Não morra pela boca – cuidados com embalagens e alimentos em supermercados e feiras

Consumidor deve sempre verificar informações do rótulo, data de validade e de fabricação, instruções de conservação e de preparo dos gêneros

Preservar a saúde e garantir a higiene dos produtos consumidos pela população. Este é o objetivo da Vigilância Sanitária Estadual, que atua em conjunto com órgãos municipais, federais e de outras unidades da União. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as intoxicações causadas por alimentos são responsáveis por 1,5 bilhão de casos de diarreia e por três milhões de mortes em crianças menores de cinco anos no mundo.

Ao comprar os produtos em supermercados, mercearias e feiras o consumidor deve verificar informações do rótulo, data de validade, estado de conservação da embalagem, data de fabricação, instruções de preparo e modo de conservação. Os riscos à saúde são físicos (ingestão de pelos, pedaços de vidro e plástico), químicos (resíduos de substâncias tóxicas) e biológicos (contaminação com vírus, bactérias e parasitas).

A ingestão de comida contaminada pode provocar mal-estar, dores de estômago, diarreia e vômito. E causar doenças como verminoses, hepatites e o botulismo alimentar, mal que compromete o sistema nervoso central e pode levar à morte se não for tratado a tempo. É provocado pela bactéria Clostridium botulinum que vive no solo e em alimentos contaminados e mal conservados.

Perigo invisível

Segundo Ana Virgínia Figueiredo, gerente de inspeção e controle de riscos de alimentos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o risco de contaminação existe porque nem sempre os agentes causadores de doenças alteram características como cor, sabor e textura dos alimentos. “Não é muito fácil perceber se há algo errado”, alerta.

Ela conta que desde o ano 2000, o Programa Nacional de Monitoramento da Qualidade Sanitária de Alimentos inspeciona itens específicos que vão para a mesa dos clientes. E coloca o consumidor como principal agente fiscalizador. “Ele pode fazer denúncias pelo telefone 0800 61 1997 ou diretamente ao órgão de vigilância sanitária mais próximo de sua localidade”.

Os itens analisados são cafés, congelados, doces, especiarias e temperos, massas, água mineral, água purificada adicionada de sais, biscoitos com recheio, farinha de mandioca, leite em pó, leite, palmito em conserva, produtos de coco, polpa de frutas e sal.

Legislação

A responsabilidade pela garantia da qualidade dos alimentos é do poder público e dos fabricantes. A Lei 6.437, de agosto de 1977, dispõe sobre as penalidades para os fabricantes e comerciantes que não cumprirem as normas. Classifica as infrações sanitárias em três níveis: leves, graves (quando é verificada alguma circunstância agravante) e gravíssimas (quando se percebe a existência de duas ou mais circunstâncias agravantes).

“Se não respeitar a legislação sanitária, o estabelecimento comercial fica sujeito às penalidades. Elas incluem advertências, multas e até a interdição do estabelecimento”, diz Ana Virgínia . “Em casos especiais, considerados de grave risco à saúde pública, a Anvisa atua diretamente”, observa.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 28/04/2004. (PDF)

Adolfo Lutz alerta para riscos de contaminação causada por fungos

Algumas micotoxinas são cancerígenas e reduzem em 40% expectativa de vida nos países pobres

As micotoxinas produzidas por fungos são responsáveis por 40% da redução da expectativa de vida em países pobres, segundo a ONU. Além de doenças, os micro-organismos causam prejuízos também à economia, em especial nos países exportadores agrícolas de grãos e sementes, como o Brasil, que vende café, soja, arroz, e castanha-do-pará no mercado internacional. Nos Estados Unidos e Canadá, as perdas chegam a US$ 5 bilhões anuais com a contaminação de rações para animais.

Myrna Sabino, pesquisadora desde 1967 do Instituto Adolfo Lutz, órgão vinculado à Secretaria Estadual da Saúde alerta a sociedade para o problema. Chefe da Seção de Química Biológica, a especialista explica que existem mais de 350 micotoxinas conhecidas. “Algumas micotoxinas, especialmente a aflatoxina B1 são cancerígenas, favorecem a má formação fetal e podem provocar o nascimento de crianças com deformações. Nos adultos trazem complicações hepáticas”, alerta.

