Supercomputador reforça pesquisa em SP

Adquirido pela Fapesp e instalado na USP de São Carlos, equipamento foi batizado de Euler e poderá ser utilizado por outras instituições e universidades paulistas

A ciência nacional dispõe, agora, de um supercomputador de alto desempenho para processar cálculos complexos. Com velocidade 4,7 mil vezes maior que a de um computador doméstico, o sistema computacional (cluster) tem capacidade de processamento simultâneo de simulações com grandes volumes de dados – previsão do tempo, lançamento de foguetes, escoamento de fluidos, como petróleo e gás, entre outras aplicações.

Enquanto um computador comum processa 10 bilhões de operações matemáticas básicas (adição, subtração, multiplicação e divisão) por segundo, o supercomputador é capaz de executar 47 trilhões delas no mesmo espaço de tempo. Foi batizado de Euler em homenagem ao matemático e físico suíço Leonhard Paul Euler (1707-1783), estudioso de temas sobre teoria dos números, astronomia, mecânica de fluidos, óptica, análise e matemática aplicada.

Investimento

Importado dos Estados Unidos, o Euler é o mais rápido já instalado em universidades paulistas. Seu projeto e sua instalação, em ambiente climatizado e com gerador de energia, custaram cerca de R$ 4,5 milhões, financiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

A administração e o uso do cluster foram repassados ao Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria (CeMEAI) – sediado em um prédio do câmpus I da USP São Carlos. O CeMEAI é um dos 17 Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) mantidos pela Fapesp.

O centro é estruturado para favorecer o uso de ciências matemáticas (matemática aplicada, estatística e ciências da computação) como recurso industrial. Com abordagem multidisciplinar, atua nas áreas de otimização aplicada e pesquisa operacional, mecânica de fluidos computacional, avaliação de risco, inteligência computacional e engenharia de software.

Ensaios

Operando em rede de alta velocidade, o Euler reúne 104 computadores processando em paralelo a mesma aplicação, cada um com dois chips de dez núcleos. Em março, começou a ser usado de modo experimental pelo CeMEAI em parceria com a Petrobras, em simulações de refino e combustão de petróleo, e também com o Centro Técnico Aeroespacial (CTA) da Aeronáutica, em avaliações do Satélite de Reentrada Atmosférica (SARA), que tem lançamento por foguete previsto para até o final do ano.

“Uma das propostas do cluster é aprimorar tecnologias ainda incipientes no Brasil e não repassadas por outros países por motivos estratégicos, como o lançamento de satélites na órbita terrestre, cujos custos de projetos começam em US$ 100 milhões”, explica José Alberto Cuminato, diretor do centro e docente do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP São Carlos.

“O equipamento está à disposição de cientistas do Brasil vinculados a instituições paulistas de pesquisa. A ideia é que seja usado em disponibilidade permanente, 24 horas por dia, 7 dias por semana”, comentou o diretor científico da Fapesp, Carlos Henrique de Brito Cruz, durante a solenidade de inauguração do supercomputador, realizada no dia 14, no câmpus da universidade, em São Carlos.

Serviço

Informações sobre o equipamento e pedidos de uso devem ser solicitados no site do CeMEAI. Outras informações, ligue (16) 3373-8159.

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página II do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 23/07/2015. (PDF)

Fapesp financia projetos de tecnologia e inovação

Recursos do Programa Pipe podem ser usados no desenvolvimento de produtos, processos e serviços em qualquer área de conhecimento; valores, a fundo perdido, podem chegar a até R$ 1,2 milhão

Termina dia 3 de agosto o prazo para empreendedores submeterem propostas para o terceiro ciclo de análises da edição de 2015 do programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapesp). A iniciativa de financiamento, a fundo perdido (recursos não reembolsáveis), visa a apoiar o desenvolvimento de novos negócios na área de tecnologia e também os sediados nos 645 municípios paulistas.

O programa atende empresas com até 250 empregados e possibilita o desenvolvimento de produtos, processos e serviços em todas as áreas do conhecimento. Pode financiar uma ou duas das etapas de um projeto, sem exceder o teto de R$ 1,2 milhão, com a pesquisa aplicada devendo ser realizada diretamente nas instalações da empresa.

Na fase 1 (considerada a de maior risco para o sucesso do projeto), é exigido estudo de viabilidade e o valor solicitado pode chegar a R$ 200 mil, para ser usado em até 9 meses. Na fase 2, o teto é R$ 1 milhão, sendo exigido plano de negócio, e o período de execução se estende para 24 meses. Se quiser, o proponente pode pleitear diretamente a segunda etapa, justificando o motivo da dispensa da fase inicial.

Requisitos

A inscrição de projetos, regras, questões de propriedade intelectual e o cronograma estão disponíveis no site do Pipe – o canal on-line do programa da Fapesp divulgará, no dia 6 de novembro, os resultados da chamada do terceiro trimestre de 2015 (ver serviço).

