Financiamento da Fapesp dobra capacidade de startup

Programa de Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe) concede até R$ 1,2 milhão para empresa sediada no Estado; recurso deve ser utilizado no desenvolvimento de produto, processo industrial ou serviço

Criado em 1997, o Pipe-Fapesp financia, a fundo perdido, negócios novos ou já estabelecidos com até 250 empregados dos 645 municípios paulistas. Esse programa estadual de estímulo à tecnologia e inovação realiza quatro chamadas anuais – e já apoiou cerca de 1,3 mil projetos concluídos. Atualmente, há 240 financiados em andamento.

O engenheiro elétrico doutorado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e presidente da BrPhotonics, Júlio César de Oliveira, submeteu projeto ao Pipe-Fapesp na primeira chamada do programa de 2015.

O pedido de financiamento de R$ 1 milhão para a empresa especializada em desenvolver dispositivos usados em redes de fibras ópticas em todo o mundo foi aprovado e, hoje, com o recurso, a empresa consegue desenvolver dois tipos de laser simultaneamente, em vez de apenas um.

“O Programa de Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) nos possibilita realizar pesquisas na vanguarda da tecnologia e, assim, concorrer com empresas estrangeiras”, conta o dirigente da startup com sede em Campinas.

Inovação

O professor Lúcio Angnes, docente da Universidade de São Paulo (USP) e um dos coordenadores do Pipe-Fapesp, explica que a empresa solicitante não precisa apresentar contrapartida no pedido. Segundo ele, esse tipo de financiamento tem apelo social, visa ao surgimento de novas tecnologias e à geração de emprego e renda no País.

O principal pré-requisito é o solicitante desenvolver algum produto, serviço ou processo industrial com base em tecnologia e inovação em qualquer área do conhecimento. Além da viabilidade, o projeto deve ter potencial de retorno comercial e fortalecer a cultura de inovação permanente. Todo o conjunto de regras, prazos e cronogramas do Pipe-Fapesp fica disponível para consulta no site do programa (ver serviço).

Etapas

O Pipe-Fapesp pode financiar uma ou duas das fases de um projeto, sem exceder o teto de R$ 1,2 milhão, com a pesquisa aplicada obrigatória devendo ser realizada diretamente nas instalações da empresa. Na primeira fase, é exigido estudo de viabilidade e o valor solicitado pode chegar a R$ 200 mil, para ser usado em até 9 meses.

Na fase 2, o limite é R$ 1 milhão, sendo exigido plano de negócio, com o período de execução se estendendo para 24 meses. Nessa etapa do auxílio, o proponente pode pleitear diretamente a segunda fase, justificando o motivo da dispensa do período inicial. A submissão do projeto da BrPhotonics foi feita com base nessa regra.

Oliveira tinha experiência prévia em inscrever projetos para submissão em órgãos de fomento, como a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Ministério das Comunicações. Dessa forma, não precisou da consultoria científica e mercadológica prestada pela coordenação do Pipe quando um projeto não é aprovado. “Esse auxílio indica ao empreendedor quais pontos deve aprimorar em seu negócio”, observa o professor.

Destinação

O dinheiro do Pipe-Fapesp pode ser utilizado na compra de materiais permanentes, como equipamentos para pesquisa e itens de consumo (insumos e reagentes). As regras preveem concessão de bolsas de pesquisa para os participantes e a contratação de serviços de terceiros – consultoria, testes, desenvolvimento de temas paralelos ao projeto, entre outros.

O programa atende também negócio em fase de formalização. No entanto, exige vínculo formal de um cientista empregado na empresa proponente ou, ainda, algum pesquisador associado. Esse profissional não precisa ter graduação completa, mas deverá comprovar conhecimento e competência técnica sobre o tema do projeto – e precisará dedicar no mínimo 24 horas semanais ao trabalho.

Fibras ópticas

Em 2014, Oliveira fundou a BrPhotonics. Na época, a empresa associou-se à GigOptix, multinacional norte-americana fornecedora de componentes semicondutores de alta velocidade para fibras ópticas. Na sequência, empregou Luís Carvalho, outro pioneiro da empresa com currículo parecido com o seu: paraibano, engenheiro elétrico formado pela Universidade Federal de Campina Grande (PB) e pós-graduado pela Unicamp. No início do ano passado, com a empresa em funcionamento, a dupla recorreu ao Pipe-Fapesp.

