São Paulo dobra oferta de vagas no ensino médio e técnico desde 2006

Oferta paulista de vagas supera a de todos outros Estados brasileiros; orçamento do setor ultrapassou R$ 1 bilhão em 2009

Nos últimos três anos cresceu em mais de 100% a oferta de vagas para o ensino médio e técnico profissionalizante oferecida em todo o Estado pelo Centro Paula Souza, da Secretaria Estadual do Desenvolvimento. Desde 2007, o governo paulista triplicou os recursos investidos no setor – em 2009, o orçamento ultrapassou R$ 1 bilhão – e a quantidade de vagas saltou de 25,5 mil no segundo semestre de 2006 para 82,3 mil no mesmo período de 2010.

O número de matriculados nas Etecs (Escola Técnica Estadual) também cresceu. Saltou de 96,4 mil no segundo semestre de 2006 para 154,6 mil no segundo semestre de 2009. Hoje, as 179 unidades estão distribuídas em 132 dos 645 municípios paulistas e oferecem 86 opções de cursos em todas as áreas do conhecimento. A lista completa está disponível no site do Centro Paula Souza e a duração de cada curso varia entre um ano e meio e dois anos. Todas as disciplinas são semestrais.

As Etecs ministram ensino médio e técnico, que pode ser feito simultaneamente a partir do segundo ano do ensino médio ou após a conclusão deste ciclo. Para estudar em escola técnica, o interessado precisa ter ensino fundamental completo e passar no Vestibulinho – processo seletivo realizado todos os semestres. A maioria dos cursos é oferecida no período noturno, para permitir aos alunos trabalhar.

De olho no mercado

De acordo com o professor Almério Araújo, coordenador de ensino médio e técnico do Centro Paula Souza, a oferta paulista de cursos técnicos supera a de todos outros Estados brasileiros. A principal função deles é formar rápido profissionais para atender à economia do Estado, de perfil dinâmico e diversificado.

Muitos cursos são vinculados aos Arranjos Produtivos Locais (APLs), como por exemplo, em Franca, cidade ligada à produção de sapatos e seu curso correspondente para formar técnicos em calçados.

O professor Almério Araújo prevê que, num futuro próximo, São Paulo poderá universalizar o ensino técnico em todas as suas regiões. Para atingir esta meta, será preciso dobrar o atual volume de 300 mil matrículas e perfazer 30% do total de todas as vagas oferecidas para o ensino médio na rede pública e privada.

Mais emprego

Uma das estratégias adotadas pelo Centro Paula Souza é recapacitar professores, ao término de cada semestre, com diversas atividades. Outra é revisar constantemente os currículos dos cursos técnicos para sempre mantê-los próximos das necessidades do mercado de trabalho. De acordo com o Sistema de Avaliação Institucional (SAI) de 2008 e 2009, 77% dos ex-alunos conseguem inserção profissional um ano após tirar o diploma.

“Na prática, o diploma do curso técnico acaba sendo um antídoto contra o desemprego, em especial para a população na faixa etária de 16 a 25 anos, a mais exposta ao problema no Brasil e de quem é cobrada experiência profissional”, explica o professor Almério. “Outro fator a ser considerado é a maior demanda do mercado de trabalho por técnicos do que por profissionais de nível superior”, analisa.

Escola da vida

“Problemas de indisciplina são raros nas Etecs. A maioria dos alunos tem origem humilde, estudou em escola pública e vêm de família cuja renda não ultrapassa cinco salários mínimos. São, porém, jovens exigentes, necessitados de trabalhar desde a adolescência. E o curso técnico acaba por abrir portas na carreira profissional”, avalia o professor Almério.

Por preparar o estudante para trabalhar em qualquer atividade econômica, o curso de Administração é oferecido em todas as Etecs. De perfil generalista, o currículo inclui noções de Marketing, Direito, Gestão Empresarial, Economia, Inglês e Informática, e capacita o aluno a trabalhar em qualquer área, até mesmo em pequenos municípios com poucas opções de emprego.