Criado em 1997, o Pipe recebeu 400 pedidos em 2014 e apoiou 1,6 mil projetos de mil empresas solicitantes. Hoje, atende até mesmo negócio ainda não formalizado. Exige, porém, vínculo formal de um cientista empregado na empresa proponente ou, ainda, algum pesquisador associado. Esse profissional não precisa ter graduação completa, mas deverá comprovar conhecimento e competência técnica sobre o tema do projeto – e precisará dedicar no mínimo 24 horas semanais ao trabalho.

Avaliação

Depois de verificada a documentação, a coordenação da Fapesp avalia se há, de fato, um projeto. Em caso afirmativo, nomeia assessores científicos especialistas na área para a análise do pedido. Se for uma proposta de fase 1, dois pesquisadores farão esse trabalho individualmente, sem saber quem é seu par. Caso seja da fase 2, o número de assessores sobe para três, sendo mantida a confidencialidade.

Cada assessor analisa, entre outras questões, se a pesquisa é compatível com o empreendimento. Verifica também se o estudo é original e não foi realizado anteriormente e, ainda, se o solicitante consegue esclarecer o objetivo do trabalho científico e a proposta de metodologia.

Assessoria

No passo seguinte do julgamento, a coordenação reúne-se para examinar os pareceres dos assessores e, na presença deles, decidir coletivamente se aprovam, ou não, o financiamento. Quando divulga os resultados, a Fapesp envia ao proponente os pareceres técnicos dos avaliadores.

Caso a proposta seja aprovada, ocorre a liberação do dinheiro e são cobrados relatórios, acompanhamento, visitas técnicas, etc. Se o pedido tiver sido recusado, a documentação com informações técnicas e mercadológicas pode ser usada para aperfeiçoar o projeto original. Depois de reformulado, é possível reapresentá-lo à Fapesp no trimestre seguinte.

Encontro

Em evento realizado quarta-feira (1º), na sede da Fapesp, na capital, o pesquisador da coordenação do Pipe, Lúcio Angnes, informou a disponibilidade de R$ 15 milhões para o terceiro trimestre. A um auditório lotado de interessados, explicou os critérios de julgamento e as condições para aprovação das propostas.

“O solicitante não precisa apresentar contrapartida. Esse tipo de financiamento tem apelo social, visa ao surgimento de novas tecnologias e geração de mais renda e empregos no País”, esclareceu Angnes. “Ao avaliar projetos, a Fapesp considera viabilidade, potencial de retorno comercial e de aumento de competitividade e o estímulo à criação de uma cultura de inovação permanente nas organizações”, destacou.

Funcionalidade

A representante da Konsultex Informática, Rita Niccioli, quis saber mais sobre a possibilidade de financiar, por meio do Pipe, pesquisa para acrescentar novas funcionalidades aos serviços de suporte técnico da empresa na área de software livre.

Instalada no bairro Morumbi, zona sul da capital, a empresa atua nas áreas de gestão de documentos e processos, parametrização e personalização de serviços em código aberto, entre outros serviços. “O modelo de apoio do Pipe é interessante. Agora, vou redigir, com a equipe de trabalho, uma proposta bem estruturada, pois a avaliação da Fapesp é criteriosa”, ponderou.

Azeite paulista

O agrônomo Gabriel Bertozzi participou da chamada para deslanchar seu projeto de negócio, o Núcleo de Visão Empreendedora em Oliveira (Nave Oliva). Especialista em olivicultura, vislumbrou no financiamento Pipe um meio para estruturar estudo detalhado do solo e do clima de 12 locais do Estado de São Paulo, próximos da divisa com Minas Gerais.

O objetivo, explica Bertozzi, é identificar condições mais favoráveis para produzir azeite em escala industrial. “Conheço as técnicas de plantio e extração das olivas (desde a muda até a colheita), mas ainda falta especificar quais variedades são as mais recomendadas e produtivas em cada solo e região”, explica.


Menos dor

No segundo semestre de 2012, a Medecell, de Botucatu, apresentou à Fapesp proposta de projeto Pipe de fase 2. Aprovado em julho de 2013, o financiamento de R$ 447 mil visou ao desenvolvimento de dois produtos na área de saúde. Ambos têm por finalidade aliviar dores e são baseados em tecnologia de eletroestimulação nervosa transcutânea criada em 1992 na empresa, que possui dez funcionários.

Bem-sucedido, o projeto acabou originando um terceiro produto, também da mesma área. Os três seguem em fase de desenvolvimento e a expectativa do fundador da empresa, Moacyr Bighetti, é que sejam lançados nos próximos dois anos. Além do financiamento, ele explica que o contato com a Fapesp garantiu à empresa bolsas de pesquisa para técnicos de informática e de eletrônica.

