Unesp, ensinando a fazer TV

TV Unesp tem nova programação; e uma das novidades é o Ciência sem Limites, que estreia nesta segunda-feira

Conhecida como a “Cidade sem limites”, Bauru está literalmente à frente dos outros 644 municípios paulistas em um quesito único. Não, não é por causa do tradicional sanduíche de rosbife com queijo derretido em banho-maria e picles de pepino, cujas variações recheiam cardápios de todo o Brasil, mas sim pelo fato de a cidade do Noroeste paulista abrigar a sede da TV Unesp, a emissora pública e educativa da Universidade Estadual Paulista, no ar desde 4 de novembro.

Com atrações para o público em geral, a Televisão Cultural e Educativa foi concebida sob o tripé do ensino, da pesquisa e da extensão, base estrutural da universidade pública brasileira. Tem como público-alvo três grupos distintos: a população de Bauru; os jovens, em busca de novas linguagens e de informação diferenciada; e a comunidade acadêmica.

A produção dos programas é dividida em jornalística e não jornalística (ver abaixo) e, até o final deste mês, cinco novas atrações serão incorporadas à grade. Uma das novidades é o Ciência sem Limites, programa que estreia nesta segunda (4), às 18 horas, e será reapresentado na quinta-feira (6), às 14 horas.

Como assistir

Durante os sete dias da semana, são veiculados programas acadêmicos, educacionais e culturais. A maioria é dirigida para todas as idades, sexos e perfis socioeconômicos. Abordam temas da atualidade, saúde, qualidade de vida, cultura, serviços, política, debates e entretenimento.

Em Bauru e região, a sintonia da emissora é feita pelo canal 45 UHF, de sinal aberto, ou pelo 32, da NET TV a Cabo. Em outros lugares é possível assistir à programação pelo site. A emissora tem como diferencial apresentar somente conteúdo produzido em alta definição, no formato High Definition (HD), com áudio e vídeo digital.

Na Web, a transmissão é feita por meio da tecnologia de streaming (envio sob demanda) e foi aprimorada internamente. Assim, além do tradicional televisor, é possível assistir on-line aos programas de alta-fidelidade em quaisquer plataformas, móveis (ou não), como notebook, tablet e celular de última geração (smartphone).

Investimento e parceiros

Ao longo de sua fundação, em 2008, a emissora recebeu investimento de R$ 15 milhões da Unesp em instalações, equipamentos e pessoal. Tem 48 funcionários concursados e contratados em regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) pela Fundação para o Desenvolvimento da Unesp (Fundunesp).

A TV Unesp tem diversos parceiros. A lista inclui o Canal Futura (que retransmite algumas reportagens produzidas pela emissora) e mais a Prefeitura da cidade, o Sesi e o Sesc locais, a TV Cultura e o YouTube, entre outros. O acordo com o site de vídeos do Google garante à emissora um canal exclusivo na internet para armazenar seus programas.

Viés estratégico

Ana Sílvia Médola, professora de jornalismo e diretora da emissora, vê a televisão como o mais importante e popular meio de comunicação de massa do Brasil. Os motivos são o fato de estar em mais de 90% dos lares nacionais, reunir o País em rede, ter dimensão continental, unir a nação pela língua e ser janela permanente para retratar a vasta diversidade cultural regional brasileira.

Neste contexto, Ana Sílvia situa a TV Unesp como a mais nova e moderna emissora educativa brasileira. Além do jornalismo público diário, a instituição também se propõe a formar recursos humanos especializados e ampliar a pesquisa na área. E mais, estimular e potencializar ferramentas de inclusão social em massa, como o ensino a distância e a TV digital, tecnologias emergentes em todo o mundo.

A pesquisadora observa que, do ponto de vista técnico e estético, a televisão comercial brasileira é referência internacional. O reconhecido padrão de qualidade tornou o espectador brasileiro exigente, independente da qualidade do conteúdo exibido. Assim, para ela, é grande o desafio da TV universitária para recriar padrões equivalentes.

Cursos afins

Ela destaca que muitos dos cursos oferecidos pela Unesp em Bauru têm afinidade com as pesquisas e trabalhos ligados à emissora. Além de jornalismo, o campus também oferece radialismo, relações públicas, design, pedagogia, engenharia de produção, arquitetura e urbanismo, ciência da computação, ciências biológicas, educação física, física, matemática, psicologia, química, e sistemas da informação, entre outras opções.