A formação contempla ocupações tradicionais como comércio, hotelaria e bancos, e também empresas de pequeno, médio e grande portes, como usinas de cana e fabricantes de carros e aviões.


Antes cadeia, hoje Etec

A Escola Técnica (Etec) Parque da Juventude foi criada em março de 2007, após a implosão do presídio do Carandiru. Localizada na zona norte da capital, próxima à estação do Metrô e vizinha do Parque público de mesmo nome, a unidade oferece 1,5 mil vagas: 600 para o ensino médio e 900 distribuídas em cinco cursos técnicos e três de educação a distância (Telecurso TEC).

A professora Márcia Loduca é diretora da Etec Parque da Juventude desde a fundação. A escola dispõe de serviços especiais, como um posto do programa Acessa São Paulo, de internet gratuita para a população, instalado nas suas dependências. E ainda dois ambientes conhecidos como Estação do Conhecimento.

Tratam-se de laboratórios multimídia doados pela Fundação Volkswagen que servem como extensão da sala da aula e também ponto de encontro dos estudantes na hora do intervalo. O espaço possui área de estudos com mesas e cadeiras e acomodações de lazer – sofá, pufes e coleções de livros, DVDs, revistas e equipamentos para pesquisa.

A diretora Márcia não poupa elogios aos alunos e sublinha a dedicação de funcionários e corpo docente como diferencial das Etecs. Ela lembra que professores são contratados pelo regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), mas, além disso, para integrar o quadro da instituição, o candidato passa por concurso público com prova oral e escrita. E para ser efetivado, precisa também ser aprovado pelos futuros colegas.

“O ensino técnico teve início na década de 1930 e surgiu com a proposta inicial de atender aos filhos de trabalhadores. Era uma opção secundária de instrução, para quem não fosse proveniente da elite. Hoje, transformou-se em sinônimo de qualidade e dá chance para alunos e professores explorarem todas suas potencialidades”, afirma Márcia.

Dedicação integral

O aluno Janarelli Cunha, 17 anos, mora na Vila Madalena, zona oeste da capital, e há três anos passa a maior parte de seu tempo na Etec Parque da Juventude. De manhã, das 8 às 12h30, cursa o ensino médio, e à tarde, das 13 horas às 17h30, faz curso de Técnico em Administração. É aluno da primeira turma nos dois cursos em que está matriculado e no final do ano prestará vestibular para a faculdade de Administração.

Embora resida em local próximo de duas outras Etecs, Janarelli diz não trocar a Parque da Juventude por nenhuma instituição de ensino particular ou pública. Valoriza, segundo ele, a qualidade do ensino e a solidariedade existente entre professores e estudantes de diferentes séries. Lembra também que pratica esportes no Parque vizinho desde a sua criação e hoje tem a satisfação de estudar na escola com muitos ex-colegas de cursinho.

Sonho realizado

Sara de Oliveira, 32 anos, é caloura do curso de Enfermagem e mãe de dois filhos, de 12 e 13 anos. Quando engravidou do primeiro, só havia concluído o ensino fundamental e abandonou o estudo para trabalhar com produção de moda, na área de crochê. Ela nasceu e sempre morou no Laranjeiras, bairro da zona leste da capital.

Apoiada pelos filhos, há dois anos terminou o supletivo e estudou com afinco para o vestibulinho da Etec. O esforço compensou e ela conseguiu ser aprovada já na primeira tentativa. “Esta é minha primeira semana de aula e já consegui realizar parte do meu sonho de infância. O próximo passo agora é terminar o técnico e prestar novo concurso. Desejo trabalhar no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), no resgate de vítimas”, diz orgulhosa.


