Coração artificial aumenta sobrevida de pacientes à espera de transplante

Equipe de pesquisadores do Instituto Dante Pazzanese pretende iniciar testes em humanos até o final de 2005; uma das inovações do dispositivo é usar apenas uma bomba para irrigar os dois ventrículos

A equipe de profissionais do Instituto de Cardiologia Dante Pazzanese, coordenada pelo engenheiro biomédico Aron Andrade, comemora o sucesso de projeto iniciado em 1999: um coração artificial auxiliar. O dispositivo criado pelo grupo é inovador e, quando ficar pronto, vai aumentar a sobrevida de pacientes que aguardam transplante cardíaco. A expectativa é iniciar os testes com seres humanos até o final de 2005 e, depois, lançar o equipamento no mercado. O hospital é ligado à Secretaria Estadual da Saúde.

Aron informa que o Brasil é um dos quatros países que já produzem oxigenadores e equipamentos biomédicos de última geração, exportados para a América Latina e a Europa. Ele explica que mil pacientes no mundo já utilizam bombas de um só ventrículo, e que o protótipo desenvolvido no Instituto Dante Pazzanese vai operar com duas câmaras de bombeamento, sem substituir o órgão original. Testes bem-sucedidos, realizados com carneiros em 2001, possibilitaram o início da experiência com bezerros em 2002. O aparelho funcionou bem, porém o implante de duas câmaras duplicava as dificuldades com o design das peças do aparelho.

“Para facilitar o estudo, optamos por finalizar a experiência com um só ventrículo. Além disso, há um grande número de pacientes que apresentam problemas somente no ventrículo esquerdo. Depois de terminados os testes com um só ventrículo, será mais simples realizar o implante do coração auxiliar com os dois ventrículos”, explica Aron.

Uma das inovações do dispositivo é utilizar uma bomba única para irrigar as duas cavidades cardíacas. Além disso, a máquina aproveita a capacidade natural de bombeamento do paciente, mesmo que seja fraca e insuficiente. Um duto recebe o sangue, que, ao passar pelo dispositivo, é devolvido para o corpo com a pressão ideal. A medida evita a falência futura do órgão, causada pelo trabalho excessivo, e o coração passa a trabalhar menos, ampliando assim as possibilidades de recuperação do tecido muscular doente.

Como o coração auxiliar fica alojado dentro do tórax, na região do peritônio, outra vantagem é reduzir o procedimento invasivo provocado pela operação. A cirurgia de implantação do dispositivo artificial é menos agressiva do que o procedimento de transplante do órgão, que apresenta ainda o problema adicional da rejeição. Quando o dispositivo estiver pronto para o uso em seres humanos, a expectativa é atender, de imediato, 200 pacientes que estejam aguardando transplante cardíaco. “Mas o total de usuários beneficiados com a novidade supera duas mil pessoas no Brasil”, informa Aron.

Equipe diversificada

A equipe do pesquisador é multidisciplinar, formada por médicos, enfermeiros, torneiros, engenheiros eletrônicos, mecânicos e técnicos de diversas especialidades. No Dante Pazzanese trabalham dois cirurgiões, dois residentes, um veterinário, um anestesista, um médico que estuda a coagulação do sangue no aparelho e atendentes de enfermagem que cuidam dos animais. “A idéia é utilizar a mesma equipe envolvida na pesquisa com animais no trabalho com pessoas, porque já tiveram o treinamento e o aprendizado necessários”, explica Aron.

Além desses profissionais, o projeto contou com a colaboração de professores e alunos da Unicamp e da Universidade São Judas; de estagiários da Fatec; de um mestrando da USP de São Carlos, que ajudou a desenvolver as baterias do coração auxiliar; e do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), onde foi projetado o sistema de controle do coração artificial.

Carneiros e bezerros

O médico explica que os primeiros testes de pressão arterial foram realizados com carneiros, por ser difícil simular a experiência em laboratório. Na avaliação, o aparelho ficava fora do corpo do animal. O objetivo era analisar somente como o equipamento respondia ao ser sincronizado com o órgão natural. “O ovino tem corpo pequeno e o implante é difícil, porque se trata de animal de comportamento arredio. E a caixa torácica de um carneiro de 50 quilos, embora seja grande, equivale ao corpo de uma pessoa de 70 quilos”.

