Sobre: Rogerio Mascia Silveira

Brazilian journalist

Estado devolve IPVA para quem teve carro roubado

Fazenda restituirá R$ 20,2 milhões para proprietários de 53,8 mil veículos roubados ou furtados; devolução será feita neste mês e em abril

A Secretaria da Fazenda do Estado vai devolver R$ 20.203.310,29 para proprietários de veículos furtados ou roubados no ano passado em todo o território paulista. O reembolso do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) é exclusivo para veículo registrado no Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo (Detran.SP) e está disponível ao proprietário que fez Boletim de Ocorrência (BO).

A devolução do IPVA é prevista nas Leis nos 13.296 e 13.032, ambas de 2008. Essa legislação prevê também dispensa do pagamento do tributo estadual para o contribuinte com o bem subtraído a partir do mês da ocorrência do fato, à razão de um doze avos por mês do valor do imposto devido. No total, a Fazenda restituirá, neste ano, valores relativos a 53.826 veículos furtados ou roubados.

O cronograma de devoluções é dividido em quatro lotes. O primeiro, relativo às ocorrências do primeiro trimestre do ano passado, foi liberado em 4 de março. O próximo, referente ao segundo trimestre de 2015, estará disponível no dia 18, e os dois últimos créditos, relativos aos dois últimos trimestres do ano passado, nos dias 1º e 15 de abril.

Restituição

Segundo Gabriel Osés, da diretoria executiva da administração tributária, órgão responsável pela cobrança e fiscalização do IPVA, a decisão de devolver o tributo ao proprietário que teve o bem subtraído partiu do poder Executivo, por enxergá-la como medida de interesse público. Essa iniciativa não é exclusiva da administração pública paulista – o governo gaúcho a adotou em 1996 e, desde então, passou a ser seguida pela maioria dos Estados brasileiros.

A restituição do imposto pago é sempre realizada no ano seguinte e não é preciso solicitar o reembolso do IPVA. A devolução é automática, feita por meio da integração dos sistemas de informática da Fazenda, com as bases de dados da Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP) e do Detran.SP.

O valor a ser devolvido é divulgado no site do IPVA (ver serviço), no link “Restituição”. O passo seguinte é informar os números do Registro Nacional de Veículo Automotor (Renavam) e do BO. O dinheiro fica à disposição do proprietário no Banco do Brasil durante dois anos. Depois desse prazo, o reembolso deverá ser solicitado diretamente à Fazenda.

Documentos

Para resgatar o valor, o contribuinte não poderá ter pendências com o Fisco estadual, como, por exemplo, débitos de IPVA de outro veículo de sua propriedade. A devolução também será suspensa se a subtração do bem for anterior ao ano de 2007, se não houver BO correspondente ou se o veículo apresentar problemas cadastrais nos sistemas do Detran.SP.

Quem teve o Certificado de Registro e Licenciamento de Veículo (CRLV) furtado ou roubado com o automóvel não precisa entregar a cópia do documento, mas essa informação precisa estar registrada no BO. Em caso de recuperação do veículo, o IPVA voltará a ser devido, em valor proporcional aos meses restantes até o fim do ano.

Para receber o dinheiro, o contribuinte pessoa física deve entregar cópia do CRLV e mostrar RG original ou documento de identificação equivalente. Se for pessoa jurídica, as regras são as mesmas, mas o interessado também deverá fornecer cópia do Contrato Social da empresa ou de Ata da Assembleia Geral.

Situações

O total a ser devolvido varia de acordo com a opção de pagamento do IPVA: quitação integral à vista, em janeiro, ou parcelamento em três vezes, com vencimento dos boletos em janeiro, fevereiro e março. Se o proprietário pagou o valor integral em janeiro e a subtração do veículo ocorreu neste mesmo mês, a devolução corresponderá ao montante total pago.

Caso tenha parcelado o pagamento e quitou os boletos de janeiro e fevereiro, mas, por exemplo, o carro foi furtado ou roubado em março, a restituição contemplará o tempo proporcional ao restante do ano, ou seja, o período de março a dezembro.

A última situação é parecida com a anterior – refere-se a quem pagou o IPVA integral em janeiro e foi vítima de furto ou roubo, em agosto. A pessoa terá direito à restituição proporcional do oitavo mês do ano e mais os valores dos meses subsequentes até o seu término (setembro, outubro, novembro e dezembro).

