Instituto Biológico alerta sobre os cuidados com pragas em alimentos

Além da validade, consumidor deve conferir a manipulação dos gêneros e a higiene da loja, inclusive a presença de insetos no local; a despensa da residência deve ser verificada uma vez por semana

O Instituto Biológico (IB), órgão da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (SAA), orienta o consumidor sobre quais cuidados tomar para evitar contaminação por pragas, como carunchos e traças presentes no macarrão, arroz, farinha de trigo, fubá, achocolatados e bombons, bem como em produtos vendidos a granel, como ração para animais de estimação (pets), entre outros itens.

De acordo com o engenheiro agrônomo Marcos Roberto Potenza, da Unidade Laboratorial de Referência em Pragas Urbanas (ULR) do IB, para evitar esse risco, a orientação é sempre verificar as condições de armazenamento dos produtos (que devem estar em recipientes bem fechados), além de conferir como se dá a manipulação dos itens e a higiene do ponto comercial. Além disso, sugere observar, inclusive, a conservação predial e a presença de insetos voando pelo ambiente.

Segundo Potenza, as infestações podem ocorrer em massas, grãos, farinhas, farelos, cereais matinais, bolachas e biscoitos, chás desidratados e ervas aromáticas e condimentares, como hortelã, camomila, salsa, manjericão, coentro, tomilho e erva-doce. “Até chegar ao consumidor, o alimento passa por uma cadeia complexa, envolvendo transporte, armazenamento e comercialização. Muitas vezes, a infestação ocorre nessas etapas e não nos processos industriais”, comenta Potenza.

Contaminação

Segundo ele, os fabricantes têm modernizado seus processos e investido na certificação dos fornecedores, de modo a assegurar matérias-primas sem insetos. Entretanto, quando se constata a irregularidade, a missão da ULR é averiguar qual a origem do inseto e em que momento ocorreu a contaminação.

Uma hipótese é ter ocorrido falha nas chamadas boas práticas de fabricação, como, por exemplo, se alguma praga típica do alimento, como caruncho ou traça, já estava presente no momento da colheita, e se os procedimentos de beneficiamento e desinfestação não foram efetivos.

Na maioria dos casos, carunchos e traças não oferecem risco à saúde pública. Entretanto, moscas, baratas, formigas ou roedores, por se tratarem de vetores mecânicos de patógenos, são potenciais disseminadores de doenças.

“Ninguém precisa deixar de comprar a granel, deve somente analisar as condições do local de comercialização e como o produto está exposto. No caso de prateleiras de supermercados, quando a embalagem for transparente, é possível buscar indicativos de contaminação ainda na gôndola”, destaca Potenza.

Esses sinais, comenta, podem ser fios de seda feitos pelas lagartas das mariposas ou grãos de cereais perfurados por carunchos. Outro problema comum, comenta o agrônomo do IB, é a chamada infestação cruzada.

Esse tipo de contaminação ocorre quando algum produto da despensa da residência têm insetos e estes se dispersam para outros alimentos a granel ou industrializados. “Ao abrir o armário, a dica é sempre dar uma espiada em todo o conjunto armazenado, inspecionando prazos de validade. E sempre conferir tudo ao menos uma vez por semana”, aconselha Potenza.

Atendimentos

Quem tiver dúvida pode recorrer aos canais de comunicação da ULR do IB (ver Serviço). Em média, o Laboratório, órgão da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), atende cerca de mil solicitações provenientes de consumidores e da indústria alimentícia por ano. Quando esses pedidos não geram laudos, os serviços são gratuitos e a resposta costuma chegar em até dez dias, dependendo do problema a ser analisado.

De acordo com o biólogo Francisco Zorzenon, diretor da ULR-IB, as solicitações incluem a identificação de pragas urbanas, trabalhos relacionados a biologia, métodos de controle, resistência de embalagens à perfuração e taxa de sobrevivência dos insetos em matérias-primas: “O IB é referência brasileira no assunto e tem proximidade com todos os elos envolvidos nas cadeias de armazenamento, produção e comercialização, auxiliando no diagnóstico, prevenção e controle das pragas urbanas”.


