Parque CienTec é atração cultural e educativa na zona sul de São Paulo

Visita requer agendamento e público aprende sobre Física e Astronomia em 1,4 milhão de metros quadrados de área verde

Ligado à Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da Universidade de São Paulo, o Parque CienTec é opção de lazer com cultura e qualidade de vida na zona sul da capital. Criado em dezembro de 2001, ocupa 25% da área do Parque do Estado. Oferece passeios, demonstrações e experiências lúdicas para alunos do ensino fundamental e médio, em uma área verde de 1,4 milhão de metros quadrados, rodeados de Mata Atlântica.

A inauguração foi em setembro 2002 e, nesses seis anos, 70 mil visitantes conheceram o Parque, localizado em frente ao Zoológico de São Paulo. Até 2001, o local foi sede do Instituto de Astronomia e Geofísica (IAG) da USP. No ano seguinte, o IAG transferiu-se para a Cidade Universitária.

A entrada no CienTec é permitida somente com agendamento, pelo telefone (11) 5077-6312. A maior parte do público é formada por escolares, porém, qualquer interessado pode solicitar data para visita. Funciona de terça a sexta-feira, das 9 às 12 horas, e das 13h30 às 16h30. Eventualmente, abre em feriados e ocasiões especiais.

Agende-se

Ao solicitar o agendamento, a escola ou interessado precisa informar quais atrações pretende conhecer. Estabelecimento de ensino da rede pública não paga ingresso; alunos de instituições particulares desembolsam R$ 2 por criança e R$ 4 por adulto. A entrada é gratuita para menores de 6 e maiores de 60 anos.

As visitas são acompanhadas por um dos 40 monitores do parque, todos alunos de graduação da USP. Segundo o arquiteto Parque CienTec é atração cultural e educativa na zona sul de São Paulo Paulo Massabki, assistente de direção do local, o visitante é estimulado a interagir com a ciência e a tecnologia a partir de situações comuns, vivenciadas no cotidiano.

“De modo lúdico, a ciência e a tecnologia ficam próximas da criança, que aprende se divertindo e se diverte aprendendo”, observa Paulo.

Atrações especiais

A Gruta Digital usa projeção estereoscópica para criar um espaço móvel de realidade virtual. Nesse ambiente, o visitante coloca óculos especiais para ampliar sua percepção tridimensional e a sensação de imersão. A experiência ganha maior realismo com o som estéreo e o complexo jogo de luzes.

A Nave Mário Schemberg é um sistema tridimensional fixo de realidade virtual desenvolvido pelo Laboratório de Sistemas Integráveis da USP (LSI). Como nos videogames, a criança controla a trajetória da embarcação a partir de um painel frontal. Navega em animações tridimensionais, filmes, sistemas de interação e jogos interativos.

Mapa do saber

As áreas de interesse do Parque são divididas em blocos. O roteiro escolhido pode incluir a Alameda do Sistema Solar, a Exposição Interativa de Matemática, a Minibacia Hidrográfica, o Espaço Geofísico, a Estação Metereológica, o Espaço Astronomia e as duas oficinas do Laboratório de Óptica: Fotografia com Latas e Funcionamento do Olho Humano. A Exposição Interativa de Matemática é uma réplica da mostra permanente em exibição na Estação Ciência. Traz cem experimentos e propõe ao visitante refletir sobre situações comuns com cálculos e como estimar a quantidade de votos de uma eleição.

A Minibacia Hidrográfica é formada pelo lago abastecido pelas nascentes do Riacho do Ipiranga. A criança aprende sobre a importância histórica da região, próxima ao local em que foi proclamada a Independência do Brasil. E também sobre o ciclo da água e sua importância para a vida, a partir da sua relação com a fauna e a flora. No Espaço Geofísico, o visitante assiste à palestra sobre como é a estrutura interna da Terra, sua história geológica e as dinâmicas envolvidas. Conhece instrumentos ligados à Geofísica, como sismógrafo e o magnetômetro, entre outros.

