Técnica do Instituto Biológico faz controle de pragas sem agrotóxico

Recentemente inaugurada, biofábrica em Arujá produz dois predadores naturais do ácaro-rajado, que infesta plantas ornamentais, frutas e vegetais

Equipe de cinco cientistas do Instituto Biológico (IB) desenvolveu uma solução sustentável e sob medida para combater a infestação de ácaro-rajado (Tetranychus urticae) nas plantas ornamentais da Associação dos Floricultores da Região da Via Dutra (Aflord): uma biofábrica para produzir inimigos naturais da praga. Inaugurada no dia 20, a unidade de criação de predadores foi instalada na sede da entidade, em Arujá, município da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP).

Conhecida como controle biológico, essa tecnologia de manejo dispensa agroquímicos e consiste em introduzir na cultura um ou mais organismos para predar, parasitar ou infectar os exemplares da praga. Tem como vantagens economizar com pesticidas, retardar o desenvolvimento de variedades mais resistentes da praga e preservar a água, o solo e a saúde dos trabalhadores, sem provocar, contudo, desequilíbrios na natureza e interferir na criação.

Orientação

O caso de sucesso começou em março de 2014, quando a Aflord relatou o problema ao IB e solicitou palestra a respeito de controle biológico no âmbito do Programa de Sanidade em Agricultura Familiar (Prosaf), iniciativa da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento. No ano seguinte, o pesquisador científico Mário Sato, engenheiro agrônomo e especialista do IB em controle biológico de pragas, foi à sede da entidade para capacitar os 64 floricultores associados.

A etapa posterior foi de coleta e multiplicação, para estudos, de ácaros-rajados nas propriedades rurais. Cerca de 80% delas são produtoras de orquídeas e localizadas nas cidades de Arujá, Biritiba-Mirim, Guararema, Guarulhos, Itaquaquecetuba, Jacareí, Mogi das Cruzes, São José dos Campos e Taubaté.

Praga mundial

Presente em todos os continentes, o ácaro-rajado desenvolveu resistência elevada a pesticidas ao longo dos anos. Esse aracnídeo tem grande variabilidade genética e vive em média 20 dias, período em que as fêmeas podem depositar entre 5 e 10 ovos por dia.

A praga tem 0,5 milímetro de tamanho, se dispersa pelo vento e ataca mais de 1,2 mil plantas diferentes, das quais 150 são culturas com relevância econômica. Além das variedades ornamentais, como crisântemo, rosa, begônia, campânula, gérbera e orquídea, o ácaro-rajado infesta também lavouras de algodão, feijão, morango, mamão e pêssego, entre outras.

Para obter uma ação mais efetiva sobre a praga, Sato conta que a solução encontrada foi criar, sob medida, duas linhagens de ácaros para se alimentarem das variedades de rajado presentes nos cultivos da Aflord.

A primeira delas, a Phytoseiulus macropolis, que ataca exclusivamente o rajado; e a Neoseiulus califormicus, que também se alimenta de outros insetos. Ambas foram desenvolvidas a partir das matrizes da coleção de ácaros do Instituto Biológico.

Economia

Segundo o pesquisador, o controle biológico pode ser adotado em qualquer etapa de desenvolvimento da planta. Um dos segredos da técnica é liberar os predadores no momento correto, isto é, quando a presença do ácaro-rajado ainda é baixa. Essa medida aumenta a eficácia do monitoramento da praga e reduz a quantidade de ácaros predadores necessários para controlar a infestação.

“Os inimigos naturais introduzidos na cultura se alimentam primeiro dos ovos; quando a oferta deles diminui, passam a comer também as fêmeas grávidas, que são o grupo de insetos mais abundante na etapa inicial da infestação. Assim, a capacidade reprodutiva do ácaro-rajado diminui progressivamente”, explica.

Também é importante, observa Sato, explicar ao produtor que não há risco de os ácaros predadores se tornarem novas pragas na cultura. Segundo ele, hoje é possível comprar no mercado frascos com 2 mil ácaros predadores por R$ 100. Esse custo supera o dos agrotóxicos, porém exige menos tempo e menos mão de obra, além de preservar o meio o ambiente. “Depois da liberação dos predadores, o único cuidado é monitorar as plantações”, sublinha.

