Computação é a nova aliada no combate à dengue

Pesquisa da USP São Carlos apresenta tecnologia capaz de distinguir espécies de mosquitos pelo som emitido no voo; sensor também distingue as fêmeas, que picam, dos machos inofensivos

A inteligência artificial é a mais nova aliada da sociedade no combate à dengue. O professor Gustavo Batista, do Departamento de Ciências da Computação do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP São Carlos, desenvolveu ferramenta para fortalecer a luta contra a epidemia.

Trata-se de uma armadilha com um sensor capaz de identificar, instantaneamente, as espécies de mosquitos presentes em uma região e, ainda, quantificar o total de insetos capturados e o sexo.

A dengue é hoje a principal doença viral transmitida por mosquitos e um dos principais problemas de saúde pública enfrentados no Brasil e em outras áreas tropicais e subtropicais do planeta. Devido à falta de uma vacina eficaz, o controle da moléstia limita-se a ações para impedir e controlar a proliferação do seu vetor, o mosquito Aedes aegypti.

Precisão

Iniciado em 2010, no pós-doutorado do professor Batista na Universidade da Califórnia, em Riverside, nos Estados Unidos, a ferramenta permite aferir com precisão a população do Aedes aegypti em determinada área e transmitir os dados em tempo real, por meio de um aplicativo instalado em computador, tablet ou celular, às autoridades governamentais. Isso possibilita planejar e centrar ações nos locais com maior incidência de criadouros e pacientes portadores do vírus da dengue.

Promissor, o estudo científico recebeu ao longo de seu desenvolvimento apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), com o financiamento de bolsa de pós-doutorado de Batista naquele ano. Em 2011, o projeto recebeu investimento da Fundação Bill e Melinda Gates. O trabalho foi um dos oito projetos brasileiros do total de 12 laureados pelo Google em toda a América Latina neste ano (ver serviço).

Prevenção

Como prêmio, a empresa norte-americana de tecnologia irá pagar durante um ano bolsa de US$ 750 mensais para o professor Batista, que também é pesquisador do Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria (CeMEAI), sediado no ICMC e mantido pela Fapesp (ver boxe).

A premiação do Google inclui ainda uma bolsa mensal de US$ 1,2 mil para André Maletzke, aluno de doutoramento orientado por Batista. A dupla de cientistas de São Carlos pesquisa agora uma armadilha doméstica para mosquitos a partir de um sensor cujo desenvolvimento da propriedade intelectual é de domínio público.

A intenção é patentear a invenção com o auxílio da Agência USP de Inovação e lançar um modelo de armadilha com o sensor em 2016, com custo estimado em R$ 200 para o consumidor. “Assim, quem tiver o equipamento em casa poderá detectar a presença de mosquitos e tomar providências antes da ocorrência de surtos da dengue”, observa.

Assinatura

Instalado em uma caixa de acrílico, o sensor usa um fototransistor para medir a variação de luz emitida pelas asas de cada inseto. Nesse processo, o zumbido provocado pelo voo é convertido em sinal elétrico e o resultado obtido assemelha-se ao som capturado por um microfone.

O passo seguinte é a comparação, feita por métodos de inteligência artificial, do dado obtido com o conjunto de outros sons já armazenados na ‘biblioteca’ do sistema. “Cada espécie bate as asas de modo único, como se fosse uma assinatura”, explica Batista. “Em uma fração de segundo, o sensor identifica o sexo e a espécie do exemplar capturado.”

Prioridade

Batista comenta que o estudo desenvolvido no ICMC exigiu a catalogação do zumbido provocado pelo bater das asas de diversos insetos, como abelhas e vespas. Entretanto, priorizou o Aedes aegypti e mais três espécies de mosquitos hematófagos causadores de doenças, que costumam também ser aprisionadas na armadilha – o Anopheles gambiae, vetor da malária e duas do gênero Culex (a quinquefasciatus e a tarsalis), disseminadoras de encefalites.

“O foco é a fêmea adulta do Aedes aegypti, que transmite o vírus e costuma picar suas vítimas em um raio de 100 metros do local onde nasceram, ou seja, ela ataca as pessoas na casa onde nasceu e da vizinhança”, observa Batista. Ele ressalta que essa espécie impõe um desafio adicional às autoridades de controle epidemiológico, pois a fêmea põe seus ovos em água limpa e parada, mas eles são capazes de sobreviver em meio úmido ou seco até um ano depois.


