Estado acredita no cooperativismo para geração de emprego e renda

Coleção de CD-ROMs gratuitos é ferramenta de capacitação para empreendedor se organizar e instalar novos negócios em São Paulo

Com o objetivo de ampliar a geração de renda e emprego e estimular o cooperativismo em São Paulo, a Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho (Sert) criou, em 2002, o programa de ensino a distância. A iniciativa aposta na educação para o desenvolvimento regional e oferece grátis 17 CD-ROMs com cursos nas áreas de educação de adultos, gestão administrativa, financeira e de pessoas.

O treinamento despreza distâncias geográficas e permite a democratização do saber em locais de difícil acesso com cidadãos carentes de informações na área de gestão de negócios. Os cursos incluem cooperativismo, auto-emprego e são dirigidos a pequenos empreendimentos, agentes comunitários, cooperativas, empresas de autogestão e interessados em geral.

O projeto de capacitação a distância foi instituído com a parceria entre a Sert, Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e a Mondragon Corporación Cooperativa de Espanha, instituição que congrega mais de 150 cooperativas, com 60 mil associados. A cooperativa pode abrigar profissionais de uma ou mais especialidades, de qualquer atividade lícita. Sua constituição tem grande apelo social por estimular o aprendizado coletivo e criar a noção de que todos são donos do negócio.

O cooperado também decide quais membros formarão a diretoria e o conselho gestor da organização. “Despesas e receitas são rateadas e parte do lucro é reinvestida no negócio; o restante é dividido entre todos os membros”, explica Carlos de Assis, gerente-técnico do programa. Na sociedade, o profissional tem deveres e direitos como no emprego com registro em carteira. “É preciso conscientizar os demais membros que uma luz acesa desnecessariamente após o expediente traz prejuízos para todos”, ensina.

Treinamento em CD-ROM

A secretaria oferece gratuitamente qualificação e suporte para interessados em formar cooperativa. A primeira recomendação é se reunir em grupo e conseguir um local para um encontro inicial, que pode ser uma escola pública, posto do Sebrae, biblioteca, posto do Acessa São Paulo ou qualquer outro lugar. Na data combinada, o coordenador-regional da Sert promoverá palestra e apresentará o conteúdo dos cursos em CD-ROM de cooperativismo.

O co-participante poderá fazer os 17 cursos ou somente os que desejar. A única restrição é a disponibilidade de vagas. O treinamento e o aprendizado de cada CD requerem 40 horas de exercícios e prática. A sugestão é que o aluno estude ao menos uma hora por dia, durante 40 dias. No decorrer do curso, o estudante é motivado a pesquisar sobre conteúdos abordados e a participar de atividades complementares, como fóruns de discussão e chats pela Internet. Objetivo é trocar experiências e sanar dúvidas com os tutores da Sert e demais participantes.

O ensino com o CD-ROM não exige computador novo. Utiliza somente leitor de CDs, kit multimídia e acesso telefônico à rede. O aluno deve ter terminado ou estar em fase de conclusão do ensino médio. No final do curso, é emitido certificado para quem fez todas as atividades e participou dos fóruns e chats.

Para formar uma cooperativa não há limite de participantes, porém é necessário no mínimo 20 pessoas, e o grupo precisa de uma sede para se estabelecer. O programa contempla também as que já existem e estão irregulares e orienta sobre como proceder corretamente do ponto de vista da legislação e da administração.

Presidente Prudente mostra o caminho

Depois de fazer pequenos bicos para a prefeitura de Presidente Prudente e reunir um grupo de 56 profissionais para prestar serviços rápidos, o sargento da Polícia Militar, Luis Antonio Frandulice, formou no município, em maio de 2003, a Cooperativa de Trabalho dos Instrutores e Educadores (Coopec).

A instituição é composta por profissionais de formação diversificada e inclui eletricistas, pedreiros, garçons, técnicos em segurança de transporte de cargas e atendentes de hotelaria. Os cursos são variados, de acordo com a necessidade do cliente e atendem públicos de todos os níveis de instrução.

As atividades compreendem direção defensiva, fabricação de vassouras, cosméticos, bordado ponto cruz, pintura de paredes, escultura em argila e cimento, oficina de pipas e preparação para concursos, técnico de vendas, motivação e trabalho em grupo e formação de garçons.

Frandulice conta que os cooperados utilizaram e aprovaram os CD-ROMs de treinamento. O grupo deu mais de 50 cursos (com duração variável) e capacitou mais de 2 mil pessoas. A entidade também produz todo o material didático que utiliza.

Entre os clientes, prefeituras como as de Martinópolis, Presidente Prudente, Tarumã e Pirapozinho, que bancam o treinamento e conseguem o local para as aulas. Emocionado, o sargento lembra de uma escola da rede pública que cedeu suas instalações para a cooperativa fazer os cursos. Em troca, a instituição de ensino ganhou fachada e salas de aula pintadas.

