O aliado das cidades paulistas

Serviços do IPT ajudam a prevenir acidentes, orientar questões de infraestrutura pública e avaliar riscos

Desde 1989, as zonas urbanas e rurais das cidades paulistas têm, no Programa de Apoio Tecnológico aos Municípios (Patem), do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), o suporte técnico necessário para obtenção de respostas em questões ligadas ao uso e ocupação do solo, infraestrutura pública, recursos minerais e águas subterrâneas, resíduos sólidos e distritos industriais.

Executado pelo IPT, o serviço é uma iniciativa da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação (SDECTI). São avaliações, laudos, cartas geotécnicas e pareceres técnicos do Patem que auxiliam os municípios a formular políticas locais, mapear áreas de risco e definir medidas corretivas. O atendimento também inclui a capacitação de agentes públicos municipais para atuarem em conjunto com a Defesa Civil em situações emergenciais.

O objetivo é prevenir perdas humanas e materiais causadas por enchentes, incêndios, erosão, deslizamentos de terra em encostas, queda de árvores e avaliação de áreas contaminadas – aterros sanitários e locais expostos à ação de resíduos.

Outro caráter do serviço é inspecionar e avaliar as condições estruturais de obras de engenharia (pontes, viadutos, edificações), edificações ligadas ao patrimônio histórico (instalações e madeiramento) e identificar, planejar e orientar a gestão de recursos minerais em Arranjos Produtivos Locais (APLs). Nesse sentido, foi o serviço realizado pelo IPT em 2012 no polo cerâmico de Santa Gertrudes, o maior do continente americano.

No Patem, a maioria dos atendimentos é direcionada a três centros de tecnologia do IPT: Geoambientais, Obras de Infraestrutura e Recursos Florestais.

Como pedir o auxílio

Pesquisador responsável pelo Patem, o geólogo Luiz Carlos Tanno informa que o atendimento às prefeituras começa com uma solicitação formal do órgão municipal à SDECTI. A secretaria repassa o pedido para o IPT orçar o trabalho e avaliar, por critérios técnicos, se aprova ou não a solicitação.

Para avaliar os pedidos, a SDECTI adota como critérios o caráter emergencial, o apelo ambiental, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da região, a condição financeira do município solicitante, a disponibilidade das equipes técnicas do IPT para atender o prazo de execução do trabalho. Em algumas situações, o Governo paulista pode financiar até 100% dos custos dos serviços. Em outras, a contrapartida do município é calculada levando em consideração o Índice de Participação dos Municípios (IPM), definido pela Secretaria Estadual da Fazenda.

“Os relatórios técnicos expedidos pelo IPT também são usados pelas prefeituras como documentos para conseguir financiamentos em entidades estaduais e federais, como o Ministério das Cidades”, destaca Tanno. Em 24 anos de serviços, o programa soma 992 solicitações e 580 atendimentos em 300 municípios. Em 2013, recebeu R$ 2,8 milhões do Governo estadual para executar os trabalhos.


De olho na encosta

Em Santos, em 2005, levantamento do IPT identificou 20 áreas com riscos de deslizamentos de terra nos morros e encostas da cidade. Em 2011, a prefeitura recontratou o serviço para reavaliá-las. Além dos pontos detectados, mais dois foram incorporados à lista de monitoramento ininterrupto da Defesa Civil e da administração municipal.

A geógrafa Katia Canil, do Laboratório de Risco Ambientais, conta que o mapeamento foi feito em conjunto com equipes da Defesa Civil e da Prefeitura de Santos. Nesse tipo de trabalho, as áreas são classificadas em quatro níveis, de acordo com o perigo potencial. O primeiro, denominado R1, significa risco baixo de escorregamentos; o segundo, R2, é de periculosidade média; e os dois últimos, R3, alto e R4, muito alto, são os de maior preocupação.