Redução de custos

O projeto-piloto com o controle biológico na Aflord foi realizado na propriedade de Katsumi Kawakami, produtor de Guararema. Depois dele, outros 19 floricultores da Aflord dispersam os predadores em suas estufas e os demais associados seguem progressivamente adotando a tecnologia.

Segundo Sandra Shinoda, engenheira agrônoma da Associação, os associados pioneiros são os das propriedades mais infestadas pelos ácaros-rajados. “Alguns chegavam a aplicar, sem sucesso, três tipos de pesticidas duas vezes por semana, com eficiência de 20%, ou seja, 80% das pragas continuavam vivas e se reproduzindo. Agora, com o controle biológico, a eficiência de controle da praga é de 95%”, relata a especialista.

O produtor Fábio Dan, de Arujá, cultiva 14 variedades de orquídeas em suas estufas. Ao passar a usar os ácaros predadores, estima ter conseguido economizar 50% no uso de defensivos. Na avaliação dele, a qualidade das flores melhorou e a biofábrica “é uma grande conquista da Aflord”.

Expansão

Instalada sob supervisão do IB, a biofábrica consegue fornecer as duas espécies de ácaros predadores para cerca de cem floricultores e foi projetada para ampliar sua produção em até 20 vezes. Sandra explica que a operação dela começa com a infestação de ácaros-rajados em vasos de feijão-de-porco (Canavalia ensiformis) – planta hospedeira que fica exposta ao sol. Quando a praga já se reproduziu em quantidade suficiente, os insetos são retirados do vaso e levados ao laboratório, onde alimentarão seus inimigos naturais ali criados.

Antonio Batista Filho, diretor-geral do Instituto Biológico, destaca outras opções sustentáveis à disposição dos produtores rurais paulistas. Além do controle biológico com ácaros predadores, há também a capacitação com tecnologias correlatas, como usar micro-organismos e nematoides para controle das populações de insetos e outras pragas, incluindo a emissão de laudos de identificação para registro de parasitoides.

“Eventuais interessados nos serviços devem recorrer aos canais de comunicação do instituto”, informa Batista. Segundo ele, há diversas apostilas e materiais didáticos, gratuitos e disponíveis para cópia e consulta, no site do instituto”. (ver serviço)

Serviço

Instituto Biológico (IB)
Telefone (11) 5575-7435
E-mail hojo@biologico.sp.gov.br
Associação dos Floricultores da Região da Via Dutra (Aflord)

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página II do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 30/08/2016. (PDF)

USP estuda curativo orgânico para queimaduras

Membrana em desenvolvimento no câmpus de Pirassununga propõe alternativa sustentável e sem risco de rejeição às peles biossintéticas importadas usadas atualmente no tratamento

Uma matéria-prima utilizada pela indústria alimentícia para prolongar a vida útil de alimentos inspirou, em Pirassununga, uma inovação capaz de baratear e aprimorar o tratamento de queimados por fogo e água fervente. O estudo acadêmico é de autoria do pesquisador Daniel Angulo, da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA), da Universidade de São Paulo (USP), com orientação do professor Paulo Sobral, do Centro de Pesquisa em Alimentos (FoRC – Food Research Center).

Ainda em desenvolvimento, com término previsto para o fim de 2018, a tecnologia propõe um novo tipo de curativo capaz de acelerar a cicatrização da pele dos acidentados, diminuindo, assim, o sofrimento dos pacientes. A Sociedade Brasileira de Queimaduras estima que os acidentes com fogo e água fervente fazem, a cada ano, um milhão de vítimas no País. Desse total, 66% são crianças, a maioria de famílias de baixa renda.

Orgânico

A pesquisa tem por base o desenvolvimento de uma membrana orgânica produzida a partir do reaproveitamento do colágeno, proteína presente em insumos naturais de baixo custo, porém, com potencial de poluir o meio ambiente se não tiver destinação adequada. “Esse descarte inclui restos de pele, ossos, cartilagens e tendões de bovinos e suínos e também de peixes criados para o consumo humano, como salmão e truta”, explica Angulo.

