Desenvolve SP apoia e financia projetos inovadores no Estado

Programa da agência paulista prevê financiar mais de R$ 80 milhões para projetos inovadores em 2016, com juros subsidiados

Transformar ideias promissoras em produtos e serviços de sucesso. Esse é o objetivo do Movimento pela Inovação, programa criado em junho de 2015 pela Agência de Desenvolvimento Paulista (Desenvolve SP). A iniciativa reúne parques tecnológicos, pesquisadores, empreendedores e agências de fomento e indica e opera a opção de crédito mais favorável (financiamento com juro subsidiado ou subvenção não reembolsável) para quem deseja abrir empresa ou expandir negócios.

Eduardo Saggiorato, superintendente de negócios da Desenvolve SP, explica que a proposta é fortalecer a formatação dos projetos, evitar a mortalidade precoce dos negócios por motivos variados, orientar o empreendedor e aproximá-lo de entidades de apoio à inovação pública e privada. Em 2014, a agência repassou R$ 5 milhões para a inovação; no ano passado, o montante saltou para R$ 23 milhões e, para este ano, a expectativa é encerrar o período com mais de R$ 80 milhões financiados.

“Há dinheiro disponível, mas o conceito adotado vai muito além do financiamento. A meta é prestar assessoria completa ao empreendedor”, ressalta Eduardo. O serviço atende projeto com faturamento anual previsto de até R$ 90 milhões. Para solicitar crédito, o interessado pode se dirigir pessoalmente à sede da empresa, na Rua da Consolação, 371, no centro da capital, de segunda a sexta-feira, das 9 às 18 horas (ver serviço).

Parcerias

O Movimento pela Inovação tem diversos parceiros de estímulo ligados ao Governo paulista, como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o Núcleo de Inovação Tecnológica do Centro Paula Souza (Inova Paula Souza), o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), dentre outros.

No setor privado, as entidades associadas são o Instituto Euvaldo Lodi, ligado à Confederação Nacional da Indústria (CNI), e órgãos federais, como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Todo atendimento prestado é individual e procura identificar o estágio de maturação de cada projeto. A avaliação do pedido inclui a análise da viabilidade econômico-financeira e a recomendação de qual linha de crédito ou de subvenção (dinheiro a fundo perdido) é mais recomendada.

Com vistas à geração de emprego e renda no Estado, o Movimento pela Inovação promoveu em 2015 seis encontros nas cidades de Campinas, Piracicaba, Ribeirão Preto, São Carlos, São José dos Campos e Sorocaba. No total, foram atendidos 278 empreendedores que originaram 53 projetos submetidos à Desenvolve SP e 85 repassados aos parceiros da agência – os demais seguem em avaliação.

Cronograma

Neste ano, o trabalho do Movimento pela Inovação prevê ações integradas com os parceiros do programa em todo o Estado. A expectativa é realizar mais 15 encontros como os do ano passado. Na programação constam ainda eventos, reuniões e seminários com diversas instituições.

A lista de entidades inclui os Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs) da Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei), os parques tecnológicos, prefeituras paulistas e representantes de órgãos setoriais empresariais, como o Centro das Indústrias do Estado (Ciesp), a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) e a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), entre outros.


Inovador experiente

O físico Daniel Consalter, da Fine Instrument Technology (FIT), representou a empresa no encontro do Movimento pela Inovação promovido pela Desenvolve SP, em São Carlos. A justificativa do convite foi o fato de ele ter conseguido aprovar, em junho do ano passado, um financiamento Inovacred de R$ 1,3 milhão na Finep. Sua experiência foi utilizada como caso de sucesso por diversos outros empreendedores da cidade da região central paulista, conhecida como a capital da tecnologia.

Atualmente, Consalter divide-se entre o doutorado na USP São Carlos e a FIT. Ele ingressou como funcionário na empresa em 2009 com mais três colegas. O grupo foi contratado para desenvolver um console para a área médica, tendo recebido subvenção de R$ 3 milhões da Finep. O recurso possibilitou o desenvolvimento do SpecFit Ultra e do SpecFIT, espectrômetros de ressonância magnética à disposição no mercado brasileiro e internacional, com o preço do primeiro partindo de R$ 110 mil e, o segundo, de R$ 200 mil.

O SpecFit Ultra controla simultaneamente periféricos como bobinas e amplificadores – seja para gerar imagens, seja para executar análises físicas e químicas de alta precisão.

Mais exportações

O SpecFit tem grande apelo para o exportador nacional de produtos agrícolas. Sem destruir a amostra e em menos de 30 segundos ele é capaz de definir a composição de alimentos como soja, milho, algodão, feijão e palma, a principal matéria-prima vegetal do biodiesel. “O equipamento mostra o porcentual de umidade e de óleo em lotes de grãos e sementes, entre outras características”, explica Consalter.

“Assim o comprador pode, por exemplo, analisar a qualidade de um lote inteiro de um contêiner. Pode também ser usado para identificar a composição de diversos produtos, como azeite de oliva e combustíveis”, informa.