Concluída essa etapa, chegou-se à fase atual de desenvolvimento do projeto, que é a realização de testes com bezerros de 90 quilos em média, para simular um paciente humano com peso semelhante. “O filhote de bovino é o animal mais acessível. Para efeito de comparação, são utilizadas fêmeas saudáveis e da mesma raça. Na verdade, um teste mais próximo seria com porcos, e o ideal com chimpanzés, que têm anatomia parecida com a do ser humano, mas é impossível colocar equipamentos em macacos e mantê-los imóveis”, comenta Aron.

Preparo criterioso

As peças do coração artificial são produzidas com materiais leves. O corpo do equipamento é de alumínio e as placas internas e os rolamentos, que se movimentam ininterruptamente, são de aço inoxidável. A parte do diafragma que entra em contato com o sangue é feita de poliuretano – material biocompatível que não rasga nem endurece e é antitrombogênico – para impedir a coagulação e a aderência do sangue às paredes da peça.

O conjunto do coração artificial é totalmente revestido com malha de poliéster. A ideia é que o tecido vivo cresça sob o poliéster e garanta, assim, a fixação do dispositivo dentro do corpo. Outra vantagem do dispositivo é não se movimentar dentro do corpo, e impedir o acúmulo de líquido em espaços vazios, fator que poderia provocar infecções.

O pesquisador informa que sua equipe leva, em média, um mês para realizar uma cirurgia de implante. É preciso tempo para preparar o ambiente, o animal e também reunir todos os profissionais envolvidos na operação. “O procedimento cirúrgico é simples. As maiores dificuldades são conseguir conciliar as agendas de todos os integrantes da equipe e colocar em prática as sugestões passadas”.

Para facilitar o estudo, o coração auxiliar está sendo alimentado por baterias e controladores externos. O equipamento definitivo porém, ficará totalmente alojado dentro do corpo. “Hoje o paciente utiliza uma bateria presa no cinto, que se interliga ao dispositivo por meio de fios. O único risco é de infeccionar a região aberta”, explica.

Custo-benefício

Equipamento similar ao que está sendo desenvolvido tem custo de R$ 300 mil para o paciente. Já o aparelho em desenvolvimento no Dante Pazzanese terá, segundo Aron, o custo aproximado de R$ 40 mil. Com a implantação, esse custo atingirá R$ 120 mil, computadas também as despesas com os procedimentos cirúrgicos.

O pesquisador afirma ser possível ainda reaproveitar peças internas utilizadas em outros equipamentos. “O parafuso que avança e recua para os dois lados, por exemplo, custa U$ 1,5 mil. O motor que gira é de alta potência e eficiência e vale U$ 2 mil”. Além disso, ele diz que as peças são projetadas para funcionar sem problemas durante cinco anos e que a vida útil do parafuso é de vinte anos. “Pode-se reaproveitar componentes e, para baratear mais, é preciso estimular o surgimento de fornecedores de peças capazes de produzi-las em escala industrial, diminuindo assim o custo por peça”.

E conclui, afirmando que uma medida importante seria a de tornar o tratamento gratuito para a população por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), que paga hoje R$ 40 mil por um marca-passo e gasta a mesma quantia para adquirir um desfibrilador importado. “Mesmo que, no Brasil, o paciente pagasse um terço desse valor, não seria capaz de arcar com o custo total”, esclarece.

Equipe afinada

O dr. Aron Andrade é formado em Engenharia Mecânica. No terceiro ano da graduação, foi contratado como estagiário do Dante Pazzanese e nunca mais deixou o Instituto. Prestou concurso como engenheiro e, na defesa de tese de mestrado, criou uma máquina que simulava um coração e testava o funcionamento das válvulas cardíacas.

Em 1992, o biomédico desenvolveu uma bomba de sangue com fluxo contínuo, para ser utilizada durante cirurgias. Na época, seu pai foi vítima de um infarto fatal, mas a trágica ocorrência fez com que se tornasse ainda maior a sua motivação para prosseguir nas pesquisas. “Se um dia o dispositivo que inventei puder salvar a vida de pelo menos um paciente, não terá sido em vão todo meu esforço”, lembra emocionado.

Em 1995, aperfeiçoou seu experimento depois de uma estadia de dois anos nos Estados Unidos. Na volta, reassumiu no Dante Pazzanese as pesquisas e estudos com protótipos. No dia 14 de dezembro, Aron foi laureado com o título “Personalidade da Tecnologia 2004”, honra concedida pelo Sindicato dos Engenheiros do Estado.

