Ampliar possibilidades

Programa EJA Mundo do Trabalho alfabetiza e capacita profissionais para novos desafios do mercado, além de promover a inclusão

São Paulo é a 40ª cidade paulista a aderir ao programa Educação de Jovens e Adultos (EJA) – Mundo do Trabalho. Por meio da iniciativa, em outubro, 6 mil estudantes dos Centros Integrados de Educação de Jovens e Adultos (Ciejas), da rede pública municipal da capital, foram incorporados à modalidade de ensino.

Criado em 2011 pela Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia (SDECT), o EJA Mundo do Trabalho contempla o ciclo II do ensino fundamental da Educação de Jovens e Adultos. O programa é realizado em parceria com os municípios paulistas e atende 40 cidades.

Depois de assinado o termo de adesão, a prefeitura interessada fica responsável pelos recursos humanos, infraestrutura e logística necessários para execução. Já o Governo paulista, por intermédio da secretaria, fornece o material didático e capacita os professores.

Como aderir

Além da capital, as cidades atendidas são Aparecida, Araçariguama, Araraquara, Araras, Avaré, Barretos, Boituva, Botucatu, Cabreúva, Caçapava, Campo Limpo Paulista, Campos do Jordão, Caraguatatuba, Catanduva, Corumbataí, Cosmópolis, Francisco Morato, Guará, Ilha Bela, Ilha Solteira, Itatiba, Mairinque, Marabá Paulista, Mogi das Cruzes, Mongaguá, Morro Agudo, Morungaba, Nhandeara, Orlândia, Praia Grande, Rio Claro, São Carlos, São Roque, São Sebastião, Serrana, Sud Mennucci, Ubatuba, Valinhos e Vinhedo.

Para aderir, a secretaria municipal de educação interessada deve enviar ofício à SDECT. O modelo de documento de requisição está disponível no site do programa (ver serviço), que tem dotação de R$ 8 milhões.

O EJA Mundo do Trabalho está em fase de expansão – a produção do material didático será finalizada em agosto de 2013. No primeiro semestre de 2012, foi ministrado o 6º ano do ciclo II e, no segundo, o 7º ano. Já o 8º e o 9º ano do ensino fundamental da EJA serão concluídos no final do segundo semestre de 2013.

Material didático

O material didático é um dos trunfos do programa, cujo alicerce estrutural é o mundo do trabalho. A proposta primordial é atender a um público específico, mais adulto, formado na maioria por trabalhadores que precisaram deixar o estudo de lado em algum momento da vida. São profissionais dispostos a retomar a formação escolar por vontade própria ou para fazer frente ao aumento de exigências para permanência ou recolocação no mercado.

As apostilas são divididas em arte, ciências, geografia, história, inglês, língua portuguesa, matemática e trabalho. Os conteúdos são divididos em cadernos para o estudante, para o professor e vídeos.

Abordam temas ligados ao mercado de trabalho, como produzir um currículo, formas de seleção empregadas pelas empresas, origens da industrialização e das ocupações das regiões paulistas, organização sindical no Brasil, direitos trabalhistas, entre outros temas. Trazem também dados relativos ao mercado de trabalho e estratégias para empreender, de modo a valorizar o conhecimento acumulado pelo trabalho durante sua vida.

Todo o conjunto está disponível para download no site do programa, com exceção dos vídeos, cujo acesso é somente on-line. O material é produzido pela Fundação do Desenvolvimento Administrativo (Fundap) sob a supervisão da SDECT, com produção editorial da Fundação Vanzolini.

A Fundap também é responsável pela capacitação dos docentes e os prepara, em curso presencial de 40 horas, para trabalhar com a metodologia do programa. Cerca de 1,3 mil professores das redes municipais já participaram.


Inclusão social é a proposta do programa

Localizado na Vila Brasilândia, zona norte da capital, o Cieja Rose Mary Frasson tem 1,1 mil alunos matriculados e integra a lista de 11 dos 14 Centros Integrados de Educação de Jovens e Adultos (EJA) da capital, que foram incorporados ao programa EJA Mundo do Trabalho.

Neide Zamboni, coordenadora-geral, comanda o grupo de 26 professores e 15 profissionais da instituição. Segundo ela, embora recente, a adesão ao programa foi muito positiva.

