TV Cultura e Programa Acessa Escola são destaques da Campus Party 2009

Público tem até domingo para conhecer na capital as mais recentes novidades em tecnologia da informação e entretenimento digital

O governo do Estado de São Paulo está participando da Campus Party com os estandes da TV Cultura e do Programa Acessa Escola. O local escolhido para abrigar a feira internacional de informática em 2009 foi o Centro de Convenções Imigrantes, na zona sul da capital. O público tem até domingo (25) para conhecer as mais recentes novidades em tecnologia da informação e entretenimento digital.

Realizada no Brasil pela segunda vez, a Campus Party é uma feira anual, criada na Espanha em 1997. Após 12 edições, o evento transformou-se no principal ponto de encontro das comunidades on-line do mundo. Desde o ano passado, tem o apoio institucional do governo paulista.

O estande da TV Cultura é um dos maiores do evento, com 500 metros quadrados. Conta com 50 funcionários, sete equipes de jornalismo, quatro ilhas de edição e uma estação de rádio. No centro da instalação, a emissora montou cabine para transmitir ao vivo pela Internet, rádio e TV os principais destaques e curiosidades da Campus Party.

Uma das atrações é a IPTV Cultura, espécie de YouTube com vídeos produzidos pela emissora durante o evento. Traz reportagens, entrevistas com visitantes e debates. Quem acessa a página na web pode votar nos vídeos preferidos, deixar comentários e também blogar (publicar textos e fotos). O endereço eletrônico é www.iptvcultura.com.br e todos os serviços oferecidos são gratuitos.

Conteúdo colaborativo

Ricardo Mucci, coordenador do Núcleo de Novas Mídias da Fundação Padre Anchieta, explica que o trabalho no estande segue o modelo da produção colaborativa (wiki) de conteúdo. E os parceiros da TV Cultura no estande são o Sesc SP, a USP e a Universidade Metodista, que ajudam a produzir e a difundir as informações.

A concepção do estande segue o conceito de convergência de mídias (TV, rádio e internet) no jornalismo. É um novo modo de cobrir eventos, já adotado nas Olimpíadas de Pequim e na posse do novo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, por grandes emissoras internacionais, como a norte-americana CNN e a britânica BBC.

“Oferecemos 12 horas de notícias da Campus Party diariamente. É um trabalho complexo, realizado fora dos estúdios da emissora, que envolve jornalistas, cinegrafistas, designers, programadores e demais produtores. A equipe grava, edita e prepara o conteúdo para as três plataformas”, explica Ricardo.

Poupatempo Digital

O estande da emissora também apresenta dois projetos voltados para a TV Digital e desenvolvidos em parceria com o Laboratório de Sistemas Integráveis (LSI) da Escola Politécnica da USP. Um dos destaques é o Poupatempo Digital, parceria dos pesquisadores com a administração estadual para a área de governo eletrônico.

Segundo o professor Marcelo Zuffo, coordenador de Meios Eletrônicos Interativos do LSI, a meta do Poupatempo Digital é permitir ao telespectador usar o televisor para solicitar documentos e atestados. O eletrodoméstico está presente em mais de 90% dos lares brasileiros, e com o controle remoto o usuário navega e faz escolhas em menus apresentados na tela.

“Queremos aproximar os serviços públicos do cidadão, sem que ele precise sair de casa”, informa Marcelo. “O LSI também está em contato com a Imprensa Oficial, autoridade certificadora oficial do Estado de São Paulo. O objetivo é atestar a autenticidade dos documentos expedidos a partir do televisor”, esclarece Zuffo.

Outro projeto é o HD3D, iniciativa pioneira que oferecerá visualização de conteúdo tridimensional em alta definição pela TV aberta brasileira. No telespectador o efeito 3D é obtido utilizando-se óculos especiais já em desenvolvimento no LSI. A transmissão é semelhante à empregada pelos canais digitais. “Os dois projetos estão em desenvolvimento e a expectativa é termos novidades até o final do ano”, prevê Zuffo.

Acessa Escola

A rede pública estadual está representada com dois ambientes na Campus Party 2009. O primeiro é uma lan house com acesso gratuito para o público. O espaço reproduz as instalações das salas oferecidas no Programa Acessa Escola, projeto criado em setembro de 2008 pela Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE).

