Observatório Astronômico em São Carlos é opção de ciência e cultura nestas férias

Atração permanente é grátis; visitante pode ver corpos celestes e adquirir conhecimentos de forma lúdica

Criado em abril de 1986, no rastro da decepcionante segunda passagem do cometa Halley pela órbita terrestre, o Observatório da Universidade de São Paulo, em São Carlos, é uma das atrações permanentes oferecidas pelo Centro de Difusão Científica e Cultural (CDCC) da universidade.

Todos os serviços oferecidos são gratuitos e um dos destaques para o visitante é conferir os corpos celestes através das lentes do telescópio refrator Grubb, de fabricação irlandesa.

O observatório foi montado com recursos da USP, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e de indústrias da cidade. O físico especializado em óptica Jorge Hönel é um dos responsáveis pelo local desde o início de suas atividades.

O nome oficial do observatório é Centro de Divulgação da Astronomia (CDA) e, desde sua criação, mais de 150 mil pessoas já o visitaram. Suas propostas incluem divulgar, de modo lúdico e interativo, a astronomia, a área do conhecimento mais antiga da humanidade; aproximar a universidade da população; e despertar nos alunos do ensino fundamental e médio o interesse pela ciência e pela cultura.


Formação complementada

Outra função do observatório é complementar a formação universitária dos alunos por meio de estágio e monitoria. Esta foi a escolha de Mariana Padoan, aluna do curso de Ciências Físicas e Biomoleculares e monitora desde dezembro de 2006. Solícita, esclareceu dúvidas do casal Israel e Eliana Nascimento, residentes em Brotas, dispostos a fazer observação noturna no dia 24.

Fellipy Dias Silva, estudante de Física da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), é monitor voluntário desde março. Nascido em Santos, desde a infância tinha em mente aprofundar conhecimentos em astronomia. A possibilidade de trabalhar no observatório foi considerada na sua decisão de cursar faculdade em São Carlos.

Na mesma noite, proferiu a palestra sobre o Projeto Constellation, missão norte-americana iniciada no ano passado, que visa à construção de um centro de pesquisa na Lua. Na oportunidade, fez uma reconstituição histórica da corrida espacial desde o pós-guerra. A exposição contemplou todas as missões Apollo, as incursões soviéticas e o ingresso da China, Japão e Índia no grupo de países com projetos espaciais avançados.


Equipamentos e instalações

O observatório funciona nas dependências do Campus I da USP São Carlos. O desenho atual do edifício é o resultado das obras de ampliação realizadas em 2002. Todo o projeto arquitetônico do prédio foi concebido de modo a privilegiar a observação astronômica.

No térreo ficam o auditório, com recursos multimídia e capacidade para 65 pessoas, a sala de apoio, os sanitários e o bebedouro. O primeiro andar abriga a sala de instrumentação, a escura, o relógio solar e uma área externa para observação celeste.

Estão no segundo piso a cúpula do telescópio Grubb e um vão livre usado pelos visitantes para a observação com binóculos, lunetas e os telescópios refrator Zeiss (baseado em lentes) e o Newtoniano-Dobsoniano (funciona com espelhos). Esses equipamentos foram cedidos pela instituição e têm acompanhamento dos monitores.


Visitação e roteiro turístico

A visita ao observatório pode ser individual ou em grupo. A instituição também agenda turmas escolares da rede pública e privada, nos horários matutino, vespertino e noturno. O programa dura duas horas, sendo 30 o número recomendado de alunos e 50 o limite. O pedido deve ser feito com antecedência.

“Temos pouca divulgação, mas já integramos o roteiro turístico municipal. Atualmente, muitas escolas da região programam excursões para São Carlos e associam a observação astronômica em um período do dia com outras visitas, como o Museu Asas de um Sonho, ligado à aviação”, observa Hönel.

O público médio nos horários de visita é de 20 pessoas e deve crescer em 2008, com a finalização do projeto Jardim do Céu na Terra. Essa iniciativa trará atividades como a Sala Solar, a ser instalada na parte externa do observatório.

Se as condições atmosféricas e do céu estiverem favoráveis e com pouca nebulosidade, é possível observar planetas, estrelas e nebulosas e outros astros. A entrada do observatório fica na Rua Dr. Carlos Botelho, esquina com a Rua Visconde de Inhaúma, região central.

