Biblioteca Ativa estimula gosto pela leitura e auxilia no aprendizado

Presente em 123 Escolas Técnicas paulistas, projeto duplica a média de empréstimos de livros e conquista alunos, professores e funcionários

Criado no início de 2014 e hoje estabelecido em 123 das 218 Escolas Técnicas Estaduais (Etecs) paulistas, o projeto Biblioteca Ativa celebra resultados positivos 18 meses após sua criação. Nas Etecs participantes, depois de um ano, a média de empréstimos de livros dobrou e a frequência de alunos, professores e funcionários nos espaços cresceu mais de 90%.

Responsável pelo projeto, a diretora de Serviços do Núcleo de Bibliotecas do Centro de Gestão Documental (CGD) do Centro Paula Souza, Letícia Albuquerque conta que o trabalho começou com a ampliação do horário de funcionamento das bibliotecas, de acordo com as possibilidades de cada Etec participante. Incluiu também capacitação de oito horas para 192 professores, ministrada em fevereiro de 2014.

Realizado na sede do Centro Paula Souza, o treinamento disseminou entre os docentes conceitos sobre como orientar pesquisas nos acervos, conhecer as obras disponíveis, receber doações de livros, entre outras iniciativas. Como resultado, despertou em muitos alunos o gosto pela leitura, artes e cultura em geral.

Cenário

O projeto sugere ao professor usar a biblioteca escolar como local preferencial para a realização de trabalhos, pesquisas e iniciativas culturais e interdisciplinares. Permite ao docente propor à direção da escola a realização de atividades pedagógicas e culturais utilizando o acervo. Quando aprovadas, contam como projeto de Horas de Atividade Específica (HAE), aumentando o rendimento mensal.

Letícia esclarece que o trabalho do docente não substitui o do bibliotecário. “Sublinha, porém, a importância do livro como fonte permanente de informação. O que faz das obras impressas um complemento fundamental às pesquisas feitas apenas na internet”, observa. Biblioteconomista formada, ela explica que professor de Etec interessado em participar do projeto pode e deve contatar a direção da sua unidade.

Apoio

Em Barueri, um dos 39 municípios da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), a Etec local foi uma das escolas técnicas que mais se destacou, tendo o acervo de sua biblioteca triplicado. Com 600 alunos matriculados nos três períodos letivos, a escola mantém turmas de ensino médio regular (3 anos), o chamado técnico puro (1,5 ano) e o técnico integrado ao médio (2 anos). Oferece os cursos de Administração, Enfermagem, Informática, Logística, Recursos Humanos e Segurança do Trabalho.

No segundo semestre de 2013, o livro de frequência da biblioteca registrou 873 visitas. Um ano depois, com a execução de projetos de 15 horas semanais de atividades propostos e realizados pelas professoras Elaine Garrido e Juliana Marques, o público formado por alunos, professores e funcionários chegou a 2.623 pessoas. Uma das explicações, de acordo com as educadoras, foi o apoio da diretora Lucilene Luciano e de todo corpo funcional da escola, como o do auxiliar administrativo, Adan dos Santos.

Diversas atividades dos principais eventos anuais da escola – a Feira das Nações, o Festival de Música e a Gincana – foram realizadas na biblioteca. Incluíram ensaios de peça teatral, aulas de instrumentos musicais, atividades de pesquisa e apresentações, entre outras atividades. “Depois da quadra de esportes, o espaço com ar-condicionado no terceiro piso dedicado aos livros tornou-se o local preferido dos alunos”, revela a diretora.

Resultados

Com a participação de alunos de todos os cursos, os 52 professores e os 22 funcionários da Etec, a Gincana foi realizada em quatro datas do primeiro semestre de 2014 e premiou a classe campeã com um churrasco de confraternização. Realizada em um fim de semana numa chácara, a festa foi bancada com uma parte do dinheiro arrecadado nas disputas. “Como estratégia, a doação de livros foi incluída como um dos critérios de pontuação”, conta Lucilene.