A oportunidade de empreender, conta Oliveira, surgiu no final de 2013, a partir da proposta de desenvolver e comercializar dispositivos fotônicos e microeletrônicos para possibilitar a transmissão de dados em alta capacidade e velocidade em fibras ópticas. Antes, ele trabalhava como pesquisador do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações de Campinas (CPqD) e atuava em projetos de criação e repasse de tecnologia óptica para empresas.

Exportação

Com 19 patentes internacionais depositadas na United States Patent and Trademark Office (USPTO) e quatro nacionais, no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi), a BrPhotonics hoje exporta para os Estados Unidos, Japão, Coreia do Sul e mercado europeu. Iniciado com cinco funcionários, o negócio tem atualmente 23 colaboradores, dois deles trabalhando no escritório da empresa em Seattle, Estados Unidos.

A BrPhotonics monta moduladores de raios laser com fotônica integrada. O presidente da empresa diz que se trata de um produto tecnológico com alto valor agregado – alternativa mais barata aos transmissores ópticos de 100 gigabits, mais utilizados. “Outras vantagens são gastar menos energia e oferecer potência de transmissão superior. Em breve, pretendemos vender nossos moduladores de laser e soluções para empresas brasileiras”, conta.

Serviço

Programa Pipe Fapesp
Telefone (11) 3838-4216
CPqD
BrPhotonics

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página II do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 02/08/2016. (PDF)

Unicamp inova na área do esporte paralímpico

Pioneiro, departamento da Faculdade de Educação Física formou centenas de profissionais especializados na reabilitação, iniciação na atividade esportiva e no treinamento do esporte de alto rendimento de pessoas com deficiência

Avançar e inovar na área de educação física adaptada e formar profissionais especializados em pesquisa, reabilitação e esporte de alto rendimento de pessoas com deficiência. Essa é a meta dos professores e alunos do Departamento de Estudos de Atividade Física Adaptada da Faculdade de Educação Física (FEF) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Pioneiro no País, o projeto acadêmico com atividades paralímpicas teve início em 1987 com o trabalho dos docentes Edison Duarte e José Luiz Rodrigues, entre outros acadêmicos. No mesmo ano, o atleta José Júlio Gavião de Almeida, recém-retornado de campeonato mundial de tae kwon do, na Coreia do Sul, ingressou no corpo docente da Unicamp e foi desafiado pelo professor Duarte a especializar-se também em educação física adaptada. A parceria prossegue até hoje.

Classificação

“O esporte é um meio saudável para diminuir a desvantagem natural da pessoa com deficiência”, destaca Duarte, mencionando outros benefícios, como o resgate da identidade do indivíduo, muitas vezes perdida por causa da limitação física, sensorial ou intelectual. “Além disso, o aumento da confiança e do condicionamento físico, entre outras questões, amplia as possibilidades de ingresso e de permanência desse atleta nas competições e no mercado de trabalho”, explica.

Atualmente, além das atividades na Unicamp, Duarte atua como classificador brasileiro e internacional da modalidade esgrima em cadeira de rodas. Essa tarefa consiste em identificar, em conjunto com médicos e fisioterapeutas, o nível de deficiência de cada atleta, para garantir a igualdade de disputa nas competições, sendo a função reconhecida pelo Comitê Paralímpico Internacional (International Paralympic Committee – IPC).

Cooperação

As informações obtidas e provenientes dos ex-alunos, a partir da evolução dos esportistas, são imprescindíveis para a universidade manter-se atualizada, informa Gavião de Almeida. Para ele, todo atleta paralímpico, além de representar superação e persistência, é um caso único para a ciência. “Na FEF da Unicamp, procuramos manter contato inclusive com quem não trabalha mais conosco”, observa o professor, que foi o primeiro coordenador da Academia Paralímpica Brasileira, criada em 2010.