Às quartas-feiras, o funcionamento é das 9 às 11 horas e das 19h30 às 21h; às quintas-feiras, das 14h às 16h e das 19h30 às 21h30; e nas noites de sexta-feira a domingo, das 20h às 22h.


Mundo da Lua

“Para a maioria do público, ver a Lua e suas crateras nos telescópios é o pedido mais comum. Para conferir com mais nitidez o solo lunar e os efeitos das sombras, sugerimos a observação na fase quarto crescente em vez da cheia. A iluminação lateral do solo lunar evidencia o relevo da Lua”, explica Hönel.

Uma atração especial é a Sessão Astronomia, atividade especial realizada desde 1992 aos sábados, às 21 horas. Trata-se de uma palestra com até uma hora de duração, proferida, em cada data, por um dos dez alunos-monitores do Centro. Nesses encontros, o universitário usa linguagem simples para explicar fenômenos astronômicos para públicos de todas as faixas etárias. Os assuntos abordados são variados e retratam temas atuais e ligados ao cotidiano das pessoas.

Outra atividade pedagógica oferecida são os minicursos para turmas de alunos da rede pública e privada. As aulas e demais trabalhos são ministrados nas instalações do Centro. Para aprofundar conhecimentos, o visitante pode consultar o acervo permanente da instituição, nos horários de visita. Dispõe de livros, vídeos, animações, apresentações, fotos de campo do céu e de eventos celestes – eclipses da Lua e do Sol, entre outros. O site do observatório também é fonte recomendada de informações sobre astronomia.

Serviço

Observatório da USP São Carlos
E-mail cda@cdcc.sc.usp.br
Telefone (16) 3373-9191

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 21/12/2007. (PDF)

IAC: 120 anos como referência em pesquisa agronômica

Produtividade no País saltou de 60 para 120 milhões de toneladas de grãos por ano e área plantada aumentou somente 15%

O Instituto Agronômico de Campinas (IAC), o mais antigo centro de pesquisa em agricultura do Brasil e da América Latina completou 120 anos de fundação ontem.

Fundado por Dom Pedro II em 1887 e vinculado ao Governo Estadual desde 1892, o IAC foi criado para aprimorar o conhecimento do País na cultura cafeeira. Hoje é referência internacional em pesquisa e melhoramento genético em todas as atividades ligadas ao agronegócio no País.

Presente em todas as regiões paulistas, o IAC teve em 2006 orçamento de R$ 41 milhões, sendo R$ 25 milhões da Secretaria Estadual da Agricultura (SEA) e R$ 16 milhões da iniciativa privada e de agências de fomento: Fapesp, FinepCNPq. Abriga 350 funcionários, 204 pesquisadores e mantém 600 projetos em pesquisa.

Em seu mês de aniversário, o IAC celebra também a publicação de mais de 200 teses em seu projeto de pós-graduação stricto sensu, instituído em 1999. A formação acadêmica trouxe à sociedade novo serviço. Além de gerar conhecimento, o instituto passou a formar recursos humanos especializados em encontrar soluções para os problemas existentes nas lavouras brasileiras.

A pós-graduação é referendada pela Capes e dividida em três áreas de concentração: Gestão de Recursos Agroambientais, Melhoramento Genético Vegetal e Tecnologia da Produção Agrícola. O curso reúne profissionais interessados em trabalhar na iniciativa privada. Destaca-se por oferecer formação direcionada à pesquisa aplicada e geração de tecnologia específica para cada cultura.

Genoma de citros

Orlando de Melo Castro, diretor do IAC, comemora o sucesso de variedades produzidas, mais especificamente a cana forrageira (IAC86-2480), lançada em 2002 e bastante disseminada em São Paulo e Minas Gerais. A planta tem baixo teor de fibra, é adequada à alimentação do gado e aumenta o peso e a produtividade dos animais do rebanho leiteiro em comparação às outras fontes de alimentação.

Entre as novidades, Orlando destaca o atual estudo do IAC que visa a identificar e produzir laranjas ricas em vitaminas A e E por meio de melhoramento genético. Segundo ele, a meta é obter um fruto saboroso, de alto valor nutricional, resistente às pragas, de manejo simples e rentável para o produtor paulista e brasileiro.

Uma conquista recente, de 2002, foi o uso do manjericão como substituto ao pau-rosa, árvore da Amazônia ameaçada de extinção utilizada para a extração do linalol – óleo utilizado pela indústria de cosméticos para produzir aromas como o perfume Chanel nº 5.

