Grafites de jovens artistas embelezam os muros da Estação Brás da CPTM

Trecho de 20 metros em frente ao Largo da Concórdia recebe desenhos com temas ligados à presença ferroviária na cidade

Artistas ligados à ONG Projeto Aprendiz grafitaram um trecho de 20 metros do muro da Estação Brás da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), na rua Domingos Paiva, em frente ao Largo da Concórdia. As tintas foram doadas pela Colorgin, e o trabalho artístico fez parte das atividades do 29º Encontro Nacional de Estudantes de Arquitetura, realizado na semana passada.

Os temas dos desenhos foram a forte presença ferroviária na cidade e o estímulo ao transporte alternativo e ecológico, como o uso da bicicleta. A CPTM atua em parceria com os artistas desde 1997 e criou em 2004 o Projeto Grafite, que oferece a oportunidades para os jovens trocarem a pichação e o vandalismo pela arte nos trens, estações e muros.

Em janeiro do ano passado, os grafiteiros Ise e Nina (“Os Gêmeos“) entregaram um painel de cinco metros de altura por cinco de comprimento, na Estação Lapa, para homenagear os 450 anos de São Paulo e os 150 anos das ferrovias no Brasil. A iniciativa prosseguiu, cinco meses depois, quando a CPTM colocou em operação na Linha B (Júlio Prestes-Itapevi) um trem totalmente grafitado, com 350 metros quadrados de pinturas que tiveram como temas o trabalhador ferroviário, o usuário e a cultura nacional.

Segundo Rodrigo Assis, da equipe de marketing da CPTM, a iniciativa abre espaço para a arte e colabora para melhorar a percepção do usuário sobre o serviço prestado pela companhia. “Contribui para a preservação dos espaços públicos e privados, já que são cedidos o local e as tintas para que os artistas possam mostrar com calma, e dentro da lei, seus trabalhos”, explica.

Projeto Aprendiz

O grupo de artistas que grafitou os muros é composto por Luciano Costa, Ari Arantes, Paulo Ito e Tarsila Portella. Eles são integrantes das oficinas de grafite da ONG Projeto Aprendiz e empregaram técnicas como a pinturas com spray e rolo para fazer os desenhos. O material empregado inclui a mistura de tintas à base de látex e cal, utilizadas para obter diferentes tonalidades e nuances de cores e sombras.

Ari é estudante de geografia da PUC-SP. Segundo ele, o grafite é uma obra aberta, que fica exposta à ação do tempo, sol, chuva e de outros desenhistas. Cada artista tem seu tema preferido, que é adaptado para a pintura em diferentes superfícies de muros. “Meu prazer é desenhar vegetais e integrá-los com as flores e vegetais de um jardim. Com isso, estimulo as pessoas a lembrar que antes da selva de pedra, há alguns milhões de anos, havia o verde”, explica.

Tarsila Portella tem predileção por pintar galinhas estilizadas e formas geométricas. Ela tem 20 anos e é estudante de artes visuais na Unesp. “A intenção dos desenhos é estimular a percepção dos transeuntes para as formas. Algumas pessoas ficam com fome e outras nem reconhecem as aves nos grafites, que são uma verdadeira galeria de arte a céu aberto”, afirma.

Paulo Ito diz que os desenhos não são concebidos previamente. Em geral, o grafiteiro decide na hora aquilo que vai pintar. Ele explica que o grafite é legal, feito com consentimento do proprietário do muro, porém a pichação é ilegal. E conta que seu estímulo é produzir obras de arte cada vez mais bonitas e integradas ao tecido urbano.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página II do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 02/08/2005. (PDF)

Prédio no centro da capital vai abrigar a reitoria da Unesp

A Universidade Estadual Paulista (Unesp) assinou escritura de compra de um imóvel que receberá a reitoria da instituição a partir do início de 2006. O edifício pertencia ao Banco Itaú e fica na Rua Quirino de Andrade, 205, no centro da capital. A mudança, segundo o reitor da Unesp, Marcos Macari, visa a acabar com o ônus do aluguel da atual sede, instalada na Alameda Santos, e criar a possibilidade para que a universidade se organize, em médio prazo, para construir seu próprio campus na capital, na Barra Funda.

O atual valor do aluguel é de R$ 241,3 mil mensais. A economia proporcionada permitirá redirecionamento dos R$ 3 milhões anuais gastos para atividades de ensino, pesquisa e extensão universitária. Na nova sede, trabalharão 380 funcionários. Daqui a cinco anos, o edifício estará incorporado ao patrimônio da Unesp.

O prédio custou R$ 6,7 milhões e será pago em 60 parcelas mensais e consecutivas. Está em boas condições de uso, tem 40 anos e área construída de 7,8 mil metros quadrados, com 12 andares. Tem três elevadores, ar-condicionado central e sistema de alarme de incêndio dentro das normas exigidas, com sensores contra fumaça e sistema de combate a incêndio. As instalações elétricas estão revisadas e a maior parte do prédio é monitorada por câmeras.

A escolha da localização agradou ao subprefeito da Sé e secretário municipal de serviços, Andrea Matarazzo. “É uma ótima iniciativa e tenho certeza de que outras universidades seguirão o mesmo caminho, contribuindo para a revitalização do centro. Com a renovação, acabarão surgindo novos restaurantes e apartamentos ocupados no entorno”, disse.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página II do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 14/07/2005. (PDF)

Pesquisa da Unesp leva a vidro capaz de receber gravações tridimensionais

Inovação abre novas perspectivas para a produção de memórias de alta capacidade para CDs, DVDs e computadores

Descoberta da equipe de pesquisadores do Laboratório de Materiais Fotônicos do Instituto de Química (IQ) da Unesp, campus de Araraquara, abre novas perspectivas para a indústria de componentes optoeletrônicos: a possibilidade de gravação tridimensional de informações no interior do vidro.

