Fundo patrimonial privado financia projetos na Poli-USP

Desde 2012, doações de ex-alunos e simpatizantes viabilizaram 60 projetos de ensino e pesquisa na Escola Politécnica; site do Fundo Patrimonial Amigos da Poli detalha seu funcionamento e orienta como colaborar

Conciliar capacidade de gestão com criatividade, além de demonstrar gratidão, para criar uma fonte permanente de recursos para viabilizar projetos acadêmicos inovadores de caráter científico e de cidadania. Com esse espírito, um grupo de ex-estudantes da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) criou, em fevereiro de 2012, o Fundo Patrimonial Amigos da Poli. Pioneira no País, a associação tem como finalidade a captação de doações de simpatizantes, de alunos e ex-alunos da instituição em uma grande rede colaborativa.

O diretor presidente do fundo, Lucas Sancassani, explica que esse modelo de captação de recursos a partir de um fundo patrimonial (endowment) inspira-se em experiências bem-sucedidas de universidades europeias e norte-americanas. Segundo ele, o dinheiro recebido por meio de doações é aplicado em investimentos financeiros diversificados e gera excedentes – o montante é reinvestido nos anos seguintes.

“Com gerenciamento adequado, profissionalismo e transparência, o patrimônio acumulado gera rendimentos anuais acima da inflação. Parte da capitalização é, então, direcionada aos projetos de ensino e pesquisa da Poli”, explica Sancassani, engenheiro elétrico, formado em 2006 na escola da USP, localizada no câmpus da Cidade Universitária, Butantã, zona oeste da capital.

História

A associação de ex-alunos da Poli-USP formou-se em 2008, reúne profissionais de perfil diversificado e inclui empresários de segmentos econômicos variados e agentes do mercado financeiro. Muitos deles conheceram o endowment em programas de especialização em universidades estrangeiras.

“Vemos como fundamental esse tipo de apoio para o progresso do ensino superior no País. Nosso propósito é devolver para a sociedade todo o apoio que recebemos ao longo de nossa formação”, diz, orgulhoso, o atual presidente do grupo de voluntários.

O desafio inicial, segundo Sancassani, foi a formatação de um modelo jurídico adequado para a criação do fundo patrimonial e definir seu modelo de governança. Ele é composto por conselho deliberativo, com a participação de professores da instituição no grupo gestor.

“A associação foi constituída com R$ 4,3 milhões em doações”, revela o engenheiro. Nos últimos meses, as contribuições aumentaram e, em julho, o fundo totalizou R$ 15 milhões acumulados de patrimônio, montante que possibilitou investir R$ 1,6 milhão em 60 projetos.

Doações

Nas universidades norte-americanas, o dinheiro obtido com o endowment é utilizado para o próprio custeio. Nos últimos 70 anos, muitos centros científicos de relevância acumularam bilhões de dólares em reservas e rendimentos. Como exemplos, Sancassani cita as universidades americanas de Harvard, com US$ 30 bilhões em caixa, Yale, US$ 20 bilhões, e Columbia, US$ 10 bilhões.

“Nossa proposta é diferente e prevê a aplicação dos recursos exclusivamente em projetos internos e de capacitação dos alunos”, sublinha o também ex-universitário da Poli e diretor financeiro do fundo, Samuel Oliveira. “Os projetos apoiados contemplam mais de 600 politécnicos, incluindo alunos, servidores e professores, mas há espaço para crescer muito mais”, afirma Oliveira.

A associação, ele ressalta, tem hoje 600 doadores cadastrados e, a cada ano, aproximadamente 750 estudantes se formam na Poli-USP. “Temos a proposta de integrar e aproximar cada vez mais esse público. Fazer a doação é simples e qualquer valor interessa. Basta entrar no site do fundo, inclusive usando cartão de crédito, para concretizar a destinação”, explica (ver serviço).

Seleção

Todo ano, as contas da associação passam por auditoria externa e independente, realizada pela empresa BDO Brasil. No mês de abril, o fundo publica em seu site edital para inscrição de projetos (ver serviço). Uma banca examinadora, integrada por professores da Poli-USP e representantes do fundo, seleciona os melhores. Para isso, são considerados cinco pontos: empreendedorismo, trabalho em equipe, liderança, cidadania e inovação.

“Mesmo quem não é aprovado se beneficia. É possível conhecer os projetos no site do fundo, bem como consultar o estatuto da associação e seus balanços anuais”, diz Oliveira. Entre os projetos contemplados, ele destaca patrocínios às equipes de competição da Poli-USP, como o desenvolvimento de robôs, aviões e baja (veículo off-road), apoio à participação de alunos em torneios internacionais de ciência e outros trabalhos de impacto social.

Um dos selecionados foi o desenvolvimento de próteses e órteses humanas de baixo custo para pessoas com deficiência. Orçado em R$ 50 mil, com 75% concluídos, o projeto, coordenado pelo professor doutor Pai Chi Nan, pretende viabilizar a produção em escala industrial das peças, ao custo médio de R$ 1 mil cada uma, para serem utilizadas por pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). No mercado, alguns desses dispositivos chegam a custar até R$ 150 mil.

De acordo com os gestores do Fundo Patrimonial Amigos da Poli, o retorno obtido nesses cinco anos despertou o interesse de outras instituições acadêmicas públicas e particulares para criar associações similares. Na própria USP, foram recebidas manifestações das faculdades de Medicina, de Direito e de Economia, Administração e Contabilidade (FEA).

Serviço

Fundo Patrimonial Amigos da Poli
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E-mail contato@amigosdapoli.com.br

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 17/08/2017. (PDF)