Para o futuro, Orlando aponta como desafio para o IAC e para o Estado brasileiro conseguir transferir a inovação desenvolvida em seus laboratórios para o assentado ou pequeno produtor rural. Prover também meios de garantir a sustentabilidade de cada negócio.

“Com o adequado manejo é possível plantar frutas de regiões frias como a uva, o morango e a maçã em regiões do Nordeste brasileiro. Contudo, o desafio maior é fazer chegar até o produtor a informação de qualidade. Com a TV e a internet, os boletins e eventos regionais promovidos pelo IAC têm sido ferramentas importantes de divulgação, mas estes canais não são suficientes para integrar em definitivo o produtor de uma região distante à cadeia nacional do agronegócio”, observa.

Ação integrada

Na área agronômica, o IAC é um parceiro natural da iniciativa privada e seu trabalho contempla agricultores de pequeno, médio e grande porte. Muitas vezes a pesquisa é realizada dentro da propriedade do produtor rural, para ter mais abrangência e permitir análises aprofundadas de condições climáticas, qualidade do solo e oferta de água e luz.

São Paulo lidera a pesquisa e produção de açúcar e álcool no País. E a estratégia do instituto para a cana foi dividir em 1999 o Estado em sete áreas, de modo a produzir variedade específica para cada região do território paulista.

“Os estudos realizados pelo Centro de Cana do IAC orientarão a instalação de novas usinas em Tocantins, oeste baiano e sul de Minas Gerais. A tecnologia desenvolvida nos laboratórios do instituto também orienta o cultivo do algodão no Paraná, Goiás e Mato Grosso. A cultura da mamona em São Paulo é pequena, com apenas mil hectares. Em contrapartida, a variedade Guarani criada no instituto é a mais cultivada no País, no Nordeste brasileiro e em Minas Gerais, os principais produtores”, observa Orlando.

“Embora São Paulo domine toda a cadeia produtiva do etanol, faz-se necessário disseminar em outros Estados e continentes sua tecnologia de produção. Assim será possível criar mercado internacional para o produto e evitar o risco futuro do desabastecimento. Além disso, a cultura sucroalcooleira (açúcar e álcool) tem potencial para impulsionar a economia de países com clima e características parecidas com as nacionais”, analisa.

“O risco de concorrência com os novos produtores será pequeno. O Brasil tem produção em maior volume, condições climáticas excepcionais e áreas disponíveis para ampliar o plantio, insuficiente ainda para atender toda a frota nacional de veículos flex”, ressalta.

Celeiro do mundo

Na opinião de Orlando, o Brasil ainda é chamado celeiro do mundo por ser uma das principais potências agrícolas internacionais. Sua tendência é crescer o suficiente sem depender, à semelhança da Europa e dos EUA, de subsídios governamentais.

De qualquer forma, tem como desafio incorporar gradativamente mais tecnologia e qualidade para passar a produzir e exportar itens de maior valor agregado. “Além de criar produtos diferenciados, com marca e identidade próprias, para conseguir ultrapassar as barreiras sanitárias estrangeiras, que serão ainda mais restritivas”, observa.

Nos últimos 15 anos, o País registrou aumento de 60 para 120 milhões de toneladas de grãos por ano, tendo ampliado a área plantada em apenas 15%. “A vocação brasileira continua sendo agrícola. O aumento na produtividade do algodão, milho, soja, feijão e arroz é resultado da incorporação de tecnologias, uso correto de defensivos, melhor adubação e manejo de solo, práticas de plantio direto. O IAC, ao completar 120 anos, tem participação direta nesses números”, comemora.


Café: a cultura inicial

O cafeeiro arábica foi trazido para o Brasil em 1727. Chegou em Campinas em 1810, tendo como origem o Vale do Paraíba. Até então era cultivado no Estado como cultura nômade. Em 1887, a partir de solicitação dos cafeicultores paulistas, foi criada a Estação Agronômica de Campinas, origem do atual IAC.

Na época, o desafio era encontrar respostas para as questões de adubação, de reposição de nutrientes e métodos de conservação do solo. Evitar, assim, o esgotamento da terra após os primeiros anos da cultura e interromper a constante procura e necessidade por novos terrenos, com solos produtivos e ricos em matéria orgânica.

Entretanto, o aumento da área cultivada e a adaptação da planta às condições de solo e ao clima paulista transformaram São Paulo no epicentro da economia brasileira.