José Carlos dos Santos é mecânico do centro técnico de experimentos do Dante Pazzanese. Ele auxiliou a produzir a carcaça do coração auxiliar, utilizando materiais de grande resistência como a resina acrílica, substância sintética capaz de suportar o peso do motor e os mecanismos do coração artificial.

Operador de torno no hospital há 13 anos, Pérsio Aníbal conta que o maior desafio é reproduzir no torno, com exatidão, os moldes dos componentes. “Muitas peças solicitadas estão fora da especificação da máquina que opero, já defasada no mercado. Mas o resultado final dos protótipos tem sido muito satisfatório”.

Para o Brasil e exterior

O engenheiro Eddie Luiz Alonso é um dos líderes da Divisão de Bioengenharia do Dante Pazzanese. Ele conta que as exportações de itens eletromédicos e instrumentais tiveram início em 1999, em decorrência das encomendas feitas por cirurgiões de outros países que faziam estágio no instituto. “Eles ficavam muito satisfeitos com a praticidade, o custo e a eficiência de nossos produtos”, lembra Alonso.

Segundo ele, a Divisão exporta bombas infusoras, monitores cardíacos, oxímetros, monitores para coagulação ativa e uma grande variedade de instrumentos para cirurgias cardíacas. “Para usar nossos produtos, o cliente precisa passar pelo treinamento específico que oferecemos. Além disso, damos assistência pós-venda para todos os clientes”.

Atualmente a equipe fabrica sete tipos de produtos eletromédicos e 40 tipos de instrumentais para cirurgia, entre eles um desfibrilador cardíaco, dispositivo usado para reanimar vítimas de infarto.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente nas páginas II e III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 25/12/2004. (PDF)

Caverna Digital da USP comanda estudo da realidade virtual no País

Aplicações incluem telemedicina, prospecção de petróleo em águas profundas e construção de um planetário interativo em 2005

A Caverna Digital da USP é o principal centro de pesquisa e desenvolvimento em realidade virtual (RV) da América Latina. É uma iniciativa do Laboratório de Sistemas Integráveis (LSI) da Escola Politécnica da USP, iniciada em março de 2001 que investe na criação de sistemas interativos e de imersão. Um dos objetivos é transferir o conhecimento adquirido para governos e empresas. As atividades são centralizadas na Cidade Universitária, na capital.

A RV é um conceito vasto e compreende três áreas principais – visualização, computação de alto desempenho e transmissão de dados em alta velocidade. Hoje, ela tem aplicações em telemedicina, TV digital e também em áreas como engenharia (naval, oceânica, mecânica, civil, automobilística e eletrônica), medicina (simulações cirúrgicas, estudos em anatomia), ciências básicas (astronomia, astrofísica, biologia e química), pedagogia (jogos interativos educativos), arquitetura (maquetes virtuais), entretenimento, (roteiros imersivos e interativos e estudos em imagens de alta resolução).

Diferentes segmentos empresariais brasileiros já utilizam e fazem economia com o uso da RV. Indústrias como a aeronáutica, montadoras e de óleo e gás reduzem custos com a produção digital de maquetes virtuais, cujo preço é muito inferior à construção de protótipos reais. Outra vantagem é poder modificar o projeto em qualquer fase de desenvolvimento sem precisar reiniciar todo o processo.

Na área médica, treinamentos cirúrgicos já são realizados com a ajuda de uma interface que simula um bisturi. Além disso, os serviços prestados pela Caverna Digital incluem o auxílio na prospecção e exploração de petróleo em águas profundas pela Petrobras. O centro investe também em educação e, em 2005, colocará em funcionamento um planetário interativo para crianças, que será construído ao lado do Zoológico, na zona sul da capital. A previsão é receber 150 mil visitantes por ano.

Equipe multidisciplinar

O engenheiro eletrônico Marcelo Knörich Zuffo é o cientista responsável pela criação e comando da equipe multidisciplinar de 30 profissionais (pós-graduandos, professores e estagiários) da Caverna Digital. Ele conta que seu gosto pelo estudo de imagens começou no natal de 1982, quando ganhou uma calculadora científica que imprimia gráficos coloridos.