Serviço

Movimento pela Inovação da Desenvolve SP
Telefone (11) 3123-0464

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página II do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 17/02/2016. (PDF)

Unesp cria película para uso em telas planas

Produzido com bactérias e óleo de mamona, biomaterial de baixo custo desenvolvido pelo Instituto de Química de Araraquara é flexível, resistente e sustentável e pode ser alternativa ao vidro

Uma pesquisa do Laboratório de Materiais Fotônicos do Instituto de Química da Universidade Estadual Paulista (IQ-Unesp), câmpus de Araraquara, pode representar no futuro uma alternativa às atuais telas planas de vidro usadas em celulares, tablets e televisores. O biomaterial desenvolvido é uma película produzida a partir de óleo de mamona, fonte de biomassa abundante no Brasil, e da celulose proveniente de culturas da bactéria Gluconacetobacter xylinus.

Segundo o químico Hernane Barud, um dos participantes da pesquisa, a tecnologia traz diversas vantagens na comparação com o vidro, cuja origem é a sílica, composto inorgânico encontrado na areia, que impacta o meio ambiente em seus processos de produção e de descarte. Patenteada em âmbito nacional, a película criada em Araraquara é obtida por meio de um processo “verde” e sustentável – usa celulose produzida em laboratório proveniente de fontes naturais.

A nova tecnologia dispensa o corte de árvores e a necessidade de separar a celulose de outras substâncias como a lignina e a hemicelulose, impurezas que precisam ser removidas. Barud explica que o único tratamento exigido para originar uma matéria-prima flexível, resistente e parecida com um plástico é a eliminação das bactérias depois da produção da película.

Descarte correto

Uma das vantagens é o fato de a celulose se decompor na natureza em menos de um ano e ainda colaborar para a adubação do solo, ao passo que o vidro exige descarte ambiental específico e centenas de anos para se decompor.

A película também pode ser produzida por outras fontes de carbono capazes de fornecer a glicose necessária para alimentar os micro-organismos. Já foram testados com sucesso o melaço de cana e a goma de caju, dois resíduos agroindustriais baratos, abundantes e ricos em açúcares.

O pesquisador conta que o estudo começou em 2004. Na época, uma empresa nacional solicitou ao IQ-Unesp a caracterização de um biofilme produzido a partir de mantas de celulose bacteriana. O cliente, atuante na área médica e de biotecnologia, desejava produzir curativos com a espessura de um folha de papel de seda e com propriedades terapêuticas especiais.

Concluído o pedido, o passo seguinte foi produzir, no próprio Laboratório de Materiais Fotônicos, as mantas de celulose. Na visão do grupo de pesquisadores, havia outros usos para esse biomaterial, nas áreas odontológica, de preparação de biossensores e de desenvolvimento de novos curativos, entre outras possibilidades.

Transparência

Em 2009, os cientistas de Araraquara começaram a pesquisar o uso da manta como substrato flexível para displays. A qualidade do material foi considerada satisfatória; no entanto, o composto era opaco e não representava alternativa viável ao vidro.

Entre 2010 e 2015, o desafio foi tornar transparente a celulose obtida. Com isso, o IQ-Unesp passou a fazer parte da corrida tecnológica mundial em busca de telas “orgânicas” para celulares e televisores, eletroeletrônicos com vida útil cada vez menor e a preocupação com os impactos ambientais incluídos em seus processos de produção e de descarte.

Depois de vários experimentos, a solução encontrada pelos cientistas da Unesp foi usar óleo de mamona transformado em poliuretano – processo que conferiu a transparência necessária ao material para substituir o vidro.

Além de colaborador do IQ-Unesp, Barud é docente do programa de Biotecnologia do Centro Universitário de Araraquara (Uniara). Ele conta que o trabalho teve financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapesp) na modalidade Auxílio à Pesquisa, no valor de R$ 45,7 mil. Atualmente, ele busca parceiros para produzir o biomaterial em escala industrial e estruturar um novo negócio.

No IQ-Unesp, a linha de estudos com a película tem a coordenação dos professores Sidney Ribeiro e Younes Messaddeq e apoio do doutorando Robson Silva e dos doutores Maurício Palmieri e Elaine Rusgus. Participam também do trabalho o cientista Wagner Polito, da Universidade de São Paulo de São Carlos e os doutores Marco Cremona e Vanessa Calil, ambos cientistas da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) do Rio de Janeiro.

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 07/01/2016. (PDF)

Computação é a nova aliada no combate à dengue

Pesquisa da USP São Carlos apresenta tecnologia capaz de distinguir espécies de mosquitos pelo som emitido no voo; sensor também distingue as fêmeas, que picam, dos machos inofensivos

A inteligência artificial é a mais nova aliada da sociedade no combate à dengue. O professor Gustavo Batista, do Departamento de Ciências da Computação do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP São Carlos, desenvolveu ferramenta para fortalecer a luta contra a epidemia.