“Formar profissionais para atuar em televisão é transferir conhecimento para a sociedade e também uma questão estratégica em tempos de globalização. Além de manter a identidade cultural brasileira, ao refletir e produzir conteúdos de temática nacional, este pessoal também atuará no meio acadêmico e na indústria cultural, criativa, de comunicações e do entretenimento”, conclui a professora.


Um jornalismo sem limites

No dia a dia da emissora (que não é nada convencional), são tratados assuntos ‘quentes’ e factuais; toda a produção é integrada entre as áreas e os profissionais

Ricardo Polettini, editor-chefe do jornalismo, conta que a proposta é cobrir assuntos relevantes para a sociedade, porém pouco explorados pelas redes comerciais. Não há tema proibido e os fatos são repercutidos, oportunamente, com pesquisadores da universidade e especialistas.

“No dia a dia, destacamos pautas ‘quentes’ e factuais como, por exemplo, crise na saúde pública, acidentes de trânsito envolvendo motos, aumento dos casos de dengue, etc. Mas também há espaço para ‘causos’ contados por violeiros, campeonato de xadrez escolar, passeio de Maria-Fumaça, novo uniforme do Esporte Clube Noroeste, descarte correto de óleo de cozinha. Enfim, não há limites para o jornalismo da TV Unesp”, analisa.

Do time de dez profissionais que comanda, Polettini comenta que seis concluíram mestrado na Unesp – e os demais cursaram especializações. Esta característica é comum na emissora e, na avaliação dele, o aprimoramento da carreira é um estímulo positivo que reforça o vínculo acadêmico da equipe da TV Educativa.

Estrutura enxuta

Diferentemente de uma emissora convencional, onde o trabalho é ‘departamentalizado’, na TV Unesp toda a produção é integrada e colaborativa entre as áreas e os profissionais. Um dos exemplos é o setor de multimídia. Nele, trabalham Fernando Geloneze, coordenador; Fábio Cardoso, programador, responsável pelo site; e a dupla Felipe Tristão e Leonardo Schimmelpfeng, produtores de ensino a distância.

O grupo faz trabalhos conjuntos para diversos órgãos da universidade, como o Núcleo de Educação a Distância (Nead), e também desenvolve aplicações em TV Digital. Da grade atual, dois programas foram adaptados à plataforma e aguardam liberação, por parte da Anatel, do sinal digital para serem veiculados.

Uma aposta nova do grupo é criar aplicativos (apps) para o ensino a distância em dispositivos móveis (celular e tablet). Este trabalho se soma a outros atuais, como classificar conteúdos publicados na internet, aprimorar o sistema de streaming e a manutenção do site da TV Unesp, que traz a programação completa e descrição de todos os programas.

Fernando e Fábio explicam que o site é a principal porta de entrada da emissora para a maioria dos espectadores – e o mais importante canal de comunicação do público. E dá ainda indicativos da audiência, considerando a impossibilidade de aferi-la. Além disso, é integrado às redes sociais (Facebook, Twitter e outras) e permite ao usuário interagir e comentar em tempo real sobre a programação.

Visão 360º

Thiago Areco, supervisor de operações, é quem faz o elo entre todos os setores da emissora com suporte do departamento técnico. Comanda operadores de áudio, de câmera, repórter cinematográfico, iluminador, diretor de TV, operador de central técnica. Especialista em transmissões televisivas, tem por missão manter o padrão Broadcast de captura e de exibição do material com qualidade em qualquer mídia, dentro de parâmetros especificados.

Jovem, como a maioria dos profissionais do canal universitário, Thiago estudou eletrônica no Colégio Técnico da Unesp, em Bauru. Depois trabalhou sete anos na área de engenharia de transmissão da maior emissora comercial do País. Ao longo de sua trajetória profissional, acompanhou a evolução dos trabalhos ligados ao universo da televisão, hoje totalmente integrado às novas tecnologias, como informática, design e telecomunicações.