Desde então, Marcelo se especializou no tema e explica que a Caverna Digital teve grande impulso com o desenvolvimento interno de clusters – agrupamentos de computadores de baixo custo e alta capacidade computacional. No arranjo, cada máquina é responsável por projetar simultaneamente as imagens em cada uma das cinco paredes da Caverna Digital. E assim, criar, de modo artificial a sensação de tridimensionalidade. No Brasil, a Caverna Digital é pioneira no desenvolvimento desses sistemas e dispõe de três conjuntos.

O cluster é composto por algumas unidades de computadores, que podem chegar a algumas dezenas. As máquinas funcionam sincronizadas e as projeções simultâneas, associadas aos efeitos sonoros, tornam mais atraentes e interativas as aplicações em RV. Marcelo informa que daqui a dez anos, a meta será disponibilizar um computador para cada pixel, a menor unidade de imagem projetadas na telas do computador.

“Com milhares de máquinas trabalhando juntas, as experiências, serão ainda mais realísticas. Um dos desafios em RV é estimular a interoperabilidade e o uso comum entre os diferentes sistemas de computadores. E também criar filmes que dispensem um sistema operacional para ser executados”, explica.

Transmissor estereoscópico

Marcio Cabral é formado em ciências da computação e gerente de projetos da Caverna Digital. Atualmente está envolvido na construção de um transmissor de vídeo estereoscópico sem fio.

Trata-se de um equipamento que contém um capacete com duas câmeras acopladas – de visão frontal e traseira e mais uma mochila com um computador portátil (laptop) no seu interior. Ao se deslocar, o usuário transmite as imagens capturadas para um outro computador ou ambiente.

“As possibilidades de uso do transmissor são ilimitadas. Abrangem treinamento para portadores de deficiências, conserto à distância de motores e máquinas, uso militar e exploração de áreas perigosas, como campo minados”, conta.

O engenheiro de computação Luciano Pereira Soares é um dos pioneiros da equipe da Caverna Digital. “Trabalhei na Silicon Graphics, empresa multinacional de computação gráfica e vim fazer mestrado na Caverna Digital. Utilizei aqui meus conhecimentos prévios e colaborei na concepção das paredes, salas de máquinas e clusters. Aproveitei ainda as soluções encontradas pela Escola Politécnica da USP para clusters numéricos e adaptei-as para a área de computação gráfica”, conta.

Luciano explica que desenvolver ferramentas educacionais é uma das principais propostas do centro. “O ensino tradicional, restrito à lousa e giz, não tem o mesmo apelo do passado. Para estudar a estrutura do átomo, é mais fácil e instigante assistir a um filme com uma aplicação em RV mostrando para o aluno o seu funcionamento, com cores, animações e interatividade”, comenta.

Um dos desafios para a expansão da RV é desenvolver ferramentas para construir aplicações. “Comprar software é caro e nem sempre o programa corresponde totalmente às expectativas”, explica. O custo dos computadores, baseado em dólar, é outro fator de limitação. “E finalmente, é preciso criar conteúdo brasileiro para os filmes”, salienta.

A mestranda Júlia Benini é estagiária da Caverna Digital e formada em Propaganda pela USP. Trocou empregos anteriores em produtoras de sites, pela possibilidade de se aprofundar na pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias. “Aqui encontro respostas para as pesquisas de viabilidade prática que faço com bolsistas de iniciação cientifica e graduandos. É diferente de locais que colocam o estagiário para somente tirar xerox“, conta.

Rede Kyatera

A Rede Kyatera é um projeto da Fapesp que vai interligar a Caverna Digital com sistemas similares no Brasil e no mundo. Permite a realização de exercícios de imersão e teleimersão à distância – ou seja, gerar e transferir as imagens e sons digitais por meio da internet de alta velocidade e, no outro ponto da rede, repassar a sensação de ilusão para usuários distantes, até mesmo em outros continentes.

O estudo da telepresença é apoiado pela Rede Nacional de Pesquisas (RNP) e é diferente do teletransporte de matéria, brincadeira recorrente no antigo desenho animado dos Jetsons. Marcelo Zuffo conta que esta aplicação já é uma realidade, sendo utilizada por médicos para ensinar outros colegas a realizar procedimentos cirúrgicos delicados.