Matrículas nas Etecs
2º Semestre de 2006 72.831
1º Semestre de 2007 77.360
2º Semestre de 2007 77.991
1º Semestre de 2008 87.918
2º Semestre de 2008 92.787
1º Semestre de 2009 103.212
2º Semestre de 2009 115.529

Fonte: Grupo de Comunicação do Centro Paula Souza


Evolução das unidades
Ano Etec
2006 126
2007 138
2008 151
2009 179
2010 (previsão) 203

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 02/03/2010. (PDF)

Fapesp apoia empresa pioneira na criação de robôs para área educacional

Sediada em São Carlos, Xbot lança o primeiro kit direcionado para educação e pesquisa do ensino técnico, graduação e pós

Criar robôs para ajudar na formação de jovens cientistas. Esta é a proposta da Xbot, a primeira fabricante nacional de robôs móveis para a área educacional e de pesquisa. Sediada em São Carlos e criada por ex-alunos da Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual Paulista (Unesp) e Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), a empresa já recebeu R$ 300 mil do programa de Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) desde a sua criação, em 2007.

A Xbot oferece robôs para educação e pesquisa (três modelos) e entretenimento (duas opções). A linha de produtos inclui o Curumim, direcionado ao ensino médio, e o RoboDeck, lançado em 2010 e dirigido para escolas técnicas e universidades (graduação e pós).

A proposta pedagógica do equipamento é permitir ao aluno pôr em prática conceitos ensinados na sala de aula, em Matemática, Química, Física e Biologia, e ainda ser programado para executar qualquer tarefa que possibilite interatividade com o conhecimento adquirido.

Missões

O RoboDeck é elétrico (funciona com baterias recarregáveis), tem tração traseira e se desloca por todas as direções. Pode ser programado para operar de modo autônomo ou ser controlado por notebook ou telefone celular. Vem equipado com sensores digitais e analógicos (GPS, bússola, acelerômetro e temperatura), saídas USB e bluetooth, e acessa a internet a partir de conexão 3G ou wi-fi (sem fios, com roteador).

Equipado com placa-mãe semelhante à usada nos computadores de mesa e notebooks, o RoboDeck usa sistema operacional de código-fonte aberto (Linux). Vem pré-programado e possui módulos opcionais como visão, autodesempenho e garra portátil para pegar objetos. E todos os seus programas podem ser alterados de acordo com a necessidade do professor ou pesquisador, e novas tarefas podem ser acrescentadas.

O RoboDeck executa tarefas simples, como recolher objetos embaixo de uma mesa, e complexas, como detectar e desviar de obstáculos, perseguir outros equipamentos e coletar objetos a partir de técnicas de inteligência artificial. Seu principal atrativo é se integrar a outros dispositivos, tais como câmera digital (para identificar terrenos e enviar imagens em tempo real), braços robóticos, língua eletrônica (sensor capaz de identificar sabores) e sonares.


Não é brinquedo

De acordo com Antônio Valério Netto, diretor de tecnologia da Cientistas Associados, em São Carlos, os robôs da Xbot não são brinquedos ou kits educativos. Trata-se de ferramentas para aprimorar e acelerar a curva de aprendizado técnico dos alunos. Porém, seu aspecto lúdico favorece o aprendizado multidisciplinar de diversos conceitos científicos e estimula o trabalho em equipe.

“As possibilidades de uso são infinitas. O único limite é a criatividade e a disposição dos envolvidos em sempre aprender mais”, destaca.

Os criadores dos robôs e proprietários da Xbot são formados nas áreas de Computação, Engenharia Elétrica e Mecatrônica e Física. Segundo eles, o RoboDeck é uma ferramenta de aprendizado de perfil multidisciplinar, ultrapassa os limites das disciplinas de programação e lógica.

Seis pedidos do produto já foram feitos e as primeiras unidades serão entregues em março. Os compradores são a Universidade Estadual de Londrina (UEL), Universidade de Caxias do Sul (UCS), PUC-RS, as federais de Campina Grande (UFCG) e Amazonas (Ufam) e a Universidade do Oeste Paulista (Unoeste). Mais informações podem ser obtidas no site.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 13/02/2010. (PDF)

Tecnologia sustentável irá alimentar faróis e painéis em ruas e rodovias

Unesp pesquisa material capaz de gerar eletricidade com fluxo de veículos na via; seu uso está previsto para 2015

Nos laboratórios da Universidade Estadual Paulista (Unesp) está surgindo um nanomaterial capaz de aproveitar a força mecânica gerada pelo tráfego de veículos em uma via para obter eletricidade. A inovação poderá ter muitas aplicações e seu primeiro uso, previsto para estar disponível até 2015, será a criação de ruas e rodovias autossuficientes em energia, com semáforos e painéis alimentados pela passagem dos carros e caminhões.

