Médicos da APM de Araraquara avaliam o momento atual da Covid-19
O surgimento da variante Ômicron, a nova cepa do SARS-CoV-2, vírus causador da Covid-19, tem gerado diversas discussões na sociedade médica. Nesta quarta-feira (8), a Organização Mundial da Saúde (OMS) informou que pessoas que já tiveram a doença poderiam ser mais facilmente reinfectadas pela nova cepa. Isso porque, de acordo com estudos preliminares, a variante Ômicron pode reduzir a atividade neutralizante de anticorpos produzidos por imunidade natural. Diante do atual cenário, o impacto na eficácia das vacinas é uma das primeiras questões levantadas pelos cientistas.
Ainda sem uma resposta conclusiva, a orientação geral dos médicos, entretanto, é de que a vacina é primordial para a proteção da população contra a Covid-19. Segundo a infectologista Estela Maura Cirino Cattelani, a produção de anticorpos no organismo não é atingida plenamente se não forem tomadas pelos menos as duas doses iniciais da vacina. “Por enquanto, muita gente só tomou a primeira dose”, comenta.
Formada em Medicina pela Puccamp (Pontifícia Universidade Católica de Campinas) em 1987, Dra. Estela fez residência em São Paulo no Instituto Emílio Ribas. Em 1990, mudou-se para Araraquara, onde atende em seu consultório e no Serviço Especial de Saúde, da Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo). Ela também é docente na Uniara (Universidade de Araraquara) e leciona a disciplina de Moléstias Infecciosas.
Risco de Mutação
Opinião parecida com a da Dra. Estela tem o pneumologista Eduardo Ferraz Hage. “Tudo que se fala sobre coronavírus envolve muitas novidades como, por exemplo, a variante Ômicron, cuja principal característica é ter perfil genético com capacidade de mutação preocupante, embora os doentes com a variante têm tido sintomas leves, sem dizer quando não são assintomáticos”, destaca Dr. Eduardo.
Mas ele ressalta que ainda falta verificar como as vacinas agirão contra a variedade Ômicron. Na avaliação dele, contudo, apesar do número significativo de vacinados, é preciso aguardar a evolução das variantes do vírus. “O risco de contaminação persiste”, alerta o médico, que esteve à frente no combate da epidemia em Araraquara, atuando na enfermaria do Hospital São Paulo e no Ambulatório de Covid da Unimed.
Cepa de Manaus
Há 32 anos o Dr. Eduardo Ferraz Hage atua como pneumologista no consultório e em hospitais. Ele tem 59 anos, se formou na Faculdade de Medicina de Marília (Famema) e fez residência médica no Hospital do Mandaqui, em São Paulo. Da experiência na luta contra a Covid-19, ele destaca o fato de Araraquara ter sido a primeira cidade brasileira a ser atingida pela cepa que apareceu em Manaus (AM), um motivo de muitas mortes e internações na capital amazônica.
“Em janeiro de 2021 foi um verdadeiro tsunami. Nós, das equipes médicas, e os agentes da saúde trabalhamos em média 18 horas por dia. No início, a maioria dos pacientes era idosa com comorbidades. Nos dois meses seguintes, com a extensão da vacinação, o aumento de casos passou a ser de pacientes com idades entre 30 e 55 anos, ainda não imunizados”, recorda.
“Hoje, avalio como razoável vacinar toda a população a partir dos 10 anos de idade”, conclui o Dr. Eduardo.
O plasma do Butantan
Um dos principais aprendizados deixados pela Covid-19 para os médicos foi a importância de se fazer anamnese, isto é, de ouvir mais os pacientes. “É preciso saber como é o início da doença, os sintomas, a história e a evolução clínica do paciente para, então, iniciar o tratamento”, ressalta. Para ilustrar o fato, o Dr. Eduardo cita o exemplo pioneiro da transfusão de plasma, tratamento desenvolvido pelo Instituto Butantan e usado com muito sucesso em Araraquara.
Com foco na diminuição da ação do vírus no organismo, o plasma consiste em injetar anticorpos no paciente, nos cinco primeiros dias da doença. O objetivo é tentar brecar a infestação, em especial em órgãos vitais como pulmões e rins. “Quanto antes o plasma era aplicado, melhores eram os resultados obtidos”, comenta o pneumologista, destacando outro aprendizado obtido na linha de frente ao combate à pandemia.
Variante Ômicron e as vacinas
Ainda que não esteja clara a eficácia das vacinas diante da variante Ômicron, os médicos alertam para a necessidade de tomar a terceira dose contra a Covid-19. podendo este reforço na imunização ser semestral. Esta questão, no entanto, segue em aberto, já que nenhuma vacina protege 100% contra a doença e muitas pesquisas sobre o assunto ainda estão sendo realizadas.
“O vírus da Covid-19 segue circulando, não vai embora, assim como o da gripe e de outras enfermidades causadoras de óbitos”, alerta a Dra. Estela. “Até que haja um controle total sobre a pandemia, medida preventiva como o uso de máscara continua obrigatória, assim como quando estiver em um restaurante, evitar gritar e só tirar a máscara para comer”, completa.
“A Covid-19 veio para ficar, portanto, a higienização das mãos é fundamental para a proteção contra o coronavírus e outros vírus letais”, acrescenta o Dr. Eduardo. “A retomada das atividades por parte da sociedade deve seguir seu rumo, entretanto, sem abrir mão do bom senso e da segurança, isto é, sempre usando máscara em locais abertos e fechados. Nesse sentido, festas com grandes aglomerações como réveillon e carnaval podem ser adiadas por mais um ano. Para participar de eventos deveria ser obrigatório, então, apresentar a carteira de vacinação com o registro das duas primeiras doses. Isso certamente aumentaria a segurança”, finaliza.
Reportagem publicada originalmente no site da APM Araraquara.