Os painéis explicativos revelam as riquezas existentes no subsolo – água, petróleo, gás natural e jazidas minerais. Essa atividade termina com a realização de experiências com o geofone, a prospecção eletromagnética, o uso do sistema de posicionamento global por satélite (GPS) e com a magnetização de rochas. No auditório, a aula sobre a Estação Meteorológica utiliza equipamentos para observar e medir a atmosfera. Explica fenômenos naturais, como a formação de nuvens, tempestades, relâmpagos, granizo, tornados e furacões.

No Espaço Astronomia a criança conhece o telescópio. Se as condições atmosféricas estiverem favoráveis, observa o Sol com o equipamento. Há, também, explicações sobre astronomia, como a origem do universo, do sistema solar e das estrelas e constelações. Na oficina Fotografia com Latas é mostrado o princípio da fotografia através da câmara de orifício. Há breve introdução sobre o processo de formação de imagens na câmara escura e do registro da imagem no papel fotográfico. No final, o visitante acompanha o processo de revelação das fotos.

Visão Humana é a oficina que explica o fenômeno da refração, que forma as imagens na visão humana. Com experimentos simples, informa como corrigir disfunções, problemas como a miopia, com o auxílio de lentes e o funcionamento de alguns instrumentos ópticos.


Dia de aprender e se divertir

Terça-feira, 8 de abril, foi especial para o grupo de 37 alunos da 4ª série e três professores da Escola Municipal de Ensino Básico (Emeb) Padre Fiorente Elena, de São Bernardo do Campo. Muitos não acreditavam existir na capital uma região com tanto verde, destoando do cinza predominante na paisagem metropolitana. O grupo de crianças foi supervisionado pelas professoras Mirtes Betton, de Português, Luciana Consentino, de Informática, e pela estagiária Clélia Nascimento, de Pedagogia. Em 2007, Mirtes visitou o CienTec com uma turma da Escola Estadual Fausto de Mello, de São Bernardo, onde também leciona. Aprovou a experiência do ano passado e repetiu. Desta vez, com os alunos da escola municipal.

Canto dos pássaros

Na Alameda do Sistema Solar, as crianças, com idades entre 9 e 10 anos receberam dos monitores informações sobre Astronomia. Na sequência, aprenderam a fotografar com câmera artesanal e luz natural, e depois a revelar as imagens em uma sala escura.

Após uma pausa para o lanche, no refeitório do CienTec, veio o passeio final, no lago do parque, quando todos apreciaram a natureza e ouviram o canto de cigarras e pássaros. “O passeio agradou demais. O conhecimento adquirido será útil em um trabalho coletivo na Emeb, sobre a história e evolução da fotografia”, comentou a professora Mirtes.

Um dos mais empolgados foi Mateus Alkimim. Interessado, o aluno fez diversas perguntas para Carlos Rossati, universitário do último ano de Física da USP e um dos monitores mais antigos do CienTec. Fazendo coro a ele, Gabriele Lopes levou sua câmera digital. “Nunca tinha imaginado como era fotografar no passado”, disse espantada.

Serviço

Parque CienTec
Avenida Miguel Stéfano, 4.200 Água Funda – São Paulo (SP)
Telefone (11) 5077-6312

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 17/04/2008. (PDF)

Programa Jovem Doutor oferece aprendizado e desenvolvimento sustentável

Investindo em educação e práticas preventivas de saúde, docentes e alunos da USP estimulam a sustentabilidade em áreas carentes

Desde 2006, o Programa Jovem Doutor promove ações preventivas de saúde e educação com professores e alunos da Universidade de São Paulo (USP), em áreas carentes do Brasil. A atividade visa a favorecer o desenvolvimento social e a sustentabilidade das regiões e aproximar a comunidade acadêmica do cotidiano de grande parte da população brasileira.

Em 2007, equipes da USP no Jovem Doutor estiveram em Manaus e Parintins, na região amazônica, e em Tatuí, no interior paulista. Em fevereiro, nova edição do projeto foi iniciada na favela da Vila Dalva, comunidade de 20 mil habitantes vizinha à Cidade Universitária e à Rodovia Raposo Tavares, na zona oeste da capital.

