Sobre: Rogerio Mascia Silveira

Brazilian journalist

Jaqueta para motociclista com airbag é inovação apoiada pelo IPT

Desde 2015, laboratórios do Instituto de Pesquisas Tecnológicas aprimoram equipamento de proteção; colete é fabricado por microempresa da Grande São Paulo

Um dispositivo de amortecimento, pioneiro no Brasil e cujo desenvolvimento teve início em 2015, foi aperfeiçoado com o auxílio do serviço de Qualificação Técnica para Aprimoramento de Produtos (Qualimint), do Núcleo de Atendimento Tecnológico às Micro e Pequenas Empresas (NT-MPE) do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). Trata-se de um colete de segurança para motociclistas com um sistema interno exclusivo de bolsa inflável (airbag) para aumentar a proteção contra colisões, quedas e impactos.

Proprietário da Inflajack, empresa de Cotia, município da Região Metropolitana de São Paulo, o administrador Milton Nakamura diz que decidiu, em 2014, abrir a empresa. Segundo ele, a meta da empresa contratante do IPT era passar a fornecer ao mercado nacional um equipamento de proteção individual (EPI) de qualidade superior ao comercializado no País por fábricas japonesas, chinesas, italianas e francesas (ver serviço).

“O intuito era ampliar a segurança de um imenso contingente de motociclistas circulando pelas ruas e estradas do Brasil”, diz Nakamura. Desse público-alvo, destaca, atender especialmente os profissionais cuja vida é ganha sobre duas rodas – policiais, motoboys, bombeiros, agentes de trânsito, além dos que atuam no resgate de vítimas de acidentes e aqueles especializados em reparos de rede elétrica.

Pioneirismo

“O apoio do Laboratório de Tecnologia Têxtil do IPT foi fundamental para realizar diversos ensaios mecânicos e de abrasão com o tecido 100% poliéster usado nas jaquetas e coletes”, revela o administrador. Segundo ele, outro dado importante aferido abrangeu um conjunto de quatro câmeras de radiação infravermelha. Elas foram usadas, explica ele, para comprovar a eficácia do sistema de proteção, dentro da margem de segurança para a insuflação do airbag.

Nakamura informa que o sistema de proteção do colete funciona com um cabo partindo dele acoplado sob o banco da motocicleta. Quando ocorre um acidente e o motociclista ‘decola’, em uma fração de tempo de até 0,2 segundo, o cilindro interno com gás carbônico, instalado no interior da jaqueta, infla o airbag. Desse modo, a bolsa de proteção possibilita minimizar impactos de eventuais batidas em cinco regiões vitais do corpo do condutor: coluna cervical, cóccix, caixa torácica frontal, clavículas e pescoço.

Salvar vidas

“Embora esse EPI não seja de uso obrigatório pela legislação brasileira de trânsito, era primordial ter total credibilidade e confiabilidade em seu desenvolvimento. Afinal, a jaqueta tem potencial para salvar vidas”, justifica Nakamura. Segundo ele, optar pelo IPT para fazer os testes e aprimorá-la foi uma escolha natural, por causa da vasta experiência do instituto, inclusive internacional, na produção de ensaios, laudos técnicos e certificações.

“Entre maio e setembro de 2015, avaliamos no Laboratório de Tecnologia Têxtil a resistência das fibras do tecido e a medição da força necessária para o acionamento do sistema de airbag”, revela a pesquisadora Gabriele Paula de Oliveira. “Atualmente, estudamos a resistência de outros materiais para serem usados nas peças.”

Fabricadas na microempresa com dez funcionários, as peças são usadas, por exemplo, por agentes de equipes de campo da AES Eletropaulo, Departamento de Estradas de Rodagem (DER) de Brasília, Departamento de Trânsito (Detran) do Distrito Federal, Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de Recife (PE) e Polícia Militar e Corpo de Bombeiros do Estado do Mato Grosso do Sul.