Sinaprave

No período de 18 a 21 de junho, a ULR irá realizar na sede do IB, na Vila Mariana, capital paulista, o Simpósio Nacional de Pragas e Vetores (Sinaprave). De âmbito nacional, o encontro tem por objetivo promover o debate e ampliar o intercâmbio técnico-científico entre os diferentes elos do País envolvidos com a pesquisa, diagnóstico, prevenção, manejo e controle das pragas sinatrópicas, também conhecidas como pragas urbanas.

“A programação do Sinaprave procura atender os diferentes segmentos envolvidos e impactados pelas pragas urbanas em arborização urbana, em produtos industrializados e em patrimônios históricos. Todas as informações a respeito do encontro estão disponíveis on-line no site do simpósio”, explica o engenheiro agrônomo Marcos Roberto Potenza, da Unidade Laboratorial de Referência em Pragas Urbanas (ULR).

Serviço

Unidade Laboratorial de Referência em Pragas Urbanas do IB
Tel. (11) 5087-1711
E-mail potenza@biologico.sp.gov.br

Sinaprave

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página I do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 09/06/2018. (PDF)

Instituto Biológico avalia riscos do percevejo-de-cama

Pesquisa integrante de projeto internacional irá verificar se a picada desse inseto pode causar doenças; quem encontrar exemplar da espécie deve remetê-lo para o IB

Pesquisa do Instituto Biológico (IB), vinculado à Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento, irá mapear a incidência no Brasil do percevejo-de-cama, inseto cuja alimentação se baseia no sangue de humanos e de animais – cães, gatos, morcegos e aves.

A responsável pelo estudo, a bióloga Ana Eugênia de Carvalho Campos, explica que o intuito é receber o máximo possível de exemplares da praga vindos de todo o território nacional para determinar se, além da coceira e da perturbação do sono, a picada também pode provocar doenças.

Segundo a pesquisadora, o percevejo-de-cama pertence ao mesmo grupo de insetos do barbeiro, vetor da doença de Chagas – moléstia tropical causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi com registro de muitos casos no Brasil e cujo ciclo de transmissão ocorre por meio da picada do inseto hematófago.

Na etapa posterior do projeto do IB, será analisado o código genético dos exemplares capturados em busca de traços de micro-organismos, como bactérias, vírus e protozoários relacionados às doenças transmitidas pelo sangue.

Multiplicação

Presente em todos os continentes e vivendo escondido em residências, o percevejo-de-cama alimenta-se de sangue nas suas fases jovem (ninfa) e adulta. Até a década de 1960, a população mundial da espécie esteve sob controle, por causa do uso de pesticidas clorados de amplo espectro, porém, de alta toxicidade e concentração residual, principalmente o DDT (diclorodifeniltricloroetano).

Com a gradual troca desses inseticidas por outros menos agressivos ao meio ambiente e direcionados a pragas específicas (baratas, pulgas e cupins), o número de exemplares do inseto explodiu nas últimas décadas.

Hoje, é praga considerada reemergente no País, isto é, representa novamente ameaça à saúde pública. “No passado, as infestações restringiam-se a locais insalubres, como cadeias e centros dedicados a pessoas em situação de rua.

Agora, ocorrem em casas, hotéis, cinemas, trens, metrôs, navios, aviões e até nos assentos de ônibus”, observa Ana Eugênia. Em sua avaliação, as causas da multiplicação descontrolada e da dispersão são diversas e incluem a globalização, os fluxos migratórios e o fato de não haver predadores naturais, além da circunstância de o inseto resistir até um ano sem se alimentar.

Inspeção

O inseto tem cor marrom avermelhada e seu corpo é achatado, com 5 a 7 milímetros de extensão, tamanho equivalente a uma semente de maçã. Ele não tem asas, nem salta, porém, anda rápido, e tanto machos quanto fêmeas picam as áreas desprotegidas da pele.