Segundo ela, a parcela da população mais suscetível à contaminação são os mais jovens. “Por terem o sistema imunológico ainda em formação, os riscos são maiores. Nos adultos, o principal problema é a ingestão de alimentos contaminados durante um período prolongado da vida, já que estas substâncias podem acarretar o desenvolvimento de tumores”, explica.

Ciclo e prevenção

Os fungos estão presentes na natureza. A subida da temperatura e da taxa de umidade do ar favorecem o aumento das populações de micro-organismos e da produção de micotoxinas. Elas contaminam silos, armazéns de estocagem e lotes inteiros de grãos e cereais. Fenômenos climáticos como o aumento das chuvas também podem acelerar o processo. Não é possível para o consumidor perceber a contaminação dos alimentos, somente laboratórios são capazes de fazer a verificação. “A boa aparência dos alimentos não significa estarem livres de contaminação”, explica.

Myrna explica que segundo a Organização de Comida e Agricultura das Nações Unidas (FAO) 25% da produção mundial de grãos são perdidos por causa das micotoxinas. A prevenção é possível por meio de práticas agrícolas adequadas, ainda no campo, antes da estocagem dos alimentos. Os grãos mais suscetíveis são o amendoim e o milho, porém todos podem conter micotoxinas. “A castanha-do-pará nacional teve sua importação proibida em fevereiro pela comunidade europeia por causa das aflatoxinas”, conta.

No Brasil, na região sudeste, as autoridades sanitárias e de saúde conseguem manter o País em condições satisfatórias. “Os maiores problemas estão concentrados nas regiões Norte e Nordeste. As dificuldades se multiplicam devido a vastidão territorial e a falta de controle nos portos e aeroportos”, ressalta.

História

Na década de 60, o Brasil exportou farelo de amendoim para a Inglaterra. A matéria-prima vegetal foi transformada em ração para animais e morreram 100 mil perus sem que os veterinários descobrissem as causas. No ano seguinte, a Scotland Yard foi chamada para investigar as causas e não teve sucesso; só então as autoridades locais conseguiram associar a causa das mortes ao produto tropical importado.

A descoberta do agente causador, o fungo Arpergillus flavus fez nascer e aprofundar um novo ramo da ciência, a micotoxologia. O objetivo foi o de estudar o risco que estas substâncias representam para a saúde humana e animal e para a economia internacional, podendo acarretar perdas na cadeia produtiva. Entidades como a Organização Mundial da Saúde (OMS), Agência Internacional de Pesquisas sobre o Câncer e Food and Agriculture Organization se uniram com órgãos de agricultura e saúde pública mundiais para pesquisar e descobrir todas as toxinas produzidas por fungos.

Como curiosidade, Myrna cita passagens históricas e bíblicas, onde as micotoxinas eram o motivo de contaminações e pragas sem que a humanidade soubesse o motivo. Nos livros de Jó e do Êxodo, são relatadas passagens onde Moisés tentava libertar os hebreus do domínio faraônico. Há evidências de que uma dez pragas lançadas contra os egípcios estivesse relacionada com a presença de micotoxinas, já que a contaminação dizimou rebanhos ovinos e a peste induziu tumores e úlceras nos animais e no povo egípcio.

Fogo de Santo Antônio

Na Idade Média, entre os séculos XV e XVI, os franceses se assustavam com a doença conhecida como Fogo de Santo Antônio. A epidemia causada pela ingestão de centeio contaminado por Claviceps purpurea provocava a sensação de queimação na pele e surtos de gangrena. As vítimas procuravam o Santuário de Santo Antônio na França para se curar.

Guerra do Iraque

No século 20, durante a Segunda Guerra Mundial cerca de 100 mil russos perderam a vida devido as toxinas produzidas pelos fungos. Na Guerra do Vietnã, nos anos 60 e 70, as micotoxinas foram utilizadas como armas biológicas pelos exércitos para provocar enfermidades nos soldados inimigos.

Myrna comenta ainda que uma das justificativas utilizadas pelos Estados Unidos para bombardear o Iraque, era a suposta presença de armas químicas e biológicas incluindo fungos produtores de micotoxinas e mesmo micotoxinas nos laboratórios mantidos pelo governo de Saddam Hussein. Eles comporiam o suposto arsenal biológico do antigo regime.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página I do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 04/12/2003. (PDF)