No ano do seu 120º aniversário, o IAC continua sendo a principal referência brasileira sobre café. Seus estudos abrangem todos os aspectos ligados ao plantio e conservação dos grãos, incluindo agroclimatologia, fisiologia, fitopatologia, melhoramento genético e biotecnologia (Projeto Genoma), fertilização do solo, mecanização, qualidade, enxertia e tolerância à seca e ao calor e resistência às pragas do bicho mineiro, das famílias de vermes nematóides e à ferrugem.

O café é a bebida mais consumida no planeta – a cada ano são servidos 400 bilhões de xícaras. O Brasil é o maior produtor mundial e cultiva duas espécies: o arábica (Coffea arabica), com menor teor de cafeína e de melhor qualidade (65% do total de pés plantados) e o conilon (Coffea canephora), mais conhecido por robusta, mais rústico e com mais cafeína (35% da produção).

Em 2006, o País obteve 32 milhões de sacas. A produção foi liderada pelo Estado de Minas Gerais (50%), seguida pelo Espírito Santo (30%), São Paulo (10%), Paraná (5%) e os 5% restantes foram colhidos em outras unidades da Federação.

O agrônomo Luiz Carlos Fazuoli comanda o Centro de Café Alcides Carvalho. O nome da unidade do IAC homenageia o pesquisador do instituto falecido em 1992 e maior especialista do País em café.

Fazuoli lamenta nos últimos 15 anos a progressiva perda de espaço da cultura para outras mais rentáveis para o produtor, como a soja, os citros e a cana. Destaca, porém, que 90% de todo o café arábica plantado no Brasil tem origem no instituto e aponta como saída para estimular novamente a cafeicultura a criação de modalidades especiais e de uma marca de café especial com o selo do IAC.


Descafeinado naturalmente

A pesquisadora Maria Bernadete Silvarolla é a descobridora de um pé de café contendo o menor teor de cafeína já encontrado: somente 0,07% na sua composição. A inovação teve o apoio do biólogo e professor da Unicamp Paulo Mazzafera, responsável pelas análises laboratoriais das amostras. Com isso, abriu novas perspectivas para o aperfeiçoamento de uma linha de produtos com baixos teores da substância, capaz de agradar ao consumidor com esta necessidade.

Durante cinco anos, a agrônoma estudou individualmente as amostras dos grãos retiradas de cada uma das duas mil plantas presentes no jardim do Centro de Café Alcides Carvalho até encontrar, em 2003, o pé com baixo teor de cafeína. Esta plantação especial reúne todas as espécies de café existentes no mundo. E o café é uma planta perene – se tiver manejo adequado pode viver até cem anos, mas a operação comercial de cada planta é de até 20 anos.

Em média, cada xícara de café feito com coador tem 1% a 1,2% de cafeína na sua composição. O café descafeinado transformou-se em segredo industrial em 2005, após a assinatura de um convênio com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) para o desenvolvimento do produto.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente nas páginas II e III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 28/06/2007. (PDF)

Estação Ciência faz 20 anos unindo cultura e entretenimento de qualidade

Instalações interativas e ambientes lúdicos despertam o gosto pelo conhecimento e ampliam a formação educacional do visitante

No próximo domingo, a Estação Ciência completa 20 anos e registra 8,3 milhões de visitas desde sua inauguração. Vinculada à Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP (PRCEU), o centro de divulgação científica interativo é pioneiro no País.

No mês de aniversário, além da programação especial, anuncia novidades em seus 5 mil metros quadrados de área, como a Praça dos Brinquedos, a nova cafeteria e a remodelação do conjunto da recepção, caixa e guarda-volumes.

Ao passar pela catraca e circular pelas dependências da Estação, o interessado entra em contato com construções de valor histórico da capital e tem a oportunidade de aprender ciências em ambientes lúdicos, distribuídos em dois pisos com mostras permanentes e temporárias.

A brincadeira enriquecedora do conhecimento é complementada com peças teatrais, palestras, oficinas e equipamentos especiais, como o simulador de terremotos. Às escolas da rede pública e particular são oferecidos empréstimos de 130 kits da Experimentoteca com atividades para alunos do ensino fundamental e médio. Para os professores, são ministrados cursos de capacitação e reciclagem.