Na USP, o Jovem Doutor é uma iniciativa de extensão universitária da equipe de Telemedicina da Faculdade de Medicina (FM), coordenada pelo professor Chao Lung Wen. A universidade, pioneira no País no assunto, criou seu programa em 1997 e sua rede de informática hospitalar é a maior da América Latina.

A Telemedicina propõe abordagem global para a saúde pública. Prioriza a saúde da família e considera as características e as necessidades de cada comunidade. Também valoriza a atenção primária ao paciente com acompanhamento periódico e diagnóstico precoce.

A tecnologia é uma aliada para melhorar a eficiência dos programas preventivos. Está presente por meio de sites, fóruns e videoconferências com o objetivo de capacitar profissionais a distância. A inclusão digital é outra proposta e muitas atividades ligadas à Telemedicina oferecem acesso gratuito à internet e treinamentos sobre como usar programas de computador.

Jovem Doutor

No Programa Jovem Doutor, a lista de ações inclui exame pré-natal, orientações sobre câncer, hanseníase, planejamento familiar, postura corporal, prática de exercícios físicos, nutrição, saúde bucal, prevenção de diabetes, alcoolismo, uso de drogas, hipertensão, DSTs, Aids, entre outras.

O programa da Faculdade de Medicina integra o Projeto de Telemedicina do Programa Institutos do Milênio, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). E tem apoio da Intel, fabricante de componentes para computador.

Sem viés assistencialista, o Jovem Doutor tem prazo definido de duração: um ano. Suas equipes possuem perfil multidisciplinar, abrangendo universitários de áreas de administração, arquitetura, engenharia, enfermagem e medicina. Atua sempre em locais diferentes, de modo a estender para toda uma região vizinha o serviço prestado na comunidade original.

O protagonismo dos participantes é sempre incentivado. Eles aprendem e ensinam e, para os moradores, a missão é cooperar e disseminar os conceitos de cidadania adquiridos. A aposta é instituir, com o passar do tempo e a continuidade das ações, um novo modelo social.

“Usamos os recursos humanos e materiais existentes nas próprias comunidades, sem aportes financeiros”, conta o professor Chao. “É uma abordagem de saúde pública mais barata, periódica, freqüente e de longo prazo: previne em vez de remediar”, observa.

O próximo desafio, destaca Chao, é estimular outras universidades brasileiras a criar programas semelhantes. A meta é conseguir envolver 2 milhões de estudantes, até 2010, em atividades voluntárias.

Efeito multiplicador

Uma das estratégias do Jovem Doutor é estabelecer parceria com escolas da rede pública de ensino, transformando alunos e professores em agentes multiplicadores na comunidade. Outras características são complementar iniciativas em andamento na região, sem concorrer com as responsáveis, incentivar a busca de soluções sustentáveis e estimular o empreendedorismo nos habitantes.

Antes de entrar em contato com os moradores, os universitários passam por capacitação rigorosa, supervisionada pelo corpo docente da FM. Após a conclusão de cada jornada, são premiados no Concurso Jovens Talentos os universitários, os professores e as pessoas da comunidade que mais se destacaram.

Um dos destaques do programa é o material didático do Projeto Homem Virtual, produzido pela Telemedicina. É um conjunto de imagens tridimensionais que recria as estruturas do corpo humano, dividido em CDs multimídia que facilitam o aprendizado na área da saúde e estreitam a relação entre médico e paciente, por facilitar a visualização e a compreensão dos diagnósticos.

Gente que faz

A fisioterapeuta Débora Macea nasceu e sempre morou na zona leste da capital. De personalidade tímida, participou, durante a graduação, de projetos como a USP Júnior. Já presidiu a Liga de Telemedicina e lecionou Português no cursinho pré-vestibular gratuito da Faculdade de Medicina. Hoje, recém-formada, cursa mestrado e tem na Vila Dalva seu mais novo desafio.

Nas regiões carentes, a maioria dos pacientes de Débora é idosa. Apresentam dores nas costas e no pescoço, causadas em grande parte por má postura e sedentarismo. A jovem se destaca pela capacidade de propor e articular ações. “Faço bem o meio de campo entre a universidade e as pessoas”, explica a fisioterapeuta.