Serviço

Restituição do IPVA (veículo furtado ou roubado)
Secretaria da Fazenda do Estado
Telefone 0800 170-110 (ligação gratuita, exceto para celular)

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página II do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 10/03/2016. (PDF)

Fisioterapia reduz sintomas da enxaqueca

Pesquisa da USP Ribeirão Preto demonstrou evidências científicas da eficiência dessa terapia como complemento ao tratamento clínico

Um grupo de pesquisadores do Departamento de Biomecânica, Medicina e Reabilitação do Aparelho Locomotor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) comprovou, por meio de protocolo científico inédito, a eficiência da fisioterapia como terapêutica complementar capaz de diminuir as dores e os transtornos causados pela enxaqueca. O estudo também revelou seu potencial de uso em pacientes acometidos pela doença neurológica crônica, desde que com acompanhamento médico.

De todas as dores de cabeça (cefaleias) existentes, a enxaqueca é a mais incapacitante. Pode ter origens hereditárias e adquiridas e aflige 15% da população brasileira. Acomete mais as mulheres, que são 80% dos pacientes e, nos casos mais severos, prejudica a vida social e profissional. Provoca fortes dores e náuseas, com os sintomas podendo ser aumentados se houver exposição à luz, sons e cheiros.

Coordenado pela docente da FMRP-USP e fisioterapeuta Débora Grossi, o estudo multidisciplinar foi feito no período de 2011 a 2014. Os testes foram realizados no Ambulatório de Cefaleia e Algias Craniofaciais do Hospital das Clínicas (HC) da FMRP-USP com 50 voluntárias com idades de 18 a 55 anos. “Pela experiência clínica, acreditamos que, se o estudo fosse com homens, os resultados obtidos seriam muito semelhantes”, conta Débora.

A pesquisa foi a tese de doutoramento da fisioterapeuta Maria Cláudia Gonçalves, com orientação da professora Débora. O atendimento aos pacientes com cefaleia teve início em 2005 no ambulatório, com a diminuição da dor e da sensibilidade à dor após sessões de fisioterapia – todos receberam tratamento gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O estudo comprovou, com evidências científicas, os motivos da analgesia. Os resultados do trabalho foram repassados aos profissionais da área da saúde e outros cientistas.

Menos dor

A pesquisa permitiu aperfeiçoar técnicas manuais, como massagens específicas aplicadas no pescoço dos pacientes. Possibilitou também divulgar, em congressos de âmbito nacional, o tratamento da enxaqueca associado à técnica complementar: “Um fisioterapeuta devidamente habilitado não tem dificuldade em aprender o método e colocá-lo em prática”, observa Débora.

Em 2009, ao regressar do pós-doutorado em Nova York, a professora Débora continuou trabalhando em parceria com o neurologista Marcelo Eduardo Bigal, pesquisador brasileiro, momento em que foi delineado o ensaio clínico. No mesmo ano, o projeto recebeu apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapesp), com financiamento de US$ 40 mil para a compra de um equipamento importado dos EUA, capaz de avaliar a extensão da dor de cada paciente, e mais três bolsas de estudo de doutorado e uma de pós-doutorado.

Em 2015, os ensaios clínicos com as voluntárias foram finalizados – e o trabalho obteve repercussão acadêmica internacional, ao ser tema de artigo publicado na revista científica norte-americana Archives of physical medicine and rehabilitation (ver serviço), no final do ano passado.

Pontos-gatilho

A metodologia adotada (protocolo científico) consistiu de oito sessões de fisioterapia manual de 50 minutos, realizadas duas vezes por semana durante 30 dias. A avaliação comparou os resultados obtidos após o primeiro e o segundo mês.

Nos 15 minutos iniciais de cada sessão, é realizado treino respiratório, para reensinar o paciente a relaxar e respirar corretamente, de modo a diminuir a tensão no pescoço; nos 5 minutos seguintes, mobilização e tração na coluna cervical; 15 minutos depois, uma massagem libera a rigidez da musculatura do pescoço e da face e, assim, são identificados os chamados pontos-gatilho da dor, de modo que, nos 15 minutos finais, eles são desativados, e a sessão é encerrada com exercícios de alongamento.

Dois grupos

As pacientes avaliadas na pesquisa foram divididas aleatoriamente em dois grupos: o primeiro recebeu medicação e passou por atendimento fisioterápico durante 30 dias; o outro ficou restrito ao tratamento convencional com analgésicos. No final, os resultados demonstraram que as pacientes submetidas à fisioterapia tiveram 4,5 dias a menos com dores de cabeça no mês.

