Bosque das Aves do Zoo ganha espaços revitalizados

A Fundação Parque Zoológico de São Paulo apresentou recentemente aos visitantes os dois novos recintos do Bosque das Aves Africanas. Em processo de revitalização desde o início do ano, os espaços foram concluídos e entregues. O primeiro foi destinado a um exemplar macho de calau-rinoceronte (Buceros rhinoceros), e o outro para um casal de calaus-grandes (Bucorvus abyssinicus).

A reforma dos espaços incluiu a troca de estruturas metálicas, substituição e pintura de telas, reconstrução do tanque e dos abrigos, colocação de poleiros de diferentes formatos para aumentar o conforto das aves, além do acréscimo de ninhos e vegetação variada.

Mudanças

A bióloga Fernanda Guida, do Zoo de São Paulo, explica que agora o público pode conferir um cenário mais rico e próximo ao hábitat desses animais. “As mudanças e adaptações efetuadas visam a atender necessidades biológicas e comportamentais especiais dessas espécies”, informa. “Assim, os calaus podem interagir de diferentes formas com o ambiente”, completa.

As duas espécies são raras em zoológicos no Brasil. A maioria deles pode pesar até quatro quilos e viver mais de 50 anos em cativeiro. São aves onívoras, que incluem em seu cardápio frutas e sementes, além de insetos e pequenos vertebrados.

Proveniente do Sudeste Asiático, o exemplar de calau-rinoceronte está no Zoo desde 1995. Seus vizinhos, os calaus-grandes, originários do continente africano, chegaram em 1972 e sempre estiveram juntos. O casal possui histórico de reprodução, porém o último filhote nasceu em 1987. Com a reforma, a expectativa é que o recinto favoreça e estimule comportamentos reprodutivos dessas aves.

Maior do País

O Zoológico de São Paulo é um centro de pesquisa, preservação animal, educação ambiental e de lazer. Vinculado à Secretaria Estadual do Meio Ambiente, abriga mais de 3 mil exemplares em uma área verde de 800 mil metros quadrados formada por trechos remanescentes da mata atlântica. Fundado em 1958 e instalado na zona sul da capital, próximo às nascentes do histórico Riacho do Ipiranga, o Zoo é o maior do Brasil em extensão e número de espécies. Tem 400 funcionários (incluindo os terceirizados) e abriga variedades nativas e exóticas, muitas ameaçadas de extinção.

Serviço

Zoológico de São Paulo
Av. Miguel Estéfano, 4.241 Água Funda – São Paulo –SP
Telefone (11) 5073-0811
Aberto diariamente das 9 às 17 horas (as bilheterias fecham às 16h30)

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 11/06/2016. (PDF)

Poli-USP pesquisa asfalto mais resistente

Usado em países de clima frio, pavimento com estrutura de barras de aço contínuas pode durar até 60 anos; objetivo dos pesquisadores é adaptá-lo às condições brasileiras

Um grupo de pesquisadores da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) estuda, desde 2010, a adaptação do concreto continuamente armado – material usado em rodovias de países de clima frio – às condições climáticas brasileiras. Contendo barras de aço contínuas em sua estrutura, esse tipo de pavimento tem maior durabilidade e requer menos manutenção do que o asfalto convencional.

Coordenado pelo professor José Tadeu Balbo, chefe do Departamento de Engenharia de Transportes, o trabalho acadêmico é pioneiro no País e deverá se prolongar até 2026. Além do docente, a pesquisa tem a participação de quatro alunos de pós-graduação (dois de mestrado e dois de doutorado) e um de iniciação científica, de graduação.

Parceiros

Um dos desdobramentos possíveis para o concreto continuamente armado no Brasil, aponta o pesquisador livre-docente na área de engenharia civil da Poli-USP, é oferecer um método alternativo de construção para órgãos relacionados com a construção e conservação de rodovias.

O projeto teve apoio de um grupo de 12 empresas, formado por empreiteiras, mineradoras e fabricantes de aço, cimento e aditivos para concreto. Os empresários cederam materiais e mão de obra para a construção de um trecho de 200 metros de pista com o concreto continuamente armado, para ser usado como campo de provas pelos pesquisadores.