Vôos panorâmicos

Na Caverna Digital, o visitante pode fazer um vôo panorâmico, como se estivesse em uma asa-delta sobrevoando o Corcovado na cidade do Rio de Janeiro. Se quiser, pode também conhecer todo o campus da USP na capital e, para aprender astronomia, “viajar” pelo Sistema Solar e estudar as estrelas da Via Láctea na Caverna Digital. A experiência é controlada por um joystick, dispositivo de controle igual ao utilizado nos jogos eletrônicos. O computador cria artificialmente as sensações de profundidade, movimento e de imersão”, explica Marcelo.

Para participar da experiência, o visitante coloca óculos especiais e, de meia ou de chinelo, anda e interage com o ambiente, que é revestido por telas especiais que recebem as projeções – são brancas com três metros de altura e três de largura. A luminosidade do local também é calculada e o projeto das salas foi acompanhado por professores de arquitetura da USP. O objetivo é oferecer conforto máximo para os usuários na sala, que tem isolamento acústico também especial.

Fotomontagens

O engenheiro Osvaldo Ramos é especialista em processamento de imagens e conta que o filme tridimensional exibido na Caverna Digital é o resultado de um minucioso trabalho de fotomontagem. As imagens que compõem as cenas são produzidas com uma câmera especial, que fica sob um tripé. Ela captura imagens simultaneamente em 360 graus com doze lentes que, dispostas em círculo, filmam todas as direções e permitem produzir imagens panorâmicas de toda uma área. O passo seguinte é fazer a junção de toda as fotos e transformá-las em um filme único, em um programa de computador que foi desenvolvido pelos cientistas da Caverna Digital.

Osvaldo conta que esta iniciativa teve grande importância para a Petrobras. “Esta aplicação é muito útil na exploração de águas profundas. Permite a um robô afundar e mapear, de modo panorâmico, toda a paisagem submarina. Estas informações são fundamentais para a construção de oleodutos, marinas e plataformas de exploração de petróleo”, explica.

Aplicações infinitas

A RV tem aplicações na construção de robôs e dispositivos capazes de desarmar bombas, evacuar prédios e prestar socorro em situações de emergência. “Uma novidade, é o uso da RV no tratamento de fobias, já realizado em países europeus, como Portugal e França. Um paciente que tenha medo de altura pode ser submetido a um tratamento que utilize a RV no auxílio na superação de seus medos”, conta Marcelo.

Marcelo informa que o esforço dos cientistas em pesquisar a RV colabora com projetos em bens de consumo ergonômicos – eletrodomésticos e dispositivos capazes de se integrar melhor aos movimentos e formas do corpo humano. Um dos maiores desafios é conseguir sincronizar o funcionamento de todos as máquinas envolvidas para criar a sensação de profundidade, que se completa com a projeção simultânea dos computadores nas paredes e com o uso dos óculos especiais.

Parcerias

A lista de parceiros da Caverna Digital inclui empresas como a Itautec, Intel e o Finep, programa de financiamento de estudos e projetos do Ministério da Ciência e Tecnologia.

Informações

Caverna Digital da USP

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente nas páginas II e III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 20/11/2004. (PDF)

Defesa Civil inicia treinamento para deflagrar a Operação Verão 2005

Prevenção nas cidades é saída para prevenir e diminuir acidentes causados por inundações, alagamentos e deslizamentos de terra

A Defesa Civil do Estado já iniciou os trabalhos para a Operação Verão 2005, que será realizada entre os dias 1º de dezembro de 2004 e 31 de março de 2005. A principal proposta é a aplicação do plano contingencial preventivo, que prepara as equipes municipais de Defesa Civil para o período de chuvas e assim evita e diminui os prejuízos causados por inundações, alagamentos e deslizamentos de terra.

Segundo Tania Mara Lima, capitão da PM e diretora da divisão de comunicação social da Defesa Civil o treinamento dos agentes consiste em três atividades básicas: leitura de pluviômetro, emissão e acompanhamento de boletins meteorológicos e vistorias de campo, realizadas a partir de estudo técnico feito em conjunto pelo Instituto Geológico (IG) e Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT).

O estudo técnico considera o histórico pluviométrico acumulado de cada cidade e indica um limite máximo aceitável para um período de chuvas. Se em um determinado espaço de tempo chover acima deste valor, significa que o município e adjacências estão sob o risco de sofrer escorregamentos. Para a região do ABC, o número é de 100 milímetros para três dias de chuva. “Se em dois dias este total for ultrapassado, há risco”, explica Tania.

