta principal da ação voluntária e gratuita nos hospitais é qualificar a experiência de internação e resgatar o lado saudável da vida dos pacientes, seus familiares e dos profissionais da área da saúde.

Com exceção dos dois shows temáticos, a atuação dos Doutores é permanente. Toda sexta-feira, eles se reúnem para avaliar o serviço prestado e ensaiar coreografias e interpretações. O improviso é uma das marcas do trabalho inspirado na arte clownesca, linguagem usada pelos palhaços que aproveita elementos do ambiente para contar piadas e fazer graça.

Durante um ano, uma dupla dos Doutores da Alegria do grupo visita um hospital duas vezes por semana, para estreitar laços. Nessas ocasiões, os atores circulam por todas as áreas do centro médico e tentam descontrair as pessoas que encontram pela frente.

David foi palhaço “residente” do Itaci por um ano. Hoje, a ação voluntária no centro especializado em câncer infantil é incumbência da dupla formada pela Doutora Pororoca, interpretada pela atriz Layla Ruiz, e pelo palhaço Mingal, representado pelo ator Marcelo Marcon, atual palhaço “residente” do Itaci.

A oncologista pediátrica Lilian Cristofani destaca a importância da atividade realizada pelos artistas desde a criação do Itaci, em 2002. “O horário das 9 às 12 horas das segundas e quartas-feiras são os mais aguardados pelas crianças”, ressalta. Ela avalia que a abordagem lúdica utilizada pelo grupo é adequada ao tratamento e auxilia na reabilitação dos pacientes.

Animação

Na quarta-feira, o casal Jorge Rodrigues e Mariana Sanchez, de São Carlos, acompanhou toda a movimentação dos Doutores da Alegria, na unidade, com a filha Luiza, de 1 ano e 10 meses de idade. “Ela foi operada no dia 18 de fevereiro, no Hospital Sírio-Libanês”. Um mês depois iniciou o tratamento no Itaci e “vem tendo excelente recuperação; quando os palhaços chegam, ficamos todos mais animados”, conta o pai da menina.

Improviso

Marcelo Marcon também integra o elenco do São Joãozinho. Interpretando Mingal desde 2010, ele destaca esse trabalho como uma grande alegria, entre as muitas vividas nesse período. Em 2014, enquanto ensaiava, Marcon recebeu o telefonema da mãe de um paciente. Ela relatava o problema inusitado que estava enfrentando: seu filho Thiago, de 4 anos, havia recebido alta médica, mas se recusava a ir embora do hospital.

“Na imaginação do garoto, o médico dele era eu; para convencê-lo a mudar de ideia, improvisei: disse no telefone que estava trancado em um guarda-roupa para que minha roupa não amassasse e não tinha como sair para encontrá-lo”, recorda Marcon. “A resposta improvisada agradou e funcionou. E acabei chorando no meio do ensaio.”


Itaci é referência em câncer infantil

Vinculado ao Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), o Instituto de Tratamento do Câncer Infantil (Itaci) oferece 38 leitos para crianças e adolescentes até 19 anos. Além de câncer, o centro trata também doenças hematológicas (como anemia falciforme, por exemplo), moléstias raras e ainda presta cuidados paliativos.

A instituição realiza, em média, 1,5 mil atendimentos mensais, dos quais 90% são na modalidade hospital-dia – o paciente vai até o centro com acompanhante, faz os procedimentos médicos recomendados e retorna para casa.

O Sistema Único de Saúde (SUS) e o Estado custeiam 97% dos tratamentos, os 3% restantes são bancados por convênios médicos. O Itaci possui equipe formada por 280 profissionais, além de 40 terceirizados. O atendimento multidisciplinar inclui médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos, nutricionistas, assistentes sociais, farmacêuticos, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos e dentistas, entre outras especialidades.

O Itaci foi idealizado por docentes da Faculdade de Medicina da USP liderados pelo médico Vicente Odone Filho, professor titular de Oncologia Infantil da universidade e atual coordenador clínico do instituto, que recebe o apoio da Fundação Criança, Ação Solidária Contra o Câncer Infantil (ASCCI) e do Instituto Stella Demarco.

