Fapesp apoia empresa pioneira na criação de robôs para área educacional

Sediada em São Carlos, Xbot lança o primeiro kit direcionado para educação e pesquisa do ensino técnico, graduação e pós

Criar robôs para ajudar na formação de jovens cientistas. Esta é a proposta da Xbot, a primeira fabricante nacional de robôs móveis para a área educacional e de pesquisa. Sediada em São Carlos e criada por ex-alunos da Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual Paulista (Unesp) e Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), a empresa já recebeu R$ 300 mil do programa de Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) desde a sua criação, em 2007.

A Xbot oferece robôs para educação e pesquisa (três modelos) e entretenimento (duas opções). A linha de produtos inclui o Curumim, direcionado ao ensino médio, e o RoboDeck, lançado em 2010 e dirigido para escolas técnicas e universidades (graduação e pós).

A proposta pedagógica do equipamento é permitir ao aluno pôr em prática conceitos ensinados na sala de aula, em Matemática, Química, Física e Biologia, e ainda ser programado para executar qualquer tarefa que possibilite interatividade com o conhecimento adquirido.

Missões

O RoboDeck é elétrico (funciona com baterias recarregáveis), tem tração traseira e se desloca por todas as direções. Pode ser programado para operar de modo autônomo ou ser controlado por notebook ou telefone celular. Vem equipado com sensores digitais e analógicos (GPS, bússola, acelerômetro e temperatura), saídas USB e bluetooth, e acessa a internet a partir de conexão 3G ou wi-fi (sem fios, com roteador).

Equipado com placa-mãe semelhante à usada nos computadores de mesa e notebooks, o RoboDeck usa sistema operacional de código-fonte aberto (Linux). Vem pré-programado e possui módulos opcionais como visão, autodesempenho e garra portátil para pegar objetos. E todos os seus programas podem ser alterados de acordo com a necessidade do professor ou pesquisador, e novas tarefas podem ser acrescentadas.

O RoboDeck executa tarefas simples, como recolher objetos embaixo de uma mesa, e complexas, como detectar e desviar de obstáculos, perseguir outros equipamentos e coletar objetos a partir de técnicas de inteligência artificial. Seu principal atrativo é se integrar a outros dispositivos, tais como câmera digital (para identificar terrenos e enviar imagens em tempo real), braços robóticos, língua eletrônica (sensor capaz de identificar sabores) e sonares.


Não é brinquedo

De acordo com Antônio Valério Netto, diretor de tecnologia da Cientistas Associados, em São Carlos, os robôs da Xbot não são brinquedos ou kits educativos. Trata-se de ferramentas para aprimorar e acelerar a curva de aprendizado técnico dos alunos. Porém, seu aspecto lúdico favorece o aprendizado multidisciplinar de diversos conceitos científicos e estimula o trabalho em equipe.

“As possibilidades de uso são infinitas. O único limite é a criatividade e a disposição dos envolvidos em sempre aprender mais”, destaca.

Os criadores dos robôs e proprietários da Xbot são formados nas áreas de Computação, Engenharia Elétrica e Mecatrônica e Física. Segundo eles, o RoboDeck é uma ferramenta de aprendizado de perfil multidisciplinar, ultrapassa os limites das disciplinas de programação e lógica.

Seis pedidos do produto já foram feitos e as primeiras unidades serão entregues em março. Os compradores são a Universidade Estadual de Londrina (UEL), Universidade de Caxias do Sul (UCS), PUC-RS, as federais de Campina Grande (UFCG) e Amazonas (Ufam) e a Universidade do Oeste Paulista (Unoeste). Mais informações podem ser obtidas no site.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 13/02/2010. (PDF)

Estudantes do interior representarão o País em competição mundial de robótica

Escola Estadual Waldemar Salgado, de Santa Branca, participa do concurso pela segunda vez e chega à fase final na categoria programação

Um grupo de 15 alunos do ensino médio da Escola Estadual Waldemar Salgado, de Santa Branca, cidade do Vale do Paraíba, disputará em maio a fase final da VEX Robotics Competition, competição internacional de inovação em robótica. A equipe paulista representará o Brasil na competição e enfrentará concorrentes da China, Canadá, Estados Unidos, Israel, Índia e Coréia.

Tudo começou no final de 2007, quando Rodrigo Albuquerque, morador da cidade e engenheiro mecatrônico da Johnson & Johnson, decidiu formar uma equipe para concorrer. Ex-aluno da escola e cursando pós-graduação na FGV, credita parte de seu sucesso profissional aos três anos passados na EE Waldemar Salgado. Assim, consultou a diretora sobre o interesse em participar da competição, que não dá prêmios materiais, mas enriquece a formação educacional dos participantes.

Iraci Rodrigues, ex-professora de Rodrigo e diretora da escola, aceitou o desafio. O regulamento da competição determinava às equipes criar, a partir do mesmo kit de montagem, um robô comandado por controle remoto. O passo seguinte era fazer com que o invento executasse tarefas específicas sem interferência humana, como carregar e arremessar uma bola pesando cinco quilos ou coletar e empilhar blocos de espuma.