As informações apuradas também foram incorporadas aos bancos de dados municipais e integram o Plano Municipal de Redução de Risco (PMRR) de 2012. Segundo o engenheiro Ernesto Tabuchi, coordenador local da Defesa Civil, desde 2000, não há acidentes nas encostas da cidade de 418 mil habitantes, dos quais 20 mil moram em áreas de risco. “Esse trabalho é permanente e o apoio técnico do IPT tem sido fundamental”, destacou.


De olho no palco

A pedido da prefeitura de São Caetano do Sul, o Centro de Tecnologia de Recursos Florestais inspecionou, no ano passado, as estruturas de madeira de dois teatros da cidade: o Paulo Machado de Carvalho e o Timochenco Wehbi. De caráter preventivo, o atendimento multidisciplinar foi coordenado pelo biólogo Gonzalo Lopes e pelo engenheiro civil Takashi Yojo, ambos do Centro de Recursos Florestais.

O diagnóstico identificou a praga (fungo, cupim ou broca) que atacou cada componente da estrutura. Também levou em conta as diferenças da deterioração dos vários tipos de madeira usados nas instalações. A partir dessas informações, calculou a resistência do forro, cadeiras, teto e palco à infestação. E sugeriu, em relatório para a Fundação das Artes de São Caetano do Sul, órgão da prefeitura local responsável pelos teatros, medidas de segurança corretivas ou de substituição dos itens.


Atendimentos do Patem em 2012

  • Cravinhos – Estudo para encerramento e recuperação de aterro sanitário
  • Novo Horizonte – Capacitação técnica em reciclagem de Resíduos de Construção e Demolição (RCD)
  • Tatuí – Diagnóstico e análise de risco de queda de árvores
  • Vargem Grande Paulista – Levantamento das áreas de lavras ativas e áreas abandonadas decorrentes da extração de matéria-prima
  • Iperó – Levantamento dos recursos minerais e das atividades de mineração
  • Indiana – Avaliação do potencial mineral e da atividade de mineração
  • Bom Jesus dos Perdões – Plano Municipal de Redução de Riscos (PMRR)
  • Jundiaí – Avaliação de condições ambientais do bairro Caxambu
  • Campo Limpo Paulista – Inspeção e avaliação das condições estruturais de três obras de arte
  • São Caetano do Sul – Avaliação da sanidade biológica do madeiramento e análise estrutural de forros de madeira de dois teatros
  • São Luiz do Paraitinga – Reavaliação das áreas de risco no município
  • São João da Boa Vista – Avaliação de pavimentos executados em diversos bairros
  • Itanhaém – Revisão do plano diretor e da legislação de uso do solo
  • Monte Alto – Avaliação de áreas de risco
  • Monteiro Lobato – Análise dos processos de inundação na área urbana do município
  • Cunha – Avaliação de área de risco no bairro Alto do Cruzeiro

Serviço

IPT
SDECTI

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 18/09/2013. (PDF)

Noé vem aí (novo detector de enchente é novidade)

De baixo custo, sistema criado no campus local informa em tempo real o nível d’água em dois pontos do córrego Monjolinho, que atravessa a cidade

Desenvolver um meio rápido e barato para avisar em tempo real, com mensagens SMS, as autoridades sobre os riscos da ocorrência de enchentes. Esta é a proposta da equipe do pesquisador Jó Ueyama, do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP de São Carlos. Em dois anos, o grupo replicou nas imediações no Campus 1 uma experiência semelhante desenvolvida em rios ingleses pela universidade britânica de Lancaster.

Batizado de e-Noé, o sistema obteve autorização do posto local do Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado (DAEE) para monitorar em tempo real dois trechos do fundo do córrego Monjolinho com histórico de transbordamentos. O primeiro protótipo do kit com sensores foi instalado na Avenida Trabalhador São-Carlense, a cem metros da portaria do Campus 1 da USP. O outro, em ponto próximo de duas concessionárias de veículos, na altura da rotatória do Shopping Iguatemi.

