Medicamento usa dose menor e age no tempo certo com menos efeito colateral

Centro paulista da Fapesp lidera pesquisa brasileira com nanotecnologia; novidade promete revolucionar indústrias de fármacos, cosméticos e bioquímica

O Centro Multidisciplinar para o Desenvolvimento de Materiais Cerâmicos (CMDMC), um dos programas de excelência da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), pesquisa desde 2005 meios para facilitar a liberação no corpo humano, no tempo correto, de princípios ativos de medicamentos. O controle é feito por meio das micro e nanopartículas e a novidade promete revolucionar as indústrias de fármacos, cosméticos e bioquímica.

Os responsáveis pelo estudo são os pesquisadores Márcio Santos, Carla Riccardi e Paulo Bueno. Nas experiências, eles se preocupam em respeitar a formulação do medicamento, as características individuais dos pacientes (sexo, peso e altura) e com a diminuição dos efeitos colaterais e infecções oportunistas.

Com o avanço da pesquisa em nanotecnologia, a expectativa é ter no futuro remédios mais eficientes, capazes de encontrar e atuar diretamente sobre o ponto do organismo afetado, sem comprometer outras funções.

“O material nano reveste o fármaco e direciona e facilita sua absorção em um ponto específico do organismo ou de um grupo de células. Assim, diminui o tempo de tratamento clínico e as dosagens dos medicamentos”, explica Carla.

Mais barato

No Brasil, o Centro Multidisciplinar lidera os estudos com nanotecnologia: pesquisa novos produtos e processos e desenvolve internamente equipamentos usados em seu trabalho. O exemplo mais recente é o sistema hidrotermal de microondas, utilizado para processar compostos orgânicos.

Em vez de comprar um aparelho convencional por R$ 70 mil, os pesquisadores Diogo Volante e Mário Moreira criaram um próprio, por R$ 5 mil, a partir de um forno de microondas caseiro. Essa solução foi vantajosa: conseguiu reduzir de 72 horas para dez minutos o tempo de processamento das partículas.

A função do sistema hidrotermal é reunir as melhores condições de temperatura e pressão. E a inovação do CMDMC foi combinar a energia das microondas com a rotação das partículas e das reações ligadas à pressão e à energia mecânica e térmica.

O equipamento oferece também aplicações para a indústria cerâmica, de materiais odontológicos, automobilística, eletroeletrônica, de móveis, tintas e de células de captação de energia solar.

Pigmento cerâmico

A Icra, empresa de produtos para cerâmica de Mogi Guaçu, está testando o sistema hidrotermal para produzir pigmentos usados para colorir corantes, abrasivos cerâmicos, caixas refratárias, aditivos cerâmicos e tintas serigráficas.

Segundo Wilson Silva Junior, diretor da Icra, o sistema do CMDMC permite obter diferentes propriedades dos pigmentos por oxidar as substâncias em baixas temperaturas. Ainda em teste, o novo método promete complementar o convencional, que opera a partir de 1,2 mil graus.

O pigmento cerâmico é um tipo de pó produzido com compostos inorgânicos, estáveis em relação à cor, quando dissolvidos em vidros ou em esmaltes, a alta temperatura. Controlado e aplicado em cerâmica de revestimento, vidreira, vermelha, louça e metalúrgica em geral.


Nanotecnologia, uma viagem científica

De origem grega, a palavra nano significa anão e representa valores na escala milionésima, no nível dos átomos e moléculas. Dessa forma, a palavra nanotecnologia compreende a teoria geral e o estudo sistemático sobre técnicas, processos, métodos, meios e instrumentos para atingir a finalidade de mudar as propriedades dos compostos.

As partículas nano somente são visíveis em microscópios de alta definição e resolução, com capacidade de aumento superior a 800 mil vezes. O Centro Multidisciplinar para o Desenvolvimento de Materiais Cerâmicos (CMDMC) dispõe de um equipamento do tipo, avaliado em R$ 900 mil – um dos únicos do País.