O resultado surpreendeu. Além das disputas acirradas (em esportes como futsal, vôlei, badminton, dama, pingue-pongue e corrida), 830 títulos foram incorporados ao acervo da biblioteca, saltando de 320 para 1.150 publicações. “Ainda não é possível saber se as notas dos alunos subiram, mas melhoraram, e muito, as questões disciplinares e, principalmente, as que integram vínculos e valores”, diz, orgulhosa, a diretora.

Espaço privilegiado

Aberta das 7 às 22 horas, a biblioteca foi ocupada definitivamente pelos alunos em todos os períodos. Nas horas vagas, as mesas e os quatro computadores disponíveis são utilizados para estudar. Acomodados em pufes, leem livros e gibis, jogam xadrez nos tabuleiros feitos de papel reciclado, ou apenas descansam.

“Na sexta-feira dá até para fazer barulho. Temos aula de música aqui”, revela o calouro de Administração, Jéferson Santos, de 15 anos, enquanto folheia um gibi do Cebolinha. Fã incondicional das historinhas criadas pelo cartunista Maurício de Sousa, o estudante diz que já leu todos da estante da seção dedicada à Turma da Mônica. “Adoro o lugar, os professores e os colegas”, declara.

No outro canto, Ester Mira e Marina Souza, ambas de 15 anos, leem gêneros diferentes. A primeira conta ser fã dos romances e filmes da série Se eu ficar, da jornalista e escritora norte-americana Gayle Forman. Marina prefere rever as lições recebidas na sala de aula. Dedica-se aos exercícios no aconchegante e privilegiado espaço.


Total de público nas bibliotecas das Etecs em 2014

Visitantes 1º semestre 2º semestre
Alunos 165.417 314.409
Professores 9.805 17.322
Funcionários 2.022 8.559
Público externo 278 2.436
Total geral 177.522 342.726

 Total de empréstimos em 2014

 Empréstimos 1º semestre 2º semestre
Livros 32.872 63.683
Revistas e periódicos 2.908 6.150
CDs 593 659
DVDs e fitas VHS 1.650 1.918
Materiais especiais 3.740 8.834
Outros 2.288 7.489
Total geral 44.051 88.733

(Fonte: CGD Centro Paula Souza)

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 11/06/2015. (PDF)

Estudantes avaliam planos de resíduos sólidos

Em pesquisa pioneira, alunos do curso de Gestão Ambiental da Fatec Jundiaí analisaram a adequação dos textos dos planos de 15 prefeituras à legislação

Aproveitar o conhecimento produzido no ensino superior e estimular professores e alunos a encontrar e compartilhar soluções sustentáveis para problemas ambientais. Este é o mote do convênio assinado em 2013 entre o Ministério Público Federal (MPF) e a Faculdade de Tecnologia Deputado Ary Fossen (Fatec Jundiaí), administrada pelo Centro Paula Souza.

Executada por alunos do curso de Gestão Ambiental, a pesquisa é pioneira no Estado. Integra o projeto Teia Social, iniciativa criada em 2009 pelo procurador da República Áureo Lopes, do Ministério Público Federal da comarca de Campinas. Sem saídas a campo e checando 21 quesitos, o método desenvolvido na Fatec Jundiaí avalia a adequação do texto dos planos municipais de trabalho às normas da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), vigente e instituída pela Lei nº 12.305/2010.

Política nacional

A PNRS é um dos quatro alicerces do Plano Nacional de Saneamento Básico, legislação criada em 2007. Os outros três são temas ambientais afins: tratamento de água, de esgoto e das águas das chuvas. Na Fatec Jundiaí, o trabalho em parceria com o MPF é supervisionado pela responsável pela disciplina de Gerenciamento de Resíduos, a professora Ana Carolina Veredas.