O grupo de estudos é coordenado pelo pesquisador dr. Younes Messaddeq e o vidro especial é parte do trabalho de pós-doutorado de Gaël Poirier, aluno francês especialista em química dos materiais. Há dois anos, ele estuda um vidro especial, composto a partir de uma mistura de óxido de tungstênio, polifosfato de sódio e fluoreto de bário.

Em um dos testes no laboratório, Gaël percebeu que quando irradiava o vidro com raio laser azul ficavam gravadas manchas escuras na altura, largura e no comprimento do pedaço de vidro. Além disso, o pesquisador confirmou que o efeito fotossensível podia ser “apagado”, ou seja, por meio de tratamentos térmicos apropriados, as manchas desapareciam, evidenciando que o efeito é reversível, o que possibilita fazer novas gravações sobre o mesmo material.

“Atualmente, muitas pesquisas em andamento em todo o mundo visam à gravação tridimensional, contudo, a novidade foi conseguir atingir este objetivo utilizando um vidro à base de tungstênio como matéria-prima. O segredo do composto aqui desenvolvido está nos elementos químicos adicionados em pequenas quantidades”, explica Gaël.

O vidro especial tem coloração amarela e, quando irradiado com o laser, muda de cor. O composto é fotossensível, altera suas propriedades quando exposto a luzes especiais. Gaël ressalta, entretanto, que a mancha produzida na experiência não é uma informação digital e somente ilustra, na prática, a possibilidade da gravação tridimensional.

Albert Einstein

Parceria entre o Laboratório de Materiais Fotônicos do IQ e o Instituto de Estudos Avançados do Centro Técnico Aeroespacial (CTA) de São José dos Campos permitiu nova demonstração da experiência. A pedido da equipe do IQ-Unesp, os profissionais do CTA gravaram de modo tridimensional a face do físico Albert Einstein numa amostra de vidro de um centímetro de largura por três de altura.

A variedade especial de vidro abre, também, perspectivas para a pesquisa de novos componentes miniaturizados, capazes de substituir CDs regraváveis, DVDs e cartões de memória utilizados, por exemplo, em câmeras fotográficas digitais e celulares.

“Um dos próximos passos será preparar uma película fina de alguns mícrons (a milionésima parte do metro) desse material e verificar se o efeito é o mesmo observado no vidro. Esta película fina seria capaz de substituir a que atualmente é utilizada em CDs e DVDs”, aponta Gaël.

Outro modo de armazenar informações em três dimensões emprega o uso de técnica especial: a holografia, que permite ampliar ainda mais a capacidade de armazenamento de dados por centímetro cúbico de material.

O aluno de pós-doutorado dr. Marcelo Nalin, que desenvolve sua pesquisa no Instituto de Física da Unicamp em Campinas, sob a orientação da cientista Lucila Cescato, trabalha em parceria com os doutores Gaël e Younes. São os únicos pesquisadores, no Brasil, a estudar o fenômeno de fotossensibilidade em vidros de tungstênio, usando a técnica holográfica.

Produção e investimento

Gaël não recebeu investimento específico para a pesquisa, somente sua bolsa de pós-doutorado, que é mantida pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapesp). Nas experiências, utilizou a infra-estrutura de equipamentos do IQ e contou com o auxílio financeiro da Fapesp para a compra de reagentes de partida e cadinhos de óxido de alumínio e platina, usados para a fusão das substâncias.

A temperatura de fusão no cadinho depende da composição inicial do material e varia entre mil e 1.600°C. Depois da síntese do vidro, a amostra é submetida a um recozimento que demora quatro horas. Em seguida, resfriada gradualmente até chegar à temperatura ambiente.

A fase final do processo de fabricação é o polimento nas superfícies, passo importante para assegurar a qualidade óptica do material. Para confirmar o estado vítreo da amostra, o material é submetido a técnicas de caracterização: difração de raios X, análise térmica e observação visual.

Patente solicitada

O vidro fotossensível de Gaël já tem pedido de patente encaminhado ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e será estendido, no ano que vem, para os Estados Unidos, Japão, Inglaterra, França, Alemanha, Suécia, Itália, Austrália e China. Depois da obtenção da patente definitiva, o novo material sintetizado será apresentado em congressos científicos. Até o momento, a única apresentação no exterior ocorreu durante workshop sobre materiais avançados, realizado em junho do ano passado, na Universidade de Münster, na Alemanha.

Agora, o desafio da equipe do IQ é aperfeiçoar ainda mais o material e encontrar parceiro comercial. Ele precisará investir na tecnologia, adaptar o vidro para ser capaz de receber e processar informações digitais e, também, dispor de um gravador capaz de escrever e apagar os dados nas três dimensões.

O volume de informações que pode ser gravada por centímetro cúbico do vidro ainda não foi estimado. Porém, a equipe do Laboratório de Materiais Fotônicos prevê que a capacidade de armazenamento seja superior à dos CDs e DVDs atuais. “O limite teórico é de 1,6 terabytes, que corresponde a 1,6 mil gigabytes de dados. Um DVD suporta 4,7 gigabytes”, explica Gaël.

Outra vantagem do vidro fotossensível é ser uma matéria-prima limpa, barata e reciclável. A variedade obtida por Gaël é mais cara que os vidros tradicionais, produzidos à base de silicato (areia). Entretanto, seu custo é inferior ao utilizado atualmente nos CDs regraváveis, produzidos com calcogenetos, elementos tóxicos e com preços mais altos de produção.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página II do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 02/07/2005. (PDF)