EMTU inicia em dezembro teste com ônibus a álcool

O Centro de Referência em Biomassa (Cenbio) do Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE) da Universidade de São Paulo (USP) lançou, na Cidade Universitária, na capital, o primeiro ônibus movido a álcool (etanol) do País. O veículo é a principal aposta do consórcio internacional Best, sigla em português do Projeto Bioetanol para o Transporte Sustentável.

O projeto investiu R$ 1,6 milhão no ônibus a etanol. A intenção é estimular o uso do álcool brasileiro, por ser menos poluente, como substituto para o diesel no transporte público urbano. No Brasil, a iniciativa é coordenada pelo Cenbio e realizada em parceria com a Empresa Metropolitana de Transporte Urbano (EMTU), Scania, Copersucar, Marcopolo, SPTrans, Baff/Sekab, União da Indústria Canavieira (Única) e Petrobras.

Tecnologia sueca

A produção do veículo demorou dois anos até o lançamento. O ônibus tem 270 cavalos de potência e é vendido pela Scania por R$ 500 mil. Tem ruído equivalente ao movido a diesel, carroçaria nacional e chassi e motor suecos. Transporta 63 passageiros (31 sentados) e dispõe de ar-condicionado e piso rebaixado para o acesso de pessoas portadoras de necessidades especiais.

No mês de dezembro, será testado no Corredor São Mateus-Jabaquara da EMTU. Estão previstas paradas em nove terminais das zonas leste e sul da região metropolitana de São Paulo. O resultado da avaliação na capital será encaminhado à União Europeia, que fará recomendações para a formulação e adoção de políticas públicas voltados ao uso do combustível renovável na frota pública.

Eficiência equivalente

O professor José Roberto Moreira, do IEE, coordena os estudos do Best no Brasil. Segundo ele, o ônibus a álcool é mais caro e gasta 20% mais combustível em comparação com o diesel. Porém, reduz em 93% a emissão de dióxido de carbono, um dos principais poluentes do ar das metrópoles.

“O motor tem eficiência equivalente à do diesel, mas reduz a emissão de partículas em 90% e a de dióxido de nitrogênio em 62%. Outra vantagem é não emitir enxofre, principal elemento químico causador da chuva ácida”, destaca.


Energia brasileira circula na Suécia há 18 anos

Novidade no País, o ônibus movido a álcool brasileiro impulsiona, desde 1989, 400 dos mil veículos da frota da capital sueca (Estocolmo). A nação escandinava possui legislação ambiental mais restritiva que a nacional em relação à emissão de poluentes. Além disso, já rodam em outras cidades daquele país mais 200 unidades baseadas na energia proveniente da cana.

A frota da região metropolitana da capital é de 15 mil ônibus. Além de São Paulo, a iniciativa do Best realiza testes em Dublin (Irlanda), La Spezia (Itália), Estocolmo (Suécia), Somerset (Reino Unido), Roterdã (Holanda), Nanyang (China), Madri e País Basco (Espanha).

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página I do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 01/11/2007. (PDF)

Poluição atmosférica e Amazônia marcam último dia da Conferência de Bioenergia

Especialista apontou opções sustentáveis para a exploração da Região Norte sem necessidade de desmatamento e queimadas

No último dia da Conferência Nacional de Bioenergia, o geógrafo e professor da Universidade de São Paulo (USP), Wanderley Messias da Costa, coordenou o painel Bioenergia e Meio Ambiente. O evento foi organizado pela USP e realizado no Hotel Maksoud Plaza, na capital, entre os dias 26 e 28 de setembro.

Especialista em Amazônia, Wanderley demonstrou opções sustentáveis para a exploração da Região Norte brasileira sem, contudo, promover mais desmatamento e queimadas, uma das causas do aquecimento global. “O caminho é reforçar a fiscalização para preservar áreas as intocadas e ocupar as já desmatadas e disciplinar o avanço da pecuária e da soja”, explica.

“Por fim, é preciso promover o desenvolvimento econômico da Região Norte. O Pará é o maior produtor de abacaxi do País e está se transformando em potência agrícola. É preciso atualizar as leis ambientais e apresentarmos novos planos sobre essa área do território nacional, com 20 milhões de habitantes, mas apresentada perante a mídia como intocada e indefesa”, analisou.

Verdades inconvenientes

Na sequência, o professor Paulo Saldiva, coordenador do Laboratório de Poluição Atmosférica da Faculdade de Medicina da USP, observou o fato de o Hotel Maksoud Plaza, sede do evento, não possuir estacionamento para bicicletas. Foi a deixa para o comentário seguinte, ou seja, o lamento pela precariedade do transporte coletivo nas grandes cidades, a falta de ciclovias e a escolha preferencial do carro para locomoção.

Segundo Saldiva, a piora na qualidade de vida dos moradores das cidades é resultado previsível da decisão de se buscar o desenvolvimento econômico a qualquer preço. “No momento, o maior desafio é reduzir a concentração de emissões na atmosfera, uma das causas do efeito estufa. Essa é uma dificuldade que se avoluma com a expansão das frotas a diesel, automotiva e, em especial, das motos, grandes poluidoras”, constata.