Custo

Em média, cada jaqueta Inflajack com airbag custa R$ 2,5 mil. “Hoje, por uma questão tributária, o tecido usado em sua fabricação é classificado pela legislação como material supérfluo e não como item de segurança. Para diminuir custos, pleiteamos essa mudança no Ministério do Trabalho. Atualmente, os motociclistas ocupam seis em cada dez leitos do Sistema Único de Saúde (SUS) e há expectativa de que, no futuro, esse equipamento seja de uso obrigatório, como, por exemplo, é o capacete”, argumenta Nakamura.

Os próximos passos da Inflajack com o IPT são desenvolver novos materiais ainda mais resistentes. “Estamos em fase de testes e em breve pretendemos assinar novo Qualimint”, adianta o administrador. Um dos destaques será incorporar, gradativamente, opções de acessórios, como microcâmera portátil e GPS, avaliados na primeira parceria, de 2015, pela Seção de Automação, Governança e Mobilidade Digital do IPT.

Nesse sentido, conta o engenheiro eletricista do IPT, Matheus Jacon Pereira, a proposta era avaliar a possibilidade de registrar itinerários e, também, informar, em tempo real, a localização do agente de campo pelo GPS da jaqueta. “A ideia é, no futuro, enviar imagens de informações urgentes, como, por exemplo, a localização de um acidente para equipes de socorro, se há feridos, etc. No estudo de viabilidade entregue, foi indicado levantamento de mercado com algumas soluções para atender às demandas solicitadas”, observa.


Atendimento ilimitado

Empregar experiência fabril e conhecimento técnico para impulsionar o desenvolvimento do setor produtivo paulista. Desde 1999, essa é a proposta do Núcleo de Atendimento Tecnológico à Micro e Pequena Empresa (NT-MPE), conjunto de programas do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) com mais de 5 mil serviços no currículo prestados para as micro e pequenas empresas paulistas.

“Esses atendimentos são direcionados a negócios com faturamento anual de até R$ 90 milhões e podem ter até 90% de seus custos subsidiados pela Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação. Assim, o empreendedor desembolsa, no mínimo, os 10% restantes, de acordo com cada caso”, informa Mari Katayama, diretora do NT-MPE.

Serviço

Núcleo de Atendimento Tecnológico à Micro e Pequena Empresa do IPT (NT-MPE)
E-mail ntmpe@ipt.br
Telefone (11) 3767-4204

Inflajack

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 23/08/2017. (PDF)

Fundo patrimonial privado financia projetos na Poli-USP

Desde 2012, doações de ex-alunos e simpatizantes viabilizaram 60 projetos de ensino e pesquisa na Escola Politécnica; site do Fundo Patrimonial Amigos da Poli detalha seu funcionamento e orienta como colaborar

Conciliar capacidade de gestão com criatividade, além de demonstrar gratidão, para criar uma fonte permanente de recursos para viabilizar projetos acadêmicos inovadores de caráter científico e de cidadania. Com esse espírito, um grupo de ex-estudantes da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) criou, em fevereiro de 2012, o Fundo Patrimonial Amigos da Poli. Pioneira no País, a associação tem como finalidade a captação de doações de simpatizantes, de alunos e ex-alunos da instituição em uma grande rede colaborativa.

O diretor presidente do fundo, Lucas Sancassani, explica que esse modelo de captação de recursos a partir de um fundo patrimonial (endowment) inspira-se em experiências bem-sucedidas de universidades europeias e norte-americanas. Segundo ele, o dinheiro recebido por meio de doações é aplicado em investimentos financeiros diversificados e gera excedentes – o montante é reinvestido nos anos seguintes.

“Com gerenciamento adequado, profissionalismo e transparência, o patrimônio acumulado gera rendimentos anuais acima da inflação. Parte da capitalização é, então, direcionada aos projetos de ensino e pesquisa da Poli”, explica Sancassani, engenheiro elétrico, formado em 2006 na escola da USP, localizada no câmpus da Cidade Universitária, Butantã, zona oeste da capital.

História

A associação de ex-alunos da Poli-USP formou-se em 2008, reúne profissionais de perfil diversificado e inclui empresários de segmentos econômicos variados e agentes do mercado financeiro. Muitos deles conheceram o endowment em programas de especialização em universidades estrangeiras.