Na avaliação do docente, o progresso individual de cada atleta amplia as possibilidades de inovação na área de educação física adaptada e abre mais campos para a pesquisa. Outros desdobramentos são ampliar o debate e os conhecimentos em temas como acessibilidade, materiais esportivos, entre outros assuntos. “O trabalho vai além das atividades regulares de ensino, pesquisa e extensão, que são o tripé estrutural da universidade pública”, observa.

Esportes

Organizadas pelo Comitê Paralímpico Internacional (IPC), os jogos paralímpicos são a maior competição mundial para pessoas com deficiência. Nas competições, os participantes são divididos em cinco categorias: paralisados cerebrais, deficientes visuais, atletas em cadeira de rodas, amputados e atletas com outros tipos de deficiências.

A maioria das modalidades é inspirada nos esportes olímpicos tradicionais – atletismo, natação, tênis, judô, tênis de mesa, futebol, basquete, entre outros. Apenas há adaptação das regras e dos modos de disputa. Há ainda modalidades exclusivas como, por exemplo, o golbol. Nesse jogo, disputado numa quadra com dimensões e traçados parecidos com a do vôlei, o objetivo das duas equipes de três jogadores cada uma é rolar a bola com guizos em direção ao gol adversário.

Números

Outro viés do trabalho da Unicamp é oferecer respostas às demandas da sociedade, em especial aquelas direcionadas à inclusão social e à diversidade. Segundo o Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população do Estado de São Paulo é estimada em 41,2 milhões – desse total, 23,9%, ou 9,8 milhões de pessoas, têm algum tipo de deficiência.

No panorama nacional, os porcentuais são parecidos: dos 190,7 milhões de habitantes apurados no Censo 2010, 45,5 milhões – quase um a cada quatro brasileiros – integram o grupo, com deficiências adquiridas no nascimento ou ao longo da vida.

Origem

Em cada país, a educação física adaptada teve origem e desenvolvimento distintos. No Canadá, surgiu nos clubes; nos Estados Unidos, no voluntariado e nos clubes; e na Inglaterra, em centros de reabilitação. No Brasil, a principal referência é a universidade pública, desde a iniciação até o esporte de alto rendimento. No entanto, para participar de competições, o atleta deve ser vinculado a um clube.

O trabalho da FEF da Unicamp com educação física adaptada tem repercussão nacional. Nas últimas décadas, a universidade formou centenas de professores, treinadores, fisiologistas e preparadores físicos especializados. Atualmente, muitos ex-alunos ocupam funções diversas no Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) e integram o corpo docente de outras instituições e de universidades parceiras, como as federais de Uberlândia e de São Paulo, também referências na área.

Alguns estudos acadêmicos da FEF colaboraram para o desenvolvimento do parabadminton, para tae kwon do, esgrima em cadeira de rodas, golbol, futebol de 5, atletismo, natação e ciclismo. Além disso, o parabadminton e o para tae kwon do estrearão nos Jogos de Tóquio 2020, no Japão.

Potência

A primeira paralimpíada foi disputada em Roma, na Itália, em 1960. O Brasil estreou em 1972, em Heidelberg, na Alemanha, sem trazer medalhas. Em 1976, nos jogos disputados em Toronto (Canadá), a delegação brasileira incluiu atletas mulheres pela primeira vez e conseguiu o primeiro pódio, com uma medalha de prata conquistada pela dupla Robson Almeida e Luiz Carlos Costa, na modalidade lawn bowls, espécie de bocha jogada na grama.

Em 2014, pela primeira vez, o CPB enviou dois atletas para competir nos Jogos Paralímpicos de Inverno, em Sóchi, na Rússia. E nas paralimpíadas de verão, os pioneiros, o País segue melhorando seu desempenho a cada nova edição. “A expectativa para a certame disputado em solo brasileiro é conseguir o 5º posto na classificação geral”, observam os pesquisadores Duarte e Gavião de Almeida.

Em 1996, em Atlanta (Estados Unidos), a delegação brasileira terminou na 37ª colocação geral; em 2000, em Sidney (Austrália), acabou no 24º lugar; em 2004, em Atenas, capital da Grécia e país de origem dos esportes olímpicos, conseguiu o 14º posto; em 2008, em Pequim (China), ficou em 9º; e em 2012, em Londres (Inglaterra), obteve a 7ª colocação no ranking geral.