O segundo ambiente é um centro de capacitação e reciclagem de conhecimento exclusivo para os 2,1 mil alunos monitores do programa. Esta iniciativa atende 500 escolas na capital e a previsão da FDE é estendê-la até o final de 2010 para as outras unidades de ensino em território paulista.

Em cada unidade de ensino, o serviço é gerenciado por um grupo de seis alunos estagiários (monitores) do ensino médio, selecionados por concurso da Fundap. A jornada de trabalho é de quatro horas diárias durante o período letivo e o grupo se reveza na atividade. Todos trabalham em horário diferente ao da matrícula pelo período de um ano, podendo ser prorrogado por mais um.

Na média, cada sala dispõe de 15 a 20 computadores novos, adquiridos no final do ano passado. Ligadas em rede, oferecem banda larga e aplicativos de escritório. Diferente do Programa Acessa São Paulo, o Acessa Escola é para uso exclusivo dos alunos e professores do estabelecimento de ensino.

Cada acesso dá direito a usar o equipamento por 30 minutos, sempre fora do horário de aula. A sessão pode ser estendida sem limites, desde que ninguém esteja esperando para usar o computador. O tempo de uso é gerenciado pelo Blue Control, aplicativo desenvolvido sob medida para o Acessa Escola.

Elaine Lima, uma das responsáveis pelo programa, explica que a FDE levará a cada dia 600 alunos estagiários para a Campus Party. “O Acessa Escola favorece a inclusão digital e incentiva o protagonismo do aluno para ficar mais tempo na escola”, conclui.


Campus Party – oportunidades

A estudante Juliana Silva discorda do chavão de que tecnologia é território masculino por excelência. Pela manhã, estuda na Escola Estadual Heróis da FEB. Das 16 às 20 horas é monitora do Programa Acessa Escola na EE Maria Montessori, ambas localizadas na Vila Maria, zona norte da capital.

A garota aprovou a ida à feira da Campus Party. Para ela, foi uma oportunidade única de ampliar seus conhecimentos e trocar experiências com outros monitores. “Mesmo tendo feito cursos de informática, está difícil conseguir uma vaga por não ter experiência. Agora, minhas classificações aumentaram e, de quebra, as chances no mercado de trabalho”, acredita Juliana.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 23/01/2009. (PDF)

Moderna tecnologia revoluciona exame para medir a pressão intracraniana

Fapesp investe R$ 500 mil para produzir o monitor em escala comercial; aparelho estará disponível no mercado brasileiro em 2010

A equipe de pesquisadores coordenada pelo professor Sérgio Mascarenhas, diretor do Instituto de Estudos Avançados da USP de São Carlos, criou aparelho não-invasivo para medir a pressão intracraniana tanto de pessoas como de animais. Já patenteado, o equipamento facilita exames em portadores de hidrocefalia e em vítimas de traumas cranioencefálicos (batidas na cabeça).

Batizado de Monitor de Pressão Intracraniana, o dispositivo de uso médico foi desenvolvido nas unidades da USP de São Carlos, Ribeirão Preto e Universidade Federal de São Carlos. É uma criação do professor Sérgio em conjunto com os doutorandos Wilson Seluque (bioengenheiro) e Gustavo Frigieri (farmacêutico-bioquímico), também alunos das instituições.

A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) investiu R$ 500 mil para a empresa Sapra Assessoria, de São Carlos, produzir o monitor em escala comercial. O equipamento chegará ao mercado brasileiro em 2010 e poderá ser exportado para Europa e Estados Unidos assim que obtenha patentes nestas localidades.

Tecnologia sem fio

No exame convencional, o médico faz um orifício de cinco centímetros de profundidade na cabeça do paciente para medir a pressão. Com o novo monitor o exame não é invasivo e diminui o trauma cirúrgico, a dor e o risco de infecções e outras complicações médicas.

O equipamento recebe as informações enviadas por um sensor colocado na pele da cabeça do paciente. O referido chip embutido mede o valor da pressão interna no cérebro e transmite, sem fios, a informação para um receptor conectado a um computador. O monitor analisa o volume do líquor (líquido cefalorraquidiano), substância que reveste e protege o sistema nervoso central contra choques. E também considera a concentração de sangue e a massa cerebral, outros fatores de risco.

Uso doméstico

O segredo por trás dessa moderna medição é um sensor de deformação de dimensões no interior do chip. A inspiração veio de aparelhos de engenharia usados para monitorar a presença de rachaduras em paredes e lajes em construções.