“O material didático e a metodologia do programa reforçaram a inclusão social, proposta primordial dos Ciejas. O conteúdo das apostilas vai muito além dos limites da “decoreba” e complementa a atividade pedagógica tradicional. E tem viés multiplicador – muitos alunos optam por debater os temas propostos nas aulas com familiares e amigos da vizinhança”, observa.

Professora de artes aposentada da rede estadual, Neide comenta o caráter heterogêneo de seus alunos. Diz que não há histórico de bullying na instituição. Nas salas de aula do prédio de quatro andares, trabalhadores que nunca foram à escola dividem a atenção dos professores com idosos, cegos, pessoas com autismo, síndrome de Down, paralisia cerebral, adolescentes da Fundação Casa em liberdade assistida e até com estudantes que não se adaptaram ao ensino médio e fundamental tradicional.

Projeto Apoema

As aulas são ministradas em seis períodos de 2h15, divididos em duas turmas pela manhã, duas de tarde e duas de noite. Além da atividade regular, os alunos também participam do Apoema, projeto alternativo e exclusivo do Cieja da Vila Brasilândia, cujo nome de origem indígena significa: aquele que enxerga adiante.

Multidisciplinar, o Projeto Apoema estimula o estudante a centrar esforços em matemática e português, as duas disciplinas mais relevantes em muitas situações da sua vida. Ao mesmo tempo, o incentiva a revelar dons artísticos em quaisquer áreas, como música, artesanato, pintura, grafite. No final do semestre, o aluno tem de apresentar trabalho de conclusão de curso (TCC) dentro das atividades propostas.

O Projeto Apoema dá chance ao estudante para ficar mais tempo durante a semana com os professores e colegas com quem têm mais afinidade. No final de um semestre, todos os talentos do Cieja têm a oportunidade de se apresentar em um sarau com toda a comunidade escolar. O próximo será no dia 9 de dezembro, na Casa de Cultura Salvador Ligabue, no Largo da Matriz Nossa Senhora do Ó, 215, Freguesia do Ó, capital.

Serviço

Programa EJA Mundo do Trabalho

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 22/11/2012. (PDF)

O centésimo elemento

Produção interna de combustível nuclear atende ao principal reator atômico brasileiro para pesquisas e fabricação de radioisótopos

Setembro de 2012 foi um mês histórico para o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen). Na semana passada, a autarquia paulista associada à Universidade de São Paulo (USP) e gerenciada pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) comemorou 55 anos de criação. E celebrou também a entrega do centésimo elemento combustível fabricado internamente para o reator atômico IEA-R1m.

Projetado e construído pela empresa norte-americana Babcock & Wilcox, o reator opera de modo controlado a fissão (“quebra”) em cadeia dos núcleos dos átomos de urânio. Seu projeto integrou o programa Átomos Pela Paz, iniciativa dos Estados Unidos do período pós-Segunda Guerra Mundial, que incentivava outros países a aderir à tecnologia atômica com fins pacíficos. Por fim, foi incorporado ao Tratado Mundial de Não Proliferação de Armas Nucleares, em vigor desde 1970, e tem adesão atual de 189 países.

Aplicações médicas

Desde sua inauguração, o IEA-R1m é usado em duas missões básicas: a primeira é permitir pesquisas científicas na área nuclear. E a segunda é a produção de radioisótopos, a principal matéria-prima para a fabricação de radiofármacos. Estas substâncias são empregadas no diagnóstico e tratamento de doenças como o câncer e em outras áreas médicas como cardiologia e neurologia. E têm também aplicações em setores como agricultura e indústria.

Em suas quatro primeiras décadas de operação, o IEA-R1m trabalhou com potência máxima de 2 megawatt (MW). Entretanto, com o aumento da demanda por radiosótopos, em 1997 o reator nuclear teve sua potência máxima alterada para 5 MW. E desde então a rotina de utilização do equipamento foi ampliada para 120 horas semanais.

Salto tecnológico

Para Elita Carvalho, gerente do Centro do Combustível Nuclear (CCN) do Ipen, a produção do centésimo elemento representa a consolidação de trabalho iniciado em 1988 pelos 36 profissionais do instituto. Química de formação, a pesquisadora destaca o viés estratégico da decisão de enriquecer no Brasil o urânio, elemento base do combustível atômico. E mais o desenvolvimento de muitas linhas de pesquisa científica em assuntos afins.

