Reestruturação contempla a enfermaria central, o setor de marcação de consultas e a central de esterilização; centro médico ocupa uma área de 33 mil metros quadrados, próxima ao Zoológico
A Secretaria Estadual da Saúde (SES) concluiu, ontem, as obras de reforma e ampliação do Centro de Atenção Integrada em Saúde Mental (Caism) Dr. David Capistrano da Costa Filho, conhecido como Hospital Psiquiátrico da Água Funda, localizado na zona sul da capital. A partir de agora, o complexo psiquiátrico oferecerá os serviços do Núcleo de Atenção Continuada, que consiste na internação integral e acompanhamento permanente, depois da alta, para psicóticos agudos.
A psiquiatra e diretora do Centro, Maria Áurea Gallo, informa que a nova proposta terapêutica é parte do projeto do governo estadual em 2003 e torna o tratamento mais eficiente. Diminui o tempo de internação e acelera o processo de recuperação depois de crises agudas. O paciente dorme na própria casa e vai todos os dias para o hospital, sozinho ou acompanhado por familiares, de acordo com sua capacidade e a evolução do seu quadro.
“A idéia é que, progressivamente, ele retorne menos vezes. No início, são três visitas por semana, depois duas e assim por diante”, explica. “Durante a terapia, os profissionais do Hospital da Água Funda mantêm contato permanente com psiquiatras de centros de saúde públicos próximos da residência do paciente. O objetivo é transferi-lo com a garantia de que ele não abandonará o tratamento”, explica Áurea.
“Dessa forma, evita-se a desistência do tratamento e se fortalece o vínculo familiar, que é de fundamental importância para a ressocialização. Com a auto-estima reforçada, ele se sente seguro para avançar no tratamento e fazer atividades triviais, como tomar um ônibus sozinho, trocar de roupa sem a ajuda de alguém, ou mesmo fazer a sua higiene. E continua recebendo, em local próximo da sua residência, a medicação e o atendimento psiquiátricos”.
A reforma do hospital contemplou a enfermaria central, o setor de marcação de consultas e a central de esterilização. Redes hidráulica e elétrica, pisos e telhado foram substituídos. Hoje, a unidade estadual recebe mil internações por ano e dispõe de 225 profissionais da Saúde. Do quadro funcional participam terapeuta ocupacional, enfermeiro, psiquiatra, dentista, farmacêutico, psicólogo, assistente social e nutricionista, entre outros. O Centro atende a pacientes em quatro grandes programas: Atenção a dependentes químicos, Atenção ao psicótico, Hospital-Dia e Lares Abrigados. O complexo fica numa área verde de 33 mil metros quadrados, na Avenida Miguel Stéfano, 3.030 – Água Funda, próximo ao Zoológico.
Em 49 anos, complexo fez 70 mil atendimentos
O complexo hospitalar foi criado em 1955 e atendeu 70 mil pacientes. Recebe somente pessoas do sexo masculino maiores de 18 anos. A faixa etária média é de 40 anos e a patologia mais comum é a esquizofrenia, seguida de dependência química mista – álcool em combinação com outras drogas. Com a reforma, o Caism passará a oferecer 145 vagas. São 80 leitos para pacientes agudos; 35 vagas nos chamados lares abrigados (para doentes crônicos que perderam a referência familiar e social) e outras 30 no serviço conhecido como Hospital-Dia, que é uma semi-internação, de segunda a sexta-feira – o usuário chega por volta das 8 horas e permanece até as 17 horas.
Nessa modalidade, ele passa por consulta médica individual, participa de grupos terapêuticos duas vezes por semana e de atividades de ressocialização. São oferecidas orientação para a família e práticas internas e externas que estimulam o convívio coletivo, como oficinas artístico-culturais e visitas a museus, cinemas e parques. Existem dez oficinas terapêuticas, que incluem reciclagem de papel, corte e costura, culinária, restauro de móveis, confecção de bijuterias, lavagem de carros, entre outras. São ministradas por psicólogos, terapeutas ocupacionais e profissionais de diversas especialidades.
Universidades parceiras
O Centro de Atenção mantém parceria com instituições de ensino universitário como as universidades São Marcos e Santo Amaro, Faculdade de Medicina do ABC, entre outras. Elas enviam turmas de professores que coordenam aulas práticas para grupos de dez alunos. A enfermeira Josiane Cristiane Pedroso da Silva trabalha no hospital. “Meu maior desafio é propiciar ao paciente seu retorno sadio à sociedade. Outro dia encontrei no supermercado um antigo interno e foi gratificante saber que está trabalhando”, lembra a profissional. Para Josiane, o Caism tem infra-estrutura adequada para o atendimento, que inclui a distribuição de medicamentos de alto custo. “A maior necessidade é a ampliação do número de funcionários. Com mais gente, seria possível atender a outras patologias”, comenta.
A médica Flávia Fongaro é coordenadora do núcleo de oficinas terapêuticas. “Quando o paciente assimila bem a terapia, adora participar das ações desenvolvidas. Por meio da atividade lúdica, ensinamos valores básicos do convívio comum, como respeitar aos colegas, pedir licença para se expressar, tomar emprestado ferramentas do trabalho proposto e devolvê-las depois”, explica Flávia. A terapeuta ocupacional Luciana Marques, responsável pela oficina de mosaicos, diz que as peças são inspiradas em revistas especializadas. “Muitas vezes, os próprios doentes desenham os moldes, que podem se transformar em porta-retratos, quadros e itens de decoração.”
Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial
Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 14/12/2004. (PDF)