Aos 32 anos, Thiago dedica-se em tempo integral à emissora que classifica como a “maior televisão universitária do Brasil em estrutura local, em mão de obra qualificada e a transmitir no formato Full HD no País”, diz orgulhoso. Ele conta que um dos segredos do visual da TV Unesp é o programa israelense Orad. No mundo, a emissora educativa paulista é uma das 30 que têm licença de uso do software, que permite criar cenários virtuais. Por meio desta tecnologia, a equipe de videografistas desenha e simula ambientes de estúdio para as atrações.

Cenários infinitos

Com sensores espalhados pelo estúdio, o Orad permite ao apresentador interagir com objetos reais ou fictícios, como um quadro ou monitor, e também se deslocar para ambientes virtuais diante das câmeras. “Mesmo tendo um único estúdio, esta ferramenta possibilita criar qualquer tipo de cenário para os programas. Um exemplo de aplicação é na previsão do tempo, informada pelo Instituto de Pesquisas Meteorológicas (IPmet) da Unesp”, explica Thiago.

O Orad é também usado pela equipe de videografistas liderada por André Poles. Além de desenhar os cenários, o grupo responde por toda a identidade visual da emissora, cuja tarefa inclui produzir logotipos, infográficos, vinhetas, ilustrações e animações. “A proposta do trabalho é dar ‘cara’ à emissora, anunciar para o espectador a atração seguinte, entre todo o cuidado estético”, explica André.

Atrações multifacetadas

Programa infantil, de artes, de entretenimento, educativo, cultural, científico, de orientação profissional, de saúde… Esta é a proposta do Setor de Produção da TV Unesp. Com uma equipe de sete profissionais, quatro com mestrado na Unesp, o grupo formado por Renê Lopez, Juliana Ramos, Tathiana Saqueto, Licínia Iossi, Patrícia Basseto, Cláudia Paixão e Leandro Fortes se desdobra para produzir atrações diferentes (leia abaixo) na concepção e conteúdo.

Representando o grupo, o produtor Renê Lopez explica que nos programas a ideia é oferecer um conteúdo que seja “plural”, capaz de valorizar conceitos de cidadania e oferecer uma visão diferente, sempre voltada ao interesse público.

Não há restrição de assuntos e a música (e seus infinitos gêneros) tem destaque. Um dos objetivos é revelar novos talentos, com abordagem diferente da usada pela indústria fonográfica. Em busca de espaço, muitos artistas, ainda desconhecidos do grande público, entregam CDs na portaria da emissora e acabam conseguindo convite para se apresentar nos programas.


Programas jornalísticos

Unesp Notícias – Telejornal principal de 30 minutos. Vai ao ar de segunda a sexta-feira, às 17h30, com reportagens de utilidade pública, cultura, emprego, saúde, política, economia e ciência.

Bauru AS – O jornalista Thárcio de Luccas entrevista lideranças locais ligadas a empresas e entidades sociais. Os convidados analisam temas diversos de suas áreas de atuação.

Diálogos – Apresentado pela jornalista Mayra Ferreira, aborda o universo das pesquisas.

Fórum – Comandado pelos jornalistas Thárcio de Luccas e Willian Poliveri, traz sempre especialistas para repercutir com o público, em debates interativos.

Unesp Informa – Boletins institucionais de um minuto (em média) veiculados ao longo da programação diária.

Vunesp Informa – Boletins de um minuto (em média) sobre concursos e vestibulares da Fundação para o Vestibular da Unesp (Vunesp).


Programação para todos os gostos

Artefato – Programa discute cultura, tecnologia, literatura, arte e entretenimento.

Ciência sem Limites – Atração inédita, estreia nesta segunda-feira (4), com apresentação do jornalista João Moretti. Vai mostrar e demonstrar pesquisas e pesquisadores da Unesp.

Cine Pódium – Atração interativa inovadora, em que o apaixonado por cinema ajuda a fazer a classificação de um ranking composto por cinco filmes com temas conhecidos e abordados no cinema.

Clipes TV Unesp – Uma grande vitrine para novos artistas. Sequência de videoclipes de bandas regionais e independentes – do pop ao rock, do reggae ao rap.

Curta Unesp – Canal de difusão de filmes e vídeos universitários e independentes produzidos no Brasil.

Enxamas – Programa mostra manifestações e eventos artísticos que permeiam as redes de cultura livres e independentes.

Giramundo – Atração infantil educativa informa sobre lugares do mundo para os pequeninos.

