Centrofauna da Unesp reintroduz animais silvestres na natureza

Objetivo é devolver ao meio ambiente espécies capturadas ilegalmente em residências e propriedades rurais

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) aprovou a criação do projeto Centrofauna, parceria entre a Universidade Estadual Paulista (Unesp) e a iniciativa privada. Trata-se de um centro de triagem, localizado em Botucatu, que faz a reintrodução na natureza de animais silvestres capturados ilegalmente em residências e propriedades rurais.

“Quando o Ibama e a polícia ambiental realizam apreensões, os animais são temporariamente encaminhados para os centros de triagem autorizados pelo órgão”, explica o professor e idealizador do projeto Nabor Veiga, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zoologia (FMVZ – Unesp Botucatu).

Centrofauna é uma referência nacional no serviço. Ao chegar na instituição, o bicho recebe a identificação taxonômica e a denominação científica da espécie. Se não for uma variedade nativa, não poderá ser reintroduzida na natureza. O destino dela é um guardião doméstico reconhecido pelo Ibama ou então o exemplar é remetido para seu país de origem.

Centrofauna na internet

FMVZ está criando um site para divulgação das espécies encontradas. O Centrofauna terá também um estúdio fotográfico para produzir imagens de animais não identificados e divulgá-las na internet. “Só de aves, que representam 92% das apreensões, existem 9.600 espécies no mundo. Contamos com o auxílio de instituições de pesquisas e observadores amadores de aves para identificar as espécies não catalogadas”, afirma. O processo de reconhecimento deverá durar, no máximo, 48 horas.

Anéis nas pernas

Depois da catalogação, o próximo passo é o transporte dos bichos, com pequenos anéis colocados nas pernas para identificação (anilhas) para o setor de manutenção. Nele existem dois tipos de viveiros, para exemplares selvagens e outro para os bastante mansos. A partir daí, eles têm três possíveis destinos: pesquisa científica, reintrodução na natureza ou guardião doméstico.

Reintrodução na natureza

Os exemplares com baixo grau de mansidão serão reintroduzidos na natureza. O setor de avaliação de habitats visita e avalia as propriedades rurais cujos donos manifestaram interesse na soltura. A exigência mínima é que a propriedade esteja inserida numa bacia hidrográfica. “É feita uma análise da água, flora e fauna”. A reintrodução é um processo complexo, que considera a disponibilidade do animal fazer ninho e se alimentar.

“A soltura exige o estudo ambiental. Como o proprietário manifestou interesse em receber esse animal, se não houver condições nós vamos explicar a causa. Caso haja problemas na água ou flora da propriedade, podemos propor que ele participe de projetos, como por exemplo de reflorestamento de matas ciliares que existem na Unesp de Botucatu. Explicaremos que, naquele momento é impossível fazer a introdução do animal mas, se a propriedade for cuidada, dentro de algum tempo será possível.”

Guardião doméstico

Os interessados em ser guardiães domésticos deverão procurar a prefeitura de Botucatu. A Secretaria Municipal do Meio Ambiente receberá os pedidos e os inscreverá o projeto. Estão aptos os cidadãos que queiram ter em casa um animal silvestre sem condições de retornar à natureza.

Os futuros guardiães serão treinados pelo setor de educação ambiental da FMVZ e os cursos serão ministrados nos fins de semana. “A pessoa que se prontificar a manter o animal receberá informações sobre profilaxia e alimentação.”

Quem quiser receber um animal precisa inicialmente construir um viveiro de acordo com as especificações do Centrofauna. Outra exigência é que o guardião doméstico estará obrigado a permitir inspeções das instalações e, quando o animal morrer, o guardião terá por obrigação devolver o cadáver do animal.

Biodiversidade

A atuação do Centrofauna é um exemplo de união entre instituições em busca de benefícios para a sociedade. Além da Unesp, Ibama, empresa Anidro, polícia ambiental e poder público municipal, o projeto também busca apoio do Poder Judiciário. Como a soltura dos animais só se dá mediante autorização judicial, os responsáveis pelo projeto estão fazendo um trabalho de conscientização junto a dez comarcas.