O chamado curativo orgânico desenvolvido no câmpus Pirassununga tem como diferenciais ser biodegradável (absorvido pelo corpo) e biocompatível (não há rejeição pelo organismo), ter propriedades antifúngicas e antimicrobiais, além de não gerar compostos tóxicos no corpo humano. “A membrana é uma alternativa às peles biossintéticas, material de saúde caro, importado e patenteado, usado atualmente no tratamento dos acidentados”, afirma Angulo.

Além do custo 50% menor, o curativo orgânico também poderá substituir os enxertos, procedimento médico doloroso para o paciente, pois consiste em extrair pedaços de sua pele para colocação no local ferido.

A principal matéria-prima da membrana é a gelatina feita à base de colágeno, uma proteína produzida pelo organismo de todos os mamíferos e insumo comumente utilizado pela indústria alimentícia. A composição inclui ainda a quitosana (fibra natural derivada da quitina), elemento encontrado no esqueleto de crustáceos como lagosta e camarão, além de extrato vegetal de babosa (Aloe vera) e muco (a baba) de caracóis.

O trabalho é financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Sua origem, explica Angulo, engenheiro de alimentos natural de Santiago (Chile), foi uma chamada pública realizada em 2014 para doutores estrangeiros recém-formados. Aprovado na seleção do órgão federal, o pesquisador, de 38 anos, há um ano estuda a membrana, tema de seu curso de pós-doutorado no Brasil.

Inovação

Angulo pretende patentear a tecnologia e foi convidado a divulgar o trabalho acadêmico sobre a membrana em duas revistas científicas internacionais, a Material Research (brasileira e ibero-americana) e a Material Sciences and Engineering (norte-americana), em edições previstas para os próximos três meses.

Até o fim do ano, o pesquisador seguirá fazendo estudos com a membrana em colônias de células em laboratório, trabalho compartilhado com cientistas da área de veterinária da FZEA-USP. Em 2017, iniciará testes do material com roedores e suínos (modelo biológico) e, finalmente, em 2018, começará a avaliação com seres humanos.

O trabalho é realizado nos laboratórios do FoRC, um dos 16 Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapesp). Criado em 2013 e sediado no câmpus da USP da Cidade Universitária, na capital, o FoRC é o primeiro centro de pesquisas do Brasil dedicado exclusivamente às áreas de nutrição e alimentos.

A equipe do FoRC tem 30 cientistas de instituições privadas, como o Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), e públicas, vinculadas ao governo paulista, como USP, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Estadual Paulista (Unesp) e Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), ligado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento.

Com trabalhos direcionados às áreas de saúde, agricultura, indústria e comércio, entre outros, o FoRC se propõe a inovar, atuando de modo multidisciplinar em quatro áreas: Sistemas Biológicos em Alimentos; Alimentos, Nutrição e Saúde; Qualidade e Segurança dos Alimentos; e Novas Tecnologias e Inovação.

Serviço

Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos – USP Pirassununga
FoRC – Food Research Center (Centro de Pesquisa em Alimentos)

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página I do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 11/05/2016. (PDF)

Livro digital reúne orientações sobre o consumo de pescados

Publicação da Codeagro ensina como comprar, conservar e preparar um dos alimentos mais consumidos na Semana Santa: o peixe; com 18 títulos lançados, coleção é direcionada às áreas de nutrição e economia doméstica

Vai comprar peixe nesta Semana Santa? O livro Pescado – Saúde e nutrição, da Coordenadoria de Desenvolvimento dos Agronegócios (Codeagro), traz em 56 páginas orientações sobre pescados para o consumidor. A publicação digital gratuita orienta como comprá-los com segurança e economia, como conservá-los adequadamente, além de indicar opções de pratos saudáveis e balanceados.

Na segunda edição, o livro lançado em 2014 dedica-se aos pescados, denominação que compreende peixes, crustáceos, moluscos, anfíbios, quelônios e mamíferos de água doce ou salgada que fazem parte da alimentação humana. A publicação integra coleção de títulos nas áreas de nutrição e economia doméstica lançada, desde 1986, pela Codeagro, órgão vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado (SAA).

