Fé e contemplação

Peregrinação, e turismo fazem parte da rota no litoral paulista e repetem passos históricos do padre José de Anchieta

A Secretaria Estadual do Turismo lançou, em Peruíbe, a primeira etapa do projeto Caminha São Paulo: A Rota Passos dos Jesuítas – Anchieta. Passando por 13 cidades do litoral paulista, a via pedestre de peregrinação e contemplação começa no Entre posto de Pesca em Peruíbe e vai até Ubatuba, totalizando 360 quilômetros.

O objetivo da rota é promover o turismo monumental e religioso, além de resgatar o caminho histórico trilhado pelos jesuítas na costa brasileira, no século 16, quando vieram catequizar os índios. Este é o primeiro roteiro de um total de oito que a pasta do Turismo pretende lançar nos próximos anos.

A expectativa com A Rota Passos dos Jesuítas – Anchieta é aumentar a visitação no litoral, sobretudo na baixa temporada. Nos próximos três anos serão lançados mais três caminhos relacionados com as caminhadas de padres, como Manoel da Nóbrega e José de Anchieta. E mais quatro resgatando as andanças dos bandeirantes como Borba Gato e Fernão Dias Pais, pelo interior paulista. A ideia é homenagear personalidades que contribuíram para o desbravamento de São Paulo.

Certificado on-line

O site www.caminhasaopaulo.com.br informa a localização dos totens e abre espaço para o turista escrever relatos, publicar fotos e compartilhar suas experiências nas redes sociais, por meio do envio de fotos e mensagens de texto (SMS). A ideia é permitir ao caminhante registrar suas andanças e comparar tempos depois e, ainda, liberar o acesso às informações para amigos e familiares.

O percurso escolhido não precisa ser completado todo de uma vez. O cartão eletrônico tem validade de um ano e permite programar o itinerário. Quando é registrada a passagem do viajante em um dos 12 totens, o site gera de modo automático um certificado on-line para ser impresso no portal O Jesuit Magna – a prova de que ele cumpriu o trecho.

Inspiração europeia

Na inauguração da primeira etapa da rota, o ator Nuno Leal Maia interpretou o jesuíta José de Anchieta, em ato teatral que percorreu um trecho do caminho durante a inauguração. Também comparecerem ao lançamento os atores Bruna Lombardi e Carlos Alberto Riccelli.

A inspiração para criar a rota turística paulista foi o Caminho de Compostela, via europeia de peregrinação, cujo itinerário mais famoso começa no vilarejo francês de Saint Jean Pied de Port, na região da Aquitânia, e segue por 800 quilômetros no sentido leste. O destino final é a catedral de Santiago de Compostela, na Espanha.

Peregrinos

Moradores de Peruíbe, Paulo Silva e sua filha Michele há oito anos percorreram o Caminho de Santiago. E agora estão entusiasmados com a possibilidade de repetir a experiência de peregrinação na cidade onde moram. Pretendem caminhar até a praia de Barra do Una, em São Sebastião.

Disposição semelhante tem José Palma, coordenador técnico do Projeto Caminha São Paulo e responsável pela rota Passos dos Jesuítas – Anchieta. Também é idealizador do Caminho do Sol, trilha ecoturística paulista de 240 quilômetros que começa na cidade de Santana de Parnaíba e termina em Águas de São Pedro. Ele pretende completar em sete dias os 140 quilômetros iniciais de Peruíbe até Bertioga.

“Vou dormir nas pousadas e hotéis cadastrados na Secretaria do Turismo. As refeições serão feitas nos bares e restaurantes participantes”, informa. “Pretendo mostrar aos comerciantes quem é o peregrino e como recebê-lo de modo adequado. Afinal, ele é o turista do presente e do amanhã. Muitas vezes, quando chega ao balcão da hospedagem está exausto da jornada física e precisa de um bom acolhimento, de um abraço ou mesmo de um copo de água, e não de um formulário para preencher”, ressalta.

Ana Luzia Caro veio da capital com o único propósito de percorrer o trecho inicial dos Passos dos Jesuítas. Trouxe consigo a amiga Maria Helena. Veterana, Ana já completou sete vezes o Caminho do Sol e três vezes o de Santiago de Compostela. “Sou peregrina e também já acolhi peregrinos na minha casa. Digo, sem errar, que as amizades feitas nas caminhadas são as melhores que fiz na vida”, conclui.


Como participar

Gratuito, o Caminho do Sol pode ser iniciado em qualquer uma das 13 cidades, mas sempre deve ir do litoral sul para o norte. Há várias opções de caminho e todas permitem ao turista conhecer os pontos históricos da região. A rota é identificada por placas e avisos, que garantem ao visitante um passeio ou peregrinação com segurança e precisão.

Para participar, basta inscrever-se pela internet, no site www.caminhasaopaulo.com.br. No portal, o caminhante recebe um código de barras para ser trocado por um smart card em um dos Postos de Emissão do Cartão do Caminhante (Pece). O resgate deve ser feito com a apresentação do RG ou documento de identificação com foto.