No mesmo período, o grupo tratado apenas com medicação reduziu em 3,7 dias o problema da enxaqueca. No segundo mês do estudo, as voluntárias submetidas a sessões de fisioterapia tiveram 5,2 dias a menos de enxaqueca; aquelas que fizeram tratamento com medicação conseguiram uma redução de 4,6 dias. “Comprovamos os benefícios da fisioterapia já no primeiro mês”, finaliza Débora.


“Resultados indiscutíveis”

Residente em Ribeirão Preto, a esteticista Andreia Girodo, de 27 anos, foi uma das participantes da pesquisa. Filha de paciente com queixas de enxaqueca, ela teve sua primeira crise aos 9 anos de idade. Na adolescência, as dores cessaram, mas aos 18 anos reapareceram com mais frequência e maior intensidade.

De cada sete dias da semana, Andreia tinha enxaqueca em pelos menos cinco. Com as crises, descobriu ter hipersensibilidade à claridade, fator de agravamento das dores. “Em datas comemorativas, como aniversários, não conseguia receber convidados. A enxaqueca me atrapalhava a fazer atividades simples, como assistir à TV e ler livros”, relatou.

Diagnosticada com a doença aos 19 anos, foi encaminhada para o setor de Neurologia do Hospital das Clínicas da FMRP-USP e direcionada para tratamento complementar no Ambulatório de Cefaleia e Algias Craniofaciais. Seu quadro passou a ser monitorado e ela começou a fazer exercícios físicos, acompanhados de analgésicos e antidepressivos.

Ao ser convidada para integrar a pesquisa, aceitou na hora. “Foi uma grande sorte ter exatamente o perfil de paciente pretendido”, revela. “Os resultados obtidos com fisioterapia e massagens no pescoço são indiscutíveis”, festeja Andreia. Há um ano ela não precisa aplicar analgésicos na veia e teve suas crises de enxaqueca restritas a três dias da semana.

Serviço

Hospital das Clínicas da USP Ribeirão Preto
Telefone (16) 3602-1000

O artigo publicado na Archives of physical medicine and rehabilitation pode ser acessado aqui.

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 04/03/2016. (PDF)

Descarte Legal da Poli-USP dá destinação adequada ao lixo

Fruto de parceria de laboratório da faculdade com o Instituto GEA, iniciativa preserva o meio ambiente, capacita catadores e possibilita descarte correto de eletroeletrônicos

Parceria entre o Laboratório de Sustentabilidade em Tecnologia da Informação e Comunicação (Lassu), do Departamento de Engenharia de Computação (PCS), da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) com o Instituto GEA – Ética e Meio Ambiente, Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), permitiu o descarte ambiental correto de 17 mil eletroeletrônicos (computadores e impressoras, entre outros) da Caixa Econômica Federal.

Batizada de Descarte Legal, a iniciativa é um dos desdobramentos do Projeto Eco-Eletro, financiado pela Petrobras e instituído em janeiro de 2011. O serviço capacita, por meio do Lassu-USP, catadores vinculados às cooperativas de material reciclável e transmite técnicas de manuseio seguro de equipamentos, para preservar o meio ambiente e a saúde dos trabalhadores das ruas.

Resultados

A capacitação segue as diretrizes da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS – Lei nº 12.305, de 2010) e permite ao catador aumentar sua renda em função do trato correto desses equipamentos.

Com 60 horas de duração, o curso mostra como pré-processar os materiais, isto é, desmontar, identificar e separar as peças de computadores, impressoras e equipamentos de redes de comunicação, entre outros eletroeletrônicos. Além disso, ensina o meio seguro para apagar fisicamente (inutilizar) as trilhas e os setores de discos rígidos (HDs), CDs, DVDs e Blu-rays – e assim prevenir a recuperação indevida de bases de dados gravadas anteriormente.

Esse curso foi desenvolvido em parceria com o Centro de Descarte e Reúso de Resíduos de Informática (Cedir) da USP e capacitou 180 catadores da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP). O Descarte Legal foi realizado entre julho de 2013 e junho de 2015 e possibilitou o retorno à cadeia produtiva de 4,6 toneladas de alumínio; 1,6 tonelada de chumbo; 59,3 toneladas de ferro; 11,6 toneladas de placas eletrônicas e 54,4 toneladas de plástico. Seu desempenho positivo estimulou a Caixa Econômica Federal a renová-lo até 2017, além de estendê-lo para outras regiões do País.