Segundo o professor Jó, cientista da computação, o e-Noé tem como diferencial o custo do kit com sensores, de fácil montagem e orçado em média em R$ 1,4 mil cada: R$ 400 o valor de cada protótipo e mais R$ 1 mil a instalação. Cada conjunto é formado por dois sensores analógicos, com funções específicas. O primeiro mede a pressão do corpo d’água, para informar secas e enchentes. O segundo analisa a turbidez aquática, um indicativo de poluição.

Sala de controle

Outro aprimoramento da pesquisa foi a transmissão de dados sem fio, usando a tecnologia Zigbee. Este padrão de rede Wi-Fi permite enviar informações para distâncias de até 1,5 quilômetro, consumindo pouca bateria. Os dados sobre as oscilações do nível do curso d’água são remetidos para um computador na guarita do Campus 1. E seguem de lá, retransmitidos em tempo real, via fibra óptica, para os servidores do ICMC, no coração do campus.

O sensor funciona identificando diferenças de tensão elétrica no córrego, a partir das marcações de uma régua (coluna d’água) instalada no fundo do córrego. O sistema desenvolvido no ICMC-USP tem um “histórico” hídrico, que compara a todo instante o nível atual com os já registrados em cada período.

Quando ultrapassados os limites preestabelecidos, há risco de enchentes. O passo seguinte do sistema é disparar, de modo automático, mensagem de texto (SMS) com o alerta de possível enchente para números de celulares cadastrados. E assim avisar em tempo hábil a prefeitura e órgãos de proteção da população (Defesa Civil, Corpo de Bombeiros e agentes de controle de trânsito) para prevenir perdas materiais e humanas.

Programadores

Jó sugere que o ideal seria que cada município passasse a monitorar, em caráter permanente, todos os pontos críticos na área urbana. Comenta que, no caso de São Carlos, sua equipe desenvolve um site para informar a população em tempo real sobre o nível da água.

Além do professor, a equipe do ICMC-USP envolvida com o e-Noé é formada pelo graduando Murilo Marin Pechoto, de Ciência da Computação, que aprimorou a rede de transmissão dos dados, e mais o pesquisador João Porto de Albuquerque, responsável pelo desenvolvimento do programa de tomada de decisão do sistema, sua interface e o futuro site do software. Suas funcionalidades permitem apurar, interpretar e gerar gráficos em tempo real dos dados recebidos do curso d’água.

Futuramente, o grupo pretende oferecer o sistema de monitoramento antienchente como software livre e gratuito. A ideia é auxiliar as outras cidades brasileiras com históricos de enchentes.

O projeto foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) e Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Sistemas Embarcados Críticos (INCT-SEC).

Controle

Segundo a assessoria de imprensa da prefeitura de São Carlos, a cidade já dispõe desde 2009 de um moderno sistema de alerta via mensagem de texto para celulares (SMS). Ressaltou que os pesquisadores do ICMC-USP foram informados sobre o Plano Municipal de Segurança Pública, em execução desde 2001, e aprimorado desde então.

Disse ainda: “Esta é uma das primeiras cidades a fazer o alerta para comerciantes e moradores próximos aos córregos e áreas de risco. Além disso, estamos atualizando o mapa de risco e essas informações podem ser úteis para o aprimoramento de nova proposta de parceria com a universidade”.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 19/07/2012. (PDF)

Tudo o que você precisa saber sobre raios

Defesa Civil alerta sobre os riscos de acidentes nesta época de temporais, até porque também em raios o Brasil é campeão

No Brasil, a probabilidade de alguém morrer atingido por raio é de 0,8 por milhão, mas é melhor não desafiar as estatísticas, alerta a Defesa Civil, tendo em vista que nos meses de verão (21 de dezembro a 21 março) aumenta, e muito, a incidência de chuvas e temporais no sudeste brasileiro. E ainda porque também nesse quesito o Brasil é campeão mundial.

A ocorrência dos raios está associada a duas situações: a primeira, a partir da eletrificação causada pela colisão de cristais de gelo na atmosfera; a segunda é restrita a países com vulcões no território e surge a partir de nuvens de cinzas decorrentes da erupção. Embora ocorra com maior frequência nos meses de verão e esteja associado às nuvens negras e chuvas fortes, o raio também pode cair no inverno.