Guia de Profissões – Versão televisiva da revista com os cursos de graduação oferecidos pela Unesp e seus campos de atuação profissional.

Naturalmente – Produzido em parceria com o Sesi-Bauru, estimula, por meio de aulas práticas, a adoção de hábitos alimentares saudáveis.

Opção Saúde – Programa dá dicas sobre qualidade de vida, bem-estar e hábitos saudáveis.

Som e Prosa – Espaço para artistas, bandas e apresentações no estúdio da TV Unesp.

Televisionários – Programa resgata memória dos primeiros profissionais que trabalharam na televisão em Bauru.

Tradições do Interior – Trata da preservação da cultura do interior paulista.

Unesp Ciência – Versão televisiva da revista produzida pela assessoria de comunicação da Unesp.


Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente nas páginas I e IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 02/03/2013. (PDF)

TV Cultura e Programa Acessa Escola são destaques da Campus Party 2009

Público tem até domingo para conhecer na capital as mais recentes novidades em tecnologia da informação e entretenimento digital

O governo do Estado de São Paulo está participando da Campus Party com os estandes da TV Cultura e do Programa Acessa Escola. O local escolhido para abrigar a feira internacional de informática em 2009 foi o Centro de Convenções Imigrantes, na zona sul da capital. O público tem até domingo (25) para conhecer as mais recentes novidades em tecnologia da informação e entretenimento digital.

Realizada no Brasil pela segunda vez, a Campus Party é uma feira anual, criada na Espanha em 1997. Após 12 edições, o evento transformou-se no principal ponto de encontro das comunidades on-line do mundo. Desde o ano passado, tem o apoio institucional do governo paulista.

O estande da TV Cultura é um dos maiores do evento, com 500 metros quadrados. Conta com 50 funcionários, sete equipes de jornalismo, quatro ilhas de edição e uma estação de rádio. No centro da instalação, a emissora montou cabine para transmitir ao vivo pela Internet, rádio e TV os principais destaques e curiosidades da Campus Party.

Uma das atrações é a IPTV Cultura, espécie de YouTube com vídeos produzidos pela emissora durante o evento. Traz reportagens, entrevistas com visitantes e debates. Quem acessa a página na web pode votar nos vídeos preferidos, deixar comentários e também blogar (publicar textos e fotos). O endereço eletrônico é www.iptvcultura.com.br e todos os serviços oferecidos são gratuitos.

Conteúdo colaborativo

Ricardo Mucci, coordenador do Núcleo de Novas Mídias da Fundação Padre Anchieta, explica que o trabalho no estande segue o modelo da produção colaborativa (wiki) de conteúdo. E os parceiros da TV Cultura no estande são o Sesc SP, a USP e a Universidade Metodista, que ajudam a produzir e a difundir as informações.

A concepção do estande segue o conceito de convergência de mídias (TV, rádio e internet) no jornalismo. É um novo modo de cobrir eventos, já adotado nas Olimpíadas de Pequim e na posse do novo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, por grandes emissoras internacionais, como a norte-americana CNN e a britânica BBC.

“Oferecemos 12 horas de notícias da Campus Party diariamente. É um trabalho complexo, realizado fora dos estúdios da emissora, que envolve jornalistas, cinegrafistas, designers, programadores e demais produtores. A equipe grava, edita e prepara o conteúdo para as três plataformas”, explica Ricardo.

Poupatempo Digital

O estande da emissora também apresenta dois projetos voltados para a TV Digital e desenvolvidos em parceria com o Laboratório de Sistemas Integráveis (LSI) da Escola Politécnica da USP. Um dos destaques é o Poupatempo Digital, parceria dos pesquisadores com a administração estadual para a área de governo eletrônico.

Segundo o professor Marcelo Zuffo, coordenador de Meios Eletrônicos Interativos do LSI, a meta do Poupatempo Digital é permitir ao telespectador usar o televisor para solicitar documentos e atestados. O eletrodoméstico está presente em mais de 90% dos lares brasileiros, e com o controle remoto o usuário navega e faz escolhas em menus apresentados na tela.