“Vemos como fundamental esse tipo de apoio para o progresso do ensino superior no País. Nosso propósito é devolver para a sociedade todo o apoio que recebemos ao longo de nossa formação”, diz, orgulhoso, o atual presidente do grupo de voluntários.

O desafio inicial, segundo Sancassani, foi a formatação de um modelo jurídico adequado para a criação do fundo patrimonial e definir seu modelo de governança. Ele é composto por conselho deliberativo, com a participação de professores da instituição no grupo gestor.

“A associação foi constituída com R$ 4,3 milhões em doações”, revela o engenheiro. Nos últimos meses, as contribuições aumentaram e, em julho, o fundo totalizou R$ 15 milhões acumulados de patrimônio, montante que possibilitou investir R$ 1,6 milhão em 60 projetos.

Doações

Nas universidades norte-americanas, o dinheiro obtido com o endowment é utilizado para o próprio custeio. Nos últimos 70 anos, muitos centros científicos de relevância acumularam bilhões de dólares em reservas e rendimentos. Como exemplos, Sancassani cita as universidades americanas de Harvard, com US$ 30 bilhões em caixa, Yale, US$ 20 bilhões, e Columbia, US$ 10 bilhões.

“Nossa proposta é diferente e prevê a aplicação dos recursos exclusivamente em projetos internos e de capacitação dos alunos”, sublinha o também ex-universitário da Poli e diretor financeiro do fundo, Samuel Oliveira. “Os projetos apoiados contemplam mais de 600 politécnicos, incluindo alunos, servidores e professores, mas há espaço para crescer muito mais”, afirma Oliveira.

A associação, ele ressalta, tem hoje 600 doadores cadastrados e, a cada ano, aproximadamente 750 estudantes se formam na Poli-USP. “Temos a proposta de integrar e aproximar cada vez mais esse público. Fazer a doação é simples e qualquer valor interessa. Basta entrar no site do fundo, inclusive usando cartão de crédito, para concretizar a destinação”, explica (ver serviço).

Seleção

Todo ano, as contas da associação passam por auditoria externa e independente, realizada pela empresa BDO Brasil. No mês de abril, o fundo publica em seu site edital para inscrição de projetos (ver serviço). Uma banca examinadora, integrada por professores da Poli-USP e representantes do fundo, seleciona os melhores. Para isso, são considerados cinco pontos: empreendedorismo, trabalho em equipe, liderança, cidadania e inovação.

“Mesmo quem não é aprovado se beneficia. É possível conhecer os projetos no site do fundo, bem como consultar o estatuto da associação e seus balanços anuais”, diz Oliveira. Entre os projetos contemplados, ele destaca patrocínios às equipes de competição da Poli-USP, como o desenvolvimento de robôs, aviões e baja (veículo off-road), apoio à participação de alunos em torneios internacionais de ciência e outros trabalhos de impacto social.

Um dos selecionados foi o desenvolvimento de próteses e órteses humanas de baixo custo para pessoas com deficiência. Orçado em R$ 50 mil, com 75% concluídos, o projeto, coordenado pelo professor doutor Pai Chi Nan, pretende viabilizar a produção em escala industrial das peças, ao custo médio de R$ 1 mil cada uma, para serem utilizadas por pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). No mercado, alguns desses dispositivos chegam a custar até R$ 150 mil.

De acordo com os gestores do Fundo Patrimonial Amigos da Poli, o retorno obtido nesses cinco anos despertou o interesse de outras instituições acadêmicas públicas e particulares para criar associações similares. Na própria USP, foram recebidas manifestações das faculdades de Medicina, de Direito e de Economia, Administração e Contabilidade (FEA).

Serviço

Fundo Patrimonial Amigos da Poli
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E-mail contato@amigosdapoli.com.br

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página IV do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 17/08/2017. (PDF)

Tomate sem semente é inovação da Esalq-USP

Tecnologia genética desenvolvida dispensa fertilização da planta e uso de hormônios; pesquisadores procuram parceiros para as próximas etapas do projeto

Uma variedade nova de tomate sem semente e na medida para fazer molhos. Esse sonho de muitos cozinheiros – e desejo da indústria alimentícia e dos que têm dieta restrita por recomendação médica – ganhou impulso com uma tese de doutorado defendida em julho do ano passado. A novidade segue seu desdobramento no Laboratório de Genética Molecular do Desenvolvimento Vegetal da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP).