Serviço

Programa Pipe Fapesp

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 04/07/2015. (PDF)

Molécula pode ser usada na luta contra o câncer

Pesquisa do Instituto Butantan obtém proteína capaz de eliminar células de tumores sem atacar tecidos sadios; trabalho gerou parceria com Fapesp, IPT, BNDES e União Química

Ao estudar moléculas anticoagulantes existentes no DNA de animais hematófagos (que se alimentam de sangue), o grupo multidisciplinar de 20 cientistas, coordenado pela farmacêutica-bioquímica Ana Marisa Chudzinski-Tavassi, do Instituto Butantan, identificou uma que se revelou promissora para o desenvolvimento de drogas anticâncer.

Testada com sucesso em roedores e não roedores, a proteína obtida a partir da molécula consegue eliminar células de tumores de modo eficaz e com ação localizada, sem atacar tecidos sadios.

Iniciado em 2005, o trabalho, pioneiro no País, teve apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapesp) e da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação de São Paulo.

Com término previsto para o fim de 2017, o estudo tem custo total estimado de R$ 20 milhões e já apresenta como resultados uma patente no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) e a montagem de uma plataforma (laboratório) de pesquisa no Butantan para purificação de moléculas.

Parceiros

Apostando na viabilidade da molécula, três novas instituições foram incorporadas ao trabalho e passaram a atuar ativamente no projeto. A primeira da lista é o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), ligado ao governo federal, cujo repasse de verbas foi feito por meio do financiamento de Fundo Tecnológico (Funtec).

O segundo parceiro é o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), que estuda a estruturação da produção da molécula em escala industrial. O último é a União Química, empresa farmacêutica que adquiriu o direito de reaproveitar a tecnologia desenvolvida para fabricar medicamentos com base na descoberta do Butantan, instituto vinculado à Secretaria de Estado da Saúde.

A empresa aguarda autorização e orientações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para iniciar testes com seres humanos. A expectativa é que essa definição ocorra em breve e a avaliação com voluntários tenha início no segundo semestre.

Inspiração

A glândula salivar do carrapato-estrela, transmissor da febre maculosa, foi o ponto de partida do trabalho. A cientista Ana Marisa, diretora do Laboratório de Bioquímica e Biofísica do Butantan, explica que a proposta era descobrir quais moléculas estavam presentes no impedimento da coagulação do sangue do animal picado (hospedeiro), ou seja, no momento em que o aracnídeo se alimenta.

O passo seguinte foi identificar qual dessas moléculas teria maior potencial para originar anticoagulantes (capazes de impedir tromboses) e anti-hemostáticos (para prevenir hemorragias). “Muitos pesquisadores buscam novos agentes biológicos com essas características, pelo fato de terem diversas aplicações nas áreas médica, farmacêutica e veterinária”, explica Ana Marisa.

Identificado o gene, os pesquisadores do instituto obtiveram, em laboratório, uma proteína recombinante com as características da molécula. A técnica usa micro-organismos (bactérias) na produção do material, que também é purificado (esterilizado) e submetido a análises para comprovar sua ação anticoagulante e anti-hemostática.

Novos rumos

Ana Marisa explica que vários tipos de tumores têm atividade pró-coagulante. Nos testes de eficácia, a molécula se mostrou também capaz de identificar e eliminar células de câncer de pele, de pâncreas e de rim. “A descoberta deu novo direcionamento à pesquisa. O desafio foi, então, descobrir como funcionam exatamente esses mecanismos e definir meios para repetir em escala industrial a produção da molécula obtida em laboratório”, ressalta.

Em 2011, o Butantan firmou convênio com o IPT, órgão também vinculado à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação, para orientar o método de escalonamento da produção e repassá-lo à União Química. No instituto vizinho do Butantan, e também sediado na Cidade Universitária, na capital, o trabalho é coordenado pela pesquisadora Maria Filomena Rodrigues, do Laboratório de Biotecnologia Industrial.

Farmacêutica-bioquímica, Maria Filomena comanda no IPT equipe multidisciplinar de 20 pesquisadores dedicados à preparação da molécula para sua produção em biorreatores (fermentadores). Um dos desafios do grupo foi encontrar o meio ideal para o crescimento da bactéria que produz a proteína recombinante derivada da molécula, além de buscar opções para reduzir custos e aumentar a produtividade.

“Em 2006, troquei impressões com a Ana Marisa sobre o estudo dela, que ainda estava na fase de extração da saliva do carrapato. Hoje, com o trabalho encaminhado, ele é visto como resultado do empenho coletivo (Butantan, IPT, BNDES, Fapesp e União Química) em definir um modelo interessante de financiamento de pesquisa e, ao mesmo tempo, de prestação de serviços à sociedade”, revela, orgulhosa.

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página II do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 24/06/2015. (PDF)