Como contraponto, destacou avanços recentes: aumento do uso de combustíveis renováveis no País e a instituição, em 1997, do Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve). “Esta medida conseguiu evitar seis mil mortes na região metropolitana da capital. Embora nestes dez anos a população tenha crescido 12% e a frota de carros 70%”, comparou.

Problemas e soluções

Sobre o álcool, Saldiva afirmou ser uma alternativa, embora traga novos impactos. “Sua combustão também lança metais pesados na atmosfera e falta regulamentação específica. Porém, o principal problema são as queimadas, que contribuem para a deterioração da qualidade de vida nas cidades paulistas de Araraquara, Ribeirão Preto e Piracicaba, grandes pólos canavieiros”, afirmou.

Ao término da exposição, comentou o fato de os moradores das periferias estarem mais expostos à poluição. “No município de São Paulo circulam 8,5 mil ônibus, e os veículos mais antigos poluem mais. Quando um deles com mais de dez anos de uso deixa de rodar em uma área nobre – como o corredor da Avenida 9 de Julho – seu destino é a periferia. Assim, as emissões estão concentradas nos bairros distantes do centro, conforme indicam dados colhidos nas estações de medição da qualidade do ar da Cetesb”, explica.


Biodiesel na Amazônia

O professor Ademar Romeiro, do Instituto de Economia da Unicamp, vê no biodiesel uma alternativa para o Brasil reduzir a pressão sobre a floresta amazônica. Na sua análise, as opções incluem o cultivo em larga escala da palma (dendê), cultura perene e compatível com outras variedades, que exige preservação mínima de floresta nativa.

“A solução é o País adotar política capaz de estabelecer equilíbrio entre a agroenergia e a floresta, um caminho possível para a preservação da biodiversidade. Embora exija muitos recursos hídricos, a cana também tem potencial de cultivo compatível na região. Deve-se, contudo, evitar a monocultura e fazer o plantio em sistema de rodízio quinquenal”, indica.

“Em comparação com a última década, temos aperfeiçoado os sistemas de cultivo (plantio direto) e a seleção de variedades de cana. A progressiva mecanização da lavoura vem eliminando as queimadas. Nas usinas, há inovações que diminuem a captação e o consumo da água e aumentam a reciclagem e o reúso nas operações industriais”, informa.

“A mais antiga cultura do País, desde 1530, tem potencial para ser sustentável, inclusive no Estado de São Paulo. A meta a ser alcançada é uma certificação ambiental, um selo de qualidade capaz de abrir novos mercados para o etanol e resolver os problemas ambientais que se apresentam. Exemplo a ser considerado é o da Usina São Francisco, em Sertãozinho, baseada na agricultura orgânica”, explica.


Oportunidades para o Brasil

Finalizando o painel da tarde, Bioenergia e Indústria Automobilística no Brasil e no Mundo, o secretário-adjunto do Desenvolvimento no Estado, Carlos Pacheco, apresentou projeção indicando que em 2013 o Brasil irá produzir 4,5% do volume mundial de veículos. “Somos o oitavo produtor mundial. A tendência é subirmos dois postos”, espera.

“São Paulo é o maior mercado automotivo brasileiro e concentra a maior parte da indústria automobilística nacional. Tem a mão-de-obra mais qualificada e universidades líderes em pesquisas na área, como a Politécnica da USP, a Unicamp, a Faculdade de Engenharia Industrial (FEI) e a Escola de Engenharia Mauá”, observou.

Pacheco é engenheiro formado pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA). Afirmou que a bioenergia é fundamental para São Paulo. “Porém, a meta é sermos um Estado cujas soluções energéticas sejam sustentáveis, capazes de oferecer soluções globais para o mundo. E não exportar somente álcool, mas máquinas, serviços, royalties e tecnologia”, finalizou.


2006 – Os dez maiores produtores de óleos vegetais para biodiesel
1 Malásia 14,5
2 Indonésia 7,6
3 Argentina 5,3
4 USA 3,2
5 Brasil 2,5
6 Holanda 2,5
7 Alemanha 2
8 Filipinas 1,3
9 Bélgica 1,2
10 Espanha 1

Fonte: Associação Brasileira das Indústrias de Biodiesel


2006 – Matriz energética mundial e nacional (em %)
Renovável Não-renovável
Brasil 45 55
Mundo 14 86

Fonte: Associação Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI)

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página III do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 09/10/2007. (PDF)

Veículos continuam sendo a principal fonte de poluição em SP, diz a Cetesb

Mas os programas de controle desenvolvidos no Estado obtiveram melhoras em vários indicadores ambientais

A Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) divulgou ontem em sua sede na capital seis relatórios ambientais contendo números referentes à qualidade do ar e da água consumida pela população, balneabilidade de rios e praias, tratamento de resíduos sólidos (lixo) e de atendimento a emergências químicas apurados no Estado em 2006. Todos os estudos estão disponíveis para consulta nos sites da Cetesb e da Secretaria Estadual do Meio Ambiente.

