Instituto de Economia da Unicamp mapeará arranjos produtivos locais

No final do estudo, uma base de dados fornecerá aos gestores públicos uma radiografia dos sistemas, e possibilitará a adoção de ações coordenadas para o setor

A equipe de pesquisadores do Instituto de Economia da Unicamp, coordenada pelo professor Wilson Suzigan, está desenvolvendo metodologia capaz de mapear de modo estatístico e estrutural os chamados Arranjos Produtivos Locais (APLs). São modelos de organização territorial que concentram empresas ligadas à atividade produtiva numa cidade ou região, como o pólo calçadista de Franca, por exemplo. O trabalho tem caráter acadêmico e pretende auxiliar na orientação de políticas públicas direcionadas ao setor. Visa torná-las mais sólidas e evitar iniciativas dispersas, prevenindo desperdícios de tempo e dinheiro.

Em fase de desenvolvimento, a técnica consiste em elaborar indicadores de concentração geográfica, segundo a atividade econômica e de especialização local por microrregiões. Para isso, utiliza trabalho de campo, com visitas às empresas e instituições que integram os APLs, e também cálculos matemáticos e de dados extraídos da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), preparada pelo Ministério do Trabalho.

No final do estudo, surgirão informações aos aos gestores públicos, como uma espécie de radiografia dos sistemas e arranjos locais no País, possibilitando ações coordenadas para o setor.

Suzigan lembra que o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior lançará, em breve, programa de incentivo aos APLs, medida prevista pela política industrial formulada pelo governo. Mais de 20 instituições e órgãos serão abrangidos nesse esforço. “Caso os gestores públicos não disponham de instrumento para a coordenação de ações simultâneas, há o risco de desarticulação”, adverte o pesquisador, que recebe apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Emprego e renda

Segundo o professor, sua equipe visitou cerca de 20 APLs em oito Estados brasileiros de diversos setores. Destaca que esse tipo de modelo de organização da produção tem alcançado sucesso, salvo algumas exceções. Ao se reunirem em determinado espaço geográfico, empresas da mesma atividade conseguem condições favoráveis de operação. A proximidade física dos parceiros e fornecedores facilita, por exemplo, o fluxo dos insumos e a disseminação de novos conhecimentos.

Suzigan relata que o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) demonstraram interesse em conhecer e, possivelmente, aplicar a metodologia. “É muito comum empresas se unirem em consórcios para comprar matérias-primas e conseguir descontos significativos”, explica. A interação permite a promoção de cursos de capacitação técnica para funcionários, criação de consórcio de exportação e construção de centros tecnológicos.

Exemplo desta última ação vem de Votuporanga, município que congrega grande número de fábricas de móveis. Entre 1999 e 2001, empresas do setor se uniram e pleitearam do governo recursos para a construção de um centro tecnológico. A unidade custou R$ 3 milhões e hoje oferece cursos de formação profissional para mais de 400 jovens. Graças à iniciativa, as fábricas locais de móveis são as que mais detêm, no Brasil, certificados de qualidade.

“APLs beneficiam os atores ligados à produção e colaboram na elevação de indicadores econômicos e sociais. Reúnem toda uma cadeia produtiva – fabricantes, fornecedores de insumos e prestadores de serviços – e esses sistemas geram emprego, renda e atraem instituições voltadas ao ensino profissionalizante”, comenta.

Ganho social

Nos APLs é comum existirem associativismo e atuação conjunta por meio de empresas e sindicatos. Suzigan cita, como exemplo de ganho social recente estudo informando que das quatro cidades menos violentas do Estado, três abrigam sistemas ou arranjos produtivos locais.

A desvantagem das APLs, segundo ele, é que esses arranjos ficam sujeitos a riscos em cadeia, sobretudo quando uma crise atinge o setor de maneira pontual. Foi o que ocorreu, recentemente, com as indústrias têxteis de Americana, ante à concorrência dos produtos asiáticos. Fábricas faliram e outras foram incorporadas por grupos maiores. Só sobreviveram as que tiveram capacidade de se modernizar e estabelecer padrões eficientes de competitividade.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 28/08/2004. (PDF)

Esgotos obstruídos, desafio diário para 150 profissionais da Sabesp

Só no primeiro semestre deste ano, foram realizados 18,8 mil desentupimentos domiciliares; população não colabora e joga de tudo nos vasos sanitários

Manter em perfeito funcionamento os 18 mil quilômetros de tubulação de água e esgoto da capital é um dos desafios da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). Parte da verba anual é investida na manutenção de equipes permanentes de socorro, que atendem aos chamados telefônicos. A maioria para desentupimentos de esgotos obstruídos por objetos jogados no vaso sanitário, como cabelo, gordura, papel higiênico, pontas de cigarro, preservativos, estopa, pó de café, panos, garrafas, cotonetes, bolas de tênis, roupas íntimas, talheres, folhas, areia e terra.