Neste ano, no Rio de Janeiro, a paralimpíada será disputada de 7 a 18 de setembro nas seguintes modalidades: atletismo, basquete em cadeira de rodas, bocha, canoagem, ciclismo de estrada, ciclismo de pista, esgrima em cadeira de rodas, futebol de 5, futebol de 7, golbol, halterofilismo, hipismo, judô, natação, remo, rúgbi em cadeira de rodas, tênis de mesa, tênis em cadeira de rodas, tiro com arco, tiro esportivo, triatlo, vela e vôlei sentado.

Segredos

Uma das estratégias da FEF para descobrir e lapidar novos talentos é acompanhar torneios paralímpicos realizados todos os anos nas cinco regiões brasileiras. Outro trunfo é apostar em diversas modalidades, como, por exemplo, oferecer cursos de extensão universitária de rúgbi em cadeira de rodas, esgrima em cadeira de rodas, parabadminton, paraesgrima, paracanoagem, paratae kwon do, atletismo, natação e ciclismo, entre outras.

Além do corpo docente, o trabalho do Departamento de Estudos de Atividade Física Adaptada abrange alunos de graduação e pós-graduação, investindo na diversidade de esportes paralímpicos. A lista inclui os professores João Paulo Borin, fisiologista do exercício especializado em futebol de 5, Marcos Uchida, especialista em força e estudos do paraciclismo, e José Irineu Gorla, especialista em avaliação física.

Variedades

O futebol de 5 é tema do projeto acadêmico do doutorando Luis Felipe Campos. Preparador físico da seleção brasileira desse esporte, ele é também “chamador” nas partidas, isto é, posicionado atrás do gol, passa referências do campo para os atletas com deficiência visual.

O mestrando Maicon Pereira atua como preparador físico de esgrima em cadeira de rodas; seu colega de pós-graduação Luiz Gustavo Santos é preparador físico da Seleção Brasileira de paracanoagem e treina 12 atletas na Raia Olímpica da Universidade de São Paulo (USP), na Cidade Universitária, na capital.

A mestranda Thálita Santos especializa-se na área de lesões em nadadores – e trabalhará como voluntária nas piscinas dos Jogos Paralímpicos do Rio 2016. Sua colega Mariane Ferreira, ciclista de elite (profissional), atua como piloto de atleta com deficiência visual em provas de ciclismo.

Outra ação direcionada à iniciação e inclusão no esporte paralímpico é um convênio da Unicamp com a prefeitura de Campinas. Realizado pela professora Maria Luiza Alves, o trabalho consiste em garantir que crianças com deficiência matriculadas na rede pública municipal tenham autonomia e acesso ao esporte adaptado e na capacitação dos professores para atendê-las adequadamente.


Ninho de campeões

Cursando mestrado, o ex-aluno da Faculdade de Educação Física da Unicamp Diego Gamero é um dos preparadores físicos do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) nos treinos preparatórios da delegação brasileira para os jogos deste ano. Além de orientar, ele auxilia na montagem e disposição de equipamentos, como o banco da prova de arremesso usado por competidores de diversas modalidades de atletismo.

No Centro Paraolímpico Brasileiro (inaugurado no mês passado), localizado na zona sul da capital, Diego acompanha os treinos de Bete Gomes, para-atleta de lançamentos de dardo, peso e disco. Com 51 anos, ela conta ter sido na juventude agente da Guarda Civil de Santos e campeã paulista de vôlei, antes de desenvolver esclerose múltipla, em 1996. A doença não a impediu de ser atleta de basquete em cadeira de rodas até 2010. Com a evolução do quadro da doença, hoje dedica-se ao atletismo.

“O esporte sempre foi primordial na minha reabilitação. Treino cinco horas diárias, de segunda-feira a sábado – e toda a equipe técnica e de apoio evolui junto na preparação”, diz Bete. Ela representou o Brasil na Paralimpíada de Pequim, em 2008, na modalidade basquete; três anos depois, no arremesso de peso, disputou as provas do Pan-Americano de Guadalajara, no México.