O estudo sobre a qualidade do ar no Estado mostrou que os 6,5 milhões de veículos que circulam na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) são a maior fonte de poluição da atmosfera. Respondem por 97% das emissões de monóxido de carbono (CO) e 40% de material particulado (MP).

Segundo a química Maria Helena Martins, gerente da Divisão de Tecnologia de Avaliação da Qualidade do Ar da Cetesb, o inverno passado foi bastante desfavorável à dispersão dos poluentes. Teve poucas chuvas, ausência de ventos e inversões térmicas de baixa altitude.

“Porém, as partículas inaláveis, que são as respiradas pelas pessoas, mantiveram os índices de 2005 e consolidaram uma tendência de queda iniciada no início da década de 90. Uma das explicações foi a instituição do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve), da década de 90”, aponta Maria Helena.

O monóxido de carbono expelido pelos escapamentos de automóveis e caminhões manteve também a tendência de queda iniciada na década de 90. “Mas houve um pequeno acréscimo do número de ultrapassagens nos padrões de qualidade do ar para este gás devido às condições meteorológicas desfavoráveis à dispersão do poluente”, observa.

O ozônio foi o poluente que mais ultrapassou os padrões legais no Estado. No interior, foram quatro vezes em Sorocaba, duas em Paulínia, duas em São José dos Campos e cinco em Jundiaí.

“Na RMSP, houve uma melhora no número de ultrapassagens do padrão definido pela lei vigente, que segue a Resolução 3 de 1990 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), mas os dados ainda não indicam uma tendência clara de queda da concentração atmosférica deste poluente”, finaliza.

Para amenizar o problema da poluição causada principalmente pelos veículos, a Cetesb está colocando em prática o projeto Respira São Paulo. Esta iniciativa integra os 21 Projetos Ambientais Estratégicos do Governo do Estado e pretende controlar as emissões nas regiões metropolitanas.

Mais lixo tratado

No Estado, os 645 municípios paulistas geram a cada dia 28,4 mil toneladas de resíduos sólidos domiciliares. Deste total, 80,7% são depositados no solo de forma adequada contra apenas 10,9% registrados em 1997 – na época o Estado gerava 18,2 mil toneladas diárias de lixo. O inventário mostra, ainda, que o número de cidades com sistemas de disposição final considerados adequados aumentou cerca de 12 vezes, passando de 27 em 1997 para 308 em 2006.

O relatório sobre o lixo mostrou também que os nove municípios com população superior a 500 mil habitantes respondem pela geração de 61,2% dos resíduos gerados (17,4 mil toneladas/dia). E apresentam as melhores pontuações com uma média de 8,7 pontos no Índice de Qualidade de Aterro de Resíduos (IQR), que varia de zero a dez, enquanto os 573 municípios com menos de 100 mil habitantes, que geram 13% do total (3,7 mil toneladas/dia), têm IQR médio de 7,3%.

Balneabilidade de praias

O relatório sobre as águas litorâneas apurou que 30% das praias paulistas foram consideradas próprias para banho durante todo o ano, enquanto 36% apresentaram-se impróprias em menos de 25% do tempo, 23% estiveram impróprias entre 25% e 50% do tempo e 11% apresentaram qualidade péssima. A única praia que teve recomendação própria o ano todo, em 2006, foi a de São Lourenço, em Bertioga.

Com relação à água consumida pela população, foram obtidos dados a partir do monitoramento realizado em 356 pontos em rios e lagos. A medição indicou melhora de 6% em comparação com 2005 nos conceitos de água ótima, boa e regular segundo avaliação da população atendida no Estado.

Águas subterrâneas

A Cetesb apresentou também estudo relativo às águas subterrâneas do Estado. O monitoramento iniciado pela companhia em 1990, com ênfase no período 2004-2006, indicou de forma geral que os aquíferos encontrados no subsolo paulista apresentam boa qualidade para consumo humano. Segundo o relatório, 80% dos 645 municípios paulistas os utilizam para o abastecimento da população. E a pesquisa envolveu 184 pontos de coleta de amostras no Estado.

O número de acidentes com produtos químicos no ano passado foi o menor dos últimos oito anos: os 397 atendimentos registrados indicam um recuo de 5,2% em relação aos 419 eventos ocorridos em 2005 e de 16,6% em relação aos 475 de 2004. Segundo os técnicos da Cetesb, esse resultado se deve ao rigor da legislação estadual e federal, intensificação das ações de fiscalização, exigência de programas de gerenciamento de riscos para atividades potencialmente geradoras de acidentes.

Serviço

Relatórios Cetesb

Rogério Mascia Silveira
Da Agência Imprensa Oficial

Reportagem publicada originalmente na página I do Poder Executivo I e II do Diário Oficial do Estado de SP do dia 16/05/2007. (PDF)