Parcerias

Na Waldemar Salgado, o convite trouxe euforia e ansiedade. Todos os 600 alunos das três séries do ensino médio se inscreveram para participar da seletiva interna e integrar o time, batizado pelos alunos de White Hurricane. Os 20 contemplados passaram a ter aulas especiais com os professores da escola. E o serviço foi complementado por Rodrigo e outros engenheiros amigos dele, em tópicos extracurriculares de matemática, lógica de programação, física, eletrônica e mecânica.

Morando em Santa Branca, trabalhando em São José dos Campos e estudando na capital, Rodrigo dedicou noites e finais de semanas ininterruptos ao projeto voluntário. A princípio, a proposta era melhorar a formação dos estudantes da única escola pública estadual da cidade. E concorrer na fase nacional da competição de robótica.

O kit de montagem do primeiro robô custou US$ 8 mil e foi comprado pelos patrocinadores da White Hurricane, as empresas BS Automação e Johnson & Johnson. O grupo teve também apoio da Secretaria Estadual da Educação (SEE), Rotary Club de Santa Branca e das empresas G6Design, Choppi, Agrara, Wirex Cable e Metalox.

Patinho feio

A White Hurricane conseguiu inesperado primeiro lugar no País, colocação que a credenciou a representar o Brasil na fase internacional da First Robotics Competition, em Atlanta, nos Estados Unidos, no mês de abril. O saldo final da viagem aos EUA foi o 89º lugar na categoria Finalista Mundial, de um total de 400 equipes, posição inédita para uma escola brasileira.

O feito motivou nova inscrição. Desta vez para a VEX Robotics Competition, cuja fase nacional foi disputada em Guarulhos, no dia 29 de novembro. Para concorrer, uma nova formação da White Hurricane foi constituída em setembro na EE Waldemar Salgado. Os ingressantes receberam orientação de Wellinghton Mariano e Marcus Pereira, remanescentes da primeira edição.

Curiosamente, alguns dos alunos reprovados na seletiva ofereceram-se para integrar a White Hurricane como voluntários. Assim, a composição atual é de dez meninos e cinco meninas. As tarefas são divididas em quatro áreas: mecânica, eletrônica, programação e controle.

Desta vez a White Hurricane participou da seletiva nacional na categoria Habilidade de Programação e enfrentou 26 times: 25 de colégios técnicos e particulares e um de uma escola municipal de Porto Alegre (RS). O resultado foi o primeiro lugar na etapa Brasil. Em maio, o grupo disputará a finalíssima internacional em Dallas, nos Estados Unidos.

Repercussão

A diretora Iraci Rodrigues destaca a experiência adquirida nas competições internacionais. Para ela, melhorou a disciplina e o aproveitamento escolar de todos os estudantes da EE Waldemar Salgado. A professora também sublima o maior interesse de grande parte dos alunos pelas ciências exatas e a decisão de muitos de seguir carreira acadêmica na área.

“Ao trazer para o ambiente escolar conceitos do mundo empresarial, Rodrigo ajudou a complementar a formação dos alunos. Esta experiência reforça valores universais, como o trabalho em equipe, a união e o respeito ao próximo. E também questões ligadas ao mercado, como a busca por diferenciais competitivos, cumprir metas e prazos e adotar práticas eficientes de governança”, comemora Iraci.

Cristina Pereira, mãe de Marcus, é uma das mais entusiasmadas com as atividades direcionadas à área de robótica. Ela e familiares de outros alunos promoveram rifas de bolos e pizzas para arrecadar dinheiro para a primeira viagem aos Estados Unidos.

“Marcus integrou as duas formações da White Hurricane e já escolheu sua profissão: quer ser engenheiro. Nosso próximo desafio será conseguir, até 15 de fevereiro, os R$ 40 mil necessários para levar em maio a delegação de Santa Branca para Dallas (EUA)”, conta esperançosa.

Novos talentos

Jéssica de Matos, estudante do primeiro ano do ensino médio, ingressou na segunda formação da White Hurricane. Apaixonada por videogames e informática, conta ter pedido para entrar no time já na primeira semana de aula. Para ela, “integrar uma equipe tão unida e maravilhosa excedeu todas as expectativas”, festeja.

Para Rodrigo Albuquerque, o idealizador e realizador do projeto, a proposta inicial era somente prestar serviço voluntário. Aos 29 anos revela ter aprendido muito mais com os meninos do que ensinado. Confessa surpreender-se todos os dias com a disposição dos estudantes em progredir. Muitos são carentes e vivem na zona rural de Santa Branca.

“Nesta iniciativa, venho aprendendo a liderar equipes e acho que ajudo a formar novos talentos. Mas, para mim, o mais importante foi ter feito novas amizades”, conta.

Anderson Moriel Mattos e Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 24/12/2008. (PDF)