Fapesp promove ciência e inovação

Programa Pipe fornece até R$ 1,2 milhão para empresa que necessita investir em tecnologia; recurso deve ser usado para desenvolver produtos, processos e serviços em qualquer área

Criado em 1997, o programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), apoiou 1,6 mil projetos de empresas privadas. A iniciativa de financiamento científico a fundo perdido do Governo paulista visa a estimular a criação de negócios com base em tecnologia. Os empreendimentos podem se inéditos ou mesmo já estarem estabelecidos em um dos 645 municípios paulistas.

O pesquisador da coordenação do Pipe, Lúcio Angnes, explica que a ação tem viés social e pretende estimular a geração de emprego e renda no Estado a partir da inovação em produtos, processos ou serviços em todas as áreas do conhecimento. O conceito é o de apoiar iniciativas que também tenham potencial de retorno comercial ou social, devendo a pesquisa ser executada nas instalações da empresa.

Viabilidade

O Pipe atende empresas com até 250 empregados e, a cada trimestre, abre nova etapa para a submissão de projetos. No dia 25 de setembro, a Fapesp irá realizar em sua sede, na capital, mais uma edição do evento Diálogo sobre Apoio à Pequena Empresa.

O encontro é gratuito e detalha as informações e prazos do programa (ver link em serviço). Interessado em participar do evento deve se inscrever no site do programa. Em 2015, o último prazo para submissão on-line de projetos é 3 de novembro. Pedidos encaminhados após esta data serão analisados no trimestre seguinte.

Regras

Toda proposta apresentada precisa ter um pesquisador responsável, com vínculo empregatício com a empresa. Esse profissional não precisa ter graduação completa, mas deverá comprovar conhecimento e competência técnica no tema do trabalho, devendo dedicar no mínimo 24 horas semanais ao projeto – o recomendável são 40.

“O solicitante não precisa apresentar contrapartida. Ao avaliar os projetos, a Fapesp considera viabilidade, potencial de retorno comercial e de aumento de competitividade e o estímulo à criação de uma cultura de inovação permanente nas organizações”, destaca Agnes.

O Pipe pode bancar uma ou duas etapas de um projeto, sendo de R$ 200 mil o teto na primeira fase e de R$ 1 milhão na segunda. Também podem ser apresentados à Fapesp pedidos de bolsas de Treinamento Técnico e de Pesquisa em Pequena Empresa, em ambas as fases.

Contas

O financiamento para a fase 1, considerada a mais crítica, deve incluir estudo de viabilidade técnico-científica, tem prazo de duração de até nove meses, exige apresentação de relatório técnico final, além da prestação de contas dos recursos investidos. Se houver interesse em submeter proposta para receber financiamento para a fase 2, ao final do sexto mês da primeira etapa, deverá ser apresentado relatório de progresso. A qualidade dos resultados apresentados nesse relatório, bem como a da nova proposta serão determinantes para a qualificação para a fase 2. Essa etapa exige o desenvolvimento da proposta de pesquisa e mais um plano de negócio.

O objetivo é descrever como será a comercialização dos novos produtos e os meios de obtenção de financiamentos necessários. A execução deve ser concluída em até dois anos, sendo preciso apresentar relatórios à Fapesp. É possível ingressar diretamente na fase 2, o que exige a apresentação de justificativa para a dispensa da etapa inicial.

Combater a dor

Com espírito empreendedor nato, o administrador Moacyr Bighetti se especializou em comércio exterior. Em 1992, fundou a Medecell, uma empresa sediada em Botucatu que, na época, era especializada em importar e revender no mercado nacional materiais para a área médica, como stents (para desentupir artérias) e cateteres.

A experiência adquirida com desembaraço aduaneiro e registro de produtos possibilitou à empresa prestar consultoria para outros empreendedores interessados em internacionalização, ou seja, importar e exportar.

Em 2007, o administrador conheceu um médico norte-americano em um congresso que lhe apresentou a neuroestimulação elétrica transcutânea. Conhecida como TENS, sigla em inglês para Transcutaneous Electrical Nerve Stimulation, a técnica com impulsos elétricos tem resultados satisfatórios para aliviar a dor, favorecer a reabilitação física e atenuar incômodos, como, por exemplo, cólicas menstruais.