Ouro e prata

José Humberto Rodrigues, cadeirante, treina lançamento de dardos. Com 45 anos e para-atleta desde 2009, o mineiro de Uberaba segue treinando forte. Recordista brasileiro da modalidade, disputa com mais 56 atletas as 39 vagas da delegação nacional nessa modalidade dos jogos do Rio 2016.

Pretendo brigar pelo ouro”, conta. No ano passado, no Mundial Paralímpico de Atletismo, disputado em Doha, no Catar, Rodrigues lançou um dardo a 28,33 metros de distância. Essa marca rendeu-lhe a medalha de prata. “Agora, o céu é o limite, literalmente”, acredita.

Internacional

Os fisiologistas do exercício, Thiago Lourenço e Fernando Catanho, ambos doutores pela FEF da Unicamp, contam que sua tarefa é trazer a ciência para as arenas esportivas. A dupla acompanha treinamentos, monitora a evolução dos atletas e municia os treinadores do Comitê Paralímpico Brasileiro com informações apuradas nos treinos e competições, entre outras tarefas. “Com partilhar os progressos obtidos com os colegas da academia é imprescindível. Eles sempre têm considerações valiosas sobre o trabalho e todos evoluímos em conjunto”, contam os especialistas.

Doutor em educação física pela FEF e professor da Unifesp, Ciro Winckler é o atual coordenador técnico de atletismo do CPB. Um dos responsáveis pela gestão do Centro Paraolímpico Brasileiro, ele diz que o complexo criado para treinamento e avaliação de atletas paradesportivos é de referência internacional e será um dos maiores legados da Paralimpíada do Rio 2016.

Com investimento de R$ 308 milhões, o centro ocupa 140 mil metros quadrados de área e tem hotel com 300 leitos adaptados aos para-atletas e treinadores. Instalado no Parque Fontes do Ipiranga, foi projetado para atender 15 modalidades paralímpicas e construído a partir de parceria entre a Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência, o Comitê Paralímpico Brasileiro e o Ministério do Esporte.

Atletismo

Claudiney Santos conquistou medalhas de prata nos Jogos de Londres 2012 e no Mundial Paralímpico disputado no Catar, em 2015, no arremesso de disco. Na sua avaliação, o Centro Paraolímpico representa um grande passo para a evolução nacional do esporte paralímpico. “As instalações favorecem a quebra de recordes e me dedico diariamente a superar minha melhor marca pessoal, de 42,09 metros”, pondera o atleta da categoria amputados.

Shirlene Coelho é outra promessa de medalha para o Brasil. Atleta com paralisia cerebral, integra a Seleção Brasileira permanente de atletismo. Ela estreou nos Jogos de Pequim 2008 e conquistou a medalha de prata no lançamento de dardo. Quatro anos depois, em Londres, levou o ouro com direito à quebra de recorde mundial e detém, atualmente, a marca de 37,86 metros, uma das melhores da modalidade.

Entrosamento

Monitorado por uma fotocélula, espécie de cronômetro que apura o desempenho de um corredor em diversos intervalos de uma prova, Felipe Gomes esmera-se nos treinos com seu guia, Jonas Alexandre, para as provas dos 100 metros, 200 metros, 400 metros e revezamento 4×100 metros.

“Ter guia é imprescindível. Ele sincroniza seus passos com os meus, orienta sobre os limites da pista e informa sobre qual ritmo devo adotar em cada etapa da prova”, explica o carioca Felipe, medalha de ouro nos 200 metros na Paralimpíada de Londres 2012 e no Mundial de Doha, no ano passado. “Nossos treinamentos diários ampliam o entrosamento e têm possibilitado aprimorar meus índices”, revela.

Serviço

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente nas páginas II e III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 22/06/2016. (PDF)

USP estuda curativo orgânico para queimaduras

Membrana em desenvolvimento no câmpus de Pirassununga propõe alternativa sustentável e sem risco de rejeição às peles biossintéticas importadas usadas atualmente no tratamento

Uma matéria-prima utilizada pela indústria alimentícia para prolongar a vida útil de alimentos inspirou, em Pirassununga, uma inovação capaz de baratear e aprimorar o tratamento de queimados por fogo e água fervente. O estudo acadêmico é de autoria do pesquisador Daniel Angulo, da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA), da Universidade de São Paulo (USP), com orientação do professor Paulo Sobral, do Centro de Pesquisa em Alimentos (FoRC – Food Research Center).

