Núcleo para abrigar inovações

Centro empresarial na capital reunirá negócios inovadores de portes variados; investimento inicial na sede é de R$ 15,7 milhões

O Governo de São Paulo deu início às obras de adequação e reforma do Núcleo Central do Parque Tecnológico SP Jaguaré. O investimento inicial é de R$ 15,7 milhões e a sede será instalada no edifício do antigo Museu de Tecnologia de São Paulo, desativado na capital em 2010.

O Núcleo Central do futuro complexo de empresas abrigará novos negócios de diversos portes baseados em produtos e serviços inovadores. Fica localizado no entorno da Avenida Engenheiro Billings, altura do número 500, na Cidade Universitária, zona oeste.

A região concentra o maior polo gerador de ciência e tecnologia da América Latina, com a produção acadêmica regular da Universidade de São Paulo (USP) e dos institutos vizinhos, como de Pesquisas Tecnológicas (IPT), o de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) e o Butantan.

O terreno do Parque Tecnológico SP Jaguaré tem 46 mil metros quadrados de extensão. A sede do complexo terá centros de inovação, escritórios de financiadoras de projetos, serviços de administração, de apoio e áreas para eventos, com auditórios e espaços para exposições. A expectativa é que a obra esteja concluída até o final deste ano.

De acordo com a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia (SDECT), idealizadora do projeto, a lista de negócios potenciais é extensa. Inclui empresas baseadas em setores ligados à tecnologia da informação, comunicação, saúde, nanotecnologia, fármacos e centros de pesquisa e desenvolvimento em acessibilidade e usabilidade em projetos para pessoas com deficiências, entre outros.

Além de gerar emprego, renda e investimentos, a intenção do projeto é também estimular competitividade, sustentabilidade, conhecimento e inovação tecnológica. Assim, a proposta é prover no local interação entre instituições de pesquisas, universidades e empresas, que serão captadas pela entidade gestora do parque tecnológico.

Parques tecnológicos

Criado em 2006, o Sistema Paulista de Parques Tecnológicos (SPTec) oferece apoio e suporte a novas empresas baseadas em ciência e inovação. No Estado, há 28 iniciativas para instalação de novos empreendimentos: cinco com credenciamento definitivo no sistema, 14 provisórios e nove em estudos.

Com credenciamento definitivo, a lista inclui São José dos Campos, Sorocaba, Ribeirão Preto, Santos e Piracicaba. Nos provisórios, as cidades selecionadas são Araçatuba, Barretos, Botucatu, Campinas (Polo de Pesquisa e Inovação da Unicamp, CPqD e CTI-TEC), Ilha Solteira, Santo André, São Carlos (ParqTec e Eco Tecnológico), São José do Rio Preto, São Paulo (Jaguaré e zona leste) e São José dos Campos (Univap). Por fim, seguem em estudo as unidades Campinas (Ciatec), Rio Claro, Americana, Santa Bárbara d’Oeste, Grande ABC, Guarulhos, Jundiaí, Pirassununga e Bauru.

A empresa que se instalar em parque tecnológico do SPTec com credenciamento definitivo poderá participar do programa estadual de incentivos fiscais, chamado Pró-Parques. Além disso, instituições de apoio e empresas de base tecnológica poderão utilizar créditos acumulados de ICMS ou diferir o imposto para pagamento de bens e mercadorias a serem usados na realização de investimentos e no pagamento de ICMS relativo à importação de bens destinados ao ativo imobilizado.


Como integrar ao SPTec

Para fazer parte do SPTec, a prefeitura ou a entidade gestora do parque tecnológico deve encaminhar ofício à SDECT e solicitar inclusão no sistema. Após a aprovação dos documentos, o credenciamento é efetuado por meio de resolução válida por dois anos. Para obter credenciamento provisório no sistema, o interessado deve enviar à secretaria comprovação de propriedade de uma área de no mínimo 200 mil metros quadrados.

E mais: remeter documento manifestando o apoio à implantação do parque subscrito por empresas locais, bem como centros e instituições de ensino e pesquisa; apresentar projeto básico do empreendimento, contendo o esboço do projeto urbanístico e estudos prévios de viabilidade econômica, financeira e técnico-científica e, por fim, requerimento justificando o pleito.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 22/01/2013. (PDF)

Vem aí o primeiro Reator Multipropósito Brasileiro

Equipamento permite pesquisas científicas na área nuclear e a produção de radioisótopos, principal matéria-prima para a fabricação de radiofármacos

O Governo estadual confirmou a declaração de utilidade pública de um terreno de 800 mil metros quadrados em Iperó. A área abrigará o primeiro Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), e o novo centro de estudos no interior paulista será integrado ao Complexo Tecnológico Aramar, da Marinha do Brasil.

A Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), é responsável pela instalação do novo empreendimento. A iniciativa segue as políticas do Programa Nuclear Brasileiro (PNB) e integra meta estratégica do MCTI.

Atuando em parceria com o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), o centro de estudos produzirá radioisótopos para a fabricação dos radiofármacos e também permitirá o desenvolvimento de tecnologias e aplicações na área nuclear. Os setores contemplados com os novos serviços são agricultura, conservação de alimentos, ciência de materiais, energia, meio ambiente, entre outros.

Os radiofármacos e radioisótopos são essenciais para o diagnóstico e terapia de diversas doenças, como o câncer, por exemplo. No Brasil, a maioria destas substâncias é importada para depois ser processada localmente e distribuída em centros médicos. Com o novo RMB, a expectativa é aumentar a produção nacional deles.

Produção nuclear

Criado em 1957, o Ipen é uma autarquia da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia (SDECT). É gerido técnico e administrativamente pela CNEN e associado à Universidade de São Paulo (USP) em programas de ensino e pós-graduação.