Ela explica que o artigo 19 da lei que regula a PNRS foi o ponto de partida para criar o método de avaliação dos planos das prefeituras. Seu texto define os requisitos mínimos obrigatórios a serem contemplados em um programa municipal de gerenciamento de resíduos.

Sustentabilidade

“As informações apuradas pelos alunos interessam às prefeituras por indicarem pontos a serem aprimorados nos planos municipais. Esses dados podem e devem ser usados para elevar a qualidade de vida nas cidades”, observa a professora. Os relatórios das avaliações evidenciam a importância da adoção de práticas sustentáveis – coleta seletiva de lixo, reciclagem de materiais e reaproveitamento de restos de construção civil.

Um desdobramento desejável, explica Ana Carolina, seria a organização de prefeituras em consórcios intermunicipais. “Desse modo, seria possível, por exemplo, grupos de cidades dividir os custos da compra de equipamentos de uso compartilhado para tratar restos de construção civil e usá-los em esquema de rodízio”, diz.

“O conceito é aproveitar esses resíduos de várias formas, produzindo areia e pedra do tipo brita. Essa matéria-prima serve para fabricar bloquetes e cascalho, usados, por exemplo, na manutenção de estradas rurais. Se alguma cidade quiser ser avaliada, ou precisar de orientação, pode nos procurar”, destaca a supervisora do trabalho (ver contato em serviço).

Transparente

O trabalho é realizado por duplas de alunos. Cada uma analisa um plano e atribui um de três conceitos possíveis em cada quesito: ‘atende’, representado pela cor verde no campo de preenchimento do relatório; o segundo adota a cor amarela e classifica como ‘atende de modo parcial’; e a última opção, grafada em vermelho, é ‘não atende’.

Ao receber o diagnóstico de cada aluno, a docente faz correções e compara com a outra avaliação individual do plano municipal. Em comum acordo, o grupo finaliza os relatórios sobre as ações das cidades e os apresenta aos municípios. Finalmente, o trabalho colaborativo é divulgado on-line, na seção Meio Ambiente do site da Teia Social (ver link em serviço).

Satisfeito com os resultados obtidos com a Teia Social, o procurador Áureo Lopes destaca que o conceito da plataforma on-line do Ministério Público Federal contempla também as áreas de cidades, economia, educação, poder público, saúde, segurança e vulnerabilidades (combate a desigualdades). “Além da Fatec Jundiaí, firmamos parcerias com a PUC-Campinas e com o Mackenzie. Temos interesse, inclusive, em fazer convênios com outras instituições de ensino superior, públicas e privadas”, comenta.


Cidades contempladas

Em 2014, a avaliação dos planos municipais de resíduos foi o tema do estágio obrigatório das universitárias Luciana Garcia, Nilce Alonso, Drielly Gama e Franciellen Ayres. Cumprindo as 240 horas de atividades previstas, elas analisaram os projetos de Águas de Lindoia, Amparo, Campinas, Capivari, Elias Fausto, Hortolândia, Lindoia, Monte Alegre do Sul, Monte Mor, Morungaba, Nova Odessa, Santo Antônio de Posse, Serra Negra, Socorro e Sumaré.

Neste ano, o estudo da Fatec prossegue com a dupla de estagiários Douglas Honório e Paula Cossi, avaliando os planos de Jundiaí, Louveira, Valinhos e Vinhedo. Nas próximas turmas, o olhar dos universitários de Gestão Ambiental será direcionado para as ações municipais de resíduos sólidos de Artur Nogueira, Campo Limpo Paulista, Conchal, Cosmópolis, Engenheiro Coelho, Holambra, Indaiatuba, Itatiba, Itupeva, Jaguariúna, Paulínia, Pedreira e Várzea Paulista.