Entregue no final de abril, o trecho custou cerca de R$ 500 mil e fica na última faixa da direita da Avenida Professor Mello Moraes, em frente à Raia Olímpica da USP, localizada no Butantã, zona oeste da capital. Próximo à Poli, o local foi escolhido por concentrar fluxo intenso de ônibus cujos itinerários incluem a Cidade Universitária em seus trajetos.

Desafios

Uma das premissas adotadas na pesquisa é o fato de o concreto continuamente armado dispensar manutenção pesada por no mínimo 40 anos, podendo durar até 60 anos sem precisar ser substituído. Assim, na avaliação do professor Balbo, poderá, no futuro, ser empregado no Brasil, país cujo território tem 170 mil quilômetros de ruas e rodovias asfaltadas – algumas delas pavimentadas com o concreto de juntas serradas, popularmente conhecido como concreto simples.

Mais utilizado na maioria dos países, o pavimento de concreto simples tem vida útil estimada de 20 anos, período que pode ser prolongado com manutenção adequada ou, ainda, abreviado, caso ocorram erros ou falhas nas etapas de projeto e de instalação.

Os desafios para os pesquisadores da Poli incluem avaliar o método mais eficaz e econômico de construção com concreto continuamente armado no Brasil e analisar as respostas desse tipo de pavimento aos fenômenos naturais do País – variações de temperatura, exposição ao sol, infiltrações por água de chuva e ação dos ventos. Um dos equipamentos utilizados nos testes é o tomógrafo de concreto. Esse aparelho permite avaliar a qualidade de pavimentos construídos.

Fissuras

O pavimento de concreto continuamente armado custa cerca de 40% mais do que o simples e é usado na Bélgica, Alemanha, Holanda e nos Estados Unidos, onde cerca de 40 mil dos 2 milhões de quilômetros de vias pavimentadas o utilizam em estradas federais – sua tecnologia de construção e de aplicação foi aprimorada após a 2ª Guerra Mundial.

O controle das fissuras é uma das principais diferenças entre os dois tipos de pavimento: no concreto simples, elas surgem de modo controlado devido à serragem do concreto durante o processo de cura, ou seja, antes mesmo de ele ser liberado ao tráfego de veículos; no pavimento continuamente armado, as fissuras de retração (contração) aparecem de modo aleatório, sendo impossível prever em quais pontos do material surgirão.

Economia

Se não forem controladas, as fissuras apresentam potencial para comprometer a sustentação do conjunto da estrutura. Para contornar esse problema, a cada cinco metros no pavimento de concreto simples são instaladas barras de aço para fixar, unir e alinhar os pedaços do material e, ainda, ajudar a conter a expansão das trincas.

O pavimento pesquisado na USP tem a mesma espessura do concreto simples, porém, é mais resistente por empregar barras paralelas e contínuas de aço para sustentar o material. Essa medida garante mais resistência ao material e permite estancar a abertura das fissuras quando elas surgem.

Por não ter junções de blocos, explica o professor Balbo, este tipo de piso não tem degraus e não infiltra nem acumula água entre os vãos (fator de deterioração), além de proporcionar ao motorista o chamado conforto de rolamento, possibilitando uma condução mais suave do veículo, sem solavancos e trepidações. “Embora seja mais caro no início do projeto, o concreto continuamente armado tende a ser mais econômico no longo prazo, por oferecer mais segurança e exigir menos manutenção”, finaliza.

Serviço

Departamento de Engenharia de Transportes da Poli-USP
E-mail jotbalbo@usp.br

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página II do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 01/06/2016. (PDF)

USP estuda curativo orgânico para queimaduras

Membrana em desenvolvimento no câmpus de Pirassununga propõe alternativa sustentável e sem risco de rejeição às peles biossintéticas importadas usadas atualmente no tratamento

Uma matéria-prima utilizada pela indústria alimentícia para prolongar a vida útil de alimentos inspirou, em Pirassununga, uma inovação capaz de baratear e aprimorar o tratamento de queimados por fogo e água fervente. O estudo acadêmico é de autoria do pesquisador Daniel Angulo, da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA), da Universidade de São Paulo (USP), com orientação do professor Paulo Sobral, do Centro de Pesquisa em Alimentos (FoRC – Food Research Center).