“Queremos aproximar os serviços públicos do cidadão, sem que ele precise sair de casa”, informa Marcelo. “O LSI também está em contato com a Imprensa Oficial, autoridade certificadora oficial do Estado de São Paulo. O objetivo é atestar a autenticidade dos documentos expedidos a partir do televisor”, esclarece Zuffo.

Outro projeto é o HD3D, iniciativa pioneira que oferecerá visualização de conteúdo tridimensional em alta definição pela TV aberta brasileira. No telespectador o efeito 3D é obtido utilizando-se óculos especiais já em desenvolvimento no LSI. A transmissão é semelhante à empregada pelos canais digitais. “Os dois projetos estão em desenvolvimento e a expectativa é termos novidades até o final do ano”, prevê Zuffo.

Acessa Escola

A rede pública estadual está representada com dois ambientes na Campus Party 2009. O primeiro é uma lan house com acesso gratuito para o público. O espaço reproduz as instalações das salas oferecidas no Programa Acessa Escola, projeto criado em setembro de 2008 pela Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE).

O segundo ambiente é um centro de capacitação e reciclagem de conhecimento exclusivo para os 2,1 mil alunos monitores do programa. Esta iniciativa atende 500 escolas na capital e a previsão da FDE é estendê-la até o final de 2010 para as outras unidades de ensino em território paulista.

Em cada unidade de ensino, o serviço é gerenciado por um grupo de seis alunos estagiários (monitores) do ensino médio, selecionados por concurso da Fundap. A jornada de trabalho é de quatro horas diárias durante o período letivo e o grupo se reveza na atividade. Todos trabalham em horário diferente ao da matrícula pelo período de um ano, podendo ser prorrogado por mais um.

Na média, cada sala dispõe de 15 a 20 computadores novos, adquiridos no final do ano passado. Ligadas em rede, oferecem banda larga e aplicativos de escritório. Diferente do Programa Acessa São Paulo, o Acessa Escola é para uso exclusivo dos alunos e professores do estabelecimento de ensino.

Cada acesso dá direito a usar o equipamento por 30 minutos, sempre fora do horário de aula. A sessão pode ser estendida sem limites, desde que ninguém esteja esperando para usar o computador. O tempo de uso é gerenciado pelo Blue Control, aplicativo desenvolvido sob medida para o Acessa Escola.

Elaine Lima, uma das responsáveis pelo programa, explica que a FDE levará a cada dia 600 alunos estagiários para a Campus Party. “O Acessa Escola favorece a inclusão digital e incentiva o protagonismo do aluno para ficar mais tempo na escola”, conclui.


Campus Party – oportunidades

A estudante Juliana Silva discorda do chavão de que tecnologia é território masculino por excelência. Pela manhã, estuda na Escola Estadual Heróis da FEB. Das 16 às 20 horas é monitora do Programa Acessa Escola na EE Maria Montessori, ambas localizadas na Vila Maria, zona norte da capital.

A garota aprovou a ida à feira da Campus Party. Para ela, foi uma oportunidade única de ampliar seus conhecimentos e trocar experiências com outros monitores. “Mesmo tendo feito cursos de informática, está difícil conseguir uma vaga por não ter experiência. Agora, minhas classificações aumentaram e, de quebra, as chances no mercado de trabalho”, acredita Juliana.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 23/01/2009. (PDF)

TV Cultura se prepara para ingressar na era da transmissão digital

Primeiros equipamentos já chegaram e em breve serão feitas as primeiras gravações no novo sistema, com programas culturais

O dia 2 de dezembro de 2007 promete entrar para a história. Nesse domingo será realizada a primeira transmissão aberta em rede nacional da TV digital. A migração de um sistema para o outro será lenta, só estará completa em 2017, quando todas as transmissões televisivas serão digitais. No Estado de São Paulo poderá haver até 45 canais com recepção gratuita.

No início de 2006 a TV Cultura destinou US$ 5,5 milhões para a aquisição de equipamentos de vídeo digitais. Parte desse recurso foi usada na compra de 13 câmeras digitais, quatro das quais estão em operação na produção televisiva. O próximo passo será investir mais US$ 8 milhões para adquirir um transmissor digital, uma antena e adaptar a torre de transmissão.