Sobre o CeMEAI

O CeMEAI é um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) da Fapesp estruturado para promover, de modo multidisciplinar, o uso de ciências matemáticas (matemática aplicada, estatística e da computação) como recurso em aplicações industriais e governamentais. Desenvolve trabalhos nas áreas de otimização aplicada e pesquisa operacional, mecânica de fluidos computacional, modelagem de risco, inteligência computacional e engenharia de software.

Além do ICMC, o CeMEAI é também associado a seis instituições científicas: Centro de Ciências Exatas e Tecnologia da Universidade Federal de São Carlos (CCET-UFSCar); Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica da Universidade Estadual de Campinas (Imecc-Unicamp); Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista (Ibilce-Unesp); Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista (FCT-Unesp); Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE); e o Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo (IME-USP).

Serviço

Para consultar os 12 projetos selecionados pelo Google na América Latina, acesse http://goo.gl/hxyYmN

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 14/11/2015. (PDF)

Unesp inova em cirurgia de crânio

Peça de acrílico desenvolvida em impressora 3D foi utilizada com sucesso em procedimento cirúrgico; pesquisadores solucionam caso complexo de menino de 6 anos com fratura na cabeça

Pesquisa inédita da Universidade Estadual Paulista (Unesp) possibilitou a realização com sucesso, na segunda-feira, 1º, de cirurgia de implante de crânio (cranioplastia) em um menino de 6 anos de idade. Executada em duas horas, a operação foi realizada no Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB-Unesp).

O procedimento cirúrgico de alta complexidade teve a coordenação dos cirurgiões Aristides Palhares (cirurgia plástica) e Pedro Hamamoto (neurocirurgia), ambos professores da instituição. Custeada pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a cranioplastia foi realizada no HC de Botucatu, hospital universitário vinculado à Secretaria de Estado da Saúde, que oferece atendimento gratuito à população.

Tridimensional

A cirurgia consistiu em implantar uma peça de acrílico tridimensional no crânio do paciente. Desenvolvido sob medida, o biomaterial teve como origem imagens contidas em duas tomografias remetidas pelo professor Palhares para o Centro Avançado de Desenvolvimento de Produtos (Cadep). Especializada em impressão tridimensional (3D) e prototipagem rápida, a unidade especial da Unesp é vinculada à Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação de Bauru (Faac-Unesp).

Responsável pelo Cadep, o professor Osmar Rodrigues, do Departamento de Design da Faac, explica que a peça de acrílico é segura, resistente e compatível com os tecidos do organismo, sem risco de rejeição. Sua confecção exigiu oito dias de trabalho e foi projetada com uma folga proposital de dois milímetros – espaço considerado suficiente para a instalação do implante e possibilitar o crescimento da caixa craniana da criança.

Monitoramento

Responsável geral pelo projeto, o pesquisador Palhares explica que o garoto já recebeu alta hospitalar. Observa, contudo, que ele seguirá sob acompanhamento médico permanente até a adolescência, quando terá seu quadro clínico reavaliado por completo.

Especialista em cirurgia plástica, Palhares informa que a cranioplastia não é técnica médica inédita no País. Destaca, entretanto, o pioneirismo e o protagonismo da Unesp ao solucionar, internamente, uma demanda específica de alta complexidade. Sobre o paciente, explica o motivo do trauma: a queda de uma laje de três metros de altura, cujo impacto da batida provocou grave traumatismo e levou à perda de tecido ósseo, abrindo fenda de 10 cm por 13 cm de área na cabeça do menino.

Fila do implante

Há quatro anos aguardando a cirurgia, a criança encabeçava lista com mais de 50 pacientes com diferentes traumas à espera de um implante ósseo sob medida. A cirurgia possibilitou reconstituir o tecido ósseo perdido, recuperar a forma e aspecto originais do crânio e assegurar proteção mecânica e física ao cérebro e demais órgãos interligados.

“Esse caso abre nova ‘janela’ científica para a pesquisa nacional”, comenta o pesquisador da FMB-Unesp. “Exigiu abordagem multidisciplinar e inovadora, integrando áreas distintas da universidade, como neurologia, cirurgia plástica e o design tridimensional da peça. Demonstrou, na prática, a importância do investimento em recursos humanos, científico e tecnológico no Estado de São Paulo e no País”, destaca Palhares.