De modo multidisciplinar, o Ipen desenvolve atividades nas áreas de saúde, meio ambiente, aplicações de técnicas nucleares, materiais, segurança radiológica, reatores nucleares e fontes alternativas de energia. Em setembro, comemorou 55 anos de criação.

Diferentemente das usinas atômicas de Angra dos Reis (RJ), o reator nuclear do Ipen não tem por objetivo gerar energia elétrica, mas, sim, duas missões básicas: A primeira é permitir pesquisas científicas na área nuclear e, a segunda, é a produção de radiosótopos, a principal matéria-prima para a fabricação de radiofármacos.

Conhecido como IEA-R1m, o reator nuclear do Ipen é um equipamento do tipo piscina, moderado e refrigerado a água leve. Usa elementos de berílio e de grafite como refletores. Foi o primeiro a entrar em atividade na América Latina, tendo sido inaugurado em 1957 pelo então presidente Juscelino Kubitschek.

Sobre o PNB

O PNB prevê aumento do uso de energia nuclear para diversas finalidades. A lista inclui o desenvolvimento tecnológico voltado à formação nacional de recursos humanos especializados e o aumento das aplicações materiais e técnicas nucleares em benefício da sociedade.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 27/12/2012. (PDF)

O centésimo elemento

Produção interna de combustível nuclear atende ao principal reator atômico brasileiro para pesquisas e fabricação de radioisótopos

Setembro de 2012 foi um mês histórico para o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen). Na semana passada, a autarquia paulista associada à Universidade de São Paulo (USP) e gerenciada pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) comemorou 55 anos de criação. E celebrou também a entrega do centésimo elemento combustível fabricado internamente para o reator atômico IEA-R1m.

Projetado e construído pela empresa norte-americana Babcock & Wilcox, o reator opera de modo controlado a fissão (“quebra”) em cadeia dos núcleos dos átomos de urânio. Seu projeto integrou o programa Átomos Pela Paz, iniciativa dos Estados Unidos do período pós-Segunda Guerra Mundial, que incentivava outros países a aderir à tecnologia atômica com fins pacíficos. Por fim, foi incorporado ao Tratado Mundial de Não Proliferação de Armas Nucleares, em vigor desde 1970, e tem adesão atual de 189 países.

Aplicações médicas

Desde sua inauguração, o IEA-R1m é usado em duas missões básicas: a primeira é permitir pesquisas científicas na área nuclear. E a segunda é a produção de radioisótopos, a principal matéria-prima para a fabricação de radiofármacos. Estas substâncias são empregadas no diagnóstico e tratamento de doenças como o câncer e em outras áreas médicas como cardiologia e neurologia. E têm também aplicações em setores como agricultura e indústria.

Em suas quatro primeiras décadas de operação, o IEA-R1m trabalhou com potência máxima de 2 megawatt (MW). Entretanto, com o aumento da demanda por radiosótopos, em 1997 o reator nuclear teve sua potência máxima alterada para 5 MW. E desde então a rotina de utilização do equipamento foi ampliada para 120 horas semanais.

Salto tecnológico

Para Elita Carvalho, gerente do Centro do Combustível Nuclear (CCN) do Ipen, a produção do centésimo elemento representa a consolidação de trabalho iniciado em 1988 pelos 36 profissionais do instituto. Química de formação, a pesquisadora destaca o viés estratégico da decisão de enriquecer no Brasil o urânio, elemento base do combustível atômico. E mais o desenvolvimento de muitas linhas de pesquisa científica em assuntos afins.

O salto tecnológico do Ipen envolveu a formação de pessoal especializado e o domínio de diversas tecnologias químicas, metalúrgicas e cerâmicas. E mais a constituição de uma cadeia nacional de produção nuclear, inclusive com o tratamento de efluentes. Ao longo da evolução, Elita destacou o rigoroso controle de segurança em todos os processos envolvidos, de acordo com padrões internacionais de segurança.

Autossuficiência

Os elementos combustíveis utilizados pelo reator IEA-R1m são do tipo Materials Testing Reactor (MTR), formados pela montagem de um conjunto de placas combustíveis paralelas entre si, que permitem a passagem de um fluxo de água que serve como refrigerante e moderador.

Atualmente, o CCN produz, por ano, dez elementos combustível para o IEAR1m. Em média, cada um demora um mês para ser fabricado e sua vida útil, no reator, depende do número de horas em operação no sistema nuclear. Depois do uso, o material é estocado dentro da própria piscina do reator, em compartimento próprio.

Com a evolução dos serviços prestados, a expectativa do Ipen nos próximos anos é deixar de importar, do Canadá e da Argentina, matérias-primas como o tecnécio, usado para produzir radioisótopos. Na visão da pesquisadora Elita, os principais desafios atuais do Ipen são a gestão de pessoal e o aporte de recursos financeiros.

A meta futura é ampliar a produção e desenvolver combustíveis com maior densidade de urânio, para atender, por exemplo, o futuro Reator Multipropósito Brasileiro (RMB). O projeto conjunto com a Marinha também tem viés científico e segue em construção no Centro Experimental de Aramar, em Iperó, município próximo de Sorocaba.

A expectativa é passar a produzir 25 elementos combustível para o RMB, cujas operações estão previstas para ter início em 2018. A partir daí, explica Elita, será possível aumentar a capacidade e até dobrá-la. Quando essa meta for atingida, o Brasil será 100% autossuficiente na fabricação dos radioisótopos. E terá toda a cadeia produtiva nacionalizada, pois os minérios envolvidos na produção do combustível são extraídos de jazidas localizadas na Bahia e no Ceará.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 30/10/2012. (PDF)