Anderson Moriel Mattos e Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 30/10/2008. (PDF)

Município de São Carlos é sede da primeira fábrica nacional de semicondutores

Filial instalada no País produzirá memórias e chips, etapa inicial para desenvolver a indústria brasileira de informática e eletroeletrônica

Referência nacional em pesquisa e inovação tecnológica, a cidade de São Carlos, no interior paulista, abrigará a primeira fábrica de semicondutores do País. O projeto de construir a filial brasileira da multinacional Symetrix Systems é uma parceria da empresa norte-americana com a prefeitura local, Secretaria Estadual do Desenvolvimento e Grupo Encalso-Damha.

A fábrica tem investimento inicial de US$ 250 milhões e sua construção começará em julho de 2009, no Parque Eco-Tecnológico Damha, localizado em terreno vizinho ao da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Fica a 230 quilômetros da capital e tem previsão de entrar em operação em 2011. Até lá, a expectativa é receber aportes de até US$ 1 bilhão.

O estudo de materiais semicondutores é o passo inicial para instalar uma indústria local de eletroeletrônica e informática. De tamanho microscópico, o semicondutor ajuda a transmitir e a controlar a passagem da corrente elétrica em placas e circuitos. É usado em pentes de memória e processadores (chips) de computador. Está presente em aparelhos como telefone celular, câmera fotográfica digital, TV de alta definição e tocador de MP3.

Expectativas

No cenário mais otimista, a fábrica brasileira objetiva reproduzir em São Carlos o fenômeno do Vale do Silício, na Califórnia, berço da indústria de informática dos Estados Unidos. A expectativa é produzir 100 milhões de chips por ano e atender à demanda da indústria brasileira, que atualmente os importa da China e de países asiáticos.

A área do Vale do Silício paulista começa na Região Metropolitana de Campinas (RMC), segue nas margens das rodovias Anhanguera (SP-330) e Bandeirantes (SP-348), passa por Ribeirão Preto e vai até São José do Rio Preto pela Washington Luiz (SP-310).

Promete gerar empregos, renda e impostos e formar, nos municípios vizinhos de São Carlos, uma cadeia paulista de fornecedores de produtos e serviços tecnológicos para atender às demandas da filial brasileira da Symetrix. Pretende, ainda, transformar parte dos oito mil alunos que concluem estudos na região a cada ano em empresários, assim como estreitar seus vínculos com universidades e prefeituras.

Opção paulista

A Symetrix Systems foi criada na década de 1980 no Estado norte-americano do Colorado pelo brasileiro Carlos Paz de Araújo. Ao decidir por São Carlos, o empresário potiguar deixou de lado municípios concorrentes nos Estados do Rio de Janeiro e de Pernambuco. Um dos motivos da sua escolha é o fato de a cidade abrigar uma das duas sedes do Centro Multidisciplinar para o Desenvolvimento de Materiais Cerâmicos (CMDMC).

Trata-se de um dos principais Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). O CMDMC é coordenado pelos professores Élson Longo e José Arana Varela, do Instituto de Química (IQ) da Unesp. A dupla também lidera um grupo de 120 cientistas de instituições públicas como USP São Carlos, UFSCar e Unesp.

Nanotecnologia tupiniquim

O Centro concentra em Araraquara e em São Carlos grande parte da pesquisa brasileira em nanotecnologia. É uma área científica multidisciplinar, ainda desconhecida de grande parte da população e promissora para gerar empresas e pesquisas.

A nanotecnologia propõe alterar, com fins específicos, as propriedades de átomos e moléculas para obter novas funcionalidades e materiais. Suas aplicações integram a fabricação de componentes para computadores, medicamentos, materiais odontológicos, cosméticos, espelhos telescópicos, pilhas, tintas, panelas e plásticos.

O CMDMC faz pesquisa básica e aplicada, porém não cria nem vende produtos. Transfere tecnologia para empresas por meio de convênios e atende a demandas específicas, com soluções sob medida. Exemplo: melhorar as propriedades físicas, químicas ou mecânicas de um composto ou processo usado pelo semicondutor.

