Método experimental da USP-RP controla diabetes tipo 2 pela dieta

Voluntários interessados em participar da pesquisa devem enviar e-mail para o Departamento de Clínica Médica da Divisão de Endocrinologia da FMRP-USP

A Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da Universidade de São Paulo (USP) busca 33 voluntários, de ambos os sexos, para integrarem um protocolo de pesquisa em andamento. Iniciada em 2016 com resultados promissores, a técnica mostrou-se capaz de reverter, sem usar insulina, quadros desfavoráveis de seis pacientes de diabetes tipo 2.

Baseado em uma dieta alimentar, o trabalho acadêmico é coordenado pelo doutorando Rafael Ferraz e pela professora doutora Maria Cristina Foss-Freitas, ambos do Departamento de Clínica Médica da Divisão de Endocrinologia da FMRP-USP.

Para participar, o voluntário precisa ter entre 30 anos e 60 anos, nunca ter usado insulina, ter glicemia acima de 150 mg/dL e colesterol e triglicérides acima de 200 mg/dL, além de aceitar ficar 27 dias internado no Hospital das Clínicas da FMRP-USP. Nesse período, receberá dieta balanceada com macronutrientes (lipídeos, proteínas e carboidratos) nas proporções identificadas pelos pesquisadores como ideais para o seu organismo.

Segundo Ferraz, o conceito é fazer uma redução calórica abaixo do gasto energético basal, isto é, o paciente passa a receber diariamente a alimentação mínima necessária para o funcionamento do seu organismo.

Benefícios

O biomédico sublinha o fato de esse novo tratamento possibilitar a perda de 5% a 10% do peso, reduzir níveis de colesterol e glicemia e ampliar a qualidade de vida do paciente, sem perder de vista o foco principal do trabalho, que é controlar a diabetes. “Evita-se, assim, sobrecarregar as células do pâncreas do paciente, além de retardar, ao máximo, a ingestão da primeira dose de insulina”, explica o doutorando.

Interessado em participar do protocolo deve manifestar interesse pelo e-mail endocrinodiabetesfmrp@gmail.com. O médico informa responder em até 48 horas se convocará ou não o paciente para entrevista pessoal. “Esse canal de comunicação está aberto também para esclarecer dúvidas sobre a doença ou para quem quer mais informações sobre a metodologia em desenvolvimento na USP Ribeirão Preto”, explica.

Tipo 2

Com mais de 2 milhões de novos casos identificados a cada ano no Brasil, a diabetes tipo 2 é uma enfermidade crônica que afeta o processamento (quebra) das moléculas de açúcar (glicose) no sangue. Tem como sintomas sede excessiva, vontade de urinar frequente, ganho de peso, fome, fadiga e visão embaçada, e, em alguns casos, pode ser assintomática.

“O diagnóstico precoce é fundamental para evitar a progressão da doença, efeitos colaterais e outras doenças associadas. Assim, é fundamental fazer exame semestral de sangue para verificar a taxa de açúcar no sangue”, recomenda.

Depois de diagnosticada, a diabetes tipo 2 tem tratamento, embora exija do paciente disciplina e regramento, além de acompanhamento médico. Essa assistência deve ser prestada por endocrinologista, para tratar distúrbios metabólicos e hormonais e por nutricionista, para observar a dieta e a alimentação.

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página II do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 21/02/2017. (PDF)

Código genético mapeado

Parceria InCor e PM analisa DNA dos ingressantes na corporação para a prática esportiva, atividade policial e prevenção de doenças

Desde 2008, parceria do Laboratório de Genética do Instituto do Coração (InCor) com a Polícia Militar (PM) vem possibilitando mapear partes do código genético (DNA e RNA) de alguns ingressantes na corporação. O estudo integra protocolo de pesquisa conjunto entre as instituições. Visa, primariamente, a entender como genes regulam o ganho de capacidade física, além de avaliar o potencial físico e esportivo dos futuros PMs e identificar doenças cardiovasculares.

No InCor, órgão do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HCFMUSP), o trabalho é coordenado pelo cientista Rodrigo Gonçalves Dias, fisiologista e professor de educação física e pós-doutor em genética e ciência do esporte. A iniciativa congrega mais 15 pesquisadores, entre eles o capitão José Ribeiro Lemes Junior, responsável da Polícia Militar pelo projeto, e também pós-graduando do InCor e docente para a formação de novos policiais da Escola Superior de Soldados da PM.