O salto tecnológico do Ipen envolveu a formação de pessoal especializado e o domínio de diversas tecnologias químicas, metalúrgicas e cerâmicas. E mais a constituição de uma cadeia nacional de produção nuclear, inclusive com o tratamento de efluentes. Ao longo da evolução, Elita destacou o rigoroso controle de segurança em todos os processos envolvidos, de acordo com padrões internacionais de segurança.

Autossuficiência

Os elementos combustíveis utilizados pelo reator IEA-R1m são do tipo Materials Testing Reactor (MTR), formados pela montagem de um conjunto de placas combustíveis paralelas entre si, que permitem a passagem de um fluxo de água que serve como refrigerante e moderador.

Atualmente, o CCN produz, por ano, dez elementos combustível para o IEAR1m. Em média, cada um demora um mês para ser fabricado e sua vida útil, no reator, depende do número de horas em operação no sistema nuclear. Depois do uso, o material é estocado dentro da própria piscina do reator, em compartimento próprio.

Com a evolução dos serviços prestados, a expectativa do Ipen nos próximos anos é deixar de importar, do Canadá e da Argentina, matérias-primas como o tecnécio, usado para produzir radioisótopos. Na visão da pesquisadora Elita, os principais desafios atuais do Ipen são a gestão de pessoal e o aporte de recursos financeiros.

A meta futura é ampliar a produção e desenvolver combustíveis com maior densidade de urânio, para atender, por exemplo, o futuro Reator Multipropósito Brasileiro (RMB). O projeto conjunto com a Marinha também tem viés científico e segue em construção no Centro Experimental de Aramar, em Iperó, município próximo de Sorocaba.

A expectativa é passar a produzir 25 elementos combustível para o RMB, cujas operações estão previstas para ter início em 2018. A partir daí, explica Elita, será possível aumentar a capacidade e até dobrá-la. Quando essa meta for atingida, o Brasil será 100% autossuficiente na fabricação dos radioisótopos. E terá toda a cadeia produtiva nacionalizada, pois os minérios envolvidos na produção do combustível são extraídos de jazidas localizadas na Bahia e no Ceará.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 30/10/2012. (PDF)

Última chance – Hoje é o último dia para visitar a Feteps

Com entrada franca, feira na capital apresenta 288 projetos científicos e de inovação tecnológica de destaque produzidos nas Etecs e Fatecs

Ainda dá tempo de conhecer as novidades da 6ª Feira Tecnológica do Centro Paula Souza (Feteps). Iniciado dia 23, o evento com entrada franca termina hoje, às 16 horas, na Expo Barra Funda, na Rua Tagipuru 1.001, próximo da Estação Barra Funda do Metrô, na capital. Em 2012, a Fetesp reúne 288 projetos científicos, culturais, de serviços e mais experiências realizadas pelos alunos das Escolas Técnicas (Etecs) e Faculdades de Tecnologia (Fatecs) mantidas pelo Centro Paula Souza.

A Feteps também funciona como ponto de integração das instituições de educação profissional pública entre diversos Estados do País e de parceiros na América Latina. Serve também como vitrine para o meio científico e tecnológico atrair novos talentos para o meio acadêmico, considerando que a maioria do público é formada por estudantes.

No total, o visitante conhece 196 criações de Etecs e 52 de Fatecs. E mais oito destaques nas áreas de indústria, serviços, saúde, agroindústria, ciências, meio ambiente, informática, iniciativas sociais e arte. Os projetos mais promissores serão premiados hoje com tablets, iPods e troféus, como resultado de concurso interno promovido pelo Centro Paula Souza.

Uma novidade desta edição é a presença, no mesmo espaço, de 44 trabalhos da Feira Ibero-Americano de Ciência, Tecnologia e Inovação (Empírika). Realizado pela primeira vez em 2010, na Espanha, o evento, bienal e itinerante, foi criado como parte das comemorações do 8º centenário da Universidade de Salamanca.

Mobilidade e inclusão social

O veículo elétrico dedicado à locomoção de pessoas especiais, da Fatec de Mogi Mirim, é um dos destaques da Feteps. Criado no primeiro semestre do ano, o protótipo envolveu o trabalho de 15 alunos do curso de Projetos Mecânicos e de dois docentes. Um deles, o professor Marcelo Caetano, ex-aluno da faculdade, orientou e acompanhou o uso de materiais nos laboratórios, em etapas como pintura e produção dos componentes da estrutura do carro.