Com a Symetrix o convênio está previsto para ser assinado até o final do ano. Em contrapartida, o CMDMC envia alunos e pesquisadores para estagiar nas empresas e reinveste os recursos financeiros obtidos na formação de pessoal e compra de equipamentos.


O fim das caixas registradoras

O professor Élson Longo, um dos coordenadores do Centro Multidisciplinar para o Desenvolvimento de Materiais Cerâmicos, destaca o pioneirismo do grupo multidisciplinar na pesquisa internacional com materiais ferroelétricos. Ele explica que a inovação substitui as memórias magnéticas convencionais com muitas vantagens.

A memória ferroelétrica suporta regravações infinitas, tem menor custo de produção, capacidade de armazenamento 250 vezes maior e permite leitura sem contato mecânico ou físico com a superfície em até seis metros de distância. Por exemplo, em um supermercado o atendente não precisará mais aproximar cada produto do leitor de código de barras. Ao chegar ao caixa, o sistema mostrará na tela quais itens o cliente colocou no carrinho e o total da conta.

A nova fábrica de São Carlos produzirá também chips para Smart Card, o cartão recarregável já usado no transporte público da capital (Bilhete Único), em prontuários médicos e na telefonia celular.

Por reunir várias funcionalidades num único material, a memória ferroelétrica também é alternativa pesquisada por diversas empresas no mundo para processar informações em alta velocidade. De acordo com Longo, esta necessidade vem crescendo com a expansão de dispositivos sem fio, como computadores de mão e celulares, que operam em baixa voltagem e exigem capacidade cada vez maior de processamento e armazenamento de informações.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 25/10/2008. (PDF)

Unicamp apresenta 110 propostas de projetos para cidades brasileiras

Baseadas em pesquisas da universidade, soluções são gratuitas e atendem a áreas de saneamento, educação, cultura e agronegócio

A Agência de Inovação (Inova) da Universidade de Campinas (Unicamp) antecipou na sexta-feira passada, em seu site, o conteúdo da segunda edição do Caderno de Propostas para Projetos. A versão impressa da publicação sai no final de setembro e reproduz os 110 estudos elaborados por docentes da universidade já divulgados on-line.

As propostas têm como diferencial inovar e derivam de pesquisas realizadas na Unicamp em todas as áreas do conhecimento, podendo ser adaptadas às necessidades de prefeituras de todo o Brasil.

Contemplam temas sobre agronegócio, cultura, educação, emprego e renda, energia, esporte, educação, lixo, gestão pública, meio ambiente, patrimônio histórico, saneamento, saúde, turismo e tecnologia da informação.

A tiragem do novo Caderno de Propostas será de mil exemplares com distribuição gratuita. A publicação será lançada em evento previsto para a última semana de setembro, no Centro de Convenções da Unicamp.


Inova: visibilidade e repercussão

O Projeto Inova nos Municípios surgiu em 2003, após dois anos de contatos e reuniões da comunidade acadêmica com representantes das prefeituras. Em 2005 foi lançada a primeira edição do Caderno de Propostas com 66 estudos.

Atua em duas frentes: nas cidades, analisa as demandas locais dos administradores públicos; e na Unicamp, seleciona pesquisas capazes de serem aproveitadas como projetos.

Um de seus propósitos é ampliar a visibilidade e repercussão social dos trabalhos de ensino, pesquisa e extensão criados na universidade. E, também, aproximar, por meio de parcerias, os professores e alunos (graduação e pós) da Unicamp dos desafios existentes em muitas cidades do País.

Iara Ferreira, agente de parcerias, explica que a meta do Inova nos Municípios é atender a demandas específicas de pesquisa e desenvolvimento das cidades em serviços inexistentes ou que não interessem ao mercado. Contudo, sem lucrar ou concorrer com empresas ou consultorias.