A cada semestre, 900 recrutas ingressam na corporação; e a adesão ao protocolo é voluntária. São oferecidas 40 vagas e os selecionados pelos pesquisadores têm características comuns: são sedentários, não fumantes, não obesos e sem quadro de doenças cardíacas.

Antes do trabalho físico com os recrutas, são realizados exames detalhados. Além da coleta do sangue, para extração do DNA, são feitos diagnósticos por imagem (ecocardiografia), entre outros como pletismografia, ergoespirometria, composição corporal – a maioria na Unidade de Reabilitação Cardiovascular e Fisiologia do Exercício do InCor.

O banco de dados do protocolo tem 350 registros armazenados. Quem está cadastrado e segue na corporação atualiza seus dados anualmente. Segundo os responsáveis, em 2013 a expectativa é ampliar de 40 para 500 o número de recrutas participantes a cada semestre.

Grupo favorável

Os responsáveis pela pesquisa explicam que a PM é um agrupamento humano bastante favorável a estudos genéticos. A explicação é que, nos pelotões, os escolhidos para o protocolo têm a mesma faixa social, econômica e etária (18 a 31 anos), se alimentam nos mesmos locais (quartéis) e são submetidos a níveis equivalentes de estresse.

O treinamento tem duração de 18 semanas. Neste período, após as aulas de formação, inclusive as de condicionamento físico e o expediente no quartel, cada recruta corre três vezes por semana, independentemente das condições climáticas.

Além da evolução no condicionamento, os recrutas conseguem aumentar, além das notas ao longo do treinamento, o seu preparo físico para a atividade policial.

O conjunto de dados apurados pelos pesquisadores permite elaborar programas de longo prazo para melhorar ainda mais a qualidade de vida de toda a corporação.

Genes e exercícios

Do ponto de vista científico, o principal objetivo do estudo é avaliar como os genes regulam as adaptações sofridas pelo organismo quando se faz exercício. Esta novidade é um desdobramento do trabalho realizado por Rodrigo ao longo de sua vida acadêmica. O cientista de 35 anos teve sua primeira descoberta ao identificar uma alteração no código de um gene que interfere no potencial de dilatação dos vasos sanguíneos quando se faz atividade física.

A descoberta tem aplicações nas áreas de cardiologia e esporte de alto rendimento. Integra estudo que lhe rendeu o Prêmio Jovem Cientista 2012, na categoria Graduado, intitulado Avanços em Genômica para diagnósticos moleculares no esporte. O trabalho foi feito durante doutorado no Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e teve financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapesp).

“Trabalhamos com um chip de DNA, uma ‘plataforma exploratória’, que permite estudar o genoma por completo num único experimento em laboratório. Uma das próximas metas será avaliar o funcionamento de 2.445 genes dos 25 mil que compõem o genoma humano. Já sabemos que o exercício físico altera a velocidade de funcionamento” deles no organismo”, explica Rodrigo.

Trabalho satisfatório

O soldado Éttore ingressou na PM em 2010 e participou do estudo no InCor no início de 2011. Conta que sempre gostou e praticou esportes, mas nunca tinha tido a oportunidade de fazer um programa completo de condicionamento físico.

“Tínhamos aula de segunda a sexta-feira e corríamos sempre três vezes por semana, em dias alternados. Era bastante cansativo, mas o resultado final compensou. Desde então, nunca mais perdi o pique. Além de colaborar com a pesquisa, participar do protocolo me permitiu saber mais sobre minha constituição corpórea e seus limites físicos”, revela o recruta.

Cooperação acadêmica

A parceria PM e InCor surgiu como reflexo da Lei nº 10.366/2008, depois regulamentada em definitivo pela Lei Complementar nº 54.911/2009. Quem informa é o Coronel Arruda, diretor de Ensino e Cultura da Polícia Militar. Segundo ele, a legislação trouxe grande alteração na estrutura de ensino, para uma formação mais global, e aproximou ainda mais os agentes da sociedade.

“Com cooperações acadêmicas como esta, a PM deixou de ser mero objeto de pesquisa e passou a ser protagonista e produtora de conhecimento científico”, observou. “A preparação, acompanhamento e cotidiano de 100 mil profissionais na ativa e 40 mil inativos são um campo fértil para a pesquisa”, conclui.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página I do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 21/12/2012. (PDF)