Fácil de operar para o médico, o monitor também pode ser usado por enfermeiros e equipes de resgate. A ideia é, no futuro, possibilitar o uso doméstico do aparelho e prestar socorro rápido em caso de elevação da pressão intracraniana: o valor normal é entre 10 e 15 milímetros de mercúrio; valores entre 20 e 30 são perigosos e acima de 30 podem levar a pessoa à morte.

A expectativa inicial é utilizar o monitor em exames de acompanhamento em portadores de doenças crônicas, como a hidrocefalia, e pacientes com risco de aumento na pressão intracraniana – hemorragias, edemas, tumores e infecções.

Outro uso é acelerar diagnósticos em vítimas do trânsito com pancadas na cabeça e região cervical, como motociclistas e pedestres atropelados. A tecnologia inédita no País trará, ainda, economia para o Sistema Único de Saúde (SUS), pois o custo do sensor subcutâneo é de R$ 300, ao passo que o exame tradicional sai por R$ 2,5 mil.


O paciente inventor

Em 2005, o professor e criador do Monitor de Pressão Intracraniana, Sérgio Mascarenhas, começou a sentir tonturas e dificuldade para caminhar. Tinha 77 anos e recebeu diagnóstico de mal de Parkinson. No entanto, por não reagir ao tratamento e com risco de morte, foi aconselhado a consultar-se com o neurorradiologista Antônio Carlos dos Santos, seu ex-aluno e docente da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto.

Um exame de ressonância nuclear magnética ajudou o especialista a dar o diagnóstico correto da doença: hidrocefalia. Então, recomendou ao paciente cirurgia e controle da pressão intracraniana pelo sistema de válvula e cânula.

Realizado esse procedimento (cirurgia para implantar dreno na cabeça) passou a conviver com um reservatório no abdômen para desviar o excesso de líquor existente no crânio.

Durante a convalescença, Sérgio participou da festa de aniversário de um de seus netos. Ao observar um convidado enchendo uma bexiga (balão de borracha), associou o crescimento do volume do brinquedo à expansão do cérebro de um portador de hidrocefalia. No retorno ao trabalho, refez no laboratório a brincadeira e colocou a bexiga dentro de um crânio humano.

Os passos seguintes eram encontrar meios para monitorar a pressão interna da bexiga sem perfurar o crânio e depois desenvolver o equipamento. Aí entraram em cena seus doutorandos.

“A finalidade do equipamento é aliviar o sofrimento do doente crônico, que precisa fazer exames periódicos. Antes de desenvolver a doença, nunca tinha pesquisado o assunto. Mas como a missão de todo professor universitário é passar adiante o bastão do conhecimento para a próxima geração, fiz a minha parte”, comemora Sérgio exibindo o monitor desenvolvido por ele e seus doutorandos.


Salvo pelo amigo

Nos anos 1960, o professor Sérgio Mascarenhas coordenava pesquisas nas áreas de Biofísica Molecular e Física Médica no Instituto de Física de Trieste, no nordeste da Itália. Foi para lá a convite de um amigo, o prêmio Nobel paquistanês e Físico Teórico Abdus Salam, um dos primeiros a incentivar pesquisas científicas de alto nível em nações pobres e a formar recursos humanos com esta finalidade nos países em desenvolvimento.

Um dia, Sérgio convidou o jovem médico Antônio Carlos dos Santos (formado pela USP de Ribeirão Preto) para estagiar em Trieste. Neurorradiologista, Santos queria conhecer a tecnologia da ressonância nuclear magnética (na época só disponível no exterior) e também passar a operar o aparelho usado nos exames, que não havia no Brasil e custava US$ 1,5 milhão.

Sérgio conseguiu a inscrição do médico no curso de Física Médica, do qual era diretor em Trieste. No entanto, jamais imaginou que um dia seria salvo por esse mesmo jovem.


Sintomas da hidrocefalia

Em crianças pequenas o aumento da pressão intracraniana provoca irritabilidade, amplia o tamanho do crânio, choro fácil e recusa de alimentação. Em crianças um pouco maiores e em adultos causa dor de cabeça, alterações visuais, náuseas e vômitos. Todos os sintomas são comuns em portadores de hidrocefalia – doença que pode ocorrer em qualquer fase da vida do paciente, porém com maior incidência em recém-nascidos e lactentes.