Ainda em desenvolvimento, com término previsto para o fim de 2018, a tecnologia propõe um novo tipo de curativo capaz de acelerar a cicatrização da pele dos acidentados, diminuindo, assim, o sofrimento dos pacientes. A Sociedade Brasileira de Queimaduras estima que os acidentes com fogo e água fervente fazem, a cada ano, um milhão de vítimas no País. Desse total, 66% são crianças, a maioria de famílias de baixa renda.

Orgânico

A pesquisa tem por base o desenvolvimento de uma membrana orgânica produzida a partir do reaproveitamento do colágeno, proteína presente em insumos naturais de baixo custo, porém, com potencial de poluir o meio ambiente se não tiver destinação adequada. “Esse descarte inclui restos de pele, ossos, cartilagens e tendões de bovinos e suínos e também de peixes criados para o consumo humano, como salmão e truta”, explica Angulo.

O chamado curativo orgânico desenvolvido no câmpus Pirassununga tem como diferenciais ser biodegradável (absorvido pelo corpo) e biocompatível (não há rejeição pelo organismo), ter propriedades antifúngicas e antimicrobiais, além de não gerar compostos tóxicos no corpo humano. “A membrana é uma alternativa às peles biossintéticas, material de saúde caro, importado e patenteado, usado atualmente no tratamento dos acidentados”, afirma Angulo.

Além do custo 50% menor, o curativo orgânico também poderá substituir os enxertos, procedimento médico doloroso para o paciente, pois consiste em extrair pedaços de sua pele para colocação no local ferido.

A principal matéria-prima da membrana é a gelatina feita à base de colágeno, uma proteína produzida pelo organismo de todos os mamíferos e insumo comumente utilizado pela indústria alimentícia. A composição inclui ainda a quitosana (fibra natural derivada da quitina), elemento encontrado no esqueleto de crustáceos como lagosta e camarão, além de extrato vegetal de babosa (Aloe vera) e muco (a baba) de caracóis.

O trabalho é financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Sua origem, explica Angulo, engenheiro de alimentos natural de Santiago (Chile), foi uma chamada pública realizada em 2014 para doutores estrangeiros recém-formados. Aprovado na seleção do órgão federal, o pesquisador, de 38 anos, há um ano estuda a membrana, tema de seu curso de pós-doutorado no Brasil.

Inovação

Angulo pretende patentear a tecnologia e foi convidado a divulgar o trabalho acadêmico sobre a membrana em duas revistas científicas internacionais, a Material Research (brasileira e ibero-americana) e a Material Sciences and Engineering (norte-americana), em edições previstas para os próximos três meses.

Até o fim do ano, o pesquisador seguirá fazendo estudos com a membrana em colônias de células em laboratório, trabalho compartilhado com cientistas da área de veterinária da FZEA-USP. Em 2017, iniciará testes do material com roedores e suínos (modelo biológico) e, finalmente, em 2018, começará a avaliação com seres humanos.

O trabalho é realizado nos laboratórios do FoRC, um dos 16 Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapesp). Criado em 2013 e sediado no câmpus da USP da Cidade Universitária, na capital, o FoRC é o primeiro centro de pesquisas do Brasil dedicado exclusivamente às áreas de nutrição e alimentos.

A equipe do FoRC tem 30 cientistas de instituições privadas, como o Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), e públicas, vinculadas ao governo paulista, como USP, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Estadual Paulista (Unesp) e Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), ligado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento.

Com trabalhos direcionados às áreas de saúde, agricultura, indústria e comércio, entre outros, o FoRC se propõe a inovar, atuando de modo multidisciplinar em quatro áreas: Sistemas Biológicos em Alimentos; Alimentos, Nutrição e Saúde; Qualidade e Segurança dos Alimentos; e Novas Tecnologias e Inovação.

Serviço

Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos – USP Pirassununga
FoRC – Food Research Center (Centro de Pesquisa em Alimentos)

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página I do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 11/05/2016. (PDF)