Mapeamento de problemas

Os universitários e a comunidade já definiram quais questões do bairro serão priorizadas. O primeiro obstáculo a ser superado é envolver mais os moradores em projetos coletivos e de capacitação.

Na sequência, os universitários vão orientar a criação e instalação de padaria, horta comunitária e forno solar nas escolas e cooperativa de reciclagem. A medida visa a combater a proliferação de mosquitos causadores da dengue e atenuar um problema sanitário que afeta a todos, o acúmulo de lixo na frente da Unidade Básica de Saúde.

Soluções sustentáveis

A proposta para o lixo é separar o material orgânico e evitar a contaminação do solo, da água e a proliferação de baratas, ratos e micro-organismos. O que puder ser reaproveitado vai virar adubo e as sobras de alimentos, como legumes e peixes acumulados no final de feiras livres, irão enriquecer a merenda escolar.

Materiais como vidro, papel, papelão, garrafas Pet, plásticos e alumínio serão encaminhados para reciclagem e revenda na cooperativa. A comunidade já sabe que, se moer as Pets antes de vender, o preço dobra, chegando a R$ 4 por quilo. Assim, pretende-se fazer um mutirão para comprar a máquina moedeira.

“Vamos investir muito em educação para mudar hábitos corriqueiros, como jogar lixo e entulho em locais inadequados”, aponta a engenheira ambiental Tatiana Gil, formada na USP de São Carlos, que participa, também, em outras questões sanitárias na Vila Dalva.

Economia e renda

A renda obtida com os recicláveis será reinvestida na horta, padaria e demais projetos comunitários. A plantação de legumes e verduras será em terreno cedido na Escola Estadual Samuel Klabin, assim como a instalação do primeiro forno solar, equipamento artesanal que aquece como o elétrico ou o a gás, porém gasta em média o dobro do tempo.

A escola tem mil alunos matriculados e oferece ensino fundamental, médio e Educação de Jovens e Adultos (EJA). Sueli Simas, vice-diretora, explica que as verduras colhidas enriquecerão a merenda escolar e que as atividades ligadas à horta abrem muitas possibilidades de educação ambiental, envolvendo pais, alunos, professores e funcionários.

As tarefas previstas na escola estadual incluem a limpeza do terreno, decisão sobre quais vegetais serão cultivados, orientação agronômica, uso de utensílios, adubação, irrigação, estudos sobre insetos e controle biológico de pragas.

Agentes comunitários

O Jovem Doutor tem, também, parceria com a Unidade Básica de Saúde (UBS), órgão da prefeitura na Vila Dalva. O local é um grande ponto de encontro do bairro e, no posto de atendimento, a proposta dos universitários é apoiar e orientar médicos, enfermeiros e a rede de agentes comunitários de saúde.

O agente comunitário faz a ponte entre a população e a UBS. A maioria deles mora no bairro e cada um visita, em média, 120 famílias por mês. Nas andanças pelo bairro, relatam eventuais problemas e participam de caminhada, campanha de prevenção de hipertensão e diabetes.

As agentes Andréa Aparecida e Cristiane Marques aprovaram a vinda dos universitários. Segundo elas, até o momento foram poucos os contatos, porém elogiaram as propostas da engenheira ambiental Tatiana Gil para a questão do lixo. Agora, pretendem retomar um antigo projeto de curso sobre nutrição e alimentação de baixo custo, a partir do apoio do estudante de medicina Philippe Hawlitschek.


Vila Dalva, microcosmo do Brasil

A ocupação popular na Vila Dalva ocorreu há 50 anos. A localidade é rodeada por condomínios fechados de alto padrão, como o Parque dos Príncipes. E repete, em escala reduzida, os contrastes sociais e a má distribuição de renda no País.

A comunidade tem três escolas públicas: uma estadual (Samuel Klabin) e duas municipais (Silva Braga e Carolina de Jesus). Possui uma UBS da prefeitura, três creches, dois centros comunitários, centro cultural (Espaço dos Sonhos) e de capacitação de jovens e adultos e duas ONGs atuando no local, o Instituto Stefanini e o Projeto Ponte Brasil-Itália.