Inova em cinco municípios

Atualmente, a Inova nos Municípios gerencia projetos nas cidades paulistas de Artur Nogueira, Penápolis, Santo Antônio da Posse, Santos e São José do Rio Preto. A edição do projeto está disponível para prefeituras de outros Estados, que podem contratar os serviços da universidade com dispensa de licitação, direito previsto na Lei de Licitações.

Os valores dos projetos variam de R$ 2 mil a R$ 1 milhão. Em algumas situações, o docente responsável e a equipe do Inova podem até orientar a prefeitura interessada em um ou mais projetos sobre como captar recursos públicos ou privados para financiá-los.

“Para a parceria engrenar, é preciso que o professor abrace a ideia do projeto. E felizmente temos tido grande apoio por parte dos educadores. Outro viés interessante é a oportunidade dada para o aluno da Unicamp aprender na prática e ajudar a encontrar soluções de apelo tecnológico para problemas reais dos municípios”, finaliza Iara.

Descartado

A experiência pioneira foi um projeto para Morungaba, cidade de 12 mil habitantes localizada na macrorregião de Bragança Paulista. Em agosto de 2003, a prefeitura solicitou à Universidade de Campinas a concepção de uma infovia (rede de informática) para interligar as bases de dados municipais e facilitar a prestação de serviços públicos para os moradores.

O professor Leonardo Souza Mendes, da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC), coordenou os alunos e docentes responsáveis pela tarefa de informatizar o município. Ele foi além do pedido original e incluiu na rede baseada em fibras ópticas outros serviços – acesso à internet de banda larga e transmissão de sinais de telefone, TV e rádio.

No entanto, a eleição municipal de 2003 provocou uma reviravolta política em Morungaba e o projeto da infovia foi descartado, isto é, retornou para a Unicamp à espera de uma nova prefeitura interessada a bancar o projeto. Contudo, num curto espaço de tempo o município de Pedreira, também da região de Campinas, resolveu comprar a ideia.


Projeto pioneiro readaptado para Pedreira

Com 40 mil habitantes e a mancha urbana espalhada por montanhas e ladeiras, Pedreira tem condição geográfica desfavorável para o tráfego de dados por cabos e ondas de rádio. Depois de um ano e meio de trabalho, contando com a elaboração do projeto e a compra e instalação dos equipamentos, a infovia entrou em operação no município.

A base de operações e equipamentos da infovia fica num imóvel alugado pela prefeitura no centro da cidade. Envia o sinal para 14 estações de rádio instaladas em pontos estratégicos, conectados por meio de uma rede de fibra óptica de alta velocidade. Atualmente, outras 50 estações de rádio estão sendo instaladas.

O investimento total no projeto foi de R$ 750 mil: R$ 400 mil da União, R$ 250 mil do Estado e R$ 100 mil do município. Hoje, a infovia oferece acesso gratuito à internet para 1,2 mil casas de Pedreira, volume equivalente a 10% das moradias da cidade.

Até o final do ano, a expectativa é expandir o serviço de banda larga para 50% dos domicílios com a montagem de 150 novos pontos de acesso para a população. Estes equipamentos foram comprados pela Companhia de Processamento de Dados do Estado (Prodesp) e repassados ao município.

Internet grátis

Quem reside em área já coberta pela rede pode ter banda larga gratuita com a infovia. O único custo é adquirir o kit de antena e receptor vendido por R$ 250 no comércio local.

O atual prefeito de Pedreira participou do projeto da infovia desde o início. Ele acredita que com o know-how adquirido no município é possível para a Unicamp oferecer o serviço para outras cidades do mesmo porte e instalar outras infovias em apenas quatro meses.

“A infovia é uma ferramenta de inclusão digital importante para o município brasileiro. Com o apoio da sociedade e o investimento público e privado, acho possível todas as cidades paulistas terem uma no prazo de dez anos”, acredita o prefeito.

Serviço

Inova Agência de Inovação (Unicamp)
Telefone (19) 3521-2795

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 28/08/2008. (PDF)