Inovação em design

Os profissionais do Centro Avançado de Desenvolvimento de Produtos (Cadep) mantêm diversos projetos nas mais variadas áreas do design. O centro foi inaugurado em 2012 e sua sede e maquinários especializados funcionam em instalações próprias da Faac, em Bauru, cujos laboratórios atendem a pesquisas conjuntas de graduação e pós-graduação da Unesp e de outras instituições científicas.

O Cadep atende também a empresas, preservando os segredos industriais. Os setores já contemplados são o automotivo, metalúrgico, moveleiro, eletroeletrônico, brinquedos, miniaturas e plásticos, entre outros. O professor Osmar Rodrigues, coordenador do Cadep, conta que a primeira incursão do centro na área da biologia foi em 2013.

Na época, o desafio proposto à sua equipe de cinco pesquisadores bolsistas foi projetar e construir, em resina biocompatível, a parte superior do bico de um tucano (foto). Bem-sucedida, a peça implantada repôs o pedaço original do bico da ave, que fora dilacerado por uma mordida de cachorro e prejudicava na alimentação e deglutição.

Novas frentes

A experiência na área veterinária abriu espaço para o desenvolvimento da peça para a cranioplastia realizada em Botucatu. Na avaliação de Rodrigues, a operação é promissora. Especialista em design, ele visualiza, agora, como desdobramento natural do trabalho, atender os demais pacientes que seguem na fila de espera de implantes do HC-FMB.

“Há também diversas possibilidades, como fornecer materiais odontológicos, pinos e implantes. Hoje, a modelagem 3D é mais precisa e mais barata do que a manual”, observa. “As tecnologias de prototipagem, modelagem e impressão tridimensional (3D) seguem disponíveis em diversos centros de pesquisa pelo mundo. Mas o grande diferencial do Cadep é mesclar a experiência adquirida na manipulação de diversos materiais e equipamentos com as técnicas mais recentes”, revela.

Serviço

Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB)
Hospital das Clínicas de Botucatu (HC-FMB)
Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação (Faac)
Centro Avançado de Desenvolvimento de Produtos (Cadep-Faac)

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 05/09/2015. (PDF)

Procon-SP orienta sobre recalls

Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor acompanha e monitora as convocações de fornecedores desde 2002; montadoras de veículos lideram o ranking de chamamentos

Desde o início de 2002, a Diretoria de Fiscalização da Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon-SP) monitora e registra em seu site os recalls (convocações) realizados por fornecedores no âmbito do Estado de São Paulo. Com livre acesso para consultas na internet, o banco de dados da Fundação, órgão vinculado à Secretaria de Estado de Justiça e da Defesa da Cidadania, é o mais antigo do gênero no País.

Até 21 de agosto, o sistema do Procon-SP contabilizava 893 recalls realizados. A medida permite ao consumidor pesquisar, a qualquer tempo, chamamentos por marca, defeito, modelo, campanha e segmento e saber quais fornecedores (lojista, fabricante ou revendedor) têm mais ocorrências. “O objetivo do recall é corrigir problemas identificados em produtos e serviços e prevenir eventuais situações de risco”, detalha o especialista em Defesa do Consumidor do Procon-SP, Manaceis Souza (ver serviço).

Relatos

Montadoras de veículos lideram o ranking, mas a convocação ao consumidor pode estar relacionada a qualquer produto ou serviço. O site da fundação reúne relatos de chamamentos para solucionar defeitos, fazer reparos ou, ainda, substituir produtos, como medicamentos, lâmpadas, móveis, computadores, cosméticos, óculos, brinquedos, eletrodomésticos, entre outros itens.

Em 2010, um fornecedor retirou lotes específicos de um produto dos supermercados. Motivo: o fato de o mesmo conter glúten na composição e não informar na embalagem a presença da substância no processo de fabricação – um risco para consumidor alérgico (portador de doença celíaca – intolerância ao glúten). Em outro caso, um fabricante italiano de veículos de luxo convocou recall no Brasil para reparar um único carro vendido pela empresa no País.

Legislação

O recall é item previsto no artigo 10 do Código de Defesa do Consumidor (Lei federal nº 8.078/1990). Em 2012, a convocação também foi incluída no texto legal da Portaria nº 487 do Ministério da Justiça.

A legislação determina ao fornecedor que, tão logo identifique um defeito, comunique imediatamente o fato às autoridades e aos consumidores – a identificação do defeito pode ser de iniciativa do próprio fornecedor ou mediante queixa do consumidor no Procon-SP, entre outras situações.