Orientado pelo agrônomo Fabio Tebaldi Silveira Nogueira, professor do Departamento de Ciências Biológicas, o estudo acadêmico foi a tese do biólogo Eder Marques da Silva. De acordo com Nogueira, a proposta inicial do trabalho, auxiliado pelo pesquisador Lázaro Peres, também da Esalq-USP, era compreender de que maneira ocorre o avanço dos órgãos reprodutivos dos vegetais, em especial o da genética dos frutos e sementes, elementos participantes nesse processo da planta.

Molécula

Tudo começou, lembra o professor Nogueira, em 2012, quando ele era docente do Instituto de Biociências de Botucatu da Universidade Estadual Paulista (Unesp). “Com o apoio de bolsas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapesp), partimos do zero no laboratório para identificar, no estudo dos genes do tomateiro, uma molécula de RNA capaz de, uma vez induzida, permitir à planta produzir frutos sem precisar ser polinizada e fertilizada”, revela.

Trata-se da microRNA159, molécula presente em todos os vegetais. A partir de sua identificação e comprovação de sua viabilidade, com mais de quatro anos de testes em muitas gerações de tomateiros, somente obtendo frutos sem sementes, abriu-se um novo campo de estudos e perspectiva para a produção agronômica. “Essa tecnologia é inédita e tem base na genética, diferentemente da empregada em alguns cultivos de uva, laranja e melancia, centrada na aplicação de hormônios para induzir a produção de frutos sem sementes”, explica Nogueira.

Patentes

Na semana passada, o estudo da Esalq-USP foi publicado na revista científica internacional The Plant Journal e pode ser acessado on-line, na íntegra (ver serviço). Agora, o próximo passo do trabalho, informa o professor, é criar um método científico que possibilite a aplicação direta da molécula de RNA nas flores, a fim de produzir frutos sem sementes, mas sem modificar geneticamente as plantas, outro diferencial do projeto.

“Buscamos encontrar, até o começo do ano que vem, parceiros para financiar esse desenvolvimento, e inclusive, para compartilhar conosco a propriedade intelectual dessa inovação, isto é, iniciar o processo de patenteamento. Entretanto, para produção em larga escala de tomate sem semente, há ainda um longo caminho a ser trilhado. Eventuais interessados em saber mais sobre a pesquisa ou em se associar devem nos procurar na Esalq-USP”, revela (ver serviço).

Controle

Nos estudos em laboratório, o grupo da Esalq-USP utiliza uma variedade não comercial de tomate, denominada Micro Tom, somente para pesquisa, porém, muito parecida e geneticamente semelhante às variedades comerciais do alimento convencional, inclusive no sabor, cor, textura, etc. “Além disso, a metodologia concebida para o tomate pode ser aproveitada no futuro, por exemplo, no cultivo de outras frutas sem semente, como maracujá, melão e goiaba”, informa Nogueira.

Outro destaque do projeto é seu apelo ambiental e ecológico. Por causa do aumento da temperatura causado pelo aquecimento global, vem ocorrendo a diminuição de populações de espécies polinizadoras, como as abelhas, participantes dos processos reprodutivos das plantas.

“Com a tecnologia elaborada, os frutos gerados são produzidos independentemente da oferta de pólen. Assim, será possível produzir reduzindo a necessidade de insetos polinizadores. Na natureza, fruto nascer sem sementes é fenômeno raro e imprevisível, inclusive o próprio tomate. Agora, com o controle da ciência é uma inovação”, explica.

Serviço

Laboratório de Genética Molecular do Desenvolvimento Vegetal (Esalq-USP)
E-mail ftsnogue@usp.br
Telefone (19) 3429-4052

Artigo sobre a pesquisa na The Plant Journal

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 16/08/2017. (PDF)