Do ponto de vista do processo produtivo, a tecnologia gera energia limpa, renovável e sustentável. O método empregado é nanométrico – nele o pesquisador manipula a arquitetura e as propriedades de átomos e moléculas com o objetivo de produzir materiais novos sob medida, com características especiais, podendo ser físicas, químicas, térmicas, mecânicas, etc.

Na pesquisa em questão, o nanomaterial foi desenvolvido a partir da integração de um polímero com nanopartículas cerâmicas de titanato zirconato de chumbo, identificado no meio científico pela sigla PZT. É um compósito flexível, uniforme, capaz de suportar temperaturas de até 360 graus Celsius. Seu diferencial é ser piezoelétrico, ou seja, tem a capacidade de liberar elétrons a partir do peso e compressão dos veículos sobre o asfalto das ruas.

Frio e água

Para gerar energia, o material não precisa ficar na superfície. E para funcionar, basta receber a pressão (peso mais velocidade) do carro ou caminhão que estiver passando sobre ele. Em tese, opera até em temperaturas abaixo de zero e em enchentes, funcionando a partir do peso da água e da correnteza.

O estudo é de autoria dos cientistas Walter Sakamoto, do Departamento de Física e Química da Faculdade de Engenharia (FE) de Ilha Solteira, e de Maria Aparecida Zaghete, do Departamento de Bioquímica e Tecnologia do Instituto de Química (IQ) de Araraquara.

A dupla explica que a propriedade piezoelétrica do nanomaterial tem origem em sua estrutura. O segredo da pesquisa foi encontrar o tamanho e a disposição ideais para as partículas cristalinas de PZT serem integradas no compósito. Pequeninas e espalhadas, elas influenciam diretamente a qualidade da resposta elétrica a partir da deformação mecânica causada no material pela passagem do carro sobre ele.

Mais econômico

Idealizador do projeto, o pesquisador Sakamoto estuda há anos sensores para serem usados para detectar o porcentual de umidade de solo e radiação, entre outras finalidades. Neste projeto específico, conta com o auxílio da professora Maria Aparecida para produzir pó cerâmico capaz de substituir o material importado, de alto custo e mais difícil de se obter distribuição homogênea quando integrado na matriz polimérica para originar o nanomaterial.

A possibilidade de gerar eletricidade a partir do nanomaterial foi comprovada com um experimento. Nele, o pesquisador Sakamoto pressiona o nanomaterial e um LED (diodo emissor de luz) conectado ao sistema acende.

De acordo com o professor Sakamoto, não é possível estimar o custo do material, produzido em pequena quantidade para ser usado nos testes laboratoriais. Ele salienta que o próximo passo é encontrar pesquisadores ou empresas interessados em fabricar um capacitor para armazenar a carga elétrica recebida. E prevê que o principal desafio para construir o dispositivo será criar outro nanomaterial, com a propriedade primordial de acumular grande quantidade de energia tendo tamanho reduzido.

Aplicações infinitas

De acordo com os pesquisadores, há outros usos possíveis para o material, como em implantes para detectar o crescimento ósseo e vazamentos de Raios X no ambiente. E citam, ainda, o exemplo de um shopping no Japão cujo piso gera eletricidade a partir da passagem dos clientes. Segundo eles, a atual pesquisa é parte de uma corrida mundial da ciência em busca de novas fontes de energia, de preferência limpas. A meta é substituir, de modo sustentável, os atuais combustíveis.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página I do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 12/02/2010. (PDF)