A hidrocefalia é causada pelo acúmulo de líquor no interior da cavidade craniana. Não tem cura e o tratamento requer acompanhamento periódico da pressão e cirurgia, que consiste em instalar um tubo fino (cânula) com uma válvula em sua extremidade no interior do cérebro do paciente.

Então, a cânula começa a eliminar o excesso do líquor através de um duto subcutâneo que passa pelo pescoço e leva à cavidade abdominal, onde é metabolizado.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 18/11/2008. (PDF)

Medicamento usa dose menor e age no tempo certo com menos efeito colateral

Centro paulista da Fapesp lidera pesquisa brasileira com nanotecnologia; novidade promete revolucionar indústrias de fármacos, cosméticos e bioquímica

O Centro Multidisciplinar para o Desenvolvimento de Materiais Cerâmicos (CMDMC), um dos programas de excelência da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), pesquisa desde 2005 meios para facilitar a liberação no corpo humano, no tempo correto, de princípios ativos de medicamentos. O controle é feito por meio das micro e nanopartículas e a novidade promete revolucionar as indústrias de fármacos, cosméticos e bioquímica.

Os responsáveis pelo estudo são os pesquisadores Márcio Santos, Carla Riccardi e Paulo Bueno. Nas experiências, eles se preocupam em respeitar a formulação do medicamento, as características individuais dos pacientes (sexo, peso e altura) e com a diminuição dos efeitos colaterais e infecções oportunistas.

Com o avanço da pesquisa em nanotecnologia, a expectativa é ter no futuro remédios mais eficientes, capazes de encontrar e atuar diretamente sobre o ponto do organismo afetado, sem comprometer outras funções.

“O material nano reveste o fármaco e direciona e facilita sua absorção em um ponto específico do organismo ou de um grupo de células. Assim, diminui o tempo de tratamento clínico e as dosagens dos medicamentos”, explica Carla.

Mais barato

No Brasil, o Centro Multidisciplinar lidera os estudos com nanotecnologia: pesquisa novos produtos e processos e desenvolve internamente equipamentos usados em seu trabalho. O exemplo mais recente é o sistema hidrotermal de microondas, utilizado para processar compostos orgânicos.

Em vez de comprar um aparelho convencional por R$ 70 mil, os pesquisadores Diogo Volante e Mário Moreira criaram um próprio, por R$ 5 mil, a partir de um forno de microondas caseiro. Essa solução foi vantajosa: conseguiu reduzir de 72 horas para dez minutos o tempo de processamento das partículas.

A função do sistema hidrotermal é reunir as melhores condições de temperatura e pressão. E a inovação do CMDMC foi combinar a energia das microondas com a rotação das partículas e das reações ligadas à pressão e à energia mecânica e térmica.

O equipamento oferece também aplicações para a indústria cerâmica, de materiais odontológicos, automobilística, eletroeletrônica, de móveis, tintas e de células de captação de energia solar.

Pigmento cerâmico

A Icra, empresa de produtos para cerâmica de Mogi Guaçu, está testando o sistema hidrotermal para produzir pigmentos usados para colorir corantes, abrasivos cerâmicos, caixas refratárias, aditivos cerâmicos e tintas serigráficas.

Segundo Wilson Silva Junior, diretor da Icra, o sistema do CMDMC permite obter diferentes propriedades dos pigmentos por oxidar as substâncias em baixas temperaturas. Ainda em teste, o novo método promete complementar o convencional, que opera a partir de 1,2 mil graus.

O pigmento cerâmico é um tipo de pó produzido com compostos inorgânicos, estáveis em relação à cor, quando dissolvidos em vidros ou em esmaltes, a alta temperatura. Controlado e aplicado em cerâmica de revestimento, vidreira, vermelha, louça e metalúrgica em geral.


Nanotecnologia, uma viagem científica

De origem grega, a palavra nano significa anão e representa valores na escala milionésima, no nível dos átomos e moléculas. Dessa forma, a palavra nanotecnologia compreende a teoria geral e o estudo sistemático sobre técnicas, processos, métodos, meios e instrumentos para atingir a finalidade de mudar as propriedades dos compostos.

As partículas nano somente são visíveis em microscópios de alta definição e resolução, com capacidade de aumento superior a 800 mil vezes. O Centro Multidisciplinar para o Desenvolvimento de Materiais Cerâmicos (CMDMC) dispõe de um equipamento do tipo, avaliado em R$ 900 mil – um dos únicos do País.

Anderson Moriel Mattos e Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 30/10/2008. (PDF)