Ainda em desenvolvimento, com término previsto para o fim de 2018, a tecnologia propõe um novo tipo de curativo capaz de acelerar a cicatrização da pele dos acidentados, diminuindo, assim, o sofrimento dos pacientes. A Sociedade Brasileira de Queimaduras estima que os acidentes com fogo e água fervente fazem, a cada ano, um milhão de vítimas no País. Desse total, 66% são crianças, a maioria de famílias de baixa renda.

Orgânico

A pesquisa tem por base o desenvolvimento de uma membrana orgânica produzida a partir do reaproveitamento do colágeno, proteína presente em insumos naturais de baixo custo, porém, com potencial de poluir o meio ambiente se não tiver destinação adequada. “Esse descarte inclui restos de pele, ossos, cartilagens e tendões de bovinos e suínos e também de peixes criados para o consumo humano, como salmão e truta”, explica Angulo.

O chamado curativo orgânico desenvolvido no câmpus Pirassununga tem como diferenciais ser biodegradável (absorvido pelo corpo) e biocompatível (não há rejeição pelo organismo), ter propriedades antifúngicas e antimicrobiais, além de não gerar compostos tóxicos no corpo humano. “A membrana é uma alternativa às peles biossintéticas, material de saúde caro, importado e patenteado, usado atualmente no tratamento dos acidentados”, afirma Angulo.

Além do custo 50% menor, o curativo orgânico também poderá substituir os enxertos, procedimento médico doloroso para o paciente, pois consiste em extrair pedaços de sua pele para colocação no local ferido.

A principal matéria-prima da membrana é a gelatina feita à base de colágeno, uma proteína produzida pelo organismo de todos os mamíferos e insumo comumente utilizado pela indústria alimentícia. A composição inclui ainda a quitosana (fibra natural derivada da quitina), elemento encontrado no esqueleto de crustáceos como lagosta e camarão, além de extrato vegetal de babosa (Aloe vera) e muco (a baba) de caracóis.

O trabalho é financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Sua origem, explica Angulo, engenheiro de alimentos natural de Santiago (Chile), foi uma chamada pública realizada em 2014 para doutores estrangeiros recém-formados. Aprovado na seleção do órgão federal, o pesquisador, de 38 anos, há um ano estuda a membrana, tema de seu curso de pós-doutorado no Brasil.

Inovação

Angulo pretende patentear a tecnologia e foi convidado a divulgar o trabalho acadêmico sobre a membrana em duas revistas científicas internacionais, a Material Research (brasileira e ibero-americana) e a Material Sciences and Engineering (norte-americana), em edições previstas para os próximos três meses.

Até o fim do ano, o pesquisador seguirá fazendo estudos com a membrana em colônias de células em laboratório, trabalho compartilhado com cientistas da área de veterinária da FZEA-USP. Em 2017, iniciará testes do material com roedores e suínos (modelo biológico) e, finalmente, em 2018, começará a avaliação com seres humanos.

O trabalho é realizado nos laboratórios do FoRC, um dos 16 Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapesp). Criado em 2013 e sediado no câmpus da USP da Cidade Universitária, na capital, o FoRC é o primeiro centro de pesquisas do Brasil dedicado exclusivamente às áreas de nutrição e alimentos.

A equipe do FoRC tem 30 cientistas de instituições privadas, como o Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), e públicas, vinculadas ao governo paulista, como USP, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Estadual Paulista (Unesp) e Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), ligado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento.

Com trabalhos direcionados às áreas de saúde, agricultura, indústria e comércio, entre outros, o FoRC se propõe a inovar, atuando de modo multidisciplinar em quatro áreas: Sistemas Biológicos em Alimentos; Alimentos, Nutrição e Saúde; Qualidade e Segurança dos Alimentos; e Novas Tecnologias e Inovação.

Serviço

Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos – USP Pirassununga
FoRC – Food Research Center (Centro de Pesquisa em Alimentos)

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página I do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 11/05/2016. (PDF)