Conhecimento

Bighetti conta que a neuroestimulação elétrica transcutânea é um conhecimento milenar acumulado pela humanidade ao longo do tempo. “Essa tecnologia é de domínio público e livre de efeitos colaterais”, observa. “Faltava, porém, um jeito de permitir ao paciente usá-la, de modo seguro, em casa, e com um dispositivo sob medida e preço acessível”, analisa.

No segundo semestre de 2012, ele apresentou à Fapesp um projeto Pipe de fase 2. Aprovado em julho de 2013, o financiamento de R$ 447 mil o ajudou a desenvolver, com o apoio do professor Maurício Marques de Oliveira, pesquisador da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), dois produtos baseados na neuroestimulação elétrica transcutânea.

Os produtos dispensam prescrição médica e são comercializados em farmácias e lojas de instrumentos médicos. São usados e recomendados por jogadores e fisioterapeutas da seleção brasileira e de clubes paulistas de futebol. Agora, Bighetti negocia com parceiros comerciais a exportação dos produtos para os Estados Unidos e todos os países da América Latina.

Desdobramentos

O administrador conta que o financiamento da Fapesp deu importante impulso para a empresa patentear seu produto no Brasil e em mais 40 países. Ofereceu também bolsas de pesquisa para os técnicos Wagner Gunther (de informática) e Vinicíus Teodoro (de eletrônica), participantes do trabalho.

Bem-sucedido na parceria com a Fapesp, Bighetti recorreu ao Programa de Apoio Tecnológico à Exportação (Progex), do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação, para fazer o design dos produtos de sua empresa.

“Sempre recomendo o Pipe e outros serviços de apoio ao empreendedor mantidos pelo Estado para amigos e fornecedores. Pretendo submeter novo projeto”, revela.

Serviço

Programa Pipe-Fapesp

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 11/08/2015. (PDF)

Molécula pode ser usada na luta contra o câncer

Pesquisa do Instituto Butantan obtém proteína capaz de eliminar células de tumores sem atacar tecidos sadios; trabalho gerou parceria com Fapesp, IPT, BNDES e União Química

Ao estudar moléculas anticoagulantes existentes no DNA de animais hematófagos (que se alimentam de sangue), o grupo multidisciplinar de 20 cientistas, coordenado pela farmacêutica-bioquímica Ana Marisa Chudzinski-Tavassi, do Instituto Butantan, identificou uma que se revelou promissora para o desenvolvimento de drogas anticâncer.

Testada com sucesso em roedores e não roedores, a proteína obtida a partir da molécula consegue eliminar células de tumores de modo eficaz e com ação localizada, sem atacar tecidos sadios.

Iniciado em 2005, o trabalho, pioneiro no País, teve apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapesp) e da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação de São Paulo.

Com término previsto para o fim de 2017, o estudo tem custo total estimado de R$ 20 milhões e já apresenta como resultados uma patente no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) e a montagem de uma plataforma (laboratório) de pesquisa no Butantan para purificação de moléculas.

Parceiros

Apostando na viabilidade da molécula, três novas instituições foram incorporadas ao trabalho e passaram a atuar ativamente no projeto. A primeira da lista é o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), ligado ao governo federal, cujo repasse de verbas foi feito por meio do financiamento de Fundo Tecnológico (Funtec).

O segundo parceiro é o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), que estuda a estruturação da produção da molécula em escala industrial. O último é a União Química, empresa farmacêutica que adquiriu o direito de reaproveitar a tecnologia desenvolvida para fabricar medicamentos com base na descoberta do Butantan, instituto vinculado à Secretaria de Estado da Saúde.

A empresa aguarda autorização e orientações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para iniciar testes com seres humanos. A expectativa é que essa definição ocorra em breve e a avaliação com voluntários tenha início no segundo semestre.

Inspiração

A glândula salivar do carrapato-estrela, transmissor da febre maculosa, foi o ponto de partida do trabalho. A cientista Ana Marisa, diretora do Laboratório de Bioquímica e Biofísica do Butantan, explica que a proposta era descobrir quais moléculas estavam presentes no impedimento da coagulação do sangue do animal picado (hospedeiro), ou seja, no momento em que o aracnídeo se alimenta.

O passo seguinte foi identificar qual dessas moléculas teria maior potencial para originar anticoagulantes (capazes de impedir tromboses) e anti-hemostáticos (para prevenir hemorragias). “Muitos pesquisadores buscam novos agentes biológicos com essas características, pelo fato de terem diversas aplicações nas áreas médica, farmacêutica e veterinária”, explica Ana Marisa.