A imagem digital tem mais definição e nitidez que a analógica, explica o engenheiro José Chaves Oliveira, diretor técnico operacional da emissora. Na nova produção, mudam a iluminação, o cenário, o figurino e a maquiagem. Contudo, a captação de áudio e a operação de câmera continuam as mesmas. “Na verdade, a migração para o digital já começou. O programa Cocoricó já é filmado com câmera de alta definição, porém a exibição continua analógica”, afirma.

O diretor explica que a prioridade atual da emissora é finalizar a montagem da primeira unidade móvel (carro) de produção digital. Ela permitirá a gravação de concertos da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) e de musicais como o Ensaio e o Bem Brasil. “Esses programas têm prioridade na programação. A produção é rápida e podem ser convertidos em DVD”, informa.

Apelo educacional

Desde o início a emissora mantém convênio com instituições de ensino superior, visando a desenvolver programas interativos para aproveitar esse recurso digital na formação artística, cultural e educacional do telespectador. “Ainda não foi criada nenhuma ferramenta com essa finalidade específica. Porém, depois de finalizado o primeiro aplicativo, a ideia é adaptá-lo para uso na grade da programação”, explica.

José Chaves prevê grandes oportunidades de educação com a TV digital, como cursos on-line de reciclagem para professores e alfabetização de adultos por meio de videoconferência. “Estudamos parcerias com outras entidades do Estado e secretarias para divulgar conteúdos ligados à cidadania, à informação e à cultura. Outro viés é oferecer serviços públicos eletrônicos: certificação digital, vendida pela Imprensa Oficial, e talvez uma versão do Poupatempo com acesso via terminal, dispensando o uso do computador”, prevê.

Desde o anúncio da chegada do sistema digital a TV Cultura tem investido na capacitação dos seus recursos humanos. “As equipes técnicas operam os novos métodos sem dificuldade. A emissora também desenvolveu projeto de arquitetura exclusivo para acomodar o sistema de edição digital. É um conjunto de salas especiais, iluminadas, com vidro transparente e móveis feitos sob medida, na nossa oficina de marcenaria”, orgulha-se.

Nova imagem

A TV digital é móvel, funciona dentro de veículos e ao ar livre. Tem como característica a convergência de mídias distinta: internet, o cinema e o rádio digital. O sinal aberto será recebido em televisores e em dispositivos portáteis (celulares e notebooks) de última geração. Por ocupar menos espaço de banda que o sistema analógico, permite às emissoras oferecer programação diferenciada em vários canais.

A nova tecnologia elimina chuviscos e fantasmas na recepção e amplia a interatividade do espectador com a emissora. No início, para sintonizar a TV digital aberta, o telespectador (doméstico) usará um equipamento denominado terminal de acesso a serviços públicos, ou set-top-box – nome comercial utilizado pelos fabricantes.

Para receber o sinal digital será preciso conectar o televisor a esse terminal. Prolonga-se, assim, o uso dos atuais televisores, que têm vida útil média de 15 anos. Outra opção para o usuário será comprar uma TV de plasma ou LCD com o receptor do sinal digital embutido.

O terminal de acesso receberá o sinal digital em até 12 bandas de frequência. Se houver obstáculos físicos à transmissão – prédio ou de paredes –, o aparelho usa como alternativa uma das outras bandas disponíveis. Automática, rapidamente sincronizará o som e a imagem, permitindo ao espectador assistir à programação sem interrupção.

Conteúdo exclusivo

O sinal digital já é usado no País em serviços pagos – TV por assinatura, e em pacotes oferecidos por operadoras de celular. Atualmente, a principal dificuldade encontrada pelas emissoras de conteúdo restrito tem sido estabelecer um canal de retorno para receber as respostas e escolhas do espectador enviadas para o programa. Essa conexão ainda é feita pela linha telefônica.

Uma tendência da TV digital é adaptar o controle remoto para ter funções parecidas com as do mouse dos computadores. Por meio dele, o espectador fará escolhas em menus na tela, de acordo com as opções disponíveis pelo programa. Também poderá, no futuro, acessar a internet e usar correio eletrônico.


Relevância pública

Em 1995, o Laboratório de Sistemas Integráveis (LSI) da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) iniciou o estudo da TV digital. O grupo de cientistas coordenou três dos 22 consórcios formados no Brasil para tratar do assunto, nas áreas de codificação de áudio, vídeo e tecnologias com terminais de acesso. Hoje, pesquisa a adaptação do modelo japonês, padrão definido pelo Ministério de Ciência e Tecnologia para ser utilizado no Brasil.