“Os peixes, de modo geral, são ricos em ácidos graxos poli-insaturados (gordura considerada saudável), sendo a principal delas o ômega 3, capaz de reduzir o risco de doenças cardiovasculares autoimunes, asma, artrite reumatoide e alguns tipos de câncer, além de ter efeitos anti-inflamatórios e neurorreguladores”, explica a nutricionista Milene Raimundo, responsável pelas publicações e diretora do Centro de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável (Cesans), da Codeagro.

Os livros estão disponíveis para impressão ou cópia (ver serviço). A coleção também pode ser obtida por clientes cadastrados no site da Livraria Cultura e no iTunes, loja on-line de conteúdo da Apple (ver serviço).

Círculo virtuoso

A redação dos livros adota linguagem simples que possibilita aos consumidores compreender as informações. Milene explica que as publicações digitais são elaboradas por equipes multidisciplinares da Agricultura. Como exemplo, cita o livro sobre pescados, que teve revisão técnica do Instituto de Pesca, órgão estadual ligado à secretaria. Ela esclarece que ingredientes e receitas são previamente testados na cozinha experimental da Codeagro.

“O corte adequado de uma carne ou verdura permite conservar e aproveitar melhor os nutrientes.” Outras recomendações incluem priorizar alimentos sazonais, cuja oferta e qualidade aumentam e os preços diminuem de acordo com as estações do ano. “Nas 26 receitas apresentadas na publicação sempre é oferecida mais de uma opção de espécie de peixe para o preparo”, exemplifica.

Saúde e economia

Nesta Semana Santa, para poupar, vale a pena trocar o bacalhau por outras variedades de peixe mais baratas cujo preço não depende da variação do dólar. Há diversas opções de peixes fluviais e marinhos brasileiros com ótima qualidade e valor nutricional. A lista inclui sardinha, tainha, cação, merluza, tilápia e olhete, de sabor parecido com o da anchova, mas com custo menor.

Milene destaca outro conceito incorporado nos títulos mais recentes publicados pela secretaria, como o uso das ervas aromáticas nas receitas em substituição aos temperos e caldos prontos industrializados – itens ricos em sal, açúcar, sódio e conservantes, como a gordura trans. A ingestão excessiva desses produtos pode ser prejudicial à saúde e aumentar os riscos de obesidade, diabetes, hipertensão e outras doenças associadas à alimentação incorreta.

Menos sódio

Outra recomendação é direcionada aos fãs de comida japonesa. “O molho de soja industrializado, conhecido como shoyu, contém muito sódio. Deve ser consumido com moderação, caso contrário, os sashimis (preparados com pescado cru) e os sushis (com arroz e algas) deixam de ser opções saudáveis”, ensina Milene.

Nos livros mais recentes da Codeagro, é possível aprender a fazer caldos caseiros de galinha, de carne e de vegetais como alternativa aos industrializados. Quem segue dieta restritiva pode preparar molhos e temperos à base de ervas aromáticas – alecrim, manjericão, sálvia, orégano fresco, salsinha, cebolinha, coentro, etc. “Todos são saudáveis, de baixo custo e fácil preparo”, afirma.

Quem tiver dúvida sobre receitas e ingredientes pode contatar a Codeagro em seus canais oficiais, site, e-mail ou pela comunidade Alimentação Saudável, do Facebook (ver serviço).


Títulos elaborados pela Codeagro

  • 100 receitas de ouro
  • Alimentação saudável
  • Brinque e aprenda
  • Cogumelo – Variedades e receitas
  • Diet*
  • Diga não ao desperdício
  • Explorando os sabores da batata*
  • Momento gourmet Brasil-Itália
  • O melhor alimento para a melhor idade
  • Pães caseiros
  • Polpa de peixe – Dicas e receitas
  • Receitas com carne suína
  • Receitas com frutas, legumes e verduras
  • Receitas de sucos
  • Receitas nutritivas e econômicas*
  • Sabores da horta
  • Soja*

(*) Somente na versão PDF

Serviço

Codeagro
Facebook Alimentação Saudável
E-mail – cesans@codeagro.sp.gov.br

Cópia gratuita do livro:

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 23/03/2016. (PDF)