Serviço
Sert
Tel. 3241-7159

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página I do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 27/07/2004. (PDF)

Ex-favelados passam por curso para se tornarem pequenos empreendedores

Os cursos abrangem as áreas têxtil, de alimentação, construção civil e serigrafia. Inicialmente, vão beneficiar 400 famílias da capital

Com o objetivo de gerar emprego e renda para ex-moradores de favelas da zona leste da capital, a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) em parceria com a Secretaria Estadual do Emprego e das Relações do Trabalho (Sert) efetivaram o Programa de Auto Emprego (PAE) no Conjunto Habitacional Jardim Iguatemi.

Os atendidos na primeira etapa são 400 famílias, provenientes das favelas Paraguai, Viaduto e da Paz, na Vila Prudente, que foram desocupadas pela CDHU entre agosto e fevereiro. A maioria tem renda mensal de até três salários mínimos e mora em conjunto habitacional construído pela companhia na zona leste.

A próxima meta é incluir as 830 famílias do Conjunto Habitacional Jardim Iguatemi, no PAE, que foi lançado na região sábado passado. Na cerimônia compareceram os moradores que se inscreveram para participar dos cursos.

As oficinas de capacitação incluem atividades nas áreas têxtil, serigrafia, alimentação e construção civil. Os cursos têm dois meses de duração e serão ministrados por técnicos da Sert nos Centros de Apoio ao Condomínio, localizados no conjunto, na Avenida Ragueb Chofi, 7.208, onde também funcionarão as futuras pequenas empresas.

O principal objetivo é formar pequenos empreendedores. A questão da geração de renda para ex-favelados vem sendo tratada por técnicos da área social da CDHU com a população desde que a companhia iniciou os preparativos para a desocupação da área. A maioria desses moradores está desempregada ou trabalha na informalidade, muitos como catadores de papel.

Oito anos de atuação

O Programa de Auto Emprego (PAE) foi criado em 1996 com a finalidade de identificar as demandas e potencialidades de comércio das regiões atendidas, especificamente as mais carentes. A metodologia se baseia em aulas práticas, nas quais os alunos começam na prática de produção, ensinados por membros da comunidade e supervisionados por técnicos da Sert.

Eles ministram também a parte teórica do curso, que inclui noções de trabalho em grupo e administração financeira, entre outras questões práticas. Além dessa iniciativa, foi instalado o Programa Emergencial de Auxílio-Desemprego, que cria frentes de trabalho temporário e oferece treinamento para os participantes e bolsa-auxílio de R$ 210, complementada por auxílio-alimentação de R$ 46,40.

Em parceria com a CDHU, frentes de trabalho foram criadas para atuar na administração do condomínio, no posto de saúde local, na sala de leitura e na creche. Outra ação foi a instalação de uma padaria comunitária, com equipamentos doados pelo Fundo Social de Solidariedade do Estado de São Paulo (Fussesp). Os profissionais foram treinados pela Sert e hoje a padaria atende o conjunto e os moradores das imediações.

Investimentos

O PAE foi idealizado pelo sociólogo e consultor da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), Clodomir Santos de Morais. O projeto nasceu como proposta para o setor agrícola e já foi adotado com sucesso em países como Peru, Panamá, Costa Rica, Honduras e em algumas nações africanas.

Para a efetivação no Brasil, a Sert firmou convênio com a FAO e com o Instituto de Apoio Técnico aos Países do Terceiro Mundo. Adotou sistema de parcerias com associações, entidades sindicais, igrejas e outros tipos de lideranças dispostas a colaborar com o processo de qualificação da população e providenciar o espaço para os cursos, o maquinário e a divulgação na comunidade.

A administração estadual já investiu R$ 15,5 milhões no PAE desde a sua instalação. Nos 119 municípios paulistas onde atua, foram capacitadas 30.254 pessoas e o resultado foi o surgimento de 1.068 novas empresas comunitárias ou microempresas, além de outras iniciativas individuais.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página II do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 27/05/2004. (PDF)

Adolfo Lutz alerta para riscos de contaminação causada por fungos

Algumas micotoxinas são cancerígenas e reduzem em 40% expectativa de vida nos países pobres

As micotoxinas produzidas por fungos são responsáveis por 40% da redução da expectativa de vida em países pobres, segundo a ONU. Além de doenças, os micro-organismos causam prejuízos também à economia, em especial nos países exportadores agrícolas de grãos e sementes, como o Brasil, que vende café, soja, arroz, e castanha-do-pará no mercado internacional. Nos Estados Unidos e Canadá, as perdas chegam a US$ 5 bilhões anuais com a contaminação de rações para animais.