A gordura proveniente de frituras é o maior agente de obstrução. Ao entrar em contato com a água, forma uma pasta que gruda em outros materiais e bloqueia coletores e ramais (ligações na tubulação entre a residência e o encanamento da rua). José Augusto Borges, engenheiro e gerente do pólo de manutenção da Lapa, explica que a principal causa do problema é a desinformação da população.

“O cidadão colabora com a sociedade quando não atira nada nos ralos e vaso sanitário”, ressalta. Situação comum é o entupimento provocado por restaurantes instalados no centro da cidade, que jogam gordura no ralo e não percebem anomalias na rede de água e esgoto da sua propriedade.

“Na verdade, os pontos de retenção se localizam alguns quilômetros adiante na rede e, assim, prejudicam bairros inteiros, ocasionam mau cheiro e atraem animais indesejáveis”, explica Borges. Depois do entupimento causado por um restaurante, ele é notificado, intimado a construir caixa coletora de gordura, e fica sujeito à legislação vigente. Borges conta que os técnicos costumam identificar rapidamente qual é o agente entupidor da rede.

Balanço

No primeiro semestre do ano, foram realizadas 18,8 mil desobstruções domiciliares e 49 mil de coletores. A média diária de desentupimentos é de 370 coletores na capital (270 da rede coletora e cem ligações de ramal). A Sabesp cobra R$ 42 do cliente quando a ligação bloqueada é domiciliar, e oferece garantia de três meses pelo serviço. Nos demais atendimentos, a empresa assume os custos.

Borges lembra que a rede coletora subterrânea é construída com manilha especial, tem vida útil de 50 anos e é projetada para dispensar qualquer tipo de manutenção enquanto está sendo utilizada. “A Sabesp é responsável por toda a tubulação, até a caixa coletora do cliente”, informa.

O atendimento das ocorrências é realizado de segunda a sexta-feira, das 8 às 17 horas, e cada solicitação leva, em média, 12 horas para ser finalizada. O tempo calculado refere-se ao período entre a queixa do cliente e a conclusão do serviço.

Depois da chamada telefônica, a companhia envia um técnico operacional de manutenção, que se desloca de motocicleta até o local da ocorrência. Ele avalia o problema – que pode ser vazamento de esgoto ou de água – e informa à subsede qual o tipo de serviço que deverá ser prestado e quais máquinas deverão ser enviadas para o local.

Reno Gonçalves Filho, responsável pelo departamento de segurança da Dimep Sistemas de Ponto de Acesso, ligou para a Sabesp no dia 17 de agosto e solicitou o desentupimento da ligação entre o ramal da empresa e a rede coletora de esgoto. Sua empresa fica na Vila Leopoldina, zona oeste da capital. “Depois de 40 minutos da chamada, tudo estava pronto. Avalio o serviço prestado como muito bom”, declarou.

Equipamentos de desobstrução

A maioria das redes paulistanas é de seis polegadas (150 milímetros) e oito polegadas (200 milímetros). Depois de identificados os vazamentos, os técnicos utilizam o sewer roder – equipamento que funciona como um saca-rolhas. É uma mangueira que contém uma vareta no seu interior. Ao ser acionada na tubulação, perfura e desobstrui o ramal.

Para cada tipo de entupimento é utilizada uma vareta específica. O passo seguinte é usar o sewer jet, mangueira que injeta água em alta pressão para acabar de vez com o entupimento, retirar a gordura e a sujeira excedentes e lavar as paredes internas da tubulação. Há, ainda, o caminhão de alto vácuo, que funciona como um aspirador de grande potência, sugando e armazenando a sujeira retirada de poços.