Identificado o gene, os pesquisadores do instituto obtiveram, em laboratório, uma proteína recombinante com as características da molécula. A técnica usa micro-organismos (bactérias) na produção do material, que também é purificado (esterilizado) e submetido a análises para comprovar sua ação anticoagulante e anti-hemostática.

Novos rumos

Ana Marisa explica que vários tipos de tumores têm atividade pró-coagulante. Nos testes de eficácia, a molécula se mostrou também capaz de identificar e eliminar células de câncer de pele, de pâncreas e de rim. “A descoberta deu novo direcionamento à pesquisa. O desafio foi, então, descobrir como funcionam exatamente esses mecanismos e definir meios para repetir em escala industrial a produção da molécula obtida em laboratório”, ressalta.

Em 2011, o Butantan firmou convênio com o IPT, órgão também vinculado à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação, para orientar o método de escalonamento da produção e repassá-lo à União Química. No instituto vizinho do Butantan, e também sediado na Cidade Universitária, na capital, o trabalho é coordenado pela pesquisadora Maria Filomena Rodrigues, do Laboratório de Biotecnologia Industrial.

Farmacêutica-bioquímica, Maria Filomena comanda no IPT equipe multidisciplinar de 20 pesquisadores dedicados à preparação da molécula para sua produção em biorreatores (fermentadores). Um dos desafios do grupo foi encontrar o meio ideal para o crescimento da bactéria que produz a proteína recombinante derivada da molécula, além de buscar opções para reduzir custos e aumentar a produtividade.

“Em 2006, troquei impressões com a Ana Marisa sobre o estudo dela, que ainda estava na fase de extração da saliva do carrapato. Hoje, com o trabalho encaminhado, ele é visto como resultado do empenho coletivo (Butantan, IPT, BNDES, Fapesp e União Química) em definir um modelo interessante de financiamento de pesquisa e, ao mesmo tempo, de prestação de serviços à sociedade”, revela, orgulhosa.

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página II do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 24/06/2015. (PDF)

USP São Carlos auxilia a mapear áreas arrasadas no Nepal

Auxiliar no resgate de vítimas e na reconstrução da infraestrutura de cidades arrasadas por desastres naturais. Esta é a proposta do grupo acadêmico liderado pelo professor do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP São Carlos, João Porto de Albuquerque. O trabalho é realizado depois das aulas e tem adesão voluntária de 50 alunos de graduação e pós-graduação.

Desde o dia 26 de abril, o grupo paulista de pesquisadores se uniu a outros milhares de voluntários de diversos países para auxiliar, pela internet, na produção colaborativa de mapas bidimensionais. As informações geográficas ajudam nas tomadas de decisão em ações de socorro e de assistência aos flagelados do terremoto ocorrido na véspera, no Nepal.

O abalo sísmico de 7,8 pontos na Escala Richter atingiu áreas densamente povoadas do país asiático, distante 15 mil quilômetros do Brasil. O tremor de terra afetou a vida de 8 milhões de pessoas, causando, de acordo com informações mais recentes, 7,2 mil mortes e 14 mil feridos.

Comparações

O professor explica que os mapas bidimensionais integram um banco de dados de uso livre, o OpenStreetMap, e são gerados a partir de fotos de satélites, cujos direitos de uso foram cedidos por questões humanitárias. De âmbito mundial, a plataforma tecnológica simula, no computador, a disposição original e exata de escolas, edifícios, estradas, ruas, hospitais, viadutos, etc.

A comparação das imagens processadas no mundo virtual com as atuais permite identificar com precisão quais eram os antigos locais e o que havia sobre eles. Desse modo, facilita o acesso, nos escombros, a possíveis sobreviventes e favorece a distribuição de alimentos, medicamentos e cobertores nas tendas com desabrigados. “Essas informações também serão úteis no futuro, no momento da reconstrução”, acrescenta o professor.

Desdobramentos

Ele informa que a USP mantém um projeto piloto com a prefeitura de São Carlos para mapear áreas de risco de enchentes na cidade. Financiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), a pesquisa tem término previsto para março de 2018.

“A ideia é aprimorar ao máximo a metodologia de mapeamento de áreas de risco de desastres naturais no Estado de São Paulo. E, depois, repassá-la aos órgãos responsáveis por ações preventivas e ostensivas, como Defesa Civil, Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden)”, destaca o professor.

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página I do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 07/05/2015. (PDF)