Os postos serão instalados nas secretarias municipais e unidades de informação turística das cidades participantes. O cartão (smart card) servirá como identificação para que o caminhante ganhe descontos em pousadas e restaurantes. Também contém um chip que, ao ser e encostado em qualquer leitor dos 22 totens eletrônicos espalhados pela rota oficial, registra a passagem na página pessoal do usuário no site.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 22/09/2011. (PDF)

Arquivo do Estado coloca na Internet um pedaço da história: 20 anos de Última Hora

Serviço on-line gratuito traz imagens em tamanho original de edições do jornal Última Hora publicadas entre 1951 e 1971

O Arquivo Público do Estado de São Paulo avançou mais uma etapa na preservação da memória nacional. Criou, no início de outubro, em parceria com a AMD, fabricante de processadores para computador, uma página exclusiva para a divulgação on-line e gratuita de imagens das edições cariocas do jornal Última Hora, no período compreendido entre 1951 e 1971.

O projeto é dividido em duas etapas. A primeira, que deverá estar finalizada em março, prevê a digitalização de 36 mil páginas (60 meses) do jornal. A segunda terminará no final de 2008 e pretende homenagear o 200º aniversário da imprensa nacional, história iniciada em 1808 com a criação do Correio Braziliense por Hipólito José da Costa.

Segundo Lauro Ávila Pereira, diretor do Departamento de Preservação e Difusão da Memória do Arquivo Público do Estado, a iniciativa resgata parte da memória do jornalismo no País e facilita o acesso ao acervo para pesquisadores e interessados.

A coleção traz fatos relevantes da história brasileira e mundial das décadas de 1950 e 1960: o suicídio de Getúlio Vargas (1954), a inauguração de Brasília (1960), a renúncia de Jânio Quadros (1961), o bi e o tricampeonato da seleção de futebol (1962 e 1970), o assassinato do presidente norte-americano John Kennedy (1963) o Golpe Militar (1964).

Reprodução na íntegra

No momento, Lauro explica que estão sendo colocadas on-line reproduções das capas e miolos das edições em tamanho original, com 47,6 por 67,1 centímetros. A etapa seguinte será conseguir completar, com outras instituições, as edições do jornal que estiverem faltando.

“Oferecer grátis no site o conteúdo integral de cada edição é uma tendência iniciada em setembro pelo New York Times”, explica Carlos Bacellar, coordenador do Arquivo Público do Estado.

“Há também material inédito para os pesquisadores. São negativos fotográficos contendo imagens não aproveitadas pelos editores do jornal. Porém, somente entrarão no site quando for resolvida a questão dos direitos autorais com os herdeiros dos fotógrafos, uma vez que não são de domínio público”, explica Carlos.

Respeito às fontes

Alessandra Cruz, historiadora do Arquivo Público do Estado, coordena o processo de produção das páginas. Segundo ela, um dos maiores desafios encontrados é reconstituir e tratar os originais deteriorados, antes de microfilmar e digitalizar as edições.

“A ação do tempo deixou suas marcas no material e em muitas datas, eram publicadas mais de uma edição. O critério adotado é usar sempre a edição que estiver em melhor estado de conservação, sem, contudo, modificar os originais e preservar até mesmo o tom amarelado. Assim, quem conferir a edição com a chegada do homem à Lua, terá a impressão de estar folheando um jornal de  julho de 1969, sem retoques no Photoshop”, observa Alessandra.

Inovador e revolucionário

O acervo carioca da Última Hora foi adquirido em 1989 pela Secretaria Estadual da Cultura junto a Pinky Wainer, filha de Samuel Wainer, fundador do periódico. Antes da vinda em definitivo para o Arquivo Público do Estado, a coleção estava guardada em um sítio da família.

O conjunto contempla 246 volumes encadernados das edições paulista e carioca, 160 mil cópias fotográficas, duas mil caricaturas, 600 mil negativos, 6 números da revista Diretrizes e 555 rolos de microfilmes do jornal.

O matutino é considerado um marco histórico na imprensa brasileira. Inovador e com apelo popular, a Última Hora ampliou o uso de cor, ilustrações e fotos na diagramação das páginas. As reportagens priorizavam política, esporte, rádio, comportamento e temas policiais. O leitor dispunha também de colunas e crônicas assinadas por Nélson Rodrigues, Chacrinha, Stanislaw Ponte Preta, Jô Soares, Ignácio de Loyola Brandão e Nelson Motta.

Nos anos 1950 e 1960 era comum a imprensa apoiar abertamente políticos e partidos. A Última Hora surgiu no Rio de Janeiro em 1951 e foi o único grande jornal do País a opor-se desde o início à ditadura de 1964. Circulou até 1971 e alinhou-se com os presidentes Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e João Goulart. Em 1952 foi criada a versão paulista do jornal – depois foram lançadas edições regionais em cidades como Campinas e Niterói e em capitais como Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre e Recife.


Parceria defende a memória

Carlos Bacellar conta que a parceria com a AMD nasceu a partir do interesse da empresa em investir em cultura. O objetivo era associar o nome da organização ao do órgão criado em 1721 e atualmente ligado à Casa Civil. A fabricante norte-americana de chips sugeriu participar de um projeto ligado ao tema imagem digital.

“Entre as opções apresentadas, a escolha foi o acervo da Última Hora, devido à abrangência nacional do periódico e à sua importância na história do jornalismo brasileiro”, explicou Bacellar.

O acordo firmado entre as instituições envolve o trabalho de 20 profissionais. A parte operacional, do investimento em produção, programação e armazenamento de informações do site ficou a cargo da empresa, que também cedeu computadores e pessoal. O restante ficou com o Arquivo Público do Estado.

“É uma grande satisfação empregar nossa tecnologia para preservar a memória brasileira e facilitar o acesso da população a um conteúdo importante” explica José Scodiero, vice-presidente de marketing da AMD para a América Latina.

Serviço

Última Hora digitalizado

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 02/11/2007. (PDF)