Quando a água ultrapassa o valor estabelecido, a equipe municipal se dirige para os locais pré-definidos de risco em busca de sinais evidentes de perigo, como trincas no terreno, rachaduras em casas e inclinação de muros e árvores. Depois da vistoria de campo, o agente faz um relatório sobre o problema que é depois enviado para o escritório regional da Coordenadoria Estadual Defesa Civil, que então envia equipes técnicas do IG e do IPT para fazer laudo técnico e endossar a retirada preventiva das moradores do local. “Conforme a situação, a família é alojada em abrigos públicos ou na casa de parentes”, explica Tania.

Comunicação eficiente

A comunicação entre a Defesa Civil estadual e os municípios é permanente e realizada por meio de boletins informativos diários, oferecidos em três horários – de manhã, tarde e noite além da previsão do tempo para três dias. Tania explica que é fundamental que todos disponham de informação de qualidade para a eficácia do sistema preventivo.

“Produzimos folhetos, material informativo e enviamos mensagens diárias para os presidentes das comissões municipais que mantém informadas suas equipes. Junto com isso, a página da Defesa Civil é atualizada em tempo real com os boletins de alerta e se houver alguma dificuldade na correspondência eletrônica do coordenador, ele pode fazer o monitoramento pela página”, explica Tania.

Marco Antonio Archangelo é coronel da PM e coordenador da Defesa Civil de Santo André. Ele explica que o escritório regional da Defesa Civil é parte fundamental do processo, porquê faz o intercâmbio entre o Estado e o município. “Ele auxilia as cidades, principalmente as pequenas, que não dispõem de instalações físicas, serviços de informática e telefones em número suficiente. Além disso, leva e traz informações dos dois lados, por meio de telefone, fax e e-mail”, explica.

Em cada município, a Defesa Civil local planeja e executa as atividades em três fases: prevenção, prontidão e alerta de socorro. A prevenção consiste em realizar obras de manutenção no sistema de drenagem urbana (bocas-de-lobo, desassoreamento e limpeza de córregos). A prontidão consiste em acompanhar os serviços de meteorologia que serão acionados pela prefeitura para agir em caso de necessidade e, a etapa do alerta e socorro consiste em colocar a estrutura municipal de serviços à disposição da população para remoções, desvios de trânsito e limpeza de ruas.

Trabalho integrado

Tania conta que a Defesa Civil Estadual foi criada há 28 anos e abrangência de seu trabalho é ampla, sistêmica e envolve parcerias com a sociedade e órgãos governamentais dos níveis federal, estadual e municipal. “Além do IPT e IG, coordenamos ações com outras secretarias de Estado, ONGs, grupos de voluntariado, entidades de assistência social, empresas transportadoras, concessionárias de rodovias, associações de bairro, polícia militar e corpo de bombeiros“, conta.

E explica que a integração abrange também campanhas realizadas em escolas e nos meios de comunicação, como prevenção de acidentes na rede elétrica, perigo de soltar balões e fogos de artifício, entre outras. “Quando o município precisa de auxílio, a Defesa Civil o socorre com meios materiais e tenta suplementar em questões de cesta básica, cobertor, roupa. Aquilo que for possível e viável, não deixa de ser atendido”, ressalta.

Treinamento dos agentes

O treinamento dos agentes teve início na quarta-feira, dia 20 de outubro, com representantes de 39 municípios da região de São José dos Campos. Dois dias depois, o treinamento foi realizado em Santo André, na região metropolitana da capital e foi voltado para agentes da defesa civil da cidade e de São Bernardo do Campo, Santo André, Mauá, Diadema, Ribeirão Pires, São Caetano e Rio Grande da Serra.

Jair Santoro, geólogo do IG participou do treinamento dos agentes municipais e passou as orientações antes e durante a vistoria de campo realizada em Santo André, no bairro Jardim Irene, que tem construções de baixo padrão com risco de escorregamento. Na oportunidade, pôde mostrar na prática para os técnicos os conceitos apresentados no treinamento teórico, realizado na véspera.

“Passei noções básicas sobre engenharia e situações de risco geológico em períodos de chuva mais intensa. O objetivo é capacitá-los a ter uma capacidade mínima de fazer uma vistoria técnica e determinar uma remoção de moradores se for confirmada a situação de risco. Os agentes aprenderam o que é um talude, corte, aterro e quais são os índices de chuva que podem causar deslizamento em encosta”, explica. “Na época da Operação Verão há um plantão permanente de profissionais do IG que ficam de prontidão 24 horas por dia para atender qualquer tipo de emergência”, conta Jair.