Serviço

Sabesp
Telefones 195 e 0800-0119911 (Região Metropolitana de São Paulo) e 0800-550195

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página I do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 25/08/2004. (PDF)

Cooperação entre União e Estado vai atender populações carentes paulistas

Cooperação atenderá a 107 mil famílias de baixa renda que vivem nos 38 municípios da Região Metropolitana de São Paulo

Os governos estadual e federal assinaram termo de cooperação com validade por três anos que objetiva uniformizar os valores pagos às famílias carentes já atendidas pelos programas Renda Cidadã, da Secretaria Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social, e Bolsa Família, do governo federal. O acordo favorecerá a 107 mil famílias de baixa renda que vivem nos 38 municípios da região metropolitana de São Paulo, exceto a capital paulista. O Bolsa Família assiste a 97 mil habitações pobres e o Renda Cidadã, 10 mil.

O benefício mensal pago pelo Bolsa Família varia entre R$ 15 e R$ 95, conforme a situação de cada lar. Beneficiários com menos de R$ 60 receberão do Estado adicional variável entre R$ 10 e R$ 45. A proposta é garantir o piso mínimo de R$ 60, valor igual ao fixo do Renda Cidadã.

O governo paulista também vai complementar a gratificação de 10 mil familiares do Renda Cidadã, na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), para que eles recebam o auxílio de até R$ 95. O valor mudará de acordo com o número de filhos e poderão receber R$ 60, R$ 65, R$ 80 ou R$ 95. (Ver tabela abaixo.)

Pagamento de benefícios será integrado

Os programas unificados utilizarão um cartão magnético personalizado, com o nome e logotipo de ambos. Cada habitação terá direito a um, que será utilizado para sacar seu benefício na Caixa Econômica Federal ou no Banco Nossa Caixa. Os contemplados terão prioridade nos projetos e políticas sociais do Estado, como microcrédito, capacitação profissional, alfabetização e segurança alimentar. A integração planejada pelo acordo não interferirá na identidade e nem nas ações próprias de cada programa.

O governador Geraldo Alckmin explicou que o Estado está unindo esforços nos planos de Educação Para Jovem e Adulto (EJA); saúde materno-infantil e de capacitação e geração de renda. “Este é o grande enfoque. Uni-los na complementação financeira com as ações que permitam essas pessoas dar um salto de qualidade em suas vidas”, afirmou.

O ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias, elogiou a iniciativa conjunta. “Além do benefício material àqueles de baixa renda, há uma conquista democrática ao trabalharmos em favor de São Paulo e do País”, assinalou. Por meio de parcerias com Estados e municípios, o Bolsa Família pretende atender a 6,5 milhões de pessoas até o final do ano e 8,7 milhões até 2005.

Balanço

Patrus Ananias fez um balanço das ações de seu ministério no Estado de São Paulo. Com o Bolsa Família e as bolsas remanescentes que estão sendo integradas, os investimentos são de R$ 39,5 milhões/mês, o que dará R$ 500 milhões por ano. Pelo Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti) são R$ 71 milhões, que somados aos programas de Atendimento Integral às Casas de Famílias, aos Idosos e Portadores de Deficiência e os benefícios de Prestação Continuada perfazem no ano R$ 1,42 bilhão. A parceria com o governo estadual na área de segurança alimentar é de R$ 2 milhões anuais.

A secretária de Assistência e Desenvolvimento Social, Maria Helena Guimarães, destacou que os dois projetos de transferência de renda serão monitorados, o que ajudará a evitar a duplicidade do benefício e a atender os mais necessitados.

“O objetivo é fortalecer políticas públicas que visam a melhorar a vida dos mais carentes, independentemente de questão partidária”, salientou.

Para colocar em prática o acordo, Estado e União elaborarão um plano de trabalho com cronograma de ações e definição dos profissionais responsáveis pela consolidação, adoção de sistemas de descentralização estadual e municipal dos programas Bolsa Família e Renda Cidadã. Os responsáveis identificarão se há sobreposições de benefícios para os inscritos e realizarão as atividades com recursos materiais e humanos qualificados.


Situação das famílias Renda mensal per capita Ocorrência de filhos de 0-15 anos, gestante e nutriz Valores da Bolsa-Família R$ Valores adicionais do Estado R$ Total R$
Situação de pobreza de R$ 50 a R$ 100 1 membro 15 45 60
2 membros 30 30 60
3 ou mais membros 45 15 60
Situação de extrema pobreza até R$ 50 Sem ocorrência 50 10 60
1 membro 65 65
2 membros 80 80
3 ou mais membros 95 95

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página I do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 17/08/2004. (PDF)