Como na maior parte da periferia paulistana, predominam na Vila Dalva os bares, as igrejas evangélicas e o comércio miúdo, formado por mercadinho, borracharia, oficina mecânica, serralheria e papelaria. A maior parte das casas é de alvenaria, o esgoto não é tratado e o fornecimento de água e luz é feito com ligações clandestinas, as chamadas gambiarras ou gatos.

Na comunidade, as mulheres comandam 30% das famílias. A maioria é mãe solteira ou separada e trabalha em emprego com pouca qualificação. Repassa para suas mães a tarefa de cuidar dos filhos. A exclusão social e o desemprego são os maiores problemas. Afetam grande parte dos moradores, em especial os jovens, e muitos acabam aliciados pelo tráfico.

Crianças e adolescentes têm poucas opções de lazer. Faltam praças, quadras de esportes e equipamentos culturais como bibliotecas. A principal diversão infantil é empinar pipa. O caminhão do lixo passa uma vez por semana. As ruas e vielas têm nomes e os carteiros e caminhões de entrega de lojas populares têm acesso irrestrito na comunidade.


Ampliando horizontes

Thiago Batista Costa, 23 anos, é filho de uma agente comunitária de saúde. Apaixonado por cultura e artes, visitou várias famílias da Vila Dalva com o objetivo de resgatar a história e imaginário dos moradores. Conheceu, assim, muita gente e identificou traços comuns no grupo, como reduzida auto-estima e dúvidas sobre questões étnicas e religiosas.

O jovem sempre residiu no bairro e trabalha no balcão de atendimento aos moradores da UBS. Em 2005, colaborou com um documentário sobre a Vila Dalva. Antes das filmagens, foram colhidos depoimentos de moradores locais. Os relatos abordavam as dificuldades enfrentadas pela comunidade. O material foi reunido e algumas das situações descritas foram encenadas e gravadas. Os atores foram os próprios moradores.

A aproximação das pessoas da comunidade originou o Programa Conversando a Gente se Entende (Case), uma dinâmica local periódica realizada por diversas instituições atuantes na comunidade. Como diz o nome, visa a ampliar o diálogo e estreitar laços na comunidade para a busca coletiva de soluções.

Os encontros do Case originaram oficinas de artesanato, palestras de prevenção à saúde e diversos eventos. A proposta do Jovem Doutor é aproveitar a organização do Case para se integrar a atividades em andamento na comunidade, realizadas por escolas, ONGs e pela UBS.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente nas páginas II e III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 02/04/2008. (PDF)

Odontologia da Unesp Araraquara atende grátis 600 pacientes por dia

Usuário carente tem prioridade e serviço inclui triagem, emergência e atendimentos; atividade clínica é fundamental para a formação do aluno

Há 85 anos a população carente de 75 municípios da região de Araraquara recebe atendimento gratuito na Faculdade de Odontologia (FO) da Universidade Estadual Paulista (Unesp). A atividade clínica integra a grade curricular dos alunos de graduação, a partir do segundo ano, e atende, em média, no período letivo, 600 pacientes por dia em tratamentos odontológicos, das 9 às 12 horas e das 14 às 18 horas.

O serviço odontológico gratuito assiste pacientes paulistas e de outros Estados, como Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás. No total, contempla dez especialidades: odontopediatria, ortodontia, cirurgia, radiologia, diagnóstico bucal, periodontia, dentística, endodontia, oclusão e prótese.

Criada em 1923, a FO é a mais antiga do Brasil. Já formou 4,8 mil dentistas e todos os seus docentes têm titulação mínima de doutor. O prédio original da faculdade foi projetado em formato de U e, há quatro anos, reformado. Com o término das obras, passou a abrigar 130 consultórios distribuídos em seis clínicas e quatro miniclínicas de especialidades.

A escola oferece, também, serviços odontológicos complementares ao tratamento, como radiologia e análise laboratorial de amostras – retiradas de pacientes em tratamento na instituição.

Triagem informatizada

Para solicitar o serviço, o interessado deve se dirigir à Faculdade de Odontologia e passar pela triagem. É então cadastrado no sistema e encaminhado para atendimento de emergência ou para agendar consulta. Ninguém sai sem ser atendido e o processo é impessoal, informatizado e obedece à ordem de chegada. Em média, uma consulta com diagnóstico de pouca complexidade demora até dois meses para ser agendada, de acordo com a especialidade.