O engenheiro Marcelo Zuffo, do LSI, é um dos participantes no estudo do sistema digital. Segundo ele, há no País 100 milhões de televisores. “O principal desafio para a TV digital no Brasil será assegurar o envio do sinal em um país de dimensões continentais e baratear o custo do terminal de acesso a serviços públicos, hoje calculado em R$ 300, preço elevado para a maioria da população. Acredito que a estréia do sinal aberto derrubará o custo do aparelho”, prevê Marcelo.

Ele vê, também, grandes chances de inclusão social com a nova tecnologia nas áreas de educação e saúde, desde que melhore a distribuição de renda no País e as emissoras ofereçam programação de qualidade. “Uma possibilidade é usar o laptop de US$ 100 para receber conteúdos educativos. Essa iniciativa internacional é coordenada no Brasil pelo LSI e entregará, em breve, um notebook para cada criança dos países pobres do planeta”.


Pioneirismo e parceria

As diretrizes para implementação do sistema digital brasileiro foram definidas pelo governo federal em novembro de 2006. “A regulamentação é resultado do esforço de mais de 500 pesquisadores brasileiros comprometidos em processos de inovação nos consórcios da TV digital. A lei privilegia o interesse nacional em um mercado potencial com números superlativos”, destaca o engenheiro Marcelo Zuffo.

O mercado brasileiro é o quarto maior do mundo para a TV digital. Atualmente o País pesquisa processos de transmissão, produção de equipamentos e formação de pessoal especializado. Sobre a escolha do padrão japonês, Marcelo aprova a robustez, a flexibilidade e a portabilidade, embora, na comparação com os sistemas europeu e norte-americano, ofereça menos interatividade.

Zuffo comenta que o processo de tropicalização da tecnologia surpreendeu seus criadores. “Em algumas questões técnicas, não nos cobraram direitos autorais e propuseram parceria. Um dos exemplos foi a criação de um padrão mundial de radiodifusão, o International Standards on Digital Broadcasting (ISDB)”, explica.

Informa também que o Brasil será pioneiro na utilização do Linux, sistema operacional de uso livre em um terminal de acesso. Adotará o formato de vídeo Mpeg-4 High Definition, inovação capaz de aumentar a compressão de dados e oferecer maior número de canais de uma mesma emissora para o telespectador.

Nas próximas duas décadas, 1,5 bilhão de televisores no mundo migrarão para o digital. “O avanço tecnológico derruba preços, mas é preciso considerar a diferença entre o custo, o valor de produção de um componente e o preço, relativo a quanto um cliente está disposto a desembolsar. Em 2006, um chip utilizado no terminal de acesso saía por US$ 120 – hoje vale US$ 20”, constata Zuffo.


Pessoal especializado

Em abril, o professor João Fernando Gomes de Oliveira, do Departamento de Engenharia de Produção da USP de São Carlos, foi incumbido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) para estruturar a formação de recursos humanos especializados em TV digital no País.

O objetivo é aprimorar a tecnologia e estimular a inovação no Brasil. Motivar fabricantes de equipamentos, geradores de sinal, emissoras a interagir com os centros nacionais de pesquisa. “Hoje, poucas universidades brasileiras pesquisam o assunto. Temos recurso estatal disponível e um edital pronto para atrair cientistas interessados em projetos de pós-graduação”, afirma Oliveira.

A intenção inicial é atrair cientistas das áreas de engenharia e computação. No segundo momento, congregar também especialistas de tecnologia da informação, mídia e profissionais dispostos a aprender sobre como produzir conteúdo para a TV digital.

“Essa iniciativa da Capes segue as diretrizes do Ministério de Ciência e Tecnologia. Estamos numa corrida contra o tempo e ainda não foi definido o limite de bolsas e projetos que podem vir a ser aprovados. Inclusive há a possibilidade de o pesquisador fazer parcerias com empresas e universidades de outros países e continentes. Por exemplo, no Japão predomina o investimento privado em inovação e tecnologia. Quem quiser, poderá propor associações com fabricantes locais”, destaca Oliveira.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente nas páginas II e III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 22/08/2007. (PDF)