O geólogo Agostinho Tadashi Ogura do IPT também participou do treinamento e disse que desenvolve trabalho semelhante ao do IG com a Defesa Civil. Segundo ele, somente a união de todos os setores da sociedade e governo possibilita uma ação eficiente e preventiva contra os acidentes. “Emitimos laudos técnicos, e também contribuímos com a capacitação dos agentes que atuam em contato direto com a população”, explica.

O agente de segurança Humberto de Oliveira é membro da Defesa Civil de Santo André e gostou do caráter multidisciplinar do treinamento. “O curso foi bastante proveitoso, pois além das informações passadas pelos instrutores, aprendi e compartilhei com colegas de cidades vizinhas as experiências e situações já vividas, que são bastante úteis no serviço preventivo”, explica.

Antes, durante e depois da chuva

Antes do início da chuva o morador de área de risco deve colocar o lixo em sacos plásticos apropriados, mantê-lo bem fechado e depositá-lo em locais altos como caçambas e lixeiras. Precisa também manter limpos bueiros e quintal, para o escoamento da água e providenciar a desobstrução de calhas e ralos se estiverem entupidos.

Móveis e eletrodomésticos também devem ir para locais altos ou ser removidos. Animais de estimação devem ser retirados, a chave-geral da casa deve ser desligada, assim como o registro de entrada de água e deve ser fechado.

No trânsito, a recomendação é não atravessar áreas alagadas para evitar o perigo da correnteza. Se estiver dentro do carro, a dica é ligar o rádio para acompanhar as notícias, diminuir a velocidade, não fechar cruzamentos e facilitar a passagem de veículos de socorro. Se for inevitável cruzar áreas alagadas, a dica é esperar o veículo da frente terminar a travessia do trecho e depois só depois atravessar.

Outro cuidado diz respeito às árvores de médio e grande porte. Muitas ficam próximas de fios e sua queda pode causar acidentes na rede elétrica. Além disso, deve ser também evitado o contato com águas de enchente devido ao risco de contrair hepatite A, tétano e leptospirose.

O acúmulo de água em vasos, caixas d’água e recipientes como pneus e garrafas acelera ainda o ciclo reprodutivo do Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue.

Depois do temporal

Quando a água baixar, a recomendação é usar botas e luvas para limpar a sujeira provocada pela lama. Alimentos molhados pela enchente devem ser descartados, assim como a água proveniente de poços e fontes próximas à inundação. Para beber ou cozinhar, a dica é ferver o líquido ou então optar pela esterilização, que consiste em pingar duas gotas de hipoclorito de sódio com concentração de 2,5% em cada litro de água e deixar em repouso por 30 minutos antes do consumo.

Móveis e utensílios domésticos molhados na enchente devem ser lavados com água e sabão e desinfetados com água sanitária (uma colher de sopa para cada litro de água). Se possível, deve também ser evitado o contato com eletrodomésticos como geladeira e máquina de lavar roupas se estiverem molhados para prevenir choques e acidentes.

Como prevenir deslizamentos

A Defesa Civil recomenda o plantio de grama e capim nas encostas, a fim de permitir que as raízes desses vegetais penetrem no solo e segurem a terra na hora da chuva. Deve porém ser evitado o cultivo de bananeira, mangueira e pé de mamão, já que estes vegetais acumulam água no solo e favorecem deslizamentos.

Se for construir em área de morros, o indivíduo deve evitar cortes e aterros nas encostas e deve também manter a maior distância possível do barranco. A moradia também precisa dispor de canaletas para o escoamento da água. Esta providência evita que o dejeto residencial se junte com as águas da chuva e contribua ainda mais para o risco de deslizamentos.

Os moradores de encostas devem atentar para o aparecimento de rachaduras e trincas, muros e paredes estufados; árvores, muros e postes inclinados e águas mais barrentas que o normal. Caso perceba estas anomalias, o morador deve abandonar o local, avisar a Defesa Civil e se dirigir à escola ou unidade de saúde mais próxima e só retornar à residência depois que a situação se normalizar.

Informações

Defesa Civil do Estado
Contato: defesacivil@sp.gov.br
Tel. (11) 2193-8888 (Centro de Gerenciamento de Emergências 24h)

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente nas páginas II e III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 30/10/2004. (PDF)