Serviço

Doutores da Alegria
Instituto de Tratamento do Câncer Infantil (Itaci)
Instituto da Criança do Hospital da Clínicas da FMUSP

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 17/06/2016. (PDF)

Um dia pode salvar você do câncer

Campanha Doe 1 Dia estimula pessoas em boas condições de saúde a checagens periódicas e adoção de hábitos de vida saudáveis

O Instituto do Câncer (Icesp), ligado à Secretaria Estadual da Saúde e à USP, lançou esta semana o movimento “Doe 1 Dia”. Com viés voluntário, a campanha incentiva o cidadão a fazer exames preventivos para detectar a doença, cujo diagnóstico precoce amplia as chances de cura.

A campanha surgiu após a constatação médica de que muitas pessoas deixam de realizar exames por falta de hábito e de tempo. E também por desinformação ou medo do resultado.

O movimento visa a sensibilizar quem está em boas condições de saúde a adotar hábitos de vida saudáveis e passar a checar periodicamente sua saúde. O site traz todas as ações da campanha e informa sobre os principais tipos de câncer e as medidas de prevenção e tratamento.

A iniciativa também celebra o terceiro aniversário de criação do Icesp, fundado no dia 6 de maio de 2009. É uma parceria do Instituto com a agência de publicidade África e o jornal Folha de São Paulo. E tem também apoio da Federação das Associações Comerciais do Estado (Facesp).

Mais notificações

Dados de 2010 do Instituto Nacional do Câncer (Inca), ligado ao Ministério da Saúde, estimam em 489,3 mil o números de casos confirmados da doença no Brasil. O levantamento também indicou que um terço dos casos ocorre em São Paulo, Estado mais populoso do País, com 42 milhões de habitantes, segundo o Censo IBGE 2010.

Para a médica Maria Del Pilar Estevez Diz, coordenadora de Oncologia Clínica do Icesp, fatores como o crescente aumento da população e da expectativa de vida no Brasil têm aumentado o número de notificações. Outras causas são a exposição direta e prolongada ao sol por grande parte da população e o maior acesso da população aos sistemas de saúde.

No mundo, o câncer de pulmão é o de maior incidência e está fortemente associado ao tabagismo. No Brasil, os tumores mais prevalentes nos homens foram os de próstata e de pulmão; nas mulheres, os de mama e de colo do útero. No restante da América Latina, as tendências seguem as nacionais.

O termo câncer designa genericamente mais de 100 doenças, incluindo tumores malignos de diferentes localizações. Na maioria dos casos a moléstia aparece a partir dos 50 anos. Para fazer a detecção precoce, a mulher deve consultar o ginecologista quando iniciar a vida sexual ou atingir 21 anos de idade. Já o homem, deve frequentar o urologista a partir dos 40 anos.


O câncer no Brasil – por região (estimativa dos casos novos)

Região Masculino Feminino Total
Norte 8.930 10.190 19.120
Nordeste 40.530 48.820 89.350
Centro-Oeste 14.960 15.380 30.340
Sul 52.090 50.390 102.480
Sudeste 119.730 128.250 247.980
BRASIL 236.240 253.030 489.270

* Números (1910) arredondados para 10 ou múltiplos de 10
Fonte: Inca


O câncer no Brasil – órgão afetado

Localização primária Norte Nordeste Centro-Oeste Sul Sudeste
Mama feminina 1.350 8.270 2.690 9.310 27.620
Traqueia, brônquio e pulmão 1.080 3.950 1.760 7.230 13.610
Estômago 1.300 4.280 1.270 4.090 10.560
Próstata 1.960 11.570 3.430 9.820 25.570
Colo do útero 1.820 5.050 1.410 3.110 7.040
Cólon e reto 620 3.040 1.580 6.150 16.720
Esôfago 260 1.530 580 3.040 5.220
Leucemias 560 2.070 650 1.790 4.510
Cavidade oral 410 2.810 800 2.510 7.590
Pele melanoma 180 540 250 2.020 2.940
Outras localizações 5.260 14.780 8.090 28.810 80.960
Subtotal 14.800 57.890 22.510 77.880 202.340
Pele não melanoma 4.320 31.460 7.830 24.600 45.640
TOTAL 19.120 89.350 30.340 102.480 247.980

* Números (1910) arredondados para 10 ou múltiplos de 10
Fonte: Inca

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 20/05/2011. (PDF)