Myrna Sabino, pesquisadora desde 1967 do Instituto Adolfo Lutz, órgão vinculado à Secretaria Estadual da Saúde alerta a sociedade para o problema. Chefe da Seção de Química Biológica, a especialista explica que existem mais de 350 micotoxinas conhecidas. “Algumas micotoxinas, especialmente a aflatoxina B1 são cancerígenas, favorecem a má formação fetal e podem provocar o nascimento de crianças com deformações. Nos adultos trazem complicações hepáticas”, alerta.

Segundo ela, a parcela da população mais suscetível à contaminação são os mais jovens. “Por terem o sistema imunológico ainda em formação, os riscos são maiores. Nos adultos, o principal problema é a ingestão de alimentos contaminados durante um período prolongado da vida, já que estas substâncias podem acarretar o desenvolvimento de tumores”, explica.

Ciclo e prevenção

Os fungos estão presentes na natureza. A subida da temperatura e da taxa de umidade do ar favorecem o aumento das populações de micro-organismos e da produção de micotoxinas. Elas contaminam silos, armazéns de estocagem e lotes inteiros de grãos e cereais. Fenômenos climáticos como o aumento das chuvas também podem acelerar o processo. Não é possível para o consumidor perceber a contaminação dos alimentos, somente laboratórios são capazes de fazer a verificação. “A boa aparência dos alimentos não significa estarem livres de contaminação”, explica.

Myrna explica que segundo a Organização de Comida e Agricultura das Nações Unidas (FAO) 25% da produção mundial de grãos são perdidos por causa das micotoxinas. A prevenção é possível por meio de práticas agrícolas adequadas, ainda no campo, antes da estocagem dos alimentos. Os grãos mais suscetíveis são o amendoim e o milho, porém todos podem conter micotoxinas. “A castanha-do-pará nacional teve sua importação proibida em fevereiro pela comunidade europeia por causa das aflatoxinas”, conta.

No Brasil, na região sudeste, as autoridades sanitárias e de saúde conseguem manter o País em condições satisfatórias. “Os maiores problemas estão concentrados nas regiões Norte e Nordeste. As dificuldades se multiplicam devido a vastidão territorial e a falta de controle nos portos e aeroportos”, ressalta.

História

Na década de 60, o Brasil exportou farelo de amendoim para a Inglaterra. A matéria-prima vegetal foi transformada em ração para animais e morreram 100 mil perus sem que os veterinários descobrissem as causas. No ano seguinte, a Scotland Yard foi chamada para investigar as causas e não teve sucesso; só então as autoridades locais conseguiram associar a causa das mortes ao produto tropical importado.

A descoberta do agente causador, o fungo Arpergillus flavus fez nascer e aprofundar um novo ramo da ciência, a micotoxologia. O objetivo foi o de estudar o risco que estas substâncias representam para a saúde humana e animal e para a economia internacional, podendo acarretar perdas na cadeia produtiva. Entidades como a Organização Mundial da Saúde (OMS), Agência Internacional de Pesquisas sobre o Câncer e Food and Agriculture Organization se uniram com órgãos de agricultura e saúde pública mundiais para pesquisar e descobrir todas as toxinas produzidas por fungos.

Como curiosidade, Myrna cita passagens históricas e bíblicas, onde as micotoxinas eram o motivo de contaminações e pragas sem que a humanidade soubesse o motivo. Nos livros de Jó e do Êxodo, são relatadas passagens onde Moisés tentava libertar os hebreus do domínio faraônico. Há evidências de que uma dez pragas lançadas contra os egípcios estivesse relacionada com a presença de micotoxinas, já que a contaminação dizimou rebanhos ovinos e a peste induziu tumores e úlceras nos animais e no povo egípcio.

Fogo de Santo Antônio

Na Idade Média, entre os séculos XV e XVI, os franceses se assustavam com a doença conhecida como Fogo de Santo Antônio. A epidemia causada pela ingestão de centeio contaminado por Claviceps purpurea provocava a sensação de queimação na pele e surtos de gangrena. As vítimas procuravam o Santuário de Santo Antônio na França para se curar.

Guerra do Iraque

No século 20, durante a Segunda Guerra Mundial cerca de 100 mil russos perderam a vida devido as toxinas produzidas pelos fungos. Na Guerra do Vietnã, nos anos 60 e 70, as micotoxinas foram utilizadas como armas biológicas pelos exércitos para provocar enfermidades nos soldados inimigos.

Myrna comenta ainda que uma das justificativas utilizadas pelos Estados Unidos para bombardear o Iraque, era a suposta presença de armas químicas e biológicas incluindo fungos produtores de micotoxinas e mesmo micotoxinas nos laboratórios mantidos pelo governo de Saddam Hussein. Eles comporiam o suposto arsenal biológico do antigo regime.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página I do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 04/12/2003. (PDF)