Em sua fase inicial, Estação Ciência reunia somente estandes de empresas e tinha como público-alvo grupos escolares. Com o passar dos anos, houve mudança em seu perfil. Os intercâmbios e pesquisas com centros interativos de ciências internacionais, acompanhada da constante troca de informações de dados alinharam-na ao Exploratorium de San Francisco (EUA), ao Science Museum de Londres (Inglaterra) e ao Cosmocaixa de Barcelona (Espanha).

Passeio obrigatório

Diretor da EC desde 2004, o geólogo Wilson Teixeira destaca a consolidação do centro como roteiro turístico-cultural obrigatório do Brasil. Porém, sem perder de vista sua proposta principal, de promover a divulgação científica e os avanços tecnológicos fora do ambiente escolar.

“Além da Petrobras, muitas empresas têm proposto parcerias para criarmos novas exposições itinerantes. Na pauta atual estão relacionados temas de preservação do ecossistemas e o combate ao desperdício de água. Mostras complementam o acervo permanente, atraem público e mídia e depois rodam o País”, observa.

Segundo Carmem Ruiz, supervisora da Experimentoteca, a proposta de emprestar kits visa a aguçar a curiosidade, despertar talentos precoces e ampliar a formação educacional do visitante.

“Muitas atividades remetem a fenômenos naturais, presentes no dia-a-dia das pessoas. Com a experimentação, torna-se possível compreendê-los com mais graça e facilidade. A mistura lúdica de divulgação científica com entretenimento é arma eficaz na formação de cidadãos mais conscientes e responsáveis”, conclui.

O corpo profissional da Estação Ciência é constituído por professores, cem alunos estagiários da USP (monitores), 40 funcionários, voluntários de ONGs e técnicos de formação multidisciplinar.

O pessoal especializado auxilia nos experimentos, informa e esclarece dúvidas sobre as exposições permanentes. Os temas abordados são variados e contemplam todas as áreas do conhecimento: humanas, exatas, agrárias, biológicas e saúde.

Lazer cultural

O universitário Bruno Luiz de Oliveira, terceiro anista de Biologia da USP, foi estagiário da Estação Ciência até o final do ano passado. Hoje, prestes a concluir sua graduação, é professor do Colégio Claretiano e responsável pelo laboratório da escola. Neste período, não deixou de frequentar o local para rever amigos e conferir as novidades. No último dia de maio, regressou em visita agendada com seus alunos.

“Eles puderam aprender mais sobre Matemática, Física e Ciências. Fizeram perguntas e pretendo respondê-las nas próximas aulas. Para mim, sempre será gratificante voltar aqui”, diz.

Outro grupo de alunos provenientes da Unesp de Rio Claro e universitários do curso de Matemática também aprovaram a visita. O estudante Northon Canevari comentou que sua turma pode conferir na prática conceitos conhecidos somente na teoria. “E a interação com os universitários da USP também foi muito proveitosa”, observa.


Arte e ciência no palco

O teatro da Estação Ciência tem capacidade de 190 lugares. Em seu palco são encenadas peças e realizadas oficinas, aulas-espetáculo, palestras e seminários direcionados para públicos variados e de todas as idades. O seu Núcleo Teatral já produziu oito espetáculos ligados ao universo científico.

Desde 1998, o diretor-artístico Cauê Mattos lidera a equipe de 13 profissionais do grupo e responde pela pesquisa e produção. Ele explica que as montagens criadas resgatam da cultura popular, história, literatura, música, geografia, economia e artes plásticas. Depois da temporada no palco da Estação Ciência, essas montagens rodam o país inteiro em turnês.

“Os espetáculos encenados permitem licenças poéticas nos roteiros. A peça mais recente é Parem Tudo Vamos Voar. Traz metáforas sobre a liberdade, celebra o centenário do voo do 14 Bis em Paris e narra ao público, infantil e adulto, a vida de Santos Dumont. Provoca na plateia reflexões, como o gênio brasileiro da aviação pensaria se vivesse nos nossos dias, em conjunto com a apresentação de conceitos de aerodinâmica”, relata Cauê.


Memória ferroviária

A história da Estação Ciência começou em dezembro de 1986, a partir da doação de um terreno de 2 mil metros quadrados do governo paulista para o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O local abrigava um conjunto de antigos barracões construídos no início do século passado e foi repassado em 1990 para a Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP.