“Cada dia que o animal passa confinado nos viveiros representa uma situação de desconforto. Sabemos que as comarcas são sobrecarregadas, mas nós temos de sensibilizar promotores, juízes e funcionários, porque se trata de seres vivos”, afirma.

Nabor ressalta que além de zelar pela preservação da fauna nacional, o Centrofauna pode proporcionar novas possibilidades de atuação para os alunos nas áreas de etologia, ornitopatologia e identificação taxonômica. “Esperamos que os demais centros de triagem funcionem nesses moldes. O ganho é de toda a sociedade.”

Crime contra a fauna

As apreensões de animais silvestres são ocorrências policiais comuns. Por meio de denúncias anônimas ou blitz, os agentes chegam nas propriedades que têm animais para o comércio ilegal. Essas operações são mais frequentes do que a população imagina. Em termos de rentabilidade, depois do tráfico de armas e de drogas está o de animais silvestres, em terceiro lugar.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial e Assessoria de Imprensa da FMVZ Unesp

Reportagem publicada originalmente na página III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 19/03/2003. (PDF)

Agricultura inicia hoje campanha contra morte súbita de citros

Serão distribuídos folhetos orientando produtores sobre a doença que ataca pomares paulistas, mineiros e paranaenses, com prejuízos de US$ 20 mil

A Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento lança hoje, às 10 horas, no salão nobre da instituição, a campanha de orientação aos citricultores sobre a praga da Morte Súbita dos Citros (MSC). No encontro, serão distribuídos cartazes e folhetos informativos da doença, que está atacando os maiores Estados produtores da fruta no Brasil: São Paulo, Minas Gerais e Paraná contabilizam prejuízos da ordem de US$ 20 milhões.

O objetivo é orientar os produtores quanto à existência da doença, sintomas e procedimentos a serem adotados em caso de contaminação. Na oportunidade, dois mil técnicos treinados pela Coordenadoria de Assistência Técnica Integral iniciarão o treinamento.

Operação varredura

O mutirão contra a MSC conta também com três mil fiscais da defesa agropecuária comprometidos na varredura dos laranjais. A operação será feita em até seis meses nas áreas de maior risco de contágio nos pomares paulistas, mineiros e paranaenses. Ela será intensificada com pesquisas sobre o agente causador da doença, forma de diagnóstico precoce e controle.

A operação foi definida pela força-tarefa formada pelas Secretarias de Agricultura dos três Estados, Ministério da Agricultura, Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus) e representantes da cadeia produtiva. O grupo foi criado no Palácio dos Bandeirantes, no dia 7 de fevereiro.

Importância econômica

A laranja é um insumo de peso no agronegócio paulista e brasileiro. “São Paulo responde por 97% das exportações nacionais de suco, e os pomares do Estado têm 200 milhões de pés. Se o País detém 29% do total mundial, isoladamente produzimos 21%. De cada dez copos de suco de laranja consumidos no mundo, cinco são originários de pomares paulistas” explica Duarte Nogueira, secretário de Estado da Agricultura e Abastecimento.

São Paulo tem o maior parque cítrico do planeta. É o principal produtor e exportador, com 50% do mercado externo mundial. As plantações ocupam um área de mais de 650 mil hectares, em mais da metade dos 645 municípios paulistas.

A cadeia da laranja movimenta anualmente US$ 5 bilhões e gera 400 mil empregos diretos. No ranking do valor da produção agropecuária do Estado, a laranja detém a terceira posição, atrás somente da cana-de-açúcar e da carne bovina.

O que é a MSC

A MSC é uma doença de combinação copa/porta-enxerto que atinge somente as plantas enxertadas em limão-cravo (80% dos pomares paulistas) e seca a raiz da árvore. A ciência ainda não detectou qual é o agente causador do mal, que destrói o sistema radicular e, em alguns casos, pode matar a laranjeira em poucos dias. Daí o nome morte súbita.

A maior incidência está no sul de Minas Gerais, no Triângulo Mineiro, região onde 93% das plantas inspecionadas apresentam a praga. A infestação abrange os municípios de Uberlândia, Comendador Gomes, Frutal, Monte Alegre de Minas, Prata, Campo Florido e Planura.