Trata-se de uma armadilha com um sensor capaz de identificar, instantaneamente, as espécies de mosquitos presentes em uma região e, ainda, quantificar o total de insetos capturados e o sexo.

A dengue é hoje a principal doença viral transmitida por mosquitos e um dos principais problemas de saúde pública enfrentados no Brasil e em outras áreas tropicais e subtropicais do planeta. Devido à falta de uma vacina eficaz, o controle da moléstia limita-se a ações para impedir e controlar a proliferação do seu vetor, o mosquito Aedes aegypti.

Precisão

Iniciado em 2010, no pós-doutorado do professor Batista na Universidade da Califórnia, em Riverside, nos Estados Unidos, a ferramenta permite aferir com precisão a população do Aedes aegypti em determinada área e transmitir os dados em tempo real, por meio de um aplicativo instalado em computador, tablet ou celular, às autoridades governamentais. Isso possibilita planejar e centrar ações nos locais com maior incidência de criadouros e pacientes portadores do vírus da dengue.

Promissor, o estudo científico recebeu ao longo de seu desenvolvimento apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), com o financiamento de bolsa de pós-doutorado de Batista naquele ano. Em 2011, o projeto recebeu investimento da Fundação Bill e Melinda Gates. O trabalho foi um dos oito projetos brasileiros do total de 12 laureados pelo Google em toda a América Latina neste ano (ver serviço).

Prevenção

Como prêmio, a empresa norte-americana de tecnologia irá pagar durante um ano bolsa de US$ 750 mensais para o professor Batista, que também é pesquisador do Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria (CeMEAI), sediado no ICMC e mantido pela Fapesp (ver boxe).

A premiação do Google inclui ainda uma bolsa mensal de US$ 1,2 mil para André Maletzke, aluno de doutoramento orientado por Batista. A dupla de cientistas de São Carlos pesquisa agora uma armadilha doméstica para mosquitos a partir de um sensor cujo desenvolvimento da propriedade intelectual é de domínio público.

A intenção é patentear a invenção com o auxílio da Agência USP de Inovação e lançar um modelo de armadilha com o sensor em 2016, com custo estimado em R$ 200 para o consumidor. “Assim, quem tiver o equipamento em casa poderá detectar a presença de mosquitos e tomar providências antes da ocorrência de surtos da dengue”, observa.

Assinatura

Instalado em uma caixa de acrílico, o sensor usa um fototransistor para medir a variação de luz emitida pelas asas de cada inseto. Nesse processo, o zumbido provocado pelo voo é convertido em sinal elétrico e o resultado obtido assemelha-se ao som capturado por um microfone.

O passo seguinte é a comparação, feita por métodos de inteligência artificial, do dado obtido com o conjunto de outros sons já armazenados na ‘biblioteca’ do sistema. “Cada espécie bate as asas de modo único, como se fosse uma assinatura”, explica Batista. “Em uma fração de segundo, o sensor identifica o sexo e a espécie do exemplar capturado.”

Prioridade

Batista comenta que o estudo desenvolvido no ICMC exigiu a catalogação do zumbido provocado pelo bater das asas de diversos insetos, como abelhas e vespas. Entretanto, priorizou o Aedes aegypti e mais três espécies de mosquitos hematófagos causadores de doenças, que costumam também ser aprisionadas na armadilha – o Anopheles gambiae, vetor da malária e duas do gênero Culex (a quinquefasciatus e a tarsalis), disseminadoras de encefalites.

“O foco é a fêmea adulta do Aedes aegypti, que transmite o vírus e costuma picar suas vítimas em um raio de 100 metros do local onde nasceram, ou seja, ela ataca as pessoas na casa onde nasceu e da vizinhança”, observa Batista. Ele ressalta que essa espécie impõe um desafio adicional às autoridades de controle epidemiológico, pois a fêmea põe seus ovos em água limpa e parada, mas eles são capazes de sobreviver em meio úmido ou seco até um ano depois.


Sobre o CeMEAI

O CeMEAI é um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) da Fapesp estruturado para promover, de modo multidisciplinar, o uso de ciências matemáticas (matemática aplicada, estatística e da computação) como recurso em aplicações industriais e governamentais. Desenvolve trabalhos nas áreas de otimização aplicada e pesquisa operacional, mecânica de fluidos computacional, modelagem de risco, inteligência computacional e engenharia de software.

Além do ICMC, o CeMEAI é também associado a seis instituições científicas: Centro de Ciências Exatas e Tecnologia da Universidade Federal de São Carlos (CCET-UFSCar); Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica da Universidade Estadual de Campinas (Imecc-Unicamp); Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista (Ibilce-Unesp); Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista (FCT-Unesp); Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE); e o Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo (IME-USP).

Serviço

Para consultar os 12 projetos selecionados pelo Google na América Latina, acesse http://goo.gl/hxyYmN

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 14/11/2015. (PDF)