Serviço

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página II do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 09/06/2015. (PDF)

Alunos utilizam casca de ovo no tratamento de água

Pioneiro e sustentável, o estudo de alunos da Etec Barretos abre possibilidade de outra pesquisa, usando o resíduo de origem animal como fertilizante

Reaproveitar um resíduo de alimento abundante no pré-tratamento de água. Esta é a novidade proposta por um grupo de alunos do curso de química da Escola Técnica Estadual (Etec) Coronel Raphael Brandão, de Barretos. De viés sustentável, a pesquisa idealizada pelo estudante Renan Tristão, de 20 anos, é o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) do seu grupo. A técnica desenvolvida irá originar dois pedidos de patente.

A família de Renan é proprietária de uma padaria em Barretos, onde ele, o irmão e seus pais trabalham. Diariamente, ao observar o lixo produzido, ele imaginava qual destino poderia ser dado aos restos de 40 ovos usados na produção de doces, pães e bolos. Sua ideia original era desenvolver um fertilizante com as cascas, considerando que esta matéria-prima de origem animal tem, em média, 90% de carbonato de cálcio em sua composição.

Quando ingressou na Etec, em janeiro de 2013, Renan apresentou a ideia aos seus colegas de turma, os também calouros Adriel Martins (hoje com 22 anos), Flavia Oliveira (18), Gabriel Moreira (17) e Marcelo Pereira (18). Aprovado pelos estudantes, o projeto de pesquisa recebeu orientação teórica da professora Suellen Caffer. A parte prática ficou a cargo do responsável pela disciplina Operações Unitárias, o professor Evandro Lucas de Lima, que também é coordenador do curso de química da Etec.

Além da orientação acadêmica, o grupo pesquisou a fundo na internet. O desafio inicial era extrair o carbonato de cálcio da casca de ovo. O primeiro método possível, a calcinação, foi descartado, por exigir um laboratório específico. Trata-se de processo que demanda muita energia e requer equipamentos capazes de atingir temperatura de mil graus Celsius.

A segunda opção, a escolhida, era pré-tratar a casca de ovo com reagentes químicos na água. Nesse processo, os estudantes observaram que surgiam flocos na mistura e as impurezas presentes se depositavam na parte inferior do recipiente, ou seja, ocorria a decantação. Essa técnica se assemelha àquela realizada na primeira fase do trabalho feito pelas estações de tratamento de água.

Para descobrir a formulação ideal, entre outras questões, o grupo fez dezenas de testes com cinco amostras diferentes de água da região, vindas de lagos, da rede de abastecimento, de fazendas, entre outros locais. Os estudantes concluíram que 2,2 gramas de pó de casca de ovo são suficientes para pré-tratar um litro de água – o processo demora, em média, cinco minutos. “O segredo foi descobrir a formulação mais eficiente da mistura, pois são os flocos que ‘separam’ os materiais particulados e demais impurezas da água”, revela Renan.

Próximos passos

Para se tornar potável, a água pré-tratada com casca de ovo precisaria passar por etapas de filtração, adição de cloro e de flúor, como ocorre no processo tradicional. A pesquisa da Etec Barretos segue em fase laboratorial, visando ao aprimoramento da formulação ideal dos dois reagentes usados no processo inovador. O grupo espera terminar a etapa até julho de 2016 e encaminhar, com apoio do Núcleo de Inovação Tecnológica do Centro Paula Souza, os pedidos de patentes.

Um desdobramento possível da pesquisa é a casca de ovo se transformar em alternativa aos sais (sulfato de alumínio e policlorato de alumínio) usados atualmente no pré-tratamento da água. Ricas em alumínio, essas substâncias têm alto potencial contaminante, pois deixam resíduos no lodo resultante do processo.

Outra meta, destaca o professor Evandro de Lima, é retomar a ideia original de reaproveitamento da casca de ovo como fertilizante. “Embora tenha origem animal, essa matéria-prima hoje é desperdiçada e demora muito tempo para se decompor na natureza depois de descartada. Além disso, o grupo de Renan se formará em junho – e essa linha de pesquisa da Etec Barretos, assim como as outras, deve prosseguir com novas turmas”, adianta o coordenador.

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página II do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 19/05/2015. (PDF)