O nome e o primeiro logotipo da Estação Ciência são criações do publicitário Washington Olivetto e remetem à memória ferroviária do Estado. O centro de cultura é tombado pelo patrimônio histórico e preserva instalações de uma tecelagem, cujos galpões foram reconstruídos após um incêndio em 1936. Até a década de 70, foram utilizados como depósito de sementes da Secretaria Estadual da Agricultura até a doação para o CNPq, em 1986.

O logotipo atual foi redesenhado recentemente. Apresenta a ciência como um ciclo em constante transformação. Em breve, novo elemento será acrescentado à identidade visual: a torre da entrada, em substituição aos antigos barracões.


O senhor dos projetos

O arquiteto Francisco Medeiros é o responsável pela concepção e montagem dos elementos nas exposições – produz maquetes e projeta os espaços das mostras. Para evitar distorções na divulgação e compreensão dos conceitos científicos, tenta reproduzir com fidelidade máxima cada fenômeno natural abordado. Preocupa-se em prover instalações que sejam agradáveis e seguras para o público, utilizando materiais tecnológicos, resistentes e ecológicos.

“Antes da inauguração de uma atração, há muita pesquisa e trabalho de equipe. O tempo mínimo de preparação é de três meses e alguns projetos ultrapassam um ano de preparação, como o Tsunami e o Furacão, que utilizam água nas instalações. Os debates contemplam, entre outras questões, a base científica da mostra, quais equipamentos serão utilizados, o tamanho e a ocupação do espaço disponível e o roteiro para o visitante. Resultam em decisões como a escolha das matérias-primas, maquinários, correções nos textos dos painéis informativos e a contratação de profissionais para desempenhar tarefas específicas, de acordo com a necessidade de cada exposição.”, finaliza.

Economia de água

Desde 2006, em parceria com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), Francisco estuda opções para transformar os banheiros da Estação Ciência em áreas de exposição.

“Para combater o desperdício de água, a intenção é substituir os atuais vasos sanitários, torneiras e válvulas por equipamentos economizadores. A inovação será utilizar protótipos que ainda estão em teste no IPT, como o mictório feminino especial. A novidade é utilizada em outros países e permite à mulher urinar sem sentar no assento e conseguir reduzir os atuais seis litros utilizados em cada descarga”, conta.


Atrações permanentes

A Estação Ciência recebe visitação média diária de mil pessoas. O maior público reunido foi na inauguração da Sala de Terremoto, quando compareceram 2,6 mil pessoas, formando enormes filas. Atualmente, o centro funciona de terça a sexta-feira, das 8 às 18 horas. Aos sábados, domingos e feriados, das 13 às 18 horas. É possível agendar a visita para grupos escolares com até três meses de antecedência.

Entre as atrações da área de Física, há experimentos que ilustram conceitos de eletromagnetismo, termodinâmica e óptica e são sempre evidenciadas as transformações entre os diversos tipos de energia.

A área de Biologia tem aquários de água salgada e doce. Além de peixes, apresenta espécies marinhas conservadas em formol. No espaço Butantã há viveiros de cobras, lagartos, aranhas e escorpiões e um terrário com plantas carnívoras. Há, ainda, o Caracol, um espaço interativo, onde, por meio de programas de computador, o visitante pode saber mais sobre serpentes, aranhas e outros animais invertebrados venenosos e sobre pássaros.

Big-bang

Na seção de Geologia, painéis transparentes e maquetes ilustram fenômenos naturais, como a formação de fendas, dobras e vulcões. Na área de Geografia, há painéis, atlas, mapas, globo terrestre e uma grande maquete de bacia hidrográfica, com água corrente representando rios principais e afluentes, além de represas. Ela é capaz de simular a queda da chuva em áreas urbanas e representar as enchentes.

A Astronomia tem aparelhos que simulam a órbita de planetas e um painel explicativo sobre a origem do universo, baseado na teoria do Big Bang. A Meteorologia reproduz em maquetes aparelhos de captação e medição de dados. Há instrumentos instalados que permitem o monitoramento do tempo de forma contínua, com dados de pressão, temperatura e umidade.

Por fim, há o Projeto Clicar, de inclusão digital, iniciado em 1995. Consiste em oferecer o uso gratuito de computadores para crianças e adolescentes em situação de risco social. Na área reservada, o aluno é estimulado ao uso livre de computadores e da internet, com atividades individuais e em grupo.

Serviço

Estação Ciência
Rua Guaicurus, 1.394 – Lapa – zona oeste da capital.
Tel. (11) 3672-5364

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente nas páginas II e III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 21/06/2007. (PDF)