O procedimento seguinte é o fornecedor divulgar anúncios na mídia, em veículos de grande circulação, convocando o consumidor sobre quais medidas serão adotadas em relação ao recall. A lei não especifica por quanto tempo os informes deverão ser veiculados no rádio, televisão e jornal. Não há prazo limite para a realização do reparo ou substituição de componente ou produto defeituoso.

Rapidez

Para garantir a própria segurança e a de terceiros, o Procon-SP recomenda ao consumidor atender ao chamado do fornecedor o mais rapidamente possível. Depois da execução do serviço, é preciso guardar o comprovante de realização do recall e, se for vender o bem, repassar o documento ao novo proprietário.

“O recall é gratuito para o consumidor e o custo é de responsabilidade do fornecedor”, observa Souza. No entanto, representa “compromisso ético de pós-venda e ação de cidadania dos responsáveis, e tende a fortalecer a imagem da marca e harmonizar as relações de consumo”, destaca o especialista em recalls do Procon-SP.

Usados

Em época de retração na economia, muitos consumidores abrem mão do carro ou motocicleta zero-quilômetro e adquirem um usado ou seminovo. Para evitar problemas, antes de fechar negócio, o Procon-SP recomenda uma consulta no site do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) sobre o veículo pretendido (ver serviço).

A consulta ao órgão federal é gratuita, exige apenas o número do chassi do veículo. Outra opção para a pesquisa é informar o Registro Nacional de Veículo Automotor (Renavam) e o CPF do proprietário atual.

O site do Denatran informa se o veículo em questão passou por recall e se o antigo proprietário o fez; também esclarece se o mesmo foi roubado ou furtado, se possui restrição judicial ou multa interestadual pendente.

O passo seguinte é fazer nova pesquisa, dessa vez no banco de dados do Procon-SP, para saber se o modelo em questão passou por algum recall no Estado. Em caso afirmativo, levantar as informações mais recentes sobre o procedimento, uma vez que o monitoramento de recalls da fundação é permanente.


Carros: as convocações mais comuns

O administrador de empresas José Ferro, 56 anos, morador da zona oeste da capital, teve duas experiências diferentes com recalls. Ele vê esse tipo de convocação como medida necessária e ética. “Não interessa ao fabricante expor o cliente a risco – é questão de boa fé! Esse serviço de pós-venda aumenta a confiança e a fidelização do consumidor com a marca”, observa.

A primeira experiência do administrador foi em 2011, com o seu Honda Fit ano 2010. Ele recebeu convocação da montadora para agendar ida a uma concessionária da montadora e reparar o sistema de aceleração. “O veículo não tinha apresentado nenhum problema antes da convocação. Depois do recall, seguiu funcionando perfeitamente, sem defeitos. Está comigo até hoje”, constata.

O segundo recall foi com um Cobalt 2012. No ano de 2013, José começou a sentir cheiro de combustível depois de abastecer. Descobriu um vazamento a partir da tampa do próprio tanque. Levou o carro a uma concessionária e o conserto foi realizado sem nenhum custo. Um ano depois, José Ferro foi convocado pela General Motors (GM) para fazer o recall dessa peça, mas já não era mais necessário. “Talvez o problema do meu veículo tenha auxiliado o fabricante a decidir pela convocação de outros proprietários”, analisa.

Preventivo

Abílio Tastaldi é dono da concessionária Cherry, no bairro paulistano da Lapa. Ele conta que, em 2012, a montadora de origem chinesa detectou um problema no pedal de freio de um lote do compacto S18. A empresa convocou, por carta, telegrama ou telefonema os proprietários para um recall no sistema de frenagem.

“Quando a montadora consegue localizar o dono, agenda o conserto o mais rapidamente possível. Se não for possível encontrá-lo, de acordo com o número do chassi o reparo fica pendente. Então, na próxima revisão de segurança, realizada a cada 10 mil quilômetros rodados, aproveitamos e fazemos o serviço”, explica. “Hoje, muitas marcas de veículos disputam o mercado brasileiro e a competição é crescente. Ter atenção permanente com os recalls é um diferencial”, observa.

Serviço

Fundação Procon-SP
Banco de dados de recalls do Procon-SP
Código de Defesa do Consumidor
Departamento Nacional de Trânsito (Denatran)

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 25/08/2015. (PDF)