Segundo a tenente Aline Betânia Carvalho, da Polícia Militar e da Divisão de Comunicação Social da Coordenadoria Estadual da Defesa Civil, a orientação de modo geral é a mesma: com chuva forte, deve-se interromper qualquer atividade ao ar livre em local descampado, como clube, praia, campo de futebol, plantação, pista de pouso. E procurar abrigo em qualquer edificação ou instalação subterrânea, como o Metrô, por exemplo.

Ponto mais alto

Se alguém estiver na rua e não houver nenhuma casa ou prédio por perto, a orientação é ficar agachado, com os pés juntos, até a chuva passar, e nunca deitar no chão. “Evite tornar- se o ponto mais alto de um terreno ou mesmo ficar próximo a ele – para não ser atraído pelo raio. A construção do para-raio segue este princípio e usa materiais capazes de oferecer menos resistência para a condução da corrente elétrica, direcionada sempre para o solo por um fio terra”, explica Betânia.

O veículo costuma ser um local seguro, mas feche vidros e procure não encostar nas partes metálicas. Lugares abertos e descampados devem ser evitados. Se estiver no mar, rio, lago ou piscina, a orientação é também sair imediatamente. Motivo: a água é um eficiente condutor de eletricidade. Durante uma tempestade, deve-se ficar distante de qualquer objeto alto e isolado, como árvore, poste, quiosque, caixa-d’água, etc.

Durante uma tempestade, deve-se ficar distante de qualquer objeto alto e isolado, como árvore, poste, quiosque, caixa-d’água, etc. A recomendação vale também para objeto metálico, grande e exposto, como trator, escada e cerca de arame. Recomenda-se não soltar pipas, nem carregar objetos como canos e varas de pesca, assim como andar de bicicleta, moto ou a cavalo.

Se estiver em casa, evite tomar banho e usar telefone fixo. Procure também se afastar de equipamentos plugados na rede elétrica, como televisor, geladeira e fogão. A recomendação vale também para janelas, tomadas, torneiras e canos elétricos.


Como se formam os raios

O raio é uma descarga elétrica que ocorre na atmosfera, com intensidade típica de 30 mil ampéres, total equivalente mil vezes à potência de um chuveiro elétrico. Esse fenômeno meteorológico se forma no interior das nuvens de tempestade, chamadas de Cumulos nimbos, a partir das cargas elétricas geradas pelo choque de partículas de gelo dentro delas. Quando estas cargas atingem certa quantidade surge uma faísca que dá início ao raio.

À medida que esta faísca se aproxima do solo, inicia-se uma descarga do solo para a nuvem, principalmente em objetos salientes e pontiagudos ou, ainda, em pontos com maior condutividade elétrica (em geral, objetos metálicos). Quando as duas se unem, acontece o raio.

Descargas atmosféricas podem ocorrer ainda no interior de uma nuvem, entre duas nuvens ou de uma nuvem para o ar. Em geral, quando os raios acontecem provocam um clarão e, logo em seguida, um barulho denominado trovão, devido ao deslocamento de ar.

De acordo com o Grupo de Eletricidade Atmosférica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), 80% das mortes causadas por raios podem ser evitadas. Basta a população saber o que fazer e o que evitar quando se escuta o primeiro trovão.

Ao contrário do ditado popular, o raio pode, sim, cair mais de uma vez, num mesmo lugar. Quando alguém é atingido, na maioria das vezes recebe correntes indiretas vindas pelo chão. É raro uma pessoa ser atingida diretamente pelo raio, mas quando acontece, a morte é instantânea.

A cada 50 mortes por raios no mundo, uma é no Brasil, cujo território é o de maior incidência mundial do fenômeno. Em média, a cada ano, as descargas elétricas provocam 130 mortes no País, deixam 200 feridos e trazem prejuízos de R$ 1 bilhão.

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página I do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 25/01/2012. (PDF)