Reaproveitamento

A professora Tereza Carvalho, coordenadora do Lassu e docente do PCS da Poli, conta que o trabalho vai render diversos frutos. Um deles será a criação de um futuro museu da informática na USP, com itens coletados; outro é a montagem de computadores de segunda mão. “Esse mérito é dos catadores. Inteligentes, eles aprenderam rapidamente a avaliar a qualidade da sucata. Quando compensa, não a descartam”, explica.

Outra ação foi formar, em 2014 e 2015, agentes multiplicadores do Eco-Eletro em universidades de outros Estados. Assim, orientou equipes da Feevale, de Novo Hamburgo (RS); da Fundação Joaquim Nabuco, de Recife (PE); das catarinenses Univille e Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), ambas de Joinville; da Federal de Minas Gerais (UFMG), de Belo Horizonte. Serão atendidas a seguir a Universidade de Brasília (UnB) e a Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), de Vitória (ES).

Outra iniciativa é oferecer on-line, no site do Eco-Eletro, o material didático usado nas capacitações (ver serviço). Além disso, serão lançados hoje (2), no Lassu, na Poli-USP, dois vídeos ligados ao projeto e o livro O catador eletrônico, de Fernando Portela. Com textos em português e inglês, conta a trajetória do Eco-Eletro acompanhada de fotos em preto e branco da pré-reciclagem feita pelos catadores. A publicação pode ser obtida gratuitamente, mediante pedido para o Lassu ou copiada no site do projeto (ver serviço).

Menos poluição

“O Brasil ainda não tem coleta pública de notebooks, celulares e televisores. Capacitar o catador atenua o problema de a população querer descartá-los de forma correta, mas, por falta de informação, acaba jogando-os no lixo doméstico”, observa a professora Tereza.

“Separar placas, plásticos, vidros, circuitos, baterias, gabinetes, ventiladores e processadores possibilita ao catador vender o quilo de lixo eletrônico por valores entre R$ 3 e R$ 7”, analisa. “Sem pré-processar, os ferros-velhos pagam só R$ 0,25 pelo quilo do conjunto do material”, destaca.

Engenheira eletrônica, a pesquisadora salienta que a veloz evolução tecnológica atual diminui o ciclo de vida dos equipamentos. Entretanto, o alto valor pago pelos eletroeletrônicos no País impede que sejam descartados rapidamente ainda que não sejam mais utilizados – e, muitas vezes, quando rejeitados, eles vão indevidamente para lixões.

Muitos componentes do lixo eletrônico contêm substâncias poluentes e tóxicas e, separá-las antes do descarte, evita doenças e contaminações. A lista de compostos perigosos inclui mercúrio, chumbo, cádmio, fósforo e lítio, entre outros. Por exemplo, um monitor de computador de tubo contém em média de 2 a 3 quilos de chumbo, ao passo que um televisor com a mesma tecnologia pode ter até 6 quilos.

Logística reversa

Segundo a professora Tereza, a Política Nacional de Resíduos Sólidos prevê acordos setoriais, ainda pendentes, entre os setores da cadeia produtiva dos eletroeletrônicos no Brasil. O objetivo deles é pôr em prática a chamada logística reversa e definir e consolidar as responsabilidades de fabricantes, revendedores, importadores, distribuidores e consumidores durante todo o ciclo de vida dos produtos – desde a produção até o descarte.

A pesquisadora salienta que cooperativas, órgãos públicos e empresas interessados em desenvolver práticas sustentáveis para suas cadeias produtivas, bem como competências na área, podem recorrer ao Lassu. Além de manter pesquisas sobre o tema, oferece assessoria e treinamentos especializados, orientando sobre como atuar de acordo com a PNRS.

O trabalho do Lassu conquistou vários prêmios: dois Mario Covas, em 2009 e 2011, na categoria Inovação em Serviços Públicos; o 1º lugar na categoria Tecnologia e o 2º na categoria Social em 2013 do Prêmio von Martius de Sustentabilidade, concedido pela Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha; e dois troféus, em 2013 e 2015, na categoria Academia do Prêmio Fecomércio de Sustentabilidade, conferido pela Federação do Comércio do Estado de São Paulo.

Serviço

Laboratório de Sustentabilidade (Lassu-USP)
Telefone (11) 3091-1092

Instituto GEA
Projeto Eco-Eletro (livro e material didático)

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 02/03/2016. (PDF)