Experiência prática

“Muito além do assistencialismo, o atendimento clínico é uma atividade de extensão universitária fundamental. Além de habilitar o aluno para o trabalho, favorece pessoas sem condições de pagar”, explica o professor José Cláudio Segalla, vice-diretor da faculdade.

Conhecido como Caco, Segalla venceu eleição realizada em novembro de 2007 e será empossado diretor da FO no dia 28 de março. Sobre o serviço gratuito, destaca o caráter curativo dos procedimentos: começa com tarefas simples, como a remoção de cáries e tártaro, e chega, nos anos finais, em técnicas complexas, como cirurgias e implantes.

“O problema odontológico interfere na autoestima do indivíduo, pode provocar mau hálito, dores nas costas, dificuldade para engolir, falar, conseguir emprego e até de namorar. O essencial é mostrar, na prática, para estudantes e pacientes, a importância da prevenção para a saúde bucal. Procedimentos simples, como visita periódica ao dentista, escovação correta e uso de fio dental, poupam gastos e sofrimento”, ensina.

Mobilização

Os 75 calouros que ingressaram no curso de Odontologia a partir de 2006 já estão com a nova grade curricular da carreira, que é integral. O período de formação foi ampliado de quatro para cinco anos e privilegiou-se a prática clínica. Atualmente, o atendimento gratuito envolve 480 alunos de graduação e de pós e tem acompanhamento de 75 dos 97 professores da FO. A atividade recebe repasse mensal em torno de R$ 22 mil do Sistema Único de Saúde (SUS).

O professor Segalla afirma haver espaço para ampliar o número de atendimento, porém condiciona a expansão ao aporte de recursos adicionais. “Não abrimos mão da qualidade em todos os aspectos ligados ao serviço, como infraestrutura, consultórios, equipamentos, materiais, pessoal de apoio e demais necessidades,” avisa.


Trabalho em dupla

Nas clínicas, o atendimento é prestado por duplas de alunos que se revezam na tarefa. Desta maneira, o treinamento fica mais versátil e o estudante tem chance de acompanhar um colega durante a consulta. Depois de encerrado o procedimento, o relatório é redigido a quatro mãos.

Em cada disciplina do currículo, mudam os pares de alunos e os equipamentos e consultórios utilizados. O objetivo é estender a experiência clínica ao máximo e ampliar a troca de conhecimentos entre os universitários.

Há 27 anos o professor Ivan Faria supervisiona o trabalho dos alunos de graduação e pós nas clínicas. Segundo ele, a parte prática da formação é mais difícil para o estudante que a teórica. No entanto, é fundamental para fixar conteúdos das aulas e aproximar o futuro dentista da realidade brasileira, muitas vezes carente.


Serviço aprovado

Na manhã do dia 10 de março, na clínica da disciplina de Prótese, os quartanistas Rafael Lamas e Mariana Freitas prescreveram uma prótese para Ivonete Sandretti. Motivo: repor um dente perdido. Foi a quinta vez que ela recorreu aos serviços gratuitos da Faculdade de Odontologia. Em todas as ocasiões, Ivonete aprovou os diagnósticos e os tratamentos. Também elogiou a dedicação de alunos e professores.

“Em dupla, o serviço fica mais versátil”, asseguram Lamas e Mariana. Amigos desde o ingresso na universidade, dizem aproveitar bastante o período de aprendizado. Eles explicam que o primeiro desafio é conquistar a confiança do paciente, que vem com dores e traz na memória lembranças ruins de tratamentos anteriores.

“Depois de algumas consultas, o vínculo de confiança se consolida e avançamos no tratamento. Em muitos casos, a gratidão é grande e recebemos agradecimentos singelos. Porém, a sensação do dever cumprido só aparece quando vemos restabelecido o sorriso no rosto do paciente”, afirmam os futuros dentistas.

Serviço

Faculdade de Odontologia (FO) – Unesp
Rua Humaitá, 1.680 – Araraquara
Telefone (16) 3301-6300

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 18/03/2008. (PDF)