Bancado com recursos próprios dos alunos, o veículo foi projetado para ser usado por paraplégicos, tetraplégicos e amputados dos membros inferiores. Funciona por comando de voz ou alavanca de comando (joystick) e foi programado para atingir velocidade máxima de 20 quilômetros por hora.

Ricardo Fujihira, um dos alunos no estande, observou que a proposta principal é favorecer o traslado do portador de deficiência. Segundo ele, se alguma empresa se interessar, a produção do veículo é viável, com ajustes de ergonomia e estrutura. “Os principais desafios foram superados – incluíram programar o software de comando e mais projetar, construir e fazer o veículo rodar com segurança”, observou.

Telhado verde

Guilherme Pinto é ex-aluno da Etec João Belarmino, de Amparo. Formado em julho de 2012, aplicou grande parte do que aprendeu no curso de Edificações em seu projeto pessoal: a construção de sua casa com telhado verde. Na 6ª Feteps, o público pode aprender com ele sobre sua experiência e também conferir um vídeo que mostra todas as etapas da construção da residência dele – desde a elaboração do projeto passando pela preparação da base de sustentação da estrutura.

Trocar a telha de barro por um gramado evita a emissão de gás carbônico para queimar o material e pode reduzir em até 40% o custo da cobertura da casa. Guilherme conta que o teto verde pode ser adotado em construção de todos os portes e se mostra bastante viável em moradia popular.

Além da economia de energia e do conforto térmico proporcionado, há ainda mais vantagens, como a resistência à umidade, à exposição solar e ao clima seco, além do baixo custo de manutenção, que deve ser semestral e feita pelo próprio morador.

Guilherme conta que o segredo do telhado verde é considerar todas as questões envolvidas ainda na fase do projeto. A ideia é contemplar aspectos como a escolha da melhor espécie de vegetal para ser usado no “jardim” do teto, passando por cuidados de impermeabilização da base e da construção do sistema de drenagem para evitar infiltrações e funcionamento correto das calhas. “Depois de pronto, o principal trabalho é arrancar as espécies invasoras do canteiro”, diz sorrindo para o público.

Ciência em notícia

Na Empírika 2012, evento paralelo à Feteps, um dos destaques brasileiros é o estande do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Unicamp. A dupla de pesquisadoras Ana Paula Morales e Germana Barata, responsáveis pelo espaço, explica que a proposta é apresentar para o público, de modo resumido, o trabalho do Labjor.

Assim, estimular o visitante a refletir sobre a divulgação da ciência e da tecnologia de maneira diferente e multidimensional, muito além do apresentado pela mídia. Quem quiser, pode aprender no estande a produzir notícia científica em uma oficina exclusiva. Nesse processo, a ideia é aprender a estruturar uma notícia de modo que o debate de um tema contemple muitas das áreas do conhecimento envolvidas.


Mais energias, menos impurezas

Disposta a tornar mais econômico o processo industrial de usinas, a equipe de alunos comandada pelo professor Marcelo Armoa, do curso de Biocombustíveis da Fatec Jaboticabal, criou um filtro de material cerâmico para retirar impurezas do caldo de cana após a moagem. De baixo custo, o dispositivo aumenta o potencial energético do composto e dispensa o uso de produtos químicos para clareá-lo.

O protótipo do filtro foi desenvolvido para atuar na primeira etapa do processo industrial, mas também favorece as posteriores. O conceito de “qualificar” o caldo permite usar menos água na fase seguinte do processo. E ainda torna mais eficiente o trabalho da caldeira permitindo gerar excedentes maiores de energia elétrica no processo global da usina.

O professor Marcelo informa que recebeu contatos de empresas para usar o produto e que pretende patenteá-lo em breve. A novidade atraiu a atenção da estudante Carolina Fátima, da Etec Santos Dumont, do Guarujá. Cursando o 3º ano do ensino médio, conta ter apresentado trabalho na área de biocombustíveis na Feteps 2011. E informa que pretende trabalhar na área petroquímica depois de formada. “A meta é aproveitar uma das muitas oportunidades de emprego que surgirão a partir da exploração das jazidas de petróleo e pré-sal na Baixada Santista”, revelou.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página II do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 25/10/2012. (PDF)