A praga habitualmente esconde-se nas frestas da cama e do colchão, sob o estrado, lençóis, fronhas, travesseiros e cobertores; e também vive infiltrada em áreas de descanso, como sofás e almofadas e em tecidos, móveis, cortinas e quadros.

Ao chegar a um quarto de hotel, o hóspede deve, antes de abrir as malas, inspecionar cuidadosamente o local e os móveis, além de retirar o lençol para conferir se há no colchão insetos ou marcas escurecidas. Caso sejam encontradas, elas podem ser das fezes do percevejo, pois a praga defeca depois de picar.

Outro sinal de infestação é que ele exala um cheiro semelhante ao da chamada maria-fedida. “É importante assegurar que o local está livre da praga, pois a fêmea faz a postura dos ovos na roupa das pessoas e, quando elas seguem viagem, os transportam na bagagem para outros destinos”, alerta a bióloga.

As picadas costumam ser alinhadas, em número de duas ou três, e provocam reação, de acordo com a sensibilidade de cada pessoa, assim como deixam marcas na pele. Em caso de infestação, a recomendação é contratar, se possível, uma empresa de desinsetização com experiência no controle de percevejos-de-cama, além de passar higienizador a vapor e depois aspirador de pó em todas as frestas e superfícies onde foram localizados os insetos.

Em seguida, deve-se incinerar o saquinho coletor de resíduos do eletrodoméstico. Por fim, é preciso lavar todas as roupas de cama e tecidos e secá-los na máquina com temperatura máxima. Quem não tiver secadora, deve deixá-las no sol e depois passar com ferro quente.

Pesquisa

No mundo, a espécie mais comum é a Cimex lectularius e no Brasil há também incidência da Cimex hemipterus. Desde 2012, a Unidade Laboratorial de Referência em Pragas Urbanas do Instituto Biológico, a única do gênero do País, mantém em seu site um link exclusivo para orientar cidadãos e empresas de desinsetização sobre como eliminar a praga. Esse serviço inclui questionário on-line, e sua proposta é identificar as espécies e a procedência dos insetos encontrados (ver serviço).

Essa orientação, destaca Ana Eugênia, surgiu como desdobramento de um curso ministrado em setembro de 2011 pelo especialista em percevejo-de-cama Roberto Pereira, da Universidade da Flórida (Estados Unidos).

Na época, ele alertou as autoridades brasileiras sobre os riscos da praga reemergente e a necessidade de ela ser mais bem estudada e reavaliada. Até março de 2017, o IB havia recebido 450 respostas do questionário; desses relatos, 432 atestaram a presença de exemplares encontrados nas residências: “Ou seja, a praga está restabelecida no País”, conclui a bióloga.

Internacional

O estudo do Instituto Biológico integra pesquisa da University Hospital Cleveland Medical Center & Case Western Reserve University, dos Estados Unidos, que tem o intuito de também averiguar se o percevejo-de-cama pode transmitir doenças. Dessa forma, os dados obtidos no território nacional pelo IB serão incorporados até agosto ao projeto internacional. Para isso, Ana Eugênia faz um apelo:

“Quem encontrar percevejos-de-cama em casa, deve enviá-los ao IB pelo correio, em vidro com álcool de concentração 70% ou mais, informando no rótulo o CEP do endereço onde foi realizada a coleta”. De acordo com a bióloga, cerca de 20 miligramas são suficientes para conservar os insetos e “essa substância para preservar os exemplares da praga custa cerca de R$ 3 em farmácias (ver serviço).

Serviço

Orientações do Instituto Biológico sobre o percevejo-de-cama
Para esclarecer dúvidas sobre a praga: anaefari@biologico.sp.gov.br

Remessa de frascos para o IB com percevejos-de-cama:
Aos cuidados de Ana Eugênia de Carvalho Campos
Av. Conselheiro Rodrigues Alves, 1.252
Vila Mariana – CEP 04014-002 – São Paulo (SP)

Rogério Mascia Silveira
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Reportagem publicada originalmente na página II do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 04/05/2017. (PDF)