De acordo com a Fundecitrus, São Paulo tem um milhão de plantas contaminadas, concentradas na região norte do Estado, nas cidades de Colômbia, Guaraci, Altair, Barretos e Olímpia.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página II do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 18/03/2003. (PDF)

Pesca reduz 50% da população do peixe-batata na costa do RJ até SC

Extração está superando a capacidade de recuperação da espécie

A pesca é a causa da redução em 50% da população do peixe-batata (Lopholatilus villarii). Essa é a confirmação do estudo feito pelo biólogo Antônio Olinto Ávila da Silva, do Instituto de Pesca, ligado à Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento. A pesquisa foi realizada entre 1995 e 1999 e analisou o trecho compreendido entre o norte do Rio de Janeiro (paralelo 22º) e o norte de Santa Catarina (28º).

Na pesquisa, foram mapeadas e catalogadas as espécies como o peixe-batata, que habitam a faixa entre 100 e 500 metros de profundidade. Ele integra uma categoria de alto valor comercial. É importante na cadeia alimentar marinha por estar presente em grande extensão no litoral brasileiro.

O estudo registrou também a evolução da pesca oceânica no País na década de 90. Deixou de ser artesanal para ser mecanizada. Profundidades de até 500 metros passaram a ser atingidas e a quantidade do pescado começou a decrescer progressivamente. Entre as décadas de 70 e 90, caiu 75%, de quatro mil para mil toneladas anuais. “A intensidade de extração está superando a capacidade de recuperação das populações”, observa Olinto.

Expedições de coleta

A atividade pesqueira impacta as espécies com ciclo de vida mais longo. O peixe-batata pode viver até 40 anos, porém não consegue atingir idades elevadas. “A primeira reprodução é tardia, pois só ocorre aos seis anos, fator que retarda a recomposição da população. E o hábitat da espécie é bem conhecido dos pescadores, tornando-o mais suscetível às capturas.”

O Instituto de Pesca realizou mais de 300 operações de coleta. Capturou, entre 1995 e 1997, 58 mil unidades de 43 espécies. O trabalho permitiu a análise do histórico da exploração pesqueira e a confecção de um mapa de atuação dos barcos de exploração comercial.

Olinto avalia que a fiscalização da pesca é falha e as licenças para a atividade são amplas. “É necessário rever os critérios de permissão, com a criação de restrições. O ideal é analisar a área de atuação da embarcação, o modo como a pesca se dá e a relação de espécies autorizadas para a captura.” Ele sugere a instalação de sistemas de rastreamento por satélite nos barcos da frota nacional, para permitir um monitoramento já obrigatório em embarcações estrangeiras arrendadas.

Harém de fêmeas

A recuperação da população do peixe-batata exige mais do que um período anual de proibição para a procriação da espécie, como é feito com camarões e sardinhas. “Faz-se necessário manter a estrutura etária da população e a proporção entre os sexos, além da disponibilidade de alimento.”

Estudos com o peixe-batata do Atlântico Norte (Lopholatilus chamaeleonticeps) mostraram que um macho adulto mantém um harém com várias fêmeas e tem um território delimitado. A sua captura desestrutura a organização social, que só será restaurada com a chegada de outro exemplar do sexo masculino.

A alternativa é criar áreas de pesca proibida. “Elas funcionariam como santuários ecológicos marinhos, onde as espécies poderiam se recompor. Essas mudanças são necessárias para garantir a existência das variedades e manter a atividade pesqueira, tornando-a economicamente interessante”, conclui.

Conheça o peixe-batata

O peixe-batata mede em média 1,2 metro e tem peso que varia entre 15 e 20 quilos. Embora seu nome seja desconhecido entre os consumidores, ele é bastante consumido em peixarias e restaurantes, que o servem como se fosse o namorado, espécie mais conhecida. De sabor excelente e carne clara, custa de R$ 4 a R$ 8 o quilo e é considerado, junto com o cherne, linguado e namorado, produtos de primeira linha.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial e Agência USP de Notícias

